Artigos e Opinião

ARTIGOS

Segurança no consumo de milho transgênico

Continue lendo...

Desde os primórdios do cultivo de plantas geneticamente modificadas (GM), há cerca de 30 anos, existe um debate recorrente sobre a segurança de seu cultivo e consumo. Aspectos ambientais e de toxicologia têm sido arguidos, o que exigiu a condução de centenas – quiçá milhares – de estudos científicos sobre o tema.

Em cada país ou bloco de países existe uma legislação de biossegurança, com grande similaridade entre elas, que objetiva proteger o ambiente e os consumidores, no que tange ao cultivo e uso de OGMs. Também existem órgãos específicos que zelam pela correta aplicação das regras e normas estabelecidas em lei.

Podemos citar algumas delas como exemplo: Food Safety Commission (Japão), Food Standards (Austrália e Nova Zelândia), U. S. Food and Drug Administration (EUA), European Food Safety Autority (EU), Health Canada (Canadá) e Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (Brasil). O Codex Alimentarius, operado conjuntamente pela Fao e pela Organização Mundial da Saúde, é o órgão de referência internacional para o tema.

Os testes de segurança requeridos para a liberação de um cultivo GM dependem da legislação de cada país. Esses testes, que são muito exigentes e severos, juntamente com os artigos científicos publicado sobre o tema, têm demonstrado a segurança de cultivo e do consumo de produtos transgênicos.

Curto e longo prazo. Parcela ponderável das avaliações de segurança baseiam-se, predominantemente, em estudos de exposição aguda ou subcrônica em roedores, que servem como modelos considerando impactos na capacidade imunológica, no metabolismo e na expectativa de vida. Pincemos alguns exemplos.

Com respeito à segurança quanto ao consumo, um estudo de alimentação de 90 dias em ratos alimentados com milho GM, contendo genes resistentes a insetos (cry1Ac e cry2Ab), demonstrou não haver qualquer prejuízo à saúde dos animais.

Outra preocupação é com o sistema reprodutivo. Um estudo realizado com milho GM, contendo os genes cry1Ab (resistência a insetos pragas) e epsps (resistência ao herbicida glifosato), demonstrou não haver efeitos adversos no sistema reprodutivo de ratos, até a terceira geração.

Como a maioria dos estudos é realizada em prazos curtos (poucos dias ou meses), permanecia o questionamento sobre os efeitos a longo prazo de consumo de cultivos GM. Em julho deste ano, foi publicado um estudo no conceituado periódico Agricultural and Food Chemistry, de autoria de um grupo de pesquisadores chineses. O estudo teve duração de sete anos, utilizando macacos (macaca fascicularis) como modelos, escolhidos por compartilharem mais de 93% do genoma com humanos, e exibirem grande similaridade de respostas imunes e vias metabólicas.

Nesse estudo controlado, foram avaliadas duas gerações de macacos alimentadas durante sete anos com milho transgênico, considerando as redes de citocinas associadas à inflamação e à tolerância imunológica, além do perfil metabolômico sérico. Os autores concluíram que o consumo prolongado de milho transgênico não leva à modulação imunológica ou a distúrbios metabólicos nos animais testados. Segundo eles, os resultados são relevantes para o aprimoramento de padrões regulatórios e para o direcionamento de políticas públicas sobre sistemas alimentares geneticamente modificados.

Esse estudo complementa as informações já acumuladas por investigações anteriores, o que leva agências respeitadas, como a FDA dos EUA, a citarem textualmente que “[...]alimentos transgênicos são cuidadosamente estudados antes de serem vendidos ao público para garantir que sejam tão seguros quanto os alimentos que consumimos atualmente. Esses estudos mostram que os transgênicos não afetam você de forma diferente dos alimentos não transgênicos”.

Importante frisar que a biossegurança vai além do tema deste artigo (consumo alimentar), considerando outros aspectos, em especial, impactos sobre a biodiversidade e o meio ambiente, que não foram aqui analisados.

Assine o Correio do Estado

EDITORIAL

Propag: uma decisão que dura décadas

O secretário de Estado de Fazenda de Mato Grosso do Sul pode até decidir o que prefere destacar, o que não pode é decidir o que a sociedade tem o direito de conhecer

16/12/2025 07h15

Continue Lendo...

O Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag) foi desenhado para revisar termos das dívidas estaduais e permitir quitação em até 30 anos, com encargos menores, atrelando parte do alívio fiscal a investimentos e mecanismos de equalização federativa.

O prazo de adesão termina no dia 31. Trata-se, portanto, de uma decisão com efeitos fiscais, políticos e institucionais de longo prazo.

É justamente por isso que causa estranheza quando um movimento dessa magnitude parece avançar sem publicidade compatível com o tamanho do que está em discussão. Ainda que os ritos formais estejam cumpridos, e o Diário Oficial exista para isso, há decisões que não se esgotam no “publicou e pronto”.

A adesão ao Propag mexe com dívida e espaço fiscal, e isso exige mais do que um carimbo burocrático: exige explicação, justificativa e escrutínio.

Matéria publicada pelo Correio do Estado apontou que a adesão pode ser benéfica e abrir folga fiscal bilionária para os próximos anos. Se isso ocorrer na prática, melhor ainda.

Mas, justamente por ser uma oportunidade desse porte, não faz sentido que a sociedade seja informada por textos que parecem exigir esforço de “investigação”, recortes, vazamentos, boatos e notas lacônicas para compreender o básico. Decisão pública não pode depender de rumor para vir a conhecimento.

O secretário não é apenas o gestor do caixa, é, por definição, o guardião das chaves do cofre e da confiança do governador.

Seu dever não é somente buscar a melhor alternativa financeira, mas assegurar que a população, o Legislativo e os órgãos de controle entendam o que está sendo feito – por que, com quais condições, com quais impactos e com quais riscos.

Publicidade, aqui, não é uma peça de marketing nem release, muito menos demanda jornalística, quando se dão ao luxo de responder, é transparência, informação completa, tempestiva e verificável sobre atos que mexem com o dinheiro de todos.

Quando uma medida desse porte avança sem clareza por parte do secretário, o problema deixa de ser meramente jurídico e passa a ser de transparência. O silêncio produz um efeito inevitável: parece tentativa de fugir de perguntas. E perguntas são inevitáveis e legítimas.

Quais são os termos efetivos da adesão ao Propag? Há contrapartidas obrigatórias? Quais metas de investimento são exigidas e em quais prazos? Que impacto a adesão ao programa traz para a capacidade de investimento do Estado nos próximos anos? Há cláusulas que podem amarrar decisões futuras? Serão oferecidos ativos com lastro? Se sim, quais? Como foram avaliados? Quem avaliou? Esse tipo de compromisso atravessa mandatos e o que ficará para a próxima geração.

Boa governança começa pelo óbvio: se a decisão é boa, não há motivo para tratá-la sob reserva. Pelo contrário, quem tem convicção expõe os fundamentos, abre números, apresenta cenários e convida ao debate. Transparência não atrapalha, transparência protege a própria decisão.

Nada disso impede a adesão ao Propag, pelo contrário, torna a adesão mais legítima e menos vulnerável a ruídos. O que fragiliza não é a discussão, é o vazio de explicações.

O secretário precisa compreender que publicidade não é um favor à imprensa nem ao cidadão, é um dever institucional. É a materialização do princípio de que o erário não pertence a gabinete nenhum, pertence à sociedade.

Se o Propag é uma oportunidade, que seja tratado como tal: com informações completas. Se o secretário quer ser reconhecido como pilar de responsabilidade, não pode agir como se decisões fiscais estruturantes fossem assunto restrito a poucos. Confiança é ativo que não se negocia e, uma vez perdida, dificilmente se reconquista. 

ARTIGOS

Relaxa: você não precisa ter opinião sobre tudo

Estudo recente sobre comportamento em comunidades digitais revelou que quando alguém percebe que a opinião é minoritária, tende a manter o silêncio

15/12/2025 07h45

Continue Lendo...

Existe uma ansiedade silenciosa no ar: a sensação de que você deveria ter uma opinião pronta para cada assunto que aparece no feed. Um acontecimento político numa terça, um comentário de influencer numa quarta, uma treta musical na quinta.

E se você não fala nada, parece que está sendo omisso, alienado, cúmplice ou qualquer outra palavra grande que as redes adoram jogar. Mas a pergunta que vale mais do que todas as indignações do dia é simples: quem disse que você precisa opinar sobre tudo?

A verdade é que a internet criou uma espécie de olimpíada de opiniões. E a largada é dada a cada nova notificação. Só que, quando você olha os números, percebe que esse universo não é tão povoado quanto parece.

Uma pesquisa mostrou que 55% dos americanos já deixaram um comentário on-line em algum momento e 77,9% já leram comentários. Significa que tem muita gente olhando, mas só metade de fato escrevendo alguma coisa.

Quando se vai para os jovens, 55% dizem postar opiniões com frequência e 71% afirmam estar mais confiantes do que nunca para fazê-lo. De novo, parece muito, mas não é todo mundo. É só uma parte barulhenta.

Do outro lado tem um dado incômodo. Um estudo recente sobre comportamento em comunidades digitais mostra que, quando alguém percebe que a opinião dele é minoritária, 72,6% simplesmente ficam em silêncio.

A espiral do silêncio continua funcionando mesmo num ambiente que promete liberdade absoluta para falar o que quiser. Ou seja, o barulho das redes às vezes é menos democracia e mais repetição. A impressão de que “todo mundo está falando” pode ser só a repetição de um mesmo grupo de pessoas com muita disposição e pouco cansaço.

E vale lembrar que esse palco é enorme. O mundo tem 63,9% da população usando redes sociais. É muita gente. São horas diárias rolando tela, consumindo milhares de pequenos estímulos. Nesse ambiente, a opinião virou quase um gesto automático.

Às vezes você nem sabe exatamente o que pensa, mas já sente a pressão de ter que dizer alguma coisa. Ser rápido se tornou mais importante do que ser cuidadoso. E isso tem consequência.

Opinar o tempo todo transforma a discussão pública em uma competição permanente. Você não compartilha uma ideia, você disputa espaço. E existe um dado que mostra o quanto isso escalou: em uma pesquisa internacional, 20% das pessoas disseram que às vezes é necessário ser rude nas redes para que sua opinião seja ouvida.

Um quinto das pessoas já acredita que a forma de existir no debate é gritando. Não tem nada de saudável nisso. Só desgaste.

Talvez seja por isso que, silenciosamente, muita gente está cansada. Opinar sobre tudo virou um tipo de exaustão emocional. Até porque, para opinar sobre tudo, é preciso estar o tempo todo sabendo de tudo. E começar a falar menos pode não ser um gesto de covardia, mas de inteligência.

Você não precisa ser comentarista integral do mundo. Pode escolher onde sua voz realmente importa. Pode esperar. Pode investigar. Pode até mudar de ideia sem precisar explicar isso para ninguém.

Quando quase metade das pessoas não comenta e três quartos se calam quando acham que estão sozinhas, significa que o silêncio não é falta de interesse. É um pedido de pausa. É uma escolha. Não é uma desistência do debate, é só uma forma de não ser engolido por ele.

A ideia de que você precisa ter opinião sobre tudo é só mais uma pressão inventada pela lógica das plataformas. Você não é obrigado a entrar em todas as conversas. Nem deve. O valor da sua voz não está na frequência, está na relevância.

E, às vezes, a decisão mais lúcida é ficar quieto por alguns minutos, horas ou dias. Porque pensar é um processo mais lento do que postar. E tem coisas que não precisam de urgência. Precisam de reflexão. Aliás, a maioria delas.

NEWSLETTER

Fique sempre bem informado com as notícias mais importantes do MS, do Brasil e do mundo.

Fique Ligado

Para evitar que a nossa resposta seja recebida como SPAM, adicione endereço de

e-mail [email protected] na lista de remetentes confiáveis do seu e-mail (whitelist).