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Marinez Schiavi: "Política: administrar para o bem comum ou interesse escuso?"

Acadêmica do curso de Filosofia – UFMS

Redação

25/05/2017 - 02h00
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Qual o caminho que a política deveria percorrer para se atingir o bem comum e se livrar do interesse escuso?

Poderia começar por uma análise da filosofia política, que estuda o mundo como deveria ser, iniciando por Sócrates, Platão, Aristóteles. Além desses três grandes patronos, a filosofia também foi discutida por outros importantes pensadores: Marco Aurélio, Santo Agostinho, Montesquieu, Kant, Maquiavel, entre outros.

E assim vai se percorrendo o caminho da filosofia e chegando-se à ciência política, que estuda o mundo como ele é.

Essa ciência, apesar de ter sua base nas interpretações pragmáticas, não pode deixar de lado a teoria filosófica, consolidada através dos tempos, porque ciência e filosofia aliadas constroem as soluções necessárias aos conflitos sociais e políticos, pois uma estabelece como as coisas devem ser, enquanto a outra as descreve como realmente são.

Mas qual o caminho que um administrador deve seguir para que se tenha um Brasil mais justo, para que pessoas em situações precárias possam ter uma vida digna?

Não é possível que em um país rico, tanto economicamente quanto em história, cultura e diversidade de recursos naturais, possa sofrer com tanta desigualdade social, com o poder e a riqueza concentrados nas mãos de poucos, criando-se a ideia de que a política não serve para nada e que todo político é corrupto, pois o que se vê são escândalos de desvios de verbas a todo momento!

Entende-se que o conjunto de princípios e valores de conduta que uma pessoa ou um grupo de pessoas têm é chamado de ética, do grego “ethos”, que até o século 6 a.C. significava “morada do humano”, ou seja, lugar onde se habita, a casa. “Ethos” também significa marca ou caráter, característica, aquilo que marca a fronteira entre o humano e a natureza.

Os animais obedecem às regras da natureza que são anteriores e superiores a eles por meio do instinto, mas os seres humanos têm autonomia, agem por reflexão, decisão, juízo; sendo a ética a fronteira entre o que a natureza manda e o que se decide, orientando assim a capacidade de decidir, julgar, avaliar com autonomia, ou seja, pressupõe liberdade.

Tem-se moral quando se pratica a resposta após um dilema vivido entre as coisas que se quer, mas não se deve ter; quando há coisas que se deve, mas não se pode ter; e ainda há aquelas que se pode, mas não se quer ter. Então, quando é que se tem um pouco de paz de espírito e felicidade? Exatamente quando o que se quer é o que se deve e o que se pode ter.

A integridade é um princípio ético para não diminuir a vida, é honestidade, sinceridade, é a forma de não se desviar do caminho, é não ter duas caras e, sim, ter pureza de alma.

Ouve-se até dizer: ser honesto nesse País é ser idiota! Tudo é uma questão de escolha, porém, quanto mais claros forem os princípios, mais fácil será lidar com os dilemas diários, pois todos estão sujeitos a escolhas a qualquer momento do viver humano!

O administrador político tem um papel fundamental no desenvolvimento do País, devendo, por meio de suas decisões assertivas, melhorar as condições sociais da população. As bolsas auxílios distribuídas pelo governo devem servir para tirar o cidadão do estado de miséria.

Depois, ele precisa ter o prazer de uma vida digna, conquistada pelos próprios méritos, ou seja, ter um trabalho, pois, assim, buscará uma alimentação de qualidade, terá mais saúde, educação, lazer. Sentirá ser mais útil perante a sociedade e contribuirá para um futuro melhor.

O Brasil, diante de sua diversidade, tem espaço para todos e quem pode e quer deve fazer algo para melhorar a realidade, ou seja, os que detêm o poder e a riqueza devem trabalhar para mudar a ideia de que a política não serve para nada, pois na verdade ela é o caminho para a mudança de tudo, mas claro que com o fim da corrupção, punição severa para quem se desviar do rumo, pois um poder que se serve, em vez de servir, é aquele que não serve para nada.

Há de se pensar que o dinheiro pode comprar quase tudo, menos o poder divino e a dignidade de um ser humano, pois caráter e consciência são inegociáveis, não têm preço.

Uma administração deve ser transparente, sem políticos comercializáveis e com interesses escusos, ela deve cuidar da vida coletiva com ética, ter liberdade para tomar as melhores decisões com relação às políticas públicas, deve fazer valer a democracia para o BEM COMUM.

*Marinez Lemos Bregenski Schiavi

EDITORIAL

Propag: uma decisão que dura décadas

O secretário de Estado de Fazenda de Mato Grosso do Sul pode até decidir o que prefere destacar, o que não pode é decidir o que a sociedade tem o direito de conhecer

16/12/2025 07h15

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O Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag) foi desenhado para revisar termos das dívidas estaduais e permitir quitação em até 30 anos, com encargos menores, atrelando parte do alívio fiscal a investimentos e mecanismos de equalização federativa.

O prazo de adesão termina no dia 31. Trata-se, portanto, de uma decisão com efeitos fiscais, políticos e institucionais de longo prazo.

É justamente por isso que causa estranheza quando um movimento dessa magnitude parece avançar sem publicidade compatível com o tamanho do que está em discussão. Ainda que os ritos formais estejam cumpridos, e o Diário Oficial exista para isso, há decisões que não se esgotam no “publicou e pronto”.

A adesão ao Propag mexe com dívida e espaço fiscal, e isso exige mais do que um carimbo burocrático: exige explicação, justificativa e escrutínio.

Matéria publicada pelo Correio do Estado apontou que a adesão pode ser benéfica e abrir folga fiscal bilionária para os próximos anos. Se isso ocorrer na prática, melhor ainda.

Mas, justamente por ser uma oportunidade desse porte, não faz sentido que a sociedade seja informada por textos que parecem exigir esforço de “investigação”, recortes, vazamentos, boatos e notas lacônicas para compreender o básico. Decisão pública não pode depender de rumor para vir a conhecimento.

O secretário não é apenas o gestor do caixa, é, por definição, o guardião das chaves do cofre e da confiança do governador.

Seu dever não é somente buscar a melhor alternativa financeira, mas assegurar que a população, o Legislativo e os órgãos de controle entendam o que está sendo feito – por que, com quais condições, com quais impactos e com quais riscos.

Publicidade, aqui, não é uma peça de marketing nem release, muito menos demanda jornalística, quando se dão ao luxo de responder, é transparência, informação completa, tempestiva e verificável sobre atos que mexem com o dinheiro de todos.

Quando uma medida desse porte avança sem clareza por parte do secretário, o problema deixa de ser meramente jurídico e passa a ser de transparência. O silêncio produz um efeito inevitável: parece tentativa de fugir de perguntas. E perguntas são inevitáveis e legítimas.

Quais são os termos efetivos da adesão ao Propag? Há contrapartidas obrigatórias? Quais metas de investimento são exigidas e em quais prazos? Que impacto a adesão ao programa traz para a capacidade de investimento do Estado nos próximos anos? Há cláusulas que podem amarrar decisões futuras? Serão oferecidos ativos com lastro? Se sim, quais? Como foram avaliados? Quem avaliou? Esse tipo de compromisso atravessa mandatos e o que ficará para a próxima geração.

Boa governança começa pelo óbvio: se a decisão é boa, não há motivo para tratá-la sob reserva. Pelo contrário, quem tem convicção expõe os fundamentos, abre números, apresenta cenários e convida ao debate. Transparência não atrapalha, transparência protege a própria decisão.

Nada disso impede a adesão ao Propag, pelo contrário, torna a adesão mais legítima e menos vulnerável a ruídos. O que fragiliza não é a discussão, é o vazio de explicações.

O secretário precisa compreender que publicidade não é um favor à imprensa nem ao cidadão, é um dever institucional. É a materialização do princípio de que o erário não pertence a gabinete nenhum, pertence à sociedade.

Se o Propag é uma oportunidade, que seja tratado como tal: com informações completas. Se o secretário quer ser reconhecido como pilar de responsabilidade, não pode agir como se decisões fiscais estruturantes fossem assunto restrito a poucos. Confiança é ativo que não se negocia e, uma vez perdida, dificilmente se reconquista. 

ARTIGOS

Relaxa: você não precisa ter opinião sobre tudo

Estudo recente sobre comportamento em comunidades digitais revelou que quando alguém percebe que a opinião é minoritária, tende a manter o silêncio

15/12/2025 07h45

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Existe uma ansiedade silenciosa no ar: a sensação de que você deveria ter uma opinião pronta para cada assunto que aparece no feed. Um acontecimento político numa terça, um comentário de influencer numa quarta, uma treta musical na quinta.

E se você não fala nada, parece que está sendo omisso, alienado, cúmplice ou qualquer outra palavra grande que as redes adoram jogar. Mas a pergunta que vale mais do que todas as indignações do dia é simples: quem disse que você precisa opinar sobre tudo?

A verdade é que a internet criou uma espécie de olimpíada de opiniões. E a largada é dada a cada nova notificação. Só que, quando você olha os números, percebe que esse universo não é tão povoado quanto parece.

Uma pesquisa mostrou que 55% dos americanos já deixaram um comentário on-line em algum momento e 77,9% já leram comentários. Significa que tem muita gente olhando, mas só metade de fato escrevendo alguma coisa.

Quando se vai para os jovens, 55% dizem postar opiniões com frequência e 71% afirmam estar mais confiantes do que nunca para fazê-lo. De novo, parece muito, mas não é todo mundo. É só uma parte barulhenta.

Do outro lado tem um dado incômodo. Um estudo recente sobre comportamento em comunidades digitais mostra que, quando alguém percebe que a opinião dele é minoritária, 72,6% simplesmente ficam em silêncio.

A espiral do silêncio continua funcionando mesmo num ambiente que promete liberdade absoluta para falar o que quiser. Ou seja, o barulho das redes às vezes é menos democracia e mais repetição. A impressão de que “todo mundo está falando” pode ser só a repetição de um mesmo grupo de pessoas com muita disposição e pouco cansaço.

E vale lembrar que esse palco é enorme. O mundo tem 63,9% da população usando redes sociais. É muita gente. São horas diárias rolando tela, consumindo milhares de pequenos estímulos. Nesse ambiente, a opinião virou quase um gesto automático.

Às vezes você nem sabe exatamente o que pensa, mas já sente a pressão de ter que dizer alguma coisa. Ser rápido se tornou mais importante do que ser cuidadoso. E isso tem consequência.

Opinar o tempo todo transforma a discussão pública em uma competição permanente. Você não compartilha uma ideia, você disputa espaço. E existe um dado que mostra o quanto isso escalou: em uma pesquisa internacional, 20% das pessoas disseram que às vezes é necessário ser rude nas redes para que sua opinião seja ouvida.

Um quinto das pessoas já acredita que a forma de existir no debate é gritando. Não tem nada de saudável nisso. Só desgaste.

Talvez seja por isso que, silenciosamente, muita gente está cansada. Opinar sobre tudo virou um tipo de exaustão emocional. Até porque, para opinar sobre tudo, é preciso estar o tempo todo sabendo de tudo. E começar a falar menos pode não ser um gesto de covardia, mas de inteligência.

Você não precisa ser comentarista integral do mundo. Pode escolher onde sua voz realmente importa. Pode esperar. Pode investigar. Pode até mudar de ideia sem precisar explicar isso para ninguém.

Quando quase metade das pessoas não comenta e três quartos se calam quando acham que estão sozinhas, significa que o silêncio não é falta de interesse. É um pedido de pausa. É uma escolha. Não é uma desistência do debate, é só uma forma de não ser engolido por ele.

A ideia de que você precisa ter opinião sobre tudo é só mais uma pressão inventada pela lógica das plataformas. Você não é obrigado a entrar em todas as conversas. Nem deve. O valor da sua voz não está na frequência, está na relevância.

E, às vezes, a decisão mais lúcida é ficar quieto por alguns minutos, horas ou dias. Porque pensar é um processo mais lento do que postar. E tem coisas que não precisam de urgência. Precisam de reflexão. Aliás, a maioria delas.

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