Há em Campo Grande uma rua hoje conhecida como “das Garças” que, originalmente, se denominava “Rua Garças”, desde quando o Mato Grosso era um só, homenageando o importante Rio Garças, que deságua no caudaloso Araguaia, no ponto onde se localizam as cidades mato-grossense de Barra do Garças e a goiana Aragarças (junção de Araguaia e Garças).
Situa-se a Rua Garças, ou “das Garças”, numa região da cidade onde as vias eram denominadas por cursos d’água de nosso país, especialmente da região norte/amazônica. Assim, tínhamos, além dessa, as ruas Tocantins, Araguaia, Madeira, Mamoré e outras. Hoje, ainda existem por ali as ruas Xingu, Tapajós, Apiacás, Jauru e Tangará.
Parece-me que a Rua Garças foi vítima apenas de um erro de grafia: em algum momento já distante, um burocrata desinformado, encarregado de mandar confeccionar as placas identificadoras das vias públicas, viu aquela designação, pensou que a homenagem fosse às belas aves do Pantanal e concluiu que lhe faltava a preposição.
A alteração “pegou” e atualmente ninguém sabe do antigo nome. Em relação às demais, ao longo do tempo os nomes foram sendo substituídos, alguns homenageando personalidades marcantes, como no caso da Rua Paraná, que virou Eduardo dos Santos Pereira (e não Eduardo Santos Pereira, como está grafado – como fez questão de corrigir o amigo Múcio Eduardo dos Santos Pereira, neto do ilustre cidadão, in “Raízes de uma Família”, ed. 2012, pág. 96). Outra alteração, também justa homenagem, foi com a atual Rua Abrão Júlio Rahe, cujo nome anterior não me recordo; era também de um rio.
Ao falar do rio Garças, vieram-me as lembranças de quando eu trabalhava como advogado na área de habitação popular, no segmento de cooperativas habitacionais. É que, por força do meu trabalho, fui diversas vezes a Barra do Garças, em avião da empresa onde laborava (por via terrestre era inviável).
Aterrissávamos em Aragarças, numa pista sem pavimentação – em Barra não havia nem uma simples pista de pouso, devido ao fato de ser o terreno desse lado do rio muito montanhoso. Dali seguíamos de táxi, cruzando a ponte sobre o Araguaia, uma estreita faixa de terra do município de Torixoréu, e outra ponte sobre o Garças, em poucos minutos chegando a Barra do Garças. Disse-me o piloto que ali a aproximação para o pouso era sempre de risco, devido às montanhas do lado mato-grossense, muito próximas da pista.
Eu e o piloto nos hospedávamos no então único hotel de boa qualidade, no centro da cidade, próximo de uma praça circular, ajardinada e com algum equipamento. Certo dia, na mesa do café da manhã, ele me contou uma história interessante: um piloto de aeronave daquela cidade, que ele conhecera, namorava uma filha do dono desse hotel; ao ser rompido o namoro por parte dela, ele, inconformado, fez uma tentativa de suicídio, ao mesmo tempo buscando atingi-la, dirigindo o avião contra o prédio do hotel. Porém, caiu na praça circular, antes de atingir o alvo, destruindo a aeronave e ferindo-se gravemente.


