O diagnóstico de câncer infantil traz insegurança e medo aos familiares, já que, na maioria das vezes, a doença é considerada como uma sentença de morte para muitos. A leucemia, por exemplo, está entre os principais tipos de câncer que afetam crianças e adolescentes. A doença, que afeta os glóbulos brancos, é a principal causa de morte infantil no Brasil e corresponde a 33% dos casos de câncer que atinge esse público, conforme dados do Grupo de Apoio ao Adolescente e a Criança com Câncer (GRAAC). Por outro lado, as chances de cura são de 83% quando a doença é diagnosticada cedo e o tratamento é adequado.
Em Três Lagoas, o policial militar e vereador, Welton Alves da Silva, mais conhecido como Welton Irmão, teve dois casos de leucemia na família – em dois filhos, Welton Junior, aos seis anos e Gabriele, aos dois anos de idade -. O primeiro caso foi descoberto em 2011, porém, Junior não resistiu a doença e faleceu quatro meses após iniciar o tratamento.
De acordo com Welton, seu filho tinha uma vida normal, brincava, estudava e levava muitas alegrias a ele e a esposa, Gracieli. Aos seis anos, Junior começou a apresentar manchas roxas pelo corpo, bem semelhantes a hematomas. Os pais acreditavam que se tratavam de batidas, já que ele era um menino bastante ativo.
Passadas algumas semanas, Junior passou a rejeitar os alimentos, tinha pouco apetite e apresentava fraqueza. “Começamos a observar que ele tinha tanta fraqueza que chegava a cair enquanto brincava, foi então que o levamos ao pediatra. Alguns exames foram feitos e logo recebemos o diagnóstico de leucemia”, lembra.
Inicialmente, o casal não se assustou com a notícia, pois não sabia o que era leucemia, tão pouco que era um dos tipos de câncer. Weltinho, como era chamado carinhosamente pela família, foi levado para Campo Grande dias após ser diagnosticado com a doença. Foi na Capital que os pais tomaram conhecimento da dimensão da doença e de que ele precisaria de um tratamento imediato.
Gabi com alegria em viverGabi também foi diagnosticada com câncer
Iniciadas as quimioterapias, Weltinho tinha 50% de chances de superar a doença, conforme previsões dos médicos, contudo, ele não suportou ao tratamento e faleceu quatro meses após receber o diagnóstico. “Eu me lembro que no dia em que faleceu ele estava bem, mas teve febre. Corremos de Três Lagoas para Campo Grande, mas ao chegar lá seu caso era considerado grave e ele nos deixou dias após ficar na UTI – Unidade de Terapia Intensiva”, lamenta.
Quando Weltinho foi diagnosticado com leucemia, a esposa de Welton, Gracieli, estava grávida de quatro meses de Gabriele. O casal foi orientado de que o filho mais velho poderia ter uma nova chance de tratamento, por meio das células-tronco do cordão umbilical da Gabi. A esperança era grande, porém, Wentinho faleceu 15 dias antes de a irmãzinha nascer. “A dor da perda é incalculável, em um dia eu recebia a notícia da morte do meu filho e 15 dias depois a de que minha filha nascia. Foi um misto de emoções diferentes que se cruzaram o tempo todo”, disse.
Passados três meses de vida da Gabi, uma nova notícia – o casal estava 'grávido' novamente, desta vez de Sarah. A caçula nasceu quando Gabi tinha pouco mais de um aninho.
A vida em Três Lagoas foi retomada, porém, o casal não voltou imediatamente para casa, já que não queria ver o quartinho do primogênito. Foi então que eles ficaram por alguns meses na casa do pai do policial, até conseguirem voltar à residência.
Gabi e sua irmãzinha SarahMais tarde, aos dois anos de idade, em 2013, Gabriele passa a apresentar manchas roxas pelo corpo, semelhantes ou iguais às que o irmão mais velho apresentou no passado. Os pais logo levaram a criança ao pediatra e no mesmo dia ela foi diagnosticada com leucemia e levada às pressas para Campo Grande, de ambulância Semi UTI. Na Capital, exames mostraram que a pequena contava com 100% de células malignas e apenas 1% de chance de sobreviver.
“Essa notícia foi devastadora, mais uma vez estávamos no mesmo hospital, vivendo todo aquele processo difícil de tratamento, mas precisaríamos de forças para passar para a nossa filha, foi então que nos apegamos, com todo o empenho, a nossa fé. Só a fé em Deus e um grande milagre devolveriam a nossa filha de volta”, lembra.
O casal tomou uma decisão radical e resolveu se mudar para Campo Grande, para acompanhar de perto o tratamento da filha. “Pela experiência que tivemos com o Weltinho, já sabíamos que em episódios de febre, durante o tratamento, a criança precisa de um médico imediatamente, pois uma simples afta, que pode gerar a febre, pode ser capaz de levar uma criança com câncer a óbito, por conta da baixa imunidade”, explicou. “Na Capital, enquanto minha esposa ficava com a Gabi no hospital eu ficava em casa com a Sarah, de um aninho na época”, destacou.
O tratamento por meio de quimioterapias foi iniciado imediatamente e para a tristeza da família, Gabi não respondeu ao primeiro ciclo e a informação mais óbvia, de acordo com a própria medicina, era de que se o primeiro ciclo não é encerrado com sucesso, as chances de insucesso no segundo são grandes. “Os diagnósticos nos abalavam sim, pois por alguns momentos pensávamos que se o nosso filho tinha 50% de chances faleceu, imagina a Gabi com apenas 1%. Mesmo assim, não perdemos a esperança e continuamos lutando pela melhora da Gabriele”, disse.
A CURA
Hoje, Welton lembra com carinho que em meio a tantas provações uma ligação foi determinante. Um pastor, amigo do policial e vereador, ligou para ele e propôs um jejum de 21 dias, em que ele, a esposa e o amigo só comeriam frutas, em prol de fortalecerem a fé e conquistarem, através de um milagre, a cura da filha. Nesse período, Welton raspou a cabeça em homenagem a sua filha.
Milagrosamente, como Welton trata, no período do jejum uma ligação mudou todo o rumo da história da Gabi. “Minha esposa me ligou chorando muito e logo eu gelei, tive medo sim de receber uma notícia triste, mas para a nossa surpresa os resultados referentes ao segundo ciclo de quimioterapia mostraram que Gabi tinha 0% de células malignas. Esse resultado foi a prova de que a nossa fé havia alcançado o milagre”, disse emocionado.
Depois dos resultados positivos, Gabi continuou o tratamento, mas já conseguia ficar em casa, com os pais e a irmã mais nova, na Capital. Ao todo, foram dois anos e meio de tratamento, e neste período Welton ia a Três Lagoas toda semana para participar das sessões da Câmara, mesmo assim, foi alvo de várias denúncias no Ministério Público. “Me denunciavam alegando que eu havia abandonado Três Lagoas, muitas pessoas queriam cassar o meu mandato por isso, mas graças a Deus não conseguiram, pois eu estava na Capital por uma boa causa. A minha família era a minha maior prioridade”, disse.
Gabi atrás do pai e de SarahHoje, o casal e as duas filhas, Gabriele de 5 anos e Sarah de 4, vivem em Três Lagoas. Eles retornaram à cidade natal há oito meses. Agora, eles só comemoram a superação da Gabi e são exemplo para muitas famílias que atravessam a mesma situação. “Estamos em fase de adaptação. Eu costumo dizer que a partir do ano que vem retomaremos, de verdade, a nossa vida normal, a Gabi vai para a escola e eu saberei se continuarei na Câmara como vereador, já que sou primeiro suplente e existem chances, ou se retomarei meu posto na PM”, salientou.
Contudo, mesmo alegres com a boa nova da cura da filha, o pai de Welton, Wilson Alves da Silva, 74 anos, atravessa um momento delicado da sua vida. Ele luta contra um câncer de próstata há oito anos e atualmente o caso é considerado delicado. “Eu acompanho meu pai nas consultas, vou todos os dias na casa dele para passear pela cidade, sou seu porto seguro e mais uma vez me apego a minha fé e espero um novo milagre”, completou.
Casos da Gabi e do Weltinho
A medicina não soube explicar se os dois casos de leucemia na família de Welton possuem fatores genéticos ou se foram coincidência. Um estudo desenvolvido em Estolcomo, capital da Suécia poderá mostrar a causa.
O caso da família de Welton foi levado à Suécia foi pelo médico oncologista pediátrico que cuidou da Gabi, Marcelo Souza Santos. “Ele viaja todo o mundo em busca de novos tratamentos e o caso da Gabi e do Weltinho serão estudados lá fora”, disse.
Welton destaca ainda a gratidão ao médico, já que, além de profissional dedicado na busca pela cura do câncer infantil, se tornou um grande amigo da família. “Ele é três-lagoense e ganhou a nossa admiração e confiança, tanto que eu o homenageei na Câmara oferecendo o título de cidadão três-lagoense”, destacou.
Projeto Criança Feliz
A família de Welton trabalha em um projeto chamado Criança Feliz com o objetivo de levar alegria as crianças com câncer e aos seus familiares. O vereador adquiriu carrinho de pipoca, de algodão doce, cama elástica e agora quer comprar duas fantasias da Minnie para levar alegria a quem precisa.
De acordo com Welnto, esse projeto tem um motivo muito especial – homenagear Weltinho, que faleceu alguns dias antes de completar sete anos -. Na época, a família já preparava tudo para a festa, mas não deu tempo.
“Queremos fazer festas de aniversários de graça nos hospitais e para crianças carentes. Com base em toda vivencia que tivemos, queremos levar força, fé e alegria aos necessitados”, completou.
Foto recente da família, que hoje tenta seguir vida normal depois de viver drama com saúde da filha (Fotos: Arquivo pessoal)


