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Suíça x Brasil: as diferenças que nos impedem de funcionar como eles

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A Suíça segue como um dos destinos mais atraentes do mundo, com crescimento populacional impulsionado pela imigração e um setor de turismo aquecido. Segundo dados do Trading Economics, a previsão é de que a população suíça alcance 8,91 milhões em 2025, reflexo desse fluxo migratório constante. O turismo também segue em alta, com um aumento expressivo no número de pernoites de brasileiros em 2024 e um desempenho positivo do setor como um todo.

Durante minha passagem pelo país, deparei-me com uma realidade muito diferente da nossa aqui no Brasil. A Suíça impressiona, sem dúvida, mas será que estamos realmente preparados para viver como eles vivem? Porque não se trata apenas de organização ou limpeza, mas de uma cultura inteira fundamentada em responsabilidade, regras, silêncio, pontualidade e, principalmente, na aceitação de que se deve contribuir mais para o bem coletivo.

Por lá, paga-se imposto até pelo cachorro e, em muitas cidades, as crianças vão sozinhas para a escola desde pequenas. Fazer barulho depois de certo horário pode render advertência ou multa. Pode parecer extremo para os nossos padrões, mas essa é uma sociedade que prioriza o bem-estar comum, mesmo que isso signifique abrir mão de certas liberdades individuais.

Outro dado curioso e difícil de imaginar no Brasil é que a maioria dos políticos suíços não vive da política. Eles mantêm seus empregos: são médicos, professores, agricultores, empresários e atuam como parlamentares de forma paralela. Esse modelo, conhecido como “sistema de milícia cívica”, evita que a política se torne uma carreira isolada e, com isso, mantém os representantes conectados à realidade e aos desafios da população. É como se o parlamento fosse formado por cidadãos comuns, que, por um período, se dispõem a colaborar com o país.

E é aqui que cabe uma reflexão: será que queremos mesmo o padrão europeu ou queremos apenas os benefícios de um país de primeiro mundo sem abrir mão de nada? Na Suíça, por exemplo, existe um imposto anual sobre grandes fortunas. Recentemente, o país começou a debater um referendo para taxar em 50% as heranças bilionárias. Isso mostra uma mentalidade coletiva diferente: quem tem mais, colabora mais. Uma lógica que contrasta com o velho ditado brasileiro de que “quem pode mais, chora menos”.

Essa diferença de mentalidade ajuda a explicar por que as coisas funcionam tão bem por lá. Não é só sobre dinheiro ou impostos. É sobre comportamento e valores. É sobre gente que espera o sinal abrir para atravessar a rua, mesmo quando não há nenhum carro à vista. Sobre uma sociedade que não precisa de catracas nas estações de trem e que entende que pagar pelo sistema – mesmo que não o use diariamente – é o que garante sua existência para todos. Não estou dizendo que a Suíça é perfeita, mas talvez seja hora de deixarmos de apenas admirar esses países e começarmos a refletir sobre o que podemos aprender com eles.

Acho que a pergunta mais honesta que podemos nos fazer é: queremos viver como na Suíça ou queremos apenas colher os frutos de um país desenvolvido sem mudar nosso jeito de ser? Como alguém que trabalha com turismo há mais de 20 anos, viaja com grupos, apresenta um programa de viagens na TV e estuda diferentes culturas, posso afirmar: viajar ensina muito mais do que apreciar belas paisagens. Viajar faz a gente pensar. Faz a gente se questionar sobre o que estamos construindo no nosso próprio país. E, às vezes, nos mostra que o “jeitinho brasileiro” pode ser, justamente, o que está nos impedindo de crescer.

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EDITORIAL

Propag: uma decisão que dura décadas

O secretário de Estado de Fazenda de Mato Grosso do Sul pode até decidir o que prefere destacar, o que não pode é decidir o que a sociedade tem o direito de conhecer

16/12/2025 07h15

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O Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag) foi desenhado para revisar termos das dívidas estaduais e permitir quitação em até 30 anos, com encargos menores, atrelando parte do alívio fiscal a investimentos e mecanismos de equalização federativa.

O prazo de adesão termina no dia 31. Trata-se, portanto, de uma decisão com efeitos fiscais, políticos e institucionais de longo prazo.

É justamente por isso que causa estranheza quando um movimento dessa magnitude parece avançar sem publicidade compatível com o tamanho do que está em discussão. Ainda que os ritos formais estejam cumpridos, e o Diário Oficial exista para isso, há decisões que não se esgotam no “publicou e pronto”.

A adesão ao Propag mexe com dívida e espaço fiscal, e isso exige mais do que um carimbo burocrático: exige explicação, justificativa e escrutínio.

Matéria publicada pelo Correio do Estado apontou que a adesão pode ser benéfica e abrir folga fiscal bilionária para os próximos anos. Se isso ocorrer na prática, melhor ainda.

Mas, justamente por ser uma oportunidade desse porte, não faz sentido que a sociedade seja informada por textos que parecem exigir esforço de “investigação”, recortes, vazamentos, boatos e notas lacônicas para compreender o básico. Decisão pública não pode depender de rumor para vir a conhecimento.

O secretário não é apenas o gestor do caixa, é, por definição, o guardião das chaves do cofre e da confiança do governador.

Seu dever não é somente buscar a melhor alternativa financeira, mas assegurar que a população, o Legislativo e os órgãos de controle entendam o que está sendo feito – por que, com quais condições, com quais impactos e com quais riscos.

Publicidade, aqui, não é uma peça de marketing nem release, muito menos demanda jornalística, quando se dão ao luxo de responder, é transparência, informação completa, tempestiva e verificável sobre atos que mexem com o dinheiro de todos.

Quando uma medida desse porte avança sem clareza por parte do secretário, o problema deixa de ser meramente jurídico e passa a ser de transparência. O silêncio produz um efeito inevitável: parece tentativa de fugir de perguntas. E perguntas são inevitáveis e legítimas.

Quais são os termos efetivos da adesão ao Propag? Há contrapartidas obrigatórias? Quais metas de investimento são exigidas e em quais prazos? Que impacto a adesão ao programa traz para a capacidade de investimento do Estado nos próximos anos? Há cláusulas que podem amarrar decisões futuras? Serão oferecidos ativos com lastro? Se sim, quais? Como foram avaliados? Quem avaliou? Esse tipo de compromisso atravessa mandatos e o que ficará para a próxima geração.

Boa governança começa pelo óbvio: se a decisão é boa, não há motivo para tratá-la sob reserva. Pelo contrário, quem tem convicção expõe os fundamentos, abre números, apresenta cenários e convida ao debate. Transparência não atrapalha, transparência protege a própria decisão.

Nada disso impede a adesão ao Propag, pelo contrário, torna a adesão mais legítima e menos vulnerável a ruídos. O que fragiliza não é a discussão, é o vazio de explicações.

O secretário precisa compreender que publicidade não é um favor à imprensa nem ao cidadão, é um dever institucional. É a materialização do princípio de que o erário não pertence a gabinete nenhum, pertence à sociedade.

Se o Propag é uma oportunidade, que seja tratado como tal: com informações completas. Se o secretário quer ser reconhecido como pilar de responsabilidade, não pode agir como se decisões fiscais estruturantes fossem assunto restrito a poucos. Confiança é ativo que não se negocia e, uma vez perdida, dificilmente se reconquista. 

ARTIGOS

Relaxa: você não precisa ter opinião sobre tudo

Estudo recente sobre comportamento em comunidades digitais revelou que quando alguém percebe que a opinião é minoritária, tende a manter o silêncio

15/12/2025 07h45

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Existe uma ansiedade silenciosa no ar: a sensação de que você deveria ter uma opinião pronta para cada assunto que aparece no feed. Um acontecimento político numa terça, um comentário de influencer numa quarta, uma treta musical na quinta.

E se você não fala nada, parece que está sendo omisso, alienado, cúmplice ou qualquer outra palavra grande que as redes adoram jogar. Mas a pergunta que vale mais do que todas as indignações do dia é simples: quem disse que você precisa opinar sobre tudo?

A verdade é que a internet criou uma espécie de olimpíada de opiniões. E a largada é dada a cada nova notificação. Só que, quando você olha os números, percebe que esse universo não é tão povoado quanto parece.

Uma pesquisa mostrou que 55% dos americanos já deixaram um comentário on-line em algum momento e 77,9% já leram comentários. Significa que tem muita gente olhando, mas só metade de fato escrevendo alguma coisa.

Quando se vai para os jovens, 55% dizem postar opiniões com frequência e 71% afirmam estar mais confiantes do que nunca para fazê-lo. De novo, parece muito, mas não é todo mundo. É só uma parte barulhenta.

Do outro lado tem um dado incômodo. Um estudo recente sobre comportamento em comunidades digitais mostra que, quando alguém percebe que a opinião dele é minoritária, 72,6% simplesmente ficam em silêncio.

A espiral do silêncio continua funcionando mesmo num ambiente que promete liberdade absoluta para falar o que quiser. Ou seja, o barulho das redes às vezes é menos democracia e mais repetição. A impressão de que “todo mundo está falando” pode ser só a repetição de um mesmo grupo de pessoas com muita disposição e pouco cansaço.

E vale lembrar que esse palco é enorme. O mundo tem 63,9% da população usando redes sociais. É muita gente. São horas diárias rolando tela, consumindo milhares de pequenos estímulos. Nesse ambiente, a opinião virou quase um gesto automático.

Às vezes você nem sabe exatamente o que pensa, mas já sente a pressão de ter que dizer alguma coisa. Ser rápido se tornou mais importante do que ser cuidadoso. E isso tem consequência.

Opinar o tempo todo transforma a discussão pública em uma competição permanente. Você não compartilha uma ideia, você disputa espaço. E existe um dado que mostra o quanto isso escalou: em uma pesquisa internacional, 20% das pessoas disseram que às vezes é necessário ser rude nas redes para que sua opinião seja ouvida.

Um quinto das pessoas já acredita que a forma de existir no debate é gritando. Não tem nada de saudável nisso. Só desgaste.

Talvez seja por isso que, silenciosamente, muita gente está cansada. Opinar sobre tudo virou um tipo de exaustão emocional. Até porque, para opinar sobre tudo, é preciso estar o tempo todo sabendo de tudo. E começar a falar menos pode não ser um gesto de covardia, mas de inteligência.

Você não precisa ser comentarista integral do mundo. Pode escolher onde sua voz realmente importa. Pode esperar. Pode investigar. Pode até mudar de ideia sem precisar explicar isso para ninguém.

Quando quase metade das pessoas não comenta e três quartos se calam quando acham que estão sozinhas, significa que o silêncio não é falta de interesse. É um pedido de pausa. É uma escolha. Não é uma desistência do debate, é só uma forma de não ser engolido por ele.

A ideia de que você precisa ter opinião sobre tudo é só mais uma pressão inventada pela lógica das plataformas. Você não é obrigado a entrar em todas as conversas. Nem deve. O valor da sua voz não está na frequência, está na relevância.

E, às vezes, a decisão mais lúcida é ficar quieto por alguns minutos, horas ou dias. Porque pensar é um processo mais lento do que postar. E tem coisas que não precisam de urgência. Precisam de reflexão. Aliás, a maioria delas.

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