A 67ª Promotoria de Justiça dos Direitos Humanos de Campo Grande ajuizou três ações judiciais contra o Município de Campo Grande por causa da situação estrutural considerada degradante em equipamentos públicos voltados ao atendimento da população em situação de rua.
Entre elas está o Centro POP e as Unidades de Acolhimento Institucional para Adultos e Famílias I e II (UAIFA I e II), que, mesmo após vistorias técnicas, inquéritos civis e propostas de Termos de Ajustamento de Conduta (TACs), seguem sem cumprir os padrões mínimos de dignidade, acessibilidade e segurança.
A medida judicial mais recente, protocolada em 10 de julho, solicita a imediata realocação da UAIFA II ou a completa reestruturação da unidade. Conforme o Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS), o local apresenta superlotação, banheiros sem portas, climatização precária, fiação elétrica exposta, mofo, rachaduras, presença de insetos e animais peçonhentos, além da total falta de acessibilidade.
O MPMS aponta violações à Constituição Federal, à Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), ao Estatuto da Pessoa com Deficiência e à norma técnica NBR 9050. Na ação, é requerida ainda a condenação do Município por danos morais coletivos, com o argumento de que os serviços prestados atualmente são “desumanos, indignos e degradantes”.
Apesar da gravidade das constatações, a Justiça ainda não analisou o pedido de liminar. Foi marcada audiência de tentativa de conciliação para o dia 5 de agosto de 2025.
Além da ação envolvendo a UAIFA II, o Ministério Público também cobra a reforma ou realocação do Centro POP, com nova Ação Civil Pública protocolada em junho deste ano. Vistorias realizadas entre 2022 e 2023 identificaram infiltrações, banheiros com portas danificadas, chuveiros quebrados, ralos entupidos, falta de ventilação e de móveis, além de riscos elétricos e ausência de acessibilidade.
Para a Promotora de Justiça Paula Volpe, responsável pelos processos, a estrutura compromete a integridade física e psicológica de usuários e servidores. Ela também requer multa diária em caso de descumprimento da decisão judicial.
Em outra frente, o MPMS ingressou com ação de execução relacionada à UAIFA I. O motivo é o descumprimento de TAC firmado ainda em 2018, que previa a reforma da antiga sede do CETREMI. A unidade continua sem estrutura adequada para acolher idosos e pessoas com deficiência, com rede elétrica sobrecarregada, falta de ventilação e ausência de itens básicos de segurança e acessibilidade.
Promessas e descumprimentos
A Prefeitura de Campo Grande chegou a firmar um acordo extrajudicial com o MPMS em agosto do ano passado, prometendo reformar o Centro POP. As melhorias incluíam reparos nos banheiros, ampliação da estrutura de banho com chuveiros individuais, nova lavanderia, adaptação para acessibilidade e a instalação de contêineres para ampliação do espaço.
Também estavam previstas a contratação de novos profissionais e o restabelecimento de serviços, como o fornecimento de passagens para retorno ao território de origem e a criação de uma residência inclusiva para pessoas com deficiência em situação de abandono.
No entanto, segundo decisão judicial obtida pelo MPMS em 12 de junho, o Município não cumpriu as obrigações assumidas no acordo. A Justiça então estabeleceu prazo de 60 dias úteis para a reforma do Centro POP, sob pena de multa diária de R$10 mil.
Reportagem do Correio do Estado, publicada em agosto de 2024, já havia revelado diversas irregularidades no local, como a falta de papel higiênico, ausência de torneiras, chuveiros quebrados, vidros e portas danificadas, lavanderia alagada e estrutura geral sem manutenção.
Ainda na mesma novela, em fevereiro de 2015 foi instaurado um inquérito civil pelo MPMS, para investigar o funcionamento do local. Desde fevereiro de 2018, o Centro Pop foi instalado no local que se encontra hoje, e por isso foi realizada uma vistoria técnica em outubro do mesmo ano, quando foi atestada a série de problemas estruturais no local.
O Ministério Público relata ainda que empreendeu “todos os esforços possíveis visando a solucionar o impasse na esfera administrativa, contudo, o município de Campo Grande, em que pese tenha sempre prometido resolver espontaneamente o problema, deixou de cumprir o prometido, permitindo a continuidade das deficiências apontadas, sempre alegando que executaria projeto para a construção de uma nova sede para o Centro Pop”.


