A substituição de Rudi Fiorese por Domingos Sahib Neto no comando da Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos de Campo Grande (Sisep), realizada na noite de quarta-feira pela prefeita Adriane Lopes (Patriota), “azedou” de vez a já frágil relação entre os Poderes Executivo e Legislativo no município, que estava estremecida pelo entrave das negociações entre professores da Rede Municipal de Ensino (Reme) e prefeitura sobre o reajuste salarial.
Agora, com a troca, os vereadores se posicionaram contra a saída de Fiorese, já que para os parlamentares o novo titular da Sisep não tem experiência política e administrativa para tocar uma secretaria tão importante quanto a de obras, ressaltando que a administração municipal perdeu um excelente profissional do seu quadro de secretários.
Segundo apurou a reportagem do Correio do Estado, quando os vereadores tomaram conhecimento da publicação de uma edição extra do Diário Oficial de Campo Grande (Diogrande) trazendo a exoneração de Rudi Fiorese da Sisep e a nomeação de Domingos Sahib para o cargo, o grupo de WhatsApp dos parlamentares virou um verdadeiro “muro de lamentações” pela fatídica substituição.
Afinal, Rudi Fiorese sempre foi muito solícito com as reivindicações dos vereadores, além de ser uma pessoa de fácil acesso e estar tocando a contento os problemas de infraestrutura registrados em Campo Grande.
Três vereadores ouvidos pela reportagem, que pediram para terem seus nomes citados para não causar uma animosidade com o novo secretário municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos, revelaram que a prefeita Adriane Lopes cometeu mais uma deselegância política ao não dialogar com a Casa de Leis sobre a substituição.
Ainda conforme os três parlamentares, Rudi Fiorense seria uma espécie de “camisa 10” do secretariado municipal, desempenhando um trabalho digno de elogios, diante da situação financeira atual da administração municipal.
Os vereadores informaram, também, que Domingos Sahib não terá uma vida muito fácil nos primeiros meses à frente da Sisep, pois prometem “monitorar” bem de perto o trabalho dele nas sete regiões de Campo Grande, que enfrentam problemas de falta de infraestrutura urbana, vias esburacadas e obras paradas.
Recado
Em conversa com o Correio do Estado, o presidente da Câmara Municipal de Campo Grande, vereador Carlos Augusto Borges (PSB), o Carlão, foi ainda mais contundente ao confirmar que os colegas de parlamento estão descontentes, mas entendem que se trata de uma prerrogativa da prefeita trocar secretários.
“Agora, a prefeita tinha de arrumar um jeito de deixar os vereadores contentes, porque ela precisa de uma base sólida, precisa do apoio da Câmara Municipal para aprovar seus projetos. Quando faz uma troca dessas sem consultar o Poder Legislativo, é ruim politicamente para ela”, ressaltou, dando um recado bem direto para Adriane Lopes.
Segundo Carlão, é esperar que o novo secretário realmente trabalhe, pois Rudi Fiorese, mesmo com a cidade tendo alguns problemas para resolver, atendia o celular de todos e atendia os vereadores, que marcavam para visitar os bairros que precisavam de intervenção.
“Era um secretário acessível, mas agora vamos aguardar para verificar se esse secretário vai ser acessível e se conhece os problemas da cidade”, cobrou o presidente da Câmara.
Para ele, é dar um tiro no pé colocar uma pessoa que não conhece os problemas da Capital e que não conhece nem os bairros.
“Espero que se alguém falar para o novo secretário ir ao Bairro Jardim Leblon, ele não vá pensar que é lá no Rio de Janeiro [RJ]. Precisamos ver se ele conhece Campo Grande. Vou torcer para que dê certo, nunca torço para prejudicar a cidade, mas, realmente, os vereadores não ficaram contentes com essa troca”, afirmou.
O presidente da Câmara Municipal lembrou ainda que é uma prerrogativa da Casa de Leis fiscalizar as ações do Executivo, e não apenas o titular da Sisep.
“A nossa prerrogativa é fiscalizar todos os secretários, para verificar se eles estão trabalhando certinho. Nós vamos fiscalizar ele, sim, mas não só ele, todos os secretários, para saber onde está sendo gasto o dinheiro público, mas sem retaliação ou perseguição, é um direito que nós temos de fazer isso”, ressaltou.
Novo secretário
O novo secretário municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos, o engenheiro civil Domingos Sahib Neto, seria uma indicação do esposo da prefeita, o deputado estadual reeleito Lidio Lopes (Patriota), que o teria conhecido no Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso do Sul (TCE-MS).
A saída de Rudi Fiorese faz parte da mudança do secretariado iniciada pela prefeita Adriane Lopes depois do primeiro turno das eleições gerais do ano passado, para substituir os profissionais ligados ao ex-prefeito Marquinhos Trad (PSD).
A mudança acontece no momento em que Campo Grande enfrenta sérios problemas de infraestrutura urbana, com várias obras paradas, como o Centro de Belas Artes.
Além disso, a revitalização do centro da cidade ainda está atrasada, bem como as obras de contenção na Avenida Ernesto Geisel, que já duram anos, e do novo acesso às Moreninhas.
Domingos Sahib é conselheiro titular por Mato Grosso do Sul no Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), para representar a Modalidade de Engenharia até 31 de dezembro de 2024, e aposentado do TCE-MS, atuando como autônomo em obras de engenharia residenciais e comerciais.
Além disso, ele é pós-graduado lato sensu em Metrologia Aplicada à Engenharia, pelo Centro de Ensino Superior Professor Plínio Mendes dos Santos, pós-graduado em Perícia, Auditoria e Gestão Ambiental, pelo Centro de Pós-Graduação, Pesquisa e Difusão Cultural das Faculdades Oswaldo Cruz, e tem MBA em Gestão Pública com ênfase em controle externo, pelo Centro Universitário Internacional.
Atualmente, ele cursa a pós-graduação em Projetos, Execução, Controle de Estruturas & Fundações.
No Sistema Confea/Crea-MS até chegar ao plenário federal, Domingos Sahib começou como suplente na Câmara Especializada de Engenharia Civil, Agrimensura e Segurança do Trabalho do Crea-MS (Ceecast), em 2006, e passou pela 1ª vice-presidência do conselho regional, onde exerceu a presidência em 2011, chegando a representante das entidades de classe na comissão organizadora do Congresso estadual de Profissionais, em 2013.