Um vídeo de uma sabatina do ex-CEO da Boeing no Senado americano, Dave Calhoun, sendo questionado pelo senador republicano Josh Hawley, fez muito sucesso na internet.
Na época, com a Boeing em dificuldades financeiras, o parlamentar questiona como o diretor-presidente da empresa aeroespacial deu a si mesmo (via Conselho de Administração) um salário anual de US$ 32 milhões – um aumento de 45% – enquanto os funcionários da Companhia, uma das mais tradicionais e tecnológicas do setor, tiveram apenas 1% de reajuste.
O CEO, na ocasião, ficou sem explicação. E é claro que ficaria mesmo, pois o senador afirmou que o problema da Boeing – que atravessa uma crise há anos – era o gestor da Companhia, e não os funcionários, incluindo os engenheiros, os quais o congressista chamou de “os melhores do mundo”.
Esse caso ilustra bem o quão fora da realidade está o universo dos CEOs e a discrepância entre os ganhos deles e a produtividade das empresas. Há uma conta – ainda que moral – que não fecha. O que justifica uma empresa que não demonstra os melhores resultados pagar valores tão vultosos ao topo?
Aqui em Mato Grosso do Sul, nesta edição, trazemos o exemplo da MS Gás. A empresa aprovou, no fim de agosto, um aumento considerável – que chega a 67% para a diretora Cristiane Schmidt – para os diretores da estatal. Um reajuste muito desproporcional ao dos funcionários da empresa, que há 10 anos não têm ganho real nas negociações salariais.
Ainda que se tratasse de uma empresa estritamente privada, essa incoerência ficaria restrita ao universo interno corporis e aos resultados que a empresa apresenta – ou não. A distância entre a base da pirâmide e o topo, ainda que o topo seja altamente especializado, gera distorções de longo prazo.
Estamos, contudo, tratando de uma empresa estatal.
A MS Gás, para contextualizar os que podem não saber, é uma empresa cujo governo de Mato Grosso do Sul é o sócio majoritário, tendo como parceira a Commit Gás. Uma das justificativas para o salário milionário da “CEO” utilizadas internamente pela diretoria foi a de alinhar o salário de seus diretores com os de outras distribuidoras de gás do Brasil.
Mas, e quando se olha para o quintal do governo de Mato Grosso do Sul – o dono da MS Gás? A administração estadual fala em cortar centenas de milhões de reais em despesas até o fim do ano.
Há ainda um agravante contextual: a receita do Estado não cresce, sobretudo por causa da queda abrupta da arrecadação com – pasmem – a importação de gás natural, o principal produto da empresa que dá aumento de 67% à diretoria.
Enquanto isso, os comandantes da companhia parecem viver uma realidade totalmente diferente das finanças públicas de Mato Grosso do Sul. O detalhe, contudo, é que a MS Gás é uma empresa de economia mista, uma estatal. É pública!


