Dos nove candidatos aprovados na nova etapa do concurso para promotor de Justiça substituto do Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS), oito são de fora do Estado. Mais uma vez, o certame atraiu principalmente pessoas de outros cantos do país, repetindo o cenário do concurso anterior, quando todos os aprovados também vieram de fora.
Com salário inicial de mais de R$ 32 mil, que pode passar dos R$ 100 mil mensais com gratificações e auxílios, a carreira de promotor continua entre as mais cobiçadas do Brasil, dessa vez, foram 1.950 inscritos, e apenas 202 passarem para a segunda fase, composta por sete provas discursivas. Desses, 186 compareceram, mas nenhum atingiu a nota mínima exigida para avançar.
Após o prazo de recursos, 58 candidatos recorreram do resultado. Segundo o MP, 11 tiveram os recursos deferidos, mas apenas nove foram confirmados na inscrição definitiva e seguem para as próximas etapas, que incluem exame psicotécnico, prova oral, sindicância da vida pregressa e investigação social. A prova oral está marcada para o dia 7 de setembro.
A lista definitiva dos aprovados foi publicada no Diário Oficial do MP nesta terça-feira (22).
Quem são os aprovados ?
Entre os classificados, há advogados, servidores públicos, oficial da PM e assessores jurídicos com experiências em vários estados. Confira:
- Francisco de Salles Bezerra Farias Neto - Já foi aprovado promotor no Amazonas e atua no MPF;
- Leonardo da Silva Oba - Trabalha com a secretária-geral do MPMS, Bianka Karina Barros da Costa;
- Dafne Prado Sabag - Advogada formada em São Paulo (SP);
- Alexandre Cassiano Dorácio Antunes - Capitão da PM do Rio de Janeiro;
- Bruno Couto Pinto de Miranda - Advogado no Rio de Janeiro;
- Bruno Maciel Ribeiro de Almeida - Servidor da Justiça do Trabalho nos estados de Rondônia e Acre;
- Luís Felipe Pantarotto Remelli - Advogado formado em Toledo (PR);
- Bárbara Bittencourt de Freitas - Formada em Londrina (PR), com pós-graduação em Direito Civil e Processual Civil;
- Gabriel Machado de Paula Lima - Assessor de procurador no Ministério Público de Minas Gerais.
Entre eles, o único com vínculo direto ao MPMS é Leonardo Oba, que atua como assessor jurídico dentro da própria instituição.
Concurso polêmico
O concurso ganhou repercussão nacional no começo do ano após a reprovação de todos os candidatos na fase discursiva. A exigência era de nota mínima em cada uma das sete provas e média geral de 6 pontos. O melhor desempenho, com nota 5,95, foi eliminado por não alcançar o mínimo em uma das provas.
Mesmo assim, após recursos, nove foram aprovados e agora seguem na disputa por uma das dez vagas. A prova oral está marcada para o feriado de 7 de setembro.
A seleção, organizada pela Fundação de Apoio à Pesquisa, ao Ensino e à Cultura (Fapec), foi alvo de críticas de candidatos e da Comissão de Transparência da OAB-MS. Entre os questionamentos, estão a escolha da banca sem licitação e o histórico de falhas da instituição em outros concursos.
Salário
Uma das explicações para o fato de muitos dos candidatos serem de outros estados é o salário, um dos maiores do país. O edital do concurso atual anunciava salário inicial de pouco mais de R$ 32 mil. Porém, a grande maioria dos promotores e procuradores de Mato Grosso do Sul recebe acima de R$ 100 mil ao final de cada mês
Além do salário-base, eles recebem auxílio-alimentação, transporte, saúde e educação para driblar o teto salarial estipulado pela Constituição, atualmente de R$ 46,3 mil.
Além disso, o MPE adotou o que se pode chamar de super-penduricalhos e que consomem em torno de R$ 5 milhões por mês dos cofres públicos somente com promotores e procuradores da ativa.
Enquanto que o auxílio-alimentação garante, em média, "apenas" R$ 3,5 mil no bolso de um procurador de justiça de Mato Grosso do Sul, a "compensação de plantão" rende até R$ 38 mil. E, a chamada "cumulação", outros R$ 12,5 para a mesma pessoa, escolhida aleatoriamente no site da instituição, que não divulga mais nominalmente o valor dos salários.
O site da transparência do MPE não cita mais os nomes dos servidores. Disponibiliza apenas o número da matrícula e o local de lotação. Além disso, os valores estão divididos em várias tabelas, o que dificulta a descoberta do valor exato que cada servidor recebe, embora a legislação determine total transparência.
Vetado para a grande maioria dos servidores públicos desde a reforma previdenciária de 1997, a licença-prêmio, que garante três meses de "férias" a cada cinco anos de trabalho sem faltas injustificadas, é outro privilégio que engorda os salário dos membros do MPE.
Por causa destes auxílios, cerca de 15% dos promotores e procuradores que já poderiam estar aposentados se recusam a passar para a lista dos inativos para não perderem dinheiro, uma média de R$ 20 mil mensais. Levantamento feito pelo Correio do Estado mostra que 34 dos cerca de 230 promotores ou procuradores já poderiam ter se aposentado.
Pelo fato de permanecerem na ativa, recebem em torno de R$ 5,2 mil mensais como abono de permanência. O dinheiro que seria repassado à previdência, é devolvido.
Além do abono de permanência, os aposentados perdem direito a auxílio-alimentação (R$ 3,5 mil), auxílio-transporte (R$ 3,7 mil), acúmulo de função (R$ 12 mil), indenização e venda de parte das férias, licença-prêmio, compensação de plantão (de até R$ 37,5 mil) e licença compensatória (de até R$ 7,1 mil).
Etapas finais
Com os nove nomes confirmados, o concurso segue para a terceira fase, mesmo com uma vaga ainda em aberto. O exame psicotécnico será realizado em 3 de agosto e a prova oral está marcada para o feriado de 7 de setembro.
O edital mais recente também abre um prazo de dois dias úteis para que qualquer cidadão apresente denúncias fundamentadas sobre a conduta dos candidatos desde que não sejam anônimas.
A expectativa é que, ao fim das etapas, os aprovados sejam nomeados ainda este ano. No concurso anterior, realizado em 2023, oito candidatos foram aprovados e já atuam no MPMS. Todos vieram de outros estados.
Veículos do Consórcio Guaicurus permaneceram na garagem durante toda a segunda-feira na Capital - Foto: Marcelo Victor/Correio do Estado


