Artigos e Opinião

ARTIGO

Keller Rodrigues: "Maio Amarelo: quem erra na rua, erra na estrada"

Engenheiro civil especializado em engenharia e segurança rodoviária; gestor de Interação com o Cliente da CCR MSVia

Redação

26/05/2016 - 02h00
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O conceito é básico: quem dirige mal nas ruas e avenidas, dirige muito pior em rodovias. Porque a grande escola de direção segura é a cidade, com todos os seus riscos e problemas. Na rodovia, os momentos críticos são poucos, mas decisivos. Se na cidade os motoristas não respeitam semáforos, faixas de pedestres e sentidos de direção (cruzar farol vermelho e andar na contramão parecem ser esportes), na rodovia não vão respeitar regras mais simples, porém fundamentais, para salvaguardar a vida. Ultrapassar em locais com faixas contínuas, utilizar o acostamento como faixa de tráfego, fazer conversões proibidas, dirigir sem respeitar os limites de velocidade e “colar” no veículo da frente são alguns exemplos dessa condução arriscada.

Os motivos para tantos erros são vários. Há muitos condutores sem carteira de habilitação, por exemplo. A CNH não é um documento suplementar. É um certificado formal de um ciclo de aprendizado necessário.

Mas alguns pretensos condutores acreditam que, ao dominarem a técnica básica de embreagem-câmbio-acelerador-freio, tornam-se automaticamente bons pilotos. Conduzir veículos automotores é muito mais complexo do que saber mudar marcha.

Para isso existem os Centros de Formação de Condutores que formam  os alunos que pretendem ingressar no estamento de motoristas qualificados. Para ser condutor capacitado, é preciso aprender regras, leis e procedimentos de segurança. 

Antes de ser condutor de veículos, é preciso ser um bom cidadão. E ninguém nasce cidadão, é preciso aprender. 

É muito importante que o condutor comporte-se com a consciência de que também é pedestre.  Precisa pensar a relação do veículo automotor com os espaços públicos como um misto de condutor e pedestre. 
Quando caminha, qualquer condutor percebe  os riscos representados pela máquina. De brinde, entende a quantidade de atos irresponsáveis cometidos pelos maus condutores. E sabe como percebe? Sendo pedestre.

Ao conduzir um veículo automotor, a pessoa tem a sensação da invulnerabilidade proporcionada pelo conforto e pela potência do veículo. 

Muitos condutores esquecem que são humanos conduzindo veículos entre humanos.  

Ser um bom cidadão é, antes de tudo, respeitar a máxima de que errar é humano. É por isso que existem os acordos sociais. Aceitar a ideia do erro potencial é aceitar cumprir regras, aceitar limites e, especialmente, preservar direitos. 

Estamos falando daquele princípio básico da vida: não corra riscos desnecessários.Assiste-se nas cidades e nas estradas a cenas de desrespeito às leis de trânsito. Isso significa desrespeitar os acordos sociais que determinaram limites pela vida. 

Não se trata de malandragem, como muitos condutores “espertinhos” acreditam. Trata-se de ação potencialmente dolosa.

Quem conduz veículos automotores sem respeitar as leis de trânsito, aceita como natural a ideia de atentar contra a vida alheia.  Ou seja, o mau motorista que conduz veículos como um louco desrespeita a vida (dele e dos outros). 

Neste mês de maio, em que realizamos várias ações voltadas para a segurança do trânsito por meio do Programa Maio Amarelo, fica um convite a você que conduz veículos automotores. Fique vivo e ajude preservar as vidas. Seja responsável nas ruas, avenidas e estradas. 
Perigosos não são os caminhos, mas os condutores despreparados.

EDITORIAL

As bolhas que nos afastam da realidade

Enquanto uma parte do Estado amplia suas zonas de conforto, outra é pressionada a fazer mais com menos, arcando com o desgaste político e social das escolhas difíceis

17/12/2025 07h15

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A expressão “estar em uma bolha” deixou de ser apenas uma gíria de internet para se transformar em um retrato cada vez mais fiel da forma como a sociedade vem se organizando. Nas redes sociais, algoritmos direcionam conteúdos, opiniões e notícias de acordo com preferências previamente identificadas.

O resultado é um ambiente confortável em que quase tudo confirma aquilo que o indivíduo já pensa. Divergir passa a ser exceção e confrontar ideias, um incômodo evitado.

Fora do ambiente digital, a lógica das bolhas também se impõe. O isolamento crescente em condomínios fechados, verticais ou horizontais, reduz o contato cotidiano com o diferente. Ao limitar o convívio, o indivíduo perde a oportunidade de compreender realidades distintas da sua própria.

Torna-se, ao mesmo tempo, mais desconfiado e mais desinformado, conhecendo o mundo mais pelo “ouvir dizer” do que pela experiência direta. A realidade passa a ser filtrada, editada e, muitas vezes, distorcida.

As bolhas criam falsas impressões. Quando se consolidam em grupos, reforçadas pelo sentimento de pertencimento, geram uma perigosa falta de sintonia com o restante da sociedade. Problemas coletivos passam a ser relativizados, minimizados ou simplesmente ignorados.

A empatia dá lugar à autoproteção e o interesse público acaba substituído pela preservação de privilégios.

Nesta edição, mostramos um exemplo concreto dessa desconexão: o aumento do duodécimo para quase todas as instituições de Mato Grosso do Sul, mesmo após um ano marcado por crise financeira, enquanto cresce a sobrecarga sobre o Poder Executivo.

É sobre ele que recai, de forma quase exclusiva, o peso de enfrentar as dores reais da sociedade: da falta de recursos para serviços essenciais às demandas crescentes por saúde, educação, transporte e assistência social.

Essa discrepância orçamentária não é apenas um dado técnico. Ela reforça as bolhas institucionais. Enquanto uma parte do Estado amplia suas zonas de conforto, outra é pressionada a fazer mais com menos, arcando com o desgaste político e social das escolhas difíceis.

Trata-se de um desequilíbrio que aprofunda a sensação de injustiça e distancia ainda mais as instituições da realidade vivida pela população.

Seria desejável que integrantes das instituições que recebem repasses de duodécimo saíssem de suas bolhas. Que vivessem mais intensamente a realidade fora de gabinetes, relatórios e planilhas.

Que entendessem que, em tempos de dificuldades financeiras, reforçar privilégios e ampliar confortos institucionais não é apenas insensível, é socialmente injusto.

Romper bolhas não é simples, mas é necessário. Para indivíduos, para grupos e, sobretudo, para instituições públicas. A democracia e a justiça social exigem mais contato com a realidade concreta e menos acomodação em mundos protegidos. Caso contrário, seguiremos administrando percepções, e não problemas reais.

ARTIGOS

A Interpol e as lições do roubo ao Louvre: quando a cultura exige proteção global

O que alguns insistem em tratar como luxo é, na verdade, expressão de identidade coletiva, memória histórica e soberania cultural

16/12/2025 07h45

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A Interpol é amplamente reconhecida por seus sistemas de avisos e pela atuação no combate ao crime organizado transnacional.

O recente episódio envolvendo o Louvre, porém, recoloca em evidência um ponto ainda subestimado no debate público: crimes não violentos, como o roubo de bens culturais, também demandam tutela internacional qualificada.

O tráfico de obras de arte e de patrimônio histórico segue sendo um delito de baixo risco e alto lucro, alimentado pela opacidade do mercado e pela fragmentação das respostas estatais.

O que alguns insistem em tratar como luxo é, na verdade, expressão de identidade coletiva, memória histórica e soberania cultural. A Interpol parte dessa premissa, ao reconhecer a cultura como interesse jurídico protegido, merecedor da mesma atenção dedicada à vida, à segurança e à integridade física.

Nesse contexto, o Banco de Dados de Obras de Arte Roubadas da organização cumpre papel central: dar rastreabilidade a um mercado em que o patrimônio cultural pode, com facilidade, converter-se em saque.

A existência do banco de dados não é apenas simbólica. Ela permite a identificação de peças subtraídas, inibe a circulação ilícita e oferece suporte técnico às investigações nacionais.

Ainda assim, a eficácia do sistema depende de algo que nem sempre acompanha a velocidade do crime: cooperação internacional efetiva e compartilhamento ágil de informações entre agências de aplicação da lei.

Há espaço evidente para aprimoramentos. A ampliação do banco de dados com atualizações em tempo real, a integração mais ampla de museus, casas de leilão e colecionadores privados, além de protocolos obrigatórios de verificação de procedência, fortaleceriam significativamente o combate ao tráfico ilícito.

Do mesmo modo, penalidades mais rigorosas e treinamento especializado para forças policiais e autoridades alfandegárias são medidas indispensáveis para reduzir a atratividade econômica desse tipo de crime.

O episódio do Louvre serve como alerta. Proteger bens culturais não é capricho elitista nem pauta secundária: é defesa da memória, da identidade e do patrimônio comum da humanidade.

Quando uma obra é roubada, perde-se mais do que um objeto, perde-se um fragmento da história coletiva. A resposta, portanto, precisa ser global, coordenada e à altura desse valor.

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