Cidades

Consciência negra

Contra a estatística, profissionais negros ocupam cargos de chefia em MS

De 207 defensores públicos atuando em Mato Grosso do Sul, apenas 15 são declarados pretos

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De 207 defensores públicos em Mato Grosso do Sul, apenas 15 são declarados negros. A diferença nos números mostra a desigualdade social presente no mercado de trabalho e que afeta a vida de milhares de profissionais que lutam por um espaço – predominantemente branco.

No Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, o defensor público José Farias, 54 anos, relembra toda a trajetória que precisou percorrer para chegar ao cargo. Filho de lavradores negros e analfabetos, ele estudou em escolas da zona rural e trabalhou em lavouras até os 18 anos, quando ingressou no Exército Brasileiro.  

Farias chegou a trabalhar na Polícia Militar de São Paulo e na Polícia Rodoviária Federal, enquanto cursava Direito. Em todo esse percurso, reparou ao longo dos anos que era muitas vezes o único negro na sala de aula. “Casado e com filho de cinco anos, tendo que trabalhar e estudar, ingressei na Defensoria, concorrendo com diversos candidatos que tinham oportunidade de se dedicar exclusivamente aos estudos. Ao que me recordo, fui o único negro que obteve êxito naquele concurso, reforçando o que constatei em toda minha vida escolar, em que o negro sempre foi a minoria”, relata.

Segundo Farias, a oportunidade que teve de se formar foi uma raridade. “Salvo exceções pontuais, todos meus contemporâneos ainda estão por ali, lavrando, plantando e colhendo”, pontua.  

O defensor detalha que percebe a desigualdade nos corredores dos fóruns em que trabalha, onde os advogados, juízes, promotores de Justiça e defensores públicos pretos e pretas são raros. Farias trabalha na Defensoria há 16 anos e explica que em todas as comarcas que trabalhou pôde verificar in loco a acentuada discriminação racial. “Na outra ponta da tabela, os negros são a maioria, porque ali, nos mesmos corredores, conduzidos algemados e de cabeça baixa, são condenados por um racismo estrutural e sistêmico, em que o negro é colocado em uma posição inferior, na qual, consciente ou inconscientemente, é subjugado na forma de se ver e de ser visto dentro da sociedade”, reforça.

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Cotas

Dos 15 defensores públicos negros de Mato Grosso do Sul, apenas um não entrou pelo sistema de cotas.  

Para Farias, que entrou na Defensoria como cotista, as vagas são uma importante conquista para os negros, que devem lutar por mais medidas efetivas para combater a desigualdade racial no País. 

“Só por meio do acesso à educação e à informação poderemos evitar outros episódios de racismo, tristes e lamentáveis, ocorridos aqui e nos Estados Unidos, palco de expressivos protestos”, acredita o defensor.

Assim como o colega, Maria Clara de Morais Porfírio também entrou na Defensoria Pública por intermédio do mesmo sistema, em 2013, no primeiro concurso da Defensoria com vagas para as cotas raciais. 

“Não escondo de ninguém que fui aprovada dentro das cotas raciais no concurso da Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul, que entendo ser de grande valia e incentivo a todos para fazerem uso desse direito”. 

A defensora explica que sempre estudou em escolas públicas, durante todo Ensino Fundamental, Médio e Superior, quando cursou Educação Física e Direito. 

Porfírio foi aprovada pela Universidade Federal de Goiás em uma turma com 50 alunos, onde foi a única mulher negra. 

“O sentimento que evidencia é que aquele ambiente não te pertence. Não foi feito para que o negro circule, para que tome parte de Ensino Superior. Mas contrariando o sistema, lá estava a Maria Clara”, ressalta.

Após a conclusão do curso de Direito pela Universidade Federal de Goiás, advogou por dez anos, enquanto estudava para concursos públicos da área jurídica. 

A decisão de ser defensora pública veio quando percebeu que tinha muita dificuldade em cobrar honorários de pessoas carentes.  

Única mulher preta em um ambiente formado principalmente por homens brancos, Maria Clara frisa que esse também é um motivo de preocupação. 

“Tornar-me defensora é ter a possibilidade de mostrar que a luta é árdua, mas vale a pena. E ainda, explicitar que outras pessoas pretas também podem vir futuramente a ocupar cargos de poder, de decisão, de grande responsabilidade”, complementa.  

Desigualdade  

Em Mato Grosso do Sul, dados da Síntese de Indicadores Sociais (SIS) indicam que em 2019 a população branca ganhava 49,6% a mais que a preta e parda. 

Conforme a pesquisa, enquanto brancos recebiam R$ 2.736, pretos e pardos obtinham R$ 1.828. Em 2019, os pretos e pardos possuíam as maiores taxas de desocupação e informalidade, estavam em maior número nas faixas de pobreza e extrema pobreza e moravam com mais frequência em locais com algum tipo de inadequação.  

Um dos principais indicadores do mercado de trabalho, a taxa de desocupação no ano passado foi de 6,9% para brancos e 9% para pretos ou pardos.

Apesar de serem 55,1% da população do Estado, pretos ou pardos são 65,1% dos mais pobres e apenas 33,4% dos que recebem os melhores rendimentos.

Até janeiro

Greve: dentistas suspendem atendimentos em 44 postos de saúde da Capital

Categoria manterá apenas serviços de urgência e emergência durante paralisação grevista

15/12/2025 16h45

Assembleia realizada na sede do sindicato em novembro deste ano

Assembleia realizada na sede do sindicato em novembro deste ano Foto: Sioms / Divulgação

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Por unanimidade, os dentistas que trabalham na Prefeitura de Campo Grande suspenderam por 30 dias os atendimentos em 44 postos de saúde da Capital, paralisação que se inicia já nesta quarta-feira (17). 

A decisão da categoria acontece após a Prefeitura de Campo Grande descumprir as decisões judiciais referentes ao reposicionamento do Plano de Cargos, Carreira, além de reivindicações sobre a falta de condições de trabalho nas unidades de saúde da capital.

A categoria afirma que o movimento é consequência do descumprimento, por parte da gestão municipal, do prazo judicial para efetivar o reposicionamento salarial determinado pela Justiça, decisão já confirmada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Desde maio deste ano, os profissionais buscam reaver ajustes salariais que ficam entre 15% e 68%.

Presidente do Sindicato dos Odontologistas de Mato Grosso do Sul (Sioms) David Chadid destacou que várias foram as tentativas de acordo com o município.

"As propostas apresentadas (pela prefeitura) não atendem os interesses da categoria, que além de exigir o cumprimento das decisões judiciais, também precisam de melhores condições de trabalho para o atendimento da população", declarou.

Cabe destacar que, nas últimas semanas, sindicalistas e membros do Comitê de Saúde da Capital sentaram-se para discutir os ajustes já previstos por lei, entretanto, a administração municipal não apresentou propostas aprovadas pelos sindicalistas. 

Com isso, 71 dos 168 profissionais seguem trabalhando. Atendimentos ambulatoriais eletivos serão mantidos.

"Esse movimento paredista visa garantir o cumprimento dos direitos legalmente reafirmados por processos judiciais e que não estão sendo cumpridos", declarou o presidente em ofício encaminhado ao Ministério Público do Trabalho nesta segunda-feira (15). 

Paralisação

Apesar da suspensão em grande parte dos pontos de atendimento, os profissionais garantiram mais de 50% de funcionamento do setor odontologico da Capital, de forma que a população não fique desassistida.

"Legalmente seria necessário manter 30% do atendimento, mas optamos por 50% em consideração à população, que já está sofrendo com a falta de insumos e equipamentos para os atendimentos odontológicos, que não estão sendo fornecidos pela gestão", pontuou o presidente.

David Chadid também garantiu que todos os casos de urgência e emergência serão atendidos. "Todo o processo de paralisação cumpre rigorosamente o que está preconizado por lei. Estaremos atendendo esses casos e remanejando os demais". E acrescentou: "Pedindo a compreensão da população neste momento, pois nos falta o básico para trabalhar, como é o caso dos compressores, que há muito tempo estamos denunciando."

O presidente reforçou que para que não haja greve será necessário o imediato cumprimento das decisões judiciais.

Imbróglio

O descumprimento da liminar que garante a progressão vertical da carreira foi considerado o estopim para a paralisação, uma vez que, segundo o sindicato, os profissionais estão há três anos sem atualização salarial e a não regulamentação do auxílio-alimentação.

Entre os pedidos, os sindicalistas querem a implementação a partir de abril de 2026 de auxílio alimentação de R$ 800, além de reposição de 15% sobre os pagamentos de plantões a partir de setembro do próximo ano - sendo os dois últimos pedidos escalonados em duas parcelas. 

Além de reposições salariais, a categoria também está pedindo melhores condições de trabalho. Recentemente, cerca de 100 dentistas relataram condições precárias de trabalho nas unidades municipais de saúde, incluindo compressores quebrados, falta de insumos básicos, como luvas e rolinhos de algodão, além da pressão crescente sobre os profissionais, fatores que, segundo o sindicato, impactam diretamente a qualidade do atendimento à população.

Pontos que seguem em funcionamento

DISTRITO ANHANDUIZINHO

  • CF Dr. Mauro Rogério de Barros Wanderley - Iracy Coelho
  • USF Paulo Coelho Machado
  • USF Dr. Wagner Jorge Bortotto Garcia - Mário Covas
  • USF Dr. Jorge David Nasser-Jockey Club
  • USF Nova Esperança
  • USF Dr. Olimpio Cavalheiro - COHAB
  • USF Dom Antônio Barbosa
  • USF Los Angeles
  • USF Macaúbas

Subtotal: 9 unidades - 20 profissionais

DISTRITO BANDEIRA

  • USF Dr. Germano Barros de Souza - Universitário
  • USF Dra. Maria José de Pauli - Três Barras
  • USF Maria Aparecida Pedrossian - MAPE
  • USF Edson Quintino Mendes - Jardim Itamaracá
  • USF Moreninha

Subtotal: 5 unidades-13 profissionais

DISTRITO CENTRO

  • USF Vila Carvalho - Dr. Pedro Nango Dobashi

Subtotal: 1 unidade - 1 profissional

DISTRITO SEGREDO

  • CF Dra. Márcia Guedes de Sá Earp - Nova Lima
  • USF Dr. Fernando de Arruda Torres - José Tavares
  • USF Mestre José Alberto Veronese - Jardim Seminário (Policlín
  • USF Vida Nova

Subtotal: 4 unidades - 9 profissionais

DISTRITO LAGOA

  • USF Or. Alberto Neder - Calçara
  • USF Dr. Hirose Adania - Bonança
  • USF Alfredo Neder-Coophavila II
  • USF Portal Calobá
  • USF Santa Emilia
  • USF Dr. Hélio Martins Coelho-Jardim Batistão

Subtotal: 6 unidades-14 profissionais

DISTRITO IMBIRUSSU

  • USF Dr. Sumie Ikeda Rodrigues - Serradinho

  • USF Albino Coimbra Filho - Santa Carmélia

Subtotal: 3 unidades - 9 profissionais

DISTRITO PROSA

  • USF JD Marabá
  • USF JD Noroeste

Subtotal: 2 unidades - 6 profissionais

UNIDADE COM PARALISAÇÃO PARCIAL

  • USF Aero Itália-1 profissional

Saiba* 

Nas 44 unidades de saúde em que as atividades serão suspensas, contratados e residentes seguirão trabalhando. 

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Destaque

Dourados atinge universalização do saneamento básico com mais de R$ 191 mihões em investimentos

Repasses contemplam 90,07% de área de cobertura de esgoto no município do interior

15/12/2025 15h00

Foto: Divulgação

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Às vésperas de completar 90 anos, Dourados alcança um marco histórico quanto a universalização do saneamento básico, avanço que é reflexo da ampliação da rede de água tratada, aceleração de obras de esgotamento sanitário e ajustamento das metas do Marco Legal do Saneamento oito anos antes do prazo estabelecido para 2033.

Desde janeiro de 2023, o executivo estadual investiu R$ 191,8 milhões no setor, repasses que contemplaram 90,07% de área de cobertura de esgoto no município do interior. Com a ação, Dourados passa a figurar entre as cidades brasileiras com maior índice de atendimento, fatores que elevam a sua posição em rankings de saneamento do País. 

Quanto ao volume de obras executadas em tratamento de água, os dados da Empresa de Saneamento de Mato Grosso do Sul (Sanesul) mostraram aplicações de R$ 63.937.253,48 em recursos próprios, R$ 34.450.299,83 por meio de financiamentos e R$ 2.498.450,25 em outros investimentos. 

No esgotamento sanitário, o aporte total inclui R$ 29.337.572,93 em recursos próprios, R$ 16.641.625,00 financiados e R$ 45.028.347,86 provenientes do Governo Federal.

Do montante geral, R$ 37.378.321,58 já foram concluídos, R$ 107.089.498,13 estão em andamento e R$ 47.425.729,64 encontram-se programados para execução, completando R$ 191.893.549,35 investidos na atual gestão.

Para o diretor-presidente da Sanesul, Renato Marcílio, os efeitos da expansão são estruturantes.

“Saneamento é futuro. É a base que garante saúde, valoriza os imóveis, atrai investimentos e protege o meio ambiente. Esses mais de R$ 191 milhões aplicados agora, todos dentro da gestão do governador Eduardo Riedel, entregam um legado que beneficia gerações futuras. Dourados entra para a lista das cidades que tratam seu esgoto, cuidam da água e asseguram um desenvolvimento que não destrói, mas preserva”, afirma.

O resultado está alinhado ao planejamento estratégico da Sanesul (Empresa de Saneamento de Mato Grosso do Sul), responsável pela execução das obras.

“Cada real investido em saneamento é uma entrega direta na vida das pessoas. É menos criança doente, é mais dignidade dentro de casa, é valorização de bairro e é uma cidade preparada para os próximos 50 anos. Fizemos aqui uma decisão de governo: antecipar metas do Marco Legal e transformar Dourados em referência nacional”, afirmou o governador Eduardo Riedel (PP). 

O líder do executivo estadual destacou que a política municipalista adotada pelo Estado tem sido determinante para acelerar a infraestrutura urbana de grandes municípios.

Na prática, a universalização traz reflexos diretos na qualidade de vida da população. Entre eles estão a redução do uso de fossas, a proteção dos córregos urbanos, a diminuição do risco de contaminação do solo e a ampliação da segurança hídrica. 

O ciclo de investimentos também impulsiona a economia douradense, fortalece o comércio, amplia a competitividade regional, incentiva a instalação de novas empresas e melhora os indicadores sociais, fatores que reforçam a importância do saneamento como motor de desenvolvimento socioeconômico.

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