Artigos e Opinião

OPINIÃO

Octavio Luiz Franco: "A fábrica de imagens cerebrais"

Coordenador do S-Inova Biotech, Professor do Programa de Pós-graduação em Biotecnologia da Universidade Católica Dom Bosco

Redação

31/08/2017 - 01h00
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A geração e distribuição de inúmeros produtos no mundo inteiro está diretamente relacionada a fábricas. Temos fábricas de cerveja, de computadores, de carros e de celulares. Entretanto, a China inaugurou nesta semana uma fábrica, no mínimo, inovadora. Nesta inusitada manufatura, o produto consiste em imagens do cérebro humano e de outros animais. Neurocientistas que detalhadamente desvendam e clarificam os circuitos neurais cerebrais estão acompanhando uma modificação desta tecnologia para uma escala industrial. Para isto, uma imensa obra fundada em Suzhou, irá transformar em produto palpável o mapeamento cerebral de alta resolução.

 Laboratórios convencionais podem processar no máximo um par de sistemas de imagem cerebral. Esta fantástica fábrica possui cinquenta máquinas automatizadas que podem, quase que instantaneamente, cortar um cérebro de camundongo por exemplo, obter imagens de alta definição de cada fatia e reconstruí-las em uma representação tridimensional. Desta forma esta proposta causa uma mudança de conceito na área tecnológica de ponta onde a geração de dados passara a ser processada e analisada em escala industrial, permitindo simplesmente mudar a forma com que a neurociência tem sido feita por todo o mundo. 

Mas o novo instituto não irá avaliar apenas cérebros de camundongos e ratos, mas também propulsionará a avaliação e o entendimento do cérebro humano.  Para isso, além de gerar as imagens como um produto, a fábrica de imagens cerebrais também abrirá parcerias a instituições de ensino e pesquisa em todo o mundo, propiciando avanços para análises de doenças neurodegenerativas até então incuráveis como Alzheimer ou abrir as portas para propostas inovadoras de entendimento do aprendizado e aplicação da inteligência artificial. 

Para a estrutura foi feito um investimento de US$ 67 milhões de dólares, além da contratação de uma equipe altamente qualificada com mais de uma centena de técnicos. Espera-se uma enorme demanda mundial ao acesso de mapeamento cerebral de alta velocidade e precisão. Sabe-se hoje que os cérebros de mamíferos podem apresentar bilhões de células que ainda podem se dividir em milhares de tipos diferentes, com variações nas formas, tamanhos e expressão genica. 

Normalmente, vemos o cérebro como um todo ou apenas separados em partes como lobos, giros entre outros. Entretanto, os neurocientistas esperam conseguir mapear estruturas cerebrais ainda não descobertas ou obscuras, revelando suas funções e correlacionados potenciais. Uma vez se tornando possível comparar os neurônios de forma pragmática e detalhada, os pesquisadores podem melhor acompanhar os efeitos de uma doença ou do aprendizado sobre a formação da estrutura cerebral. 

Hoje estes mapas em questão podem levar meses ou anos de trabalho para serem montados. Entretanto, nesta nova fábrica de imagens, o grande número e potência das máquinas deve reduzir o tempo para semanas. Além disso, uma enorme estrutura computacional também está sendo montada de maneira que seja possível processar esta miríade de dados em velocidade adequada.

Cada mapa de um camundongo gera em média 8 terabytes. Entretanto, o volume do cérebro humano pode ser aproximadamente 1.500 vezes maior. Desta forma para o processamento de um cérebro humano, um computador simples ou notebook convencional levaria em torno de vinte anos para resolver o problema. Assim uma das etapas essenciais do sucesso da fábrica de mapas cerebrais consiste no investimento no desenvolvimento do potencial computacional, dizem os construtores. 

Em suma para grandes avanços, precisamos de investimento, pessoas qualificadas, estruturas colaborativas e uma enorme boa vontade de todos os parceiros. Aqui no Brasil devemos aprender com estes exemplos e quem sabe termos coragem de desenvolver estruturas arrojadas. A ciência está vigilante ao nosso lado, atuando sabiamente para solucionar os problemas de nossa sociedade.

ARTIGOS

Caminhos da vida

01/03/2025 07h45

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A vida depende do caminhar de cada ser. Nesse caminhar, cada qual vai definindo seus desejos, seus planos e seus limites. Mesmo que não aceite certos deles, terá que respeitar o pensar e o agir dos demais. Nesse caminhar, haverá também uma exigência de constante purificação pessoal e social.

Nessa purificação, ninguém estará só. A humanidade estará solidária. O universo estará em comum tarefa. Tudo e todos caminharão para o eterno. Todos buscando o melhor para si. Mesmo que tenha que aceitar a contribuição dos demais, prefere enfrentar certas situações contando apenas com apenas suas forças.

Assim caminha o universo. Uns procurando caminhos. Outros se acomodando. Outros rejeitando soluções. E todos querendo uma definição. Todos buscando uma luz que lhes indique uma saída. Mesmo que não seja a mais segura, mas que seja plausível para o momento e para o fato que estaria necessitando.

Cautela! Prudência! Vigilância! Paciência! Esses são valores, são forças e são estratégias para quem esteja procurando construir o caminho que conduzirá ao Reino do céu. Justamente na Bíblia Sagrada é que encontramos tudo isso: em Lucas (Lc. 6,39-45).

Nessa passagem bíblica, encontramos diversas parábolas iluminando e clareando nossas incertezas e nossas vidas. Entre elas, destacamos aquela que revela o atrevimento do cego de querer conduzir outro cego. Possivelmente, no primeiro buraco, ambos cairão e se machucarão. Nesse caso, atrevimento, muitos poderão se ferir.

Esse atrevimento poderá encontrar coordenadores de movimentos, de comunidades de fé, coordenadores de grupos sociais. Atrevem-se a se mostrar seguros quando, na realidade, são atrevidos em suas iniciativas.
Mas certos momentos, ou certas iniciativas despertavam a ganância e aguçavam a vaidade. Queriam sempre mais. Muito difícil se contentar com o que lhe era passado. Mas o Mestre não perdia a oportunidade e mostrava claramente o lugar de cada um e o perigo de querer julgar.

O julgamento pertence só a Deus. Mas em toda parte existem os que se julguem suficientemente competentes a emitir sentenças e determinar rumos e efeitos. Então, o Mestre é muito claro ao afirmar que, “antes de tirar o cisco que há no olho de seu irmão, tire a trave que está no seu”.

Somente depois poderá analisar e ver qual atitude poderá tomar. Será oportuno lembrar que, quanto mais quisermos julgar os demais, mais difícil será reconhecer os erros pessoais. Antes de juízes, seria bem mais sensato nos colocarmos como réus. E a humildade revelará o quanto somos frágeis.

Creio que seja a hora de colocar a mão no coração, sentir seu pulsar e fazer com que pulse mais suave e mais moderado, revelando humildade, delicadeza e solidariedade. Pois já é hora de ter um coração mais sensível à dor humana e ao apelo de Deus a conclamar para um amor mais humano e mãos mais divinas.

Creio que já é hora de olhar a vida com mais ternura. Já é hora de agir com mais humildade, usando palavras mais justas, abraçando as causas mais verdadeiras e comungando os sentimentos mais divinos.

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ARTIGOS

Trump, imigração e a ONU

01/03/2025 07h15

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A política de imigração nos Estados Unidos é um tema complexo e controverso, especialmente com a retomada do mandato de Donald Trump. O discurso anti-imigração do presidente eleito tem gerado preocupações sobre os impactos na economia, na sociedade e nos direitos humanos. A Organização das Nações Unidas (ONU) tem defendido a dignidade e a igualdade como pilares da convivência global, enquanto as ações de Trump priorizam a soberania nacional, muitas vezes em detrimento dos direitos de populações vulneráveis.

A política de Trump de deportação em massa e a construção de um muro na fronteira com o México são exemplos de como o discurso anti-imigração pode levar a medidas que violam os direitos humanos. A separação de famílias na fronteira e a restrição de entrada de cidadãos de determinados países também demonstram a priorização de barreiras nacionais e a exclusão de pessoas em situação de vulnerabilidade. Isso é contraditório com os princípios da Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) de 1948, que asseguram que todos os indivíduos têm direitos inalienáveis, independentemente de nacionalidade, raça ou condição migratória.

A ONU defende que os imigrantes e refugiados têm direito a buscar asilo em outros países para fugir da perseguição e que devem ser tratados com dignidade e respeito. No entanto, as políticas de Trump têm enfraquecido esse direito, como a política de Remain in Mexico, que obrigava solicitantes de asilo a permanecerem no México enquanto aguardavam o processamento de seus pedidos. Isso os expunha a condições precárias e perigosas, em contradição com os padrões internacionais de proteção humanitária.

Além disso, a economia dos Estados Unidos depende da mão de obra imigrante. A chegada dos imigrantes na América do Norte em busca de oportunidades impulsionou a infraestrutura e a inovação do país, trazendo impactos positivos para a economia. Segundo o relatório Efeitos do Aumento da Imigração no Orçamento Federal e na Economia, divulgado pelo Gabinete de Orçamento do Congresso (CBO), o aumento da imigração no país pode trazer mudanças no Produto Interno Bruto (PIB), na inflação, nos juros e no orçamento dos EUA.

A mão de obra imigrante é um fator de dependência dos Estados Unidos. Com a escassez de mão de obra qualificada especialmente nas áreas de saúde, tecnologia e construção civil, os imigrantes assumem essas funções, desempenhando papéis fundamentais em diversos setores da economia. A agricultura, por exemplo, necessita de trabalhadores para manter o abastecimento interno e as exportações. Já na área da saúde, os imigrantes ocupam postos de enfermeiros, assistentes domiciliares e médicos.

Em resumo, a política de imigração nos Estados Unidos é um tema complexo que envolve direitos humanos, economia e sociedade. A ONU defende a dignidade e a igualdade como pilares da convivência global, enquanto as ações de Trump priorizam a soberania nacional, muitas vezes em detrimento dos direitos de populações vulneráveis. É fundamental que se encontre um equilíbrio entre a proteção dos direitos humanos e a gestão da imigração para que se possa construir uma sociedade mais justa e inclusiva.

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