Passado dois dias da agressão sofrida na escola Municipal Profª Iracema de Souza Mendonça, localizada no bairro Universitário, a criança negra de apenas quatro anos não retornou às aulas após o episódio de violência vivido, sendo que agora aguarda na fila da transferência para deixar de vez a unidade.
"Está aguardando uma vaga de transferência para outra instituição, porque a família tem medo e não se sente confortável em enviá-la de novo para a escola. Afinal, se com um abraço ela foi agredida, existe um medo do que possa acontecer", expõe Lione Balta, advogada que defende o caso da família.
Ela faz questão de esclarecer que, apesar das imagens que classifica como “estarrecedoras”, ainda não é possível acusar o agressor de ter cometido o crime de racismo, sendo que essa hipótese que foi posteriormente levantada segue em investigação nesse caso, que foi parar na Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (Depca).
"Vivemos em um país estruturalmente racista e não descartamos a possibilidade. Não conheço a pessoa ou sua índole, posso falar pelo que estou vendo. A OAB e comissão de igualdade racial da Ordem está em contato direto conosco, justamente para que possa ser averiguada a questão se a agressão cometida foi ou não motivada pela cor da pele da criança", comenta Lione.
Segundo a advogada, sequer a motivação definitiva para a agressão não está clara e, inclusive por isso, foi levantada a hipótese de racismo.
Ela argumenta que o acusado informou que o filho possui “fobia” de abraço e toque, o que deveria ser informado no ato de matrícula junto ao laudo enviado para a Secretaria Municipal de Educação, o que Lione diz não ter informação de que aconteceu.
Ainda assim, ela evidencia que a gravidade desse caso se dá em várias camadas: “pelo fato da invasão à escola; da agressão à mulher, porque agrediu a diretora e soma-se ao fato de que agrediu uma criança de apenas quatro anos. A questão do racismo, que ainda está sendo averiguada, é posteriormente acumulada com todo o restante que já é extremamente grave”, pontua.
Possível racismo
Toda a tese de possível racismo ganhou força após publicações de um perfil, supostamente creditadas ao autor da violência, evidenciarem posturas violentas e racistas, inclusive através da disseminação de suásticas, símbolo adotado pelo regime de Adolf Hitler durante a empreitada nazista de supremacia branca do ditador.
Com o agressor supostamente identificado, não demorou para que o perfil recebesse uma enxurrada de comentários o chamando de monstro; covarde; agressivo; racista e questionando se o perfil é, de fato, pertencente ao agressor.
“Reforço, somos absolutamente contra qualquer tipo de agressão e linchamento, seja ele virtual; pessoal, qualquer tipo de culpa para a família do acusado. Isso é muito grave e precisamos ter um cuidado muito grande nesse sentido”, concluiu a advogada.
Relembre
Enquanto alunos se perfilavam para início de mais um dia letivo, a cena de violência por parte de um pai tomou conta das redes sociais, já que um homem de 32 anos agrediu uma menina negra de quatro anos, logo após passar de maneira violenta pela própria diretora da unidade na última segunda-feira (11).
Registradas por volta de 07h, as imagens originais da agressão tem cerca de 50 segundos, sendo que o abraço que supostamente justificou a violência durou menos de três segundos.
Segundo informações da Polícia Civil, o autor voltou em seguida à unidade após levar o filho embora, indo até a sala da diretora, que também foi agredida e registrava o ocorrido em ata escolar.
"Ainda nervoso, na sala da diretora ele teria dito ao filho que se caso a menina ou qualquer outra criança se aproximasse dele, que ele poderia bater", expõe a PC em nota. Importante frisar que a Depca segue com as investigações.




