Artigos e Opinião

OPINIÃO

Octávio Luiz Franco: "Cosméticos customizados e beleza molecular"

Professor do programa de Pós-Graduação em Biotecnologia, na UCDB

Redação

28/10/2015 - 00h00
Continue lendo...

Em cada residência de nosso País, uma enorme gama de produtos de higiene e beleza é utilizada por milhões de pessoas, incluindo cremes e loções. Para o desenvolvimento de tais produtos, a ciência cosmética trabalha em inúmeras frentes, interconectando campos de ciências básicas e aplicadas, como a química, a biologia, a farmácia e a dermatologia. A saga da cosmetologia iniciou-se há cerca de 30 mil anos, em que primitivos pintavam o corpo utilizando terra, extratos vegetais e orvalho. Séculos mais tarde, os egípcios aprimoraram o uso de extratos vegetais, criando desenhos de henna. 

Os cosméticos para os faraós eram tão importantes que eles eram enterrados junto a seus cremes e poções de beleza. Com o início do século 19, os cosméticos se popularizam enormemente e a combinação de cores e o uso dos filtros solares ganham maior importância para o público feminino. Os nanocosméticos entram fortemente no mercado durante o século 21 originando uma linha de produtos diferenciados e de alta eficiência. Mas qual deve ser o futuro dos cosméticos?

O conceito de customização do cosmético, gerando um produto individual, tem chamado cada dia mais atenção dos cosmetologistas. Com consumidores cada vez mais exigentes, que querem ressaltar sua beleza natural e individual, a interação entre genética e cosmetologia se torna cada dia mais consolidada. 

Nesse campo, produtos individualizados têm sido criados com base na diferenciação genética do consumidor. Se por um lado, inicialmente, a indústria de cosméticos tenha apresentado restrições ao uso das ciências moleculares, hoje, por outro, esta tem investido pesadamente nesse campo.

Algumas companhias americanas têm usado um teste de DNA de pele para analisar mutações em cinco genes diferentes, objetivando a geração de produtos que darão uma melhor hidratação cutânea, bem como reduzirão a oleosidade e a presença de rugas para cada cliente. 

A genética avançada também tem sido usada para melhor entender a aparência causada pelo envelhecimento. Em um estudo utilizando 428 pessoas centenárias, 6 mutações gênicas foram relacionadas com a aparência jovem, embora não tenham correlação direta com a longevidade em si. Um desses genes parece estar diretamente correlacionado com a resposta imune dérmica. 

Estudos mais ousados utilizando uma combinação de genoma, proteoma, metaboloma e microbioma tem tentado melhor explicar de maneira global as causas que levam à aparência de envelhecimento. Com toda essa informação, será possível entender melhor os processos envolvidos e delinear melhores cosméticos a cada dia. A empresa inglesa GeneU hoje oferece testes de microarranjo para variantes dos genes MMP1, que indicam se a consumidora é rápida, média ou lenta degradadora de colágeno. Além disso, também têm sido estudadas variantes do gene NQO1, que aparentemente está envolvido na luta dérmica contra o estresse oxidativo. 

Desta forma, baseados nesses dados, associados ao estilo de vida da pessoa, incluindo a exposição ao sol, hábitos de ingestão de álcool e cigarros e níveis de estresse, consumidores podem comprar uma das 18 possíveis formulações de creme que prometem reduzir as rugas em até 30%. Associado a esses múltiplos testes, novos produtos têm sido gerados, como o creme tretinoin. Esse creme estimula os fibroblastos a produzirem procolagenos, organizando melhor a matriz extracelular, que pode combater os efeitos destrutivos dos raios ultravioletas. Desta forma, cosméticos customizados já podem ser considerados uma realidade e, embora caros, serão cada dia mais eficientes em disfarçar os inexoráveis efeitos do tempo. A ciência está vigilante ao nosso lado, atuando sabiamente para solucionar os problemas de nossa sociedade.

EDITORIAL

As bolhas que nos afastam da realidade

Enquanto uma parte do Estado amplia suas zonas de conforto, outra é pressionada a fazer mais com menos, arcando com o desgaste político e social das escolhas difíceis

17/12/2025 07h15

Continue Lendo...

A expressão “estar em uma bolha” deixou de ser apenas uma gíria de internet para se transformar em um retrato cada vez mais fiel da forma como a sociedade vem se organizando. Nas redes sociais, algoritmos direcionam conteúdos, opiniões e notícias de acordo com preferências previamente identificadas.

O resultado é um ambiente confortável em que quase tudo confirma aquilo que o indivíduo já pensa. Divergir passa a ser exceção e confrontar ideias, um incômodo evitado.

Fora do ambiente digital, a lógica das bolhas também se impõe. O isolamento crescente em condomínios fechados, verticais ou horizontais, reduz o contato cotidiano com o diferente. Ao limitar o convívio, o indivíduo perde a oportunidade de compreender realidades distintas da sua própria.

Torna-se, ao mesmo tempo, mais desconfiado e mais desinformado, conhecendo o mundo mais pelo “ouvir dizer” do que pela experiência direta. A realidade passa a ser filtrada, editada e, muitas vezes, distorcida.

As bolhas criam falsas impressões. Quando se consolidam em grupos, reforçadas pelo sentimento de pertencimento, geram uma perigosa falta de sintonia com o restante da sociedade. Problemas coletivos passam a ser relativizados, minimizados ou simplesmente ignorados.

A empatia dá lugar à autoproteção e o interesse público acaba substituído pela preservação de privilégios.

Nesta edição, mostramos um exemplo concreto dessa desconexão: o aumento do duodécimo para quase todas as instituições de Mato Grosso do Sul, mesmo após um ano marcado por crise financeira, enquanto cresce a sobrecarga sobre o Poder Executivo.

É sobre ele que recai, de forma quase exclusiva, o peso de enfrentar as dores reais da sociedade: da falta de recursos para serviços essenciais às demandas crescentes por saúde, educação, transporte e assistência social.

Essa discrepância orçamentária não é apenas um dado técnico. Ela reforça as bolhas institucionais. Enquanto uma parte do Estado amplia suas zonas de conforto, outra é pressionada a fazer mais com menos, arcando com o desgaste político e social das escolhas difíceis.

Trata-se de um desequilíbrio que aprofunda a sensação de injustiça e distancia ainda mais as instituições da realidade vivida pela população.

Seria desejável que integrantes das instituições que recebem repasses de duodécimo saíssem de suas bolhas. Que vivessem mais intensamente a realidade fora de gabinetes, relatórios e planilhas.

Que entendessem que, em tempos de dificuldades financeiras, reforçar privilégios e ampliar confortos institucionais não é apenas insensível, é socialmente injusto.

Romper bolhas não é simples, mas é necessário. Para indivíduos, para grupos e, sobretudo, para instituições públicas. A democracia e a justiça social exigem mais contato com a realidade concreta e menos acomodação em mundos protegidos. Caso contrário, seguiremos administrando percepções, e não problemas reais.

ARTIGOS

A Interpol e as lições do roubo ao Louvre: quando a cultura exige proteção global

O que alguns insistem em tratar como luxo é, na verdade, expressão de identidade coletiva, memória histórica e soberania cultural

16/12/2025 07h45

Continue Lendo...

A Interpol é amplamente reconhecida por seus sistemas de avisos e pela atuação no combate ao crime organizado transnacional.

O recente episódio envolvendo o Louvre, porém, recoloca em evidência um ponto ainda subestimado no debate público: crimes não violentos, como o roubo de bens culturais, também demandam tutela internacional qualificada.

O tráfico de obras de arte e de patrimônio histórico segue sendo um delito de baixo risco e alto lucro, alimentado pela opacidade do mercado e pela fragmentação das respostas estatais.

O que alguns insistem em tratar como luxo é, na verdade, expressão de identidade coletiva, memória histórica e soberania cultural. A Interpol parte dessa premissa, ao reconhecer a cultura como interesse jurídico protegido, merecedor da mesma atenção dedicada à vida, à segurança e à integridade física.

Nesse contexto, o Banco de Dados de Obras de Arte Roubadas da organização cumpre papel central: dar rastreabilidade a um mercado em que o patrimônio cultural pode, com facilidade, converter-se em saque.

A existência do banco de dados não é apenas simbólica. Ela permite a identificação de peças subtraídas, inibe a circulação ilícita e oferece suporte técnico às investigações nacionais.

Ainda assim, a eficácia do sistema depende de algo que nem sempre acompanha a velocidade do crime: cooperação internacional efetiva e compartilhamento ágil de informações entre agências de aplicação da lei.

Há espaço evidente para aprimoramentos. A ampliação do banco de dados com atualizações em tempo real, a integração mais ampla de museus, casas de leilão e colecionadores privados, além de protocolos obrigatórios de verificação de procedência, fortaleceriam significativamente o combate ao tráfico ilícito.

Do mesmo modo, penalidades mais rigorosas e treinamento especializado para forças policiais e autoridades alfandegárias são medidas indispensáveis para reduzir a atratividade econômica desse tipo de crime.

O episódio do Louvre serve como alerta. Proteger bens culturais não é capricho elitista nem pauta secundária: é defesa da memória, da identidade e do patrimônio comum da humanidade.

Quando uma obra é roubada, perde-se mais do que um objeto, perde-se um fragmento da história coletiva. A resposta, portanto, precisa ser global, coordenada e à altura desse valor.

NEWSLETTER

Fique sempre bem informado com as notícias mais importantes do MS, do Brasil e do mundo.

Fique Ligado

Para evitar que a nossa resposta seja recebida como SPAM, adicione endereço de

e-mail [email protected] na lista de remetentes confiáveis do seu e-mail (whitelist).