Nem sempre me empolgo com artigos de Claudio de Moura Castro em assuntos de educação, mas o “Conspiração para a pobreza” confirmou pontos de vista com os quais nos afinamos. Discute a correlação entre pobreza e riqueza a partir da qualidade da educação de um país. Sua análise perpassa fatos históricos da humanidade e, num texto limpo, claro e objetivo, expressa o que muitos de nós também concordamos e acredito que seja um alerta para quem não se afina com assuntos desta natureza.
Moura Castro, economista, especialista em educação, convida à reflexão considerando três fatores. Primeiro, a linguagem escrita, iniciada com os hieróglifos egípcios até chegar ao primeiro alfabeto que veio da Grécia pré-clássica e generaliza-se pela sociedade grega, deixando os escravos de fora. Este avanço da escrita facultou ganhos de qualidade de vida àqueles povos, dada a sua natureza que exige disciplina na sua preparação, exercício do pensamento entre o concreto e o abstrato, diferenciando escolarizados de não escolarizados do ponto de vista de melhores e piores situações sociais. O segundo motivo nasceu com Gutemberg, multiplicando a velocidade da confecção de livros de forma exponencial, quando comparado com os calígrafos dos monastérios, distanciando mais ainda leitores de não leitores. Quando a convivência se dá em grupos fechados, o comunicar-se passa a ser quase um dialeto só entendido por aquela comunidade de não leitores, ao passo que um autor de livro, por mais distante que esteja do leitor, é por ele entendido. Outro ponto, a Revolução Industrial, que embora feita na Inglaterra e Escócia, não por cientistas ou aristocratas, mas por mecânicos que sabiam ler e escrever, à medida que seus inventos iam ficando mais complicados, exigiam maior preparação e ir à escola tornou-se cada vez mais necessário para quase todos no mundo profissional. Na atualidade, a vida vai ficando progressivamente mais difícil para quem não sabe lidar com a informática e com a comunicação e todos, do chão da fábrica aos mais altos escalões, estão presos a esta realidade em que os aparelhos cada vez mais sofisticados exigem preparação progressivamente mais especializada para o enfrentamento do mercado. Economias mais avançadas estão em países que assimilaram, de fato, a estreita relação entre conhecimento e riqueza. É o caminho mais inteligente. Tempos atrás, quando em sala de aula, dizia eu aos meus alunos que o progresso de uma nação chega pela guerra, sempre sofrida, ou pela educação. Melhor que seja por esta. Lógico!
Já perdemos muito tempo paralisados por questões ideológicas. Deixou-se de lado a meritocracia, reduziram-se horizontes do conhecimento desestimulando os mais capazes e hoje vivemos como pobres num país muito rico porque nossa base de educação é frágil e os defeitos então produzidos não se corrigem, mesmo em cursos de pós-graduação. Neste momento político no qual estamos inseridos, cresce o número de pessoas preocupadas com o baixíssimo nível da qualidade do ensino nacional, tanto de escolas particulares como do sistema público, principalmente em relação aos resultados de avaliações comparativas entre países ou resultados de concursos públicos ou avaliações profissionais em diversas instâncias. Isto é salutar. É URGENTE que se assuma o compromisso governamental por uma educação de qualidade no Brasil, aprendendo com quem já acertou, reduzindo-se as distâncias entre escolas para ricos e para pobres, capacitando e formando professores, artífices deste processo, apoiando-os pedagogicamente, com incentivos de reconhecimento e estímulo para que estudem de forma permanente, reorganizando-se cursos de formação de professores, hoje quase inexistentes em nosso país, que os ensine a ensinar crianças e jovens, num momento de tantas mudanças sociais e de mercado projetando-os para carreiras ainda inexistentes, mas que farão parte de suas vidas numa sociedade global em ebulição. Com certeza, uma tarefa hercúlea, mas não há outro caminho. É preciso fazê-la.


