Em Audiência Pública promovida na Câmara Municipal de Campo Grande na última quarta-feira (17), foram debatidas propostas voltadas à organização na Rua 14 de Julho, um dos polos de cultura, lazer e economia da Capital. O debate foi proposto pelo vereador Jean Ferreira (PT), vice-presidente da Comissão Permanente de Juventude da Câmara.
O debate teve a presença de representantes de bares locais, ambulantes, frequentadores da Rua, artistas e profissionais da área de segurança.
Para o vereador Jean, a Audiência foi motivada em razão dos casos de violência ocorridos nas últimas semanas na 14. Em um dos casos, como noticiado pelo Correio do Estado, Ismael Eliel Rodrigues de Souza, de 22 anos, foi morto a facadas durante a madrugada do dia 7 de setembro na Rua Maracaju, esquina com a Rua 14 de Julho.
Testemunhas relataram que Ismael teria sido atacado por um homem conhecido como “Totó”, supostamente por dívidas relacionadas ao tráfico de drogas. A companheira da vítima, que não presenciou o crime, e uma amiga dela confirmaram a versão.
Durante o trabalho da polícia, a situação se agravou quando pessoas que passavam começaram a arremessar garrafas, pedras e outros objetos contra os militares. Para conter os ataques, a equipe da Força Tática reagiu com disparos de balas de borracha, dispersando os agressores.
“Precisamos debater a segurança na 14. A questão da segurança envolve ainda a ausência do Executivo em fazer a organização do espaço enquanto local público de lazer. Existe vida de cultura ali, mas também há os moradores”, afirmou Jean durante o debate, salientando que Campo Grande tem um público sedento por lazer e que é dever do poder público organizar e fomentar essa necessidade, pensando na geração de emprego e fortalecimento da economia.
Representando os bares na 14 de Julho, Leonardo Soldati sugeriu a criação de um grupo de trabalho para discutir soluções às problemáticas apresentadas na audiência, a fim de melhorar o diálogo com a prefeitura.
Soldati reforçou que o Centro da cidade tem grande potencial, o que motivou novos empreendimentos na região. Também reforçou a necessidade em regular o trabalho dos ambulantes, que seguem vendendo depois que os bares são fechados no horário estabelecido.
“Muitas vezes, as gestões têm dificuldade em entender a cultura como fator positivo para a segurança. Juntar pessoas sempre vai trazer impacto. Cultura e segurança não podem ser opostos”, afirmou Vinicius Gades, articulador da Associação dos Bares de Goiânia, que contribuiu com a Audiência trazendo como exemplo a Rua do Lazer, na capital de Goiás.
Vida noturna na 14 de Julho / Divulgação Bar Má DonnaSegurança
A comandante do 1° Batalhão da Polícia Militar, coronel Cleide Maria, que atua no Centro, citou a parceria da PM nas iniciativas para qualidade de vida da população, citando que os bares da 14 representam um polo de cultura, convivência e geração de emprego.
“Momentos como este, de diálogo democrático, são importantíssimos. É um assunto que impacta a vida dos moradores, comerciantes e frequentadores”, afirmou e acrescentou que “a Polícia existe para manutenção da ordem e segurança da sociedade, sem reprimir a legitimidade de empreender e se divertir”.
Para o presidente da Associação dos Guardas Municipais, Hudson Bonfim, é viável a aprovação de uma lei municipal para fechar a Rua 14 de Julho aos finais de semana, bem como a criação de um grupo de estudos para discutir as melhorias necessárias.
“Estamos fazendo trabalho intensivo ali na área central. Temos que pensar num contexto geral, nos profissionais que ali atuam, nos ambulantes”.
Atuação do poder público
A lei de criação do Corredor Cultural e Gastronômico da Rua 14 de Julho foi aprovada em 2024, de autoria do vereador Ronilço Guerreiro. Durante o debate, Guerreiro ressaltou que há muitas opções de comércio próximo aos bairros de Campo Grande e que é preciso “trazer atrativos culturais para o Centro da cidade”.
Entre as necessidade do local, ele citou a intensificação da segurança (contando também com a Guarda Municipal), respeito aos moradores, banheiros para os frequentadores, discutir legislações específicas para os ambulantes e a responsabilidade de limpeza do ambiente.
Para a vereadora Luiza Ribeiro, o poder público tem falhado na atuação na Rua, como por exemplo na questão dos ambulantes e da limpeza urbana, que são atribuições da Prefeitura.
“A Prefeitura tem competência específica. Nessa gestão, há uma total ausência com suas responsabilidades. A lavagem das calçadas depois dos eventos é algo básico. Como a prefeitura não consegue fazer isso?”, perguntou.
A vereadora acrescentou ainda que, apesar das dificuldades, o movimento que ocorre hoje na 14 de Julho é muito importante para reviver esse espaço no Centro da cidade.
14 de Julho
Em 2018, a Prefeitura de Campo Grande deu início a um dos maiores projetos de revitalização e intervenção urbana já realizados na Capital. Foram cinco anos de obras, que envolveram a instalação de fiação subterrânea, trazendo limpeza à paisagem, ampliação de 35 quilômetros de calçadas acessíveis, iluminação de LED, mobiliário urbano totalmente novo, com bancos, lixeiras e outros 78 conjuntos, além do plantio de 1.300 árvores.
No período de obras, o processo foi desgastante, especialmente para os comerciantes. A queda no movimento, as incertezas e a redução nas vendas foram alguns dos vários desafios. No entanto, vários resistiram. Hoje, a Rua 14 de Julho tem mais de 500 lojas e pontos comerciais, mostrando que está mais viva do que nunca.
Quem caminha pelo Centro hoje encontra calçadas largas, acessibilidade, arborização reforçada, postes modernos e iluminação que valoriza a arquitetura e a segurança. O visual renovado traz à rua um novo status de cartão-postal, sendo palco de eventos culturais, especialmente os bares, com shows de rock e encontros musicais, e datas comemorativas, como o Natal Iluminado.
Além de embelezar e valorizar a região, a revitalização trouxe novas lojas, cafeterias e fez reviver a vida noturna na região, que há anos estava parada. A abertura de bares, pizzarias, lounges e lanchonetes faz da 14 de Julho uma nova opção de lazer quando o comércio encerra as atividades.
Após uma reforma completa, a Rua 14 de Julho, onde a cidade nasceu, agora vive uma nova fase, com maior concentração de vida noturna, mas sem deixar de lado seu aspecto de via comercial. / Foto: Gerson Oliveira


