A Prefeitura de Campo Grande aumentou o valor da tarifa técnica do transporte coletivo em 6,49%, a medida impacta diretamente o valor que é pago ao Consórcio Guaicurus pelas gratuidades do serviço. Com isso, o subsídio ao ônibus, que já era milionário, terá um acréscimo de R$ 2,3 milhões e custará quase R$ 40 milhões para os cofres públicos.
Segundo publicação feita pela administração da Capital, na noite de sexta-feira, a tarifa técnica (que deveria ser usada para basear o valor da passagem de ônibus, mas atualmente é utilizada basicamente para calcular o valor do subsídio) subiu de R$ 6,17 para R$ 6,57, um aumento de R$ 0,40 que impactou em mais dinheiro para a concessionária, que recebia R$ 35,8 milhões por ano do governo do Estado e da Prefeitura, e agora receberá R$ 38,1 milhões.
A medida segue determinação Judicial de outubro, quando o juiz Marcelo Andrade Campos Silva, da 4ª Vara de Fazenda Pública e de Registros Públicos, negou o pedido de embargo em decisão que ele mesmo já havia proferido em agosto deste ano, na qual determinava que o valor da tarifa técnica fosse posta a R$ 7,79 e que o reajuste fosse fixado em outubro, conforme mostrou o Correio do Estado na época.
Apesar de ter feito o aumento ainda em outubro, como também determinava a decisão, o valor reajustado não foi o de R$ 7,79, que foi obtido por meio de análise da Agência Municipal de Regulação dos Serviços Públicos (Agereg) e entregue ao Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso do Sul (TCE-MS) durante a vigência do termo de ajustamento de gestão (TAG), assinado entre a Prefeitura e a concessionária.
Durante a decisão de agosto, quando o magistrado determina que se cumpra “a decisão concessiva de tutela de urgência proferida nos autos da ação principal em apenso, no tocante à obrigação de fazer, sob pena de majoração da multa já fixada”. E no caso, a ação ingressada pelo Consórcio Guaicurus pedia justamente que esse valor de R$ 7,79 fosse cumprido.
Em sua argumentação, no mês passado, a Prefeitura, por meio da Agereg, havia alertado que um aumento de 26,25% na tarifa técnica geraria uma despesa de R$ 45 milhões com o subsídio anualmente para a gestão pública, o Estado e a Prefeitura.
“Atualmente, a diferença entre a tarifa pública [R$ 4,95] e a tarifa técnica vigente [R$ 6,17] já gera um desembolso aproximado de R$ 34.160.000,00 anuais. Todavia, caso prevalecesse o valor de R$ 7,79, esse montante alcançaria R$ 79.520.000,00, o que representaria um impacto adicional de R$ 45.360.000,00 por ano aos cofres públicos”, diz trecho da argumentação da Agereg, que foi negada pelo juiz.
A reportagem procurou a Prefeitura de Campo Grande para saber se esse aumento de 26,25% deverá ser feito de forma parcelada, já que inicialmente apenas 6,49% foram concedidos, porém, a administração não respondeu até o fechamento desta edição.
Esse aumento de 6,49% também incidirá sobre o valor cobrado ao vale transporte dos servidores públicos da administração direta e indireta.
No dia 29 de outubro, a Prefeitura de Campo Grande já havia elevado em 3,7% o valor da tarifa que ela paga pelas passagens usadas por servidores públicos, que passou de R$ 5,95 para R$ 6,17. Naquele dia foi firmado um segundo termo aditivo ao contrato, firmado entre o Município e o Consórcio Guaicurus.
Por conta deste termo aditivo, o valor do contrato para o transporte de servidores municipais, que tem um ano de validade, passou de R$ 3.768.777,60 para R$ 3.908.127,36, acréscimo de R$ 139.349,76. Com o novo valor da tarifa técnica, esse repasse pode chegar a ser de R$ 4,161 milhões.
GREVE
Os reajustes na tarifa técnica e também no valor do passe dos servidores públicos foram concedidos pouco mais de uma semana depois da paralisação dos motoristas de ônibus, que no dia 22 de outubro atrasaram o início de suas atividades em cerca de 90 minutos, deixando milhares de usuários sem transporte coletivo.
A medida foi tomada porque a categoria reclamava o não recebimento do adiantamento salarial, o chamado vale, de R$ 1,3 mil, que normalmente é pago pelo Consórcio Guaicurus todo dia 20 do mês. Os empresários alegaram que estavam sem dinheiro em caixa.
Um dos motivos da falta de recursos seria que a Prefeitura de Campo Grande e o governo do Estado deviam, juntos, em torno de R$ 9,5 milhões à concessionária, dinheiro esse relativo ao subsídio das gratuidades do transporte público, como dos estudantes das redes municipal e estadual.
Parte deste valor foi quitado dias depois e o valor foi repassado aos motoristas, que desistiram de deflagrar greve por tempo indeterminado.
A prefeitura negou que este fosse o valor, mas confirmou, na semana passada, que pagou R$ 2,3 milhões às empresas de ônibus e que ainda restariam R$ 1,03 milhão.


