A assembleia que os motoristas do transporte coletivo de Campo Grande fariam na próxima segunda-feira (27) foi cancelada depois que o Consórcio Guaicurus se comprometeu a pagar o adiantamento salarial (vale) na mesma data. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Coletivo Urbano de Campo Grande (STTCG), Demétrio Ferreira, confirmou nesta sexta-feira (24) que recebeu um ofício do consórcio garantindo o pagamento.
Com isso, o risco de nova paralisação ou greve, que poderia ocorrer na terça-feira (28), foi suspenso. Na última quarta-feira (22), os motoristas paralisaram as atividades por cerca de três horas no início da manhã, prejudicando quem depende do transporte público.
O impasse salarial acontece enquanto a Prefeitura de Campo Grande regulariza os repasses ao sistema de transporte coletivo. Nos últimos dois dias, o município transferiu 2,3 milhões de reais em subvenções ao consórcio. Ainda faltam 1,03 milhão, que deve ser pago até o início da próxima semana com recursos do Fundo Municipal de Saúde.
Segundo a secretária de Fazenda, Márcia Helena Okama, parte das gratuidades custeadas pelo município está ligada ao transporte de pacientes renais crônicos, pessoas em tratamento de câncer e portadores de algumas DSTs. Por mês, a prefeitura repassa, dependendo do fluxo de passageiros, 1,5 milhão de reais. Com o pagamento previsto, ainda restam os meses de novembro e dezembro para completar o subsídio anual.
Okama ressaltou que a regularização inclui pagamentos já realizados e que o Consórcio Guaicurus já recebeu os repasses feitos nos últimos dois dias. Com isso, os atrasos que geraram a paralisação de quarta-feira foram parcialmente resolvidos, garantindo ao menos temporariamente a normalidade do serviço.
A secretária também informou que a inadimplência do município junto ao Tesouro Nacional está quase totalmente resolvida. O município não consta mais no Cadin (Cadastro de Inadimplentes da Receita Federal), que impede o recebimento de transferências voluntárias de outros entes públicos. O bloqueio havia impedido que o Governo de Mato Grosso do Sul repassasse 3,3 milhões de reais referentes ao subsídio do transporte coletivo. Com a situação regularizada, o Estado poderá transferir sua parte do subsídio normalmente.
A coletiva ainda contou com a presença do presidente da Agência Municipal de Transporte e Trânsito (Agetran), Paulo da Silva, e do presidente da Agência Municipal de Regulação de Serviços Públicos (Agereg), José Mário Antunes da Silva. Eles reforçaram que, com a regularização dos repasses, esperam que o serviço funcione sem novas paralisações e alertaram que o Consórcio Guaicurus pode ser multado caso os ônibus não circulem normalmente.
O subsídio ao transporte coletivo foi criado após a pandemia para ajudar a equilibrar as contas do sistema. Hoje, o consórcio recebe 6,17 reais por passagem, enquanto o usuário paga 4,90 reais. A diferença é coberta pela prefeitura e pelo governo do estado, garantindo o funcionamento do transporte e evitando reajustes diretos na tarifa.
Paralisação
Conforme divulgado pelo Correio do Estado, na quarta-feira (22), as ruas de Campo Grande amanheceram sem os ônibus do transporte coletivo. Na ocasião, os motoristas retardaram em uma hora e meio o início das atividades em protesto ao atraso no pagamento do adiantamento salarial que normalmente é feito no dia 20 de cada mês.
O atraso no pagamento do chamado vale, da ordem de R$ 1,3 mil, atingiu o bolso de cerca de mil trabalhadores, segundo Demétrio de Freitas. "Infelizmente o consórcio não fez esse depósito. Esperamos até ontem e fomos informados que não iam pagar e não havia data definida para efetuar esse pagamento. Por isso tomamos essa iniciativa de fazer esse protesto hoje pela manhã", afirmou o presidente do sindicato.
O protesto e a ameaça de greve por tempo indeterminado coincide com as reivindicações, inclusive por meio da Justiça, dos proprietários das empresas pelo reajuste da tarifa, que desde o dia 24 de janeiro está em R$ 4,95. Os empresários reivindicam reajuste da ordem 26%, o que elevaria a tarifa para R$ 6,17.
*Colaborou Eduardo Miranda


