Por meio de celulares, presos ligados à facção Primeiro Comando da Capital (PCC) conseguiram montar uma “central de inteligência” para planejar a execução de 12 servidores da segurança pública de Mato Grosso do Sul, como policiais e agentes penitenciários.
Com aparelhos de última geração que garantem acesso à internet, os criminosos acessam redes sociais e páginas oficiais do governo para obter informações sobre lotação, transferência e rotina particular dos alvos. A descoberta reflete a ineficácia do Estado em proibir a entrada de telefones nas unidades prisionais.
O plano foi descoberto ao longo de quatro meses de investigações realizadas pela Delegacia Especializada de Combate ao Crime Organizado (Deco). Nesta quarta-feira, a Deco deflagrou a Operação Impetus, juntamente com o Batalhão de Choque da Polícia Militar, com objetivo de capturar as lideranças do PCC responsáveis pela coordenação dos atentados.
Ao todo, cinco integrantes da facção foram conduzidos à Deco para prestarem depoimento. São eles Augusto macedo Ribeiro, Diego Duveza Lopes Nunes e Willyan Luiz de Figueiredo, que estavam presos no Estabelecimento Penal de Segurança Máxima Jair Ferreira de Carvalho, em Campo Grande, e Laudemir Costa dos Santos e Waltensir Sampatti Nazareth, que estavam na Penitenciária Estadual de Dourados (PED).
A delegada Ana Cláudia Medina, titular da Deco, disse que agentes e investigadores notaram movimentação suspeita entre presos da Máxima, especificamente no Pavilhão 2, onde encontram-se os faccionados. “Vimos também que havia alguns registros de boletim de ocorrência de ameaças sofridas por servidores, mas de uma forma diferente do que estávamos habituados”, explicou.
A partir da suspeita da existência de algo maior, a Deco e a Agênci Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen) realizaram vistoria no presídio da Capital, oportunidade em que foram apreendidos diversos celulares. “Ao analisarmos os aparelhos, descobrimos que havia um tipo de central da inteligência, assim como é na polícia, montada pelos criminosos para planejar atentados contra servidores. Os celulares são as maiores armas usadas pelo PCC”, afirmou.
VIDAS EXPOSTAS
De acordo com a delegada, os cinco investigados compunham núcleo do PCC que, a mando do “Resumo”, como eles chamam a chefia principal, lideravam e distribuíam tarefas a outros presos e comparsas que estão soltos. “Eles sabiam tudo da vida de cada um. Os servidores estavam marcados para morrer”, pontuou Medina. Ou seja, os alvos tiveram suas vidas particulares expostas..
Muitas informações eram obtidas pelas redes sociais como Facebook, Instagram e Twitter e compartilhadas, de forma compartimentada, com outros criminosos por WhatsApp. Até mesmo detetives particulares eram usados.“Os líderes passam atribuições específicas para cada um, mas um não sabia o que o outro estava fazendo”.
Tais atribuições iam desde monitorar as redes sociais e grupos, incluindo perfis fakes, até acompanhar o Diário Oficial do Estado para checar nomeações, transferências e promoções. “Nós encontramos prints de uma publicação do Diário Oficial com uma lista de promoções dos servidores. Eles sabiam onde as vítimas moravam, com quem se relacionam e até os carros”.
A Polícia Civil acredita que o policial militar Juciel Rocha Professor, de 25 anos, morto em uma lanchonete no dia 10 de fevereiro, em Maracaju, tenha sido alvo do plano. Isso porque Maicrom Selmo dos Santos, preso pelo crime, chegou ao presídio com “status de liderança”, como se tivesse sido promovido pelo ato. “Foi descoberto que o grupo mantinha contatos e agia em outras cidades, além de Campo Grande e Dourados, incluindo também Três Lagoas, Naviraí, Corumbá e Dois Irmãos do Buriti”.
CELULARES EM PRESÍDIO
A delegada reforça de que não há dúvidas da importância dos celulares para a comunicação dos presos com os comparsas. A Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen) destacou que na Máxima há uma esteira detectora que auxilia os agentes nas fiscalizações, juntamente com escâneres corporais. Rotineiramente são realizadas vistorias que resultam na apreensão de objetos proibidos nos presídios.
No entanto, muitos celulares chegam à unidade por meio de arremessos. Apesar da existência de câmeras de segurança externas e de policiais militares na muralha, muitos aparelhos ainda conseguem chegar aos presos. A Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) disse que há bloqueador de celular na Máxima, mas entende que a tecnologia tem limites. Além disso, aguarda resolução do Governo Federal para fazer novos investimentos. Confira abaixo nota da Sejusp.
"A Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), informa que o sistema penitenciário de Mato Grosso do Sul conta com a tecnologia de bloqueio de celulares, porém necessita de atualização. Para ampliar a efetividade do sistema, a Sejusp aguarda a aprovação, pelo Congresso Nacional, do projeto do senador Eunício de Oliveira, que que prevê que as operadoras de celular instalem nos presídios bloqueadores de telecomunicações. Juntamente com os secretários de todas as unidades da Federação, o dirigente da Sejusp durante uma reunião do Colégio Nacional de Secretários de Segurança, encaminharam um expediente ao ministro Sérgio Moro e ao presidente da República, solicitando celeridade na aprovação de projeto".