De olho na administração de drogas no País que podem chegar até o continente europeu, traficantes de outros estados se uniram para transformar Campo Grande em um centro logístico de entorpecentes.
Em entrevista ao Correio do Estado, o delegado titular da Delegacia Especializada de Repressão ao Narcotráfico (Denar), Hoffman D’Ávila Cândido e Sousa, esclareceu os motivos de surgirem em Campo Grande tantos entrepostos (armazéns e depósitos) para esconder drogas, como cocaína e maconha, que atravessam a fronteira.
“Em razão da posição topográfica de Mato Grosso do Sul, que faz divisa com cinco estados, são formados consórcios entre traficantes de outros estados que aqui se instalam para receber a droga advinda da Bolívia e do Paraguai, que passa pela fronteira seca vulnerável, que é transformado em corredor para entorpecentes”, disse Hoffman.
Localizada na região central de Mato Grosso do Sul, Campo Grande se consolida cada vez mais como uma das principais centrais de distribuição de drogas para diversas regiões do País. Sabendo deste movimento ilegal, a polícia civil trabalha com ações de inteligência para identificar e mapear as regiões da Capital onde os entrepostos de droga se encontram.
“Fazemos o trabalho de campo e de inteligência com a troca de informações com a fonte que temos. Além deste combate interestadual, também há o combate ao tráfico doméstico, que são as pequenas bocas de fumo onde se fomenta outros tipos de delito”, explicou o delegado.
Em 2023, o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) realizou o cumprimento de mandados durante a Operação Entrepostos, que investigou o envolvimento de transportadoras no armazenamento e no carregamento de caminhões com cargas contendo drogas.
A operação tinha o objetivo de desmantelar uma organização criminosa armada de tráfico interestadual que atuava em Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraná e São Paulo.
Foram cumpridos 33 mandados de prisão preventiva e 30 mandados de busca e apreensão em Campo Grande, Ponta Porã e nos demais estados citados. O Gaeco informou que 15 pessoas também foram presas em flagrante na ação.
Na logística do grupo criminoso, segundo o Gaeco, os integrantes exerciam diversas funções, como gerenciar e coordenar atividades desde a aquisição das cargas de drogas, em Campo Grande e Ponta Porã, até o transporte ao destino final, além daqueles que serviam como motoristas das cargas, “batedores” e auxiliares de carga e descarga dos caminhões.
O diferencial dessa organização era o acesso a transportadoras de cargas, o que viabilizava aos criminosos sempre contratar fretes de cargas lícitas, tais como grãos e madeira, que serviam para ocultar os entorpecentes e dificultar a fiscalização.
A organização criminosa locava grandes galpões ou barracões em Campo Grande, que serviam para armazenar temporariamente as cargas de drogas vindas da cidade fronteiriça de Ponta Porã.
Nesses locais, ocorria o carregamento e a mistura com a carga lícita nos grandes caminhões de carga que realizavam o transporte para o destino final, que seriam traficantes residentes em outros estados, como São Paulo e Minas Gerais.
TRAFICO INTERNACIONAL
Na segunda-feira, uma organização criminosa que atua em Campo Grande teve seu entreposto fechado e cerca de 400 quilos de cloridrato de cocaína apreendidos. Os criminosos tentavam levar a substância para o estado do Paraná, com o objetivo de embarcar no Porto de Paranaguá a droga, que estava escondida entre portas de madeira, com destino à Europa.
Dos quatro envolvidos no crime, apenas dois foram presos com ligação direta ao esquema criminoso, ambos eram de fora do Estado, um era paulista e o outro indivíduo paranaense, os demais foram liberados em seguida.
Segundo o delegado, a estrutura do esquema criminoso demonstra refinado vínculo estratégico e coordenação com compradores em diferentes estados e, possivelmente, na Europa, o que evidencia uma operação sofisticada.
Hoffman não descartou, por exemplo, que membros de facções criminosas possam estar envolvidos nesta organização do tráfico internacional.
“Há indícios de que sim, pelo valor agregado que a droga tem, é uma droga do tipo de exportação, com inúmeras pessoas envolvidas, então, tem grande chance de ter faccionados nesta empreitada criminosa”, declarou.
Sobre o tipo de substância, Hoffman cita que esse tipo de cocaína é conhecida como “escama de peixe”.
Basicamente, o cloridrato é uma forma mais purificada e cristalizada da cocaína, caracterizada pelo grau de pureza mais elevado, frequentemente associado a um efeito mais intenso e previsível no usuário.
Saiba
Os suspeitos presos na operação que apreendeu 400 kg de droga devem responder por associação ao tráfico e tráfico de drogas, e somente a pena para este último crime pode chegar até 15 anos de prisão.


Os ônibus voltaram a pegar passageiros na noite de ontem, após três dias inteiros sem nenhum carro em circulação na Capital - Gerson Oliveira/Correio do Estado
Feito por Denis Felipe com IA


