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Pedir pizza, lanche ou remédio pelo 190 é meio discreto de denunciar violência contra mulher

Em Mato Grosso do Sul, 4.472 mulheres sofreram violência doméstica, 453 foram estupradas e cinco morreram em 2023

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Solicitar pizza, lanche ou remédio através do número 190 é a solução que mulheres encontram para denunciar que sofrem violência física, verbal, sexual, moral, psicológica ou patrimonial.

Geralmente, a agressão parte de seu companheiro e é feita em locais onde há poucas ou nenhuma pessoa, como em casa.

Muitos mulheres sofrem violência caladas dentro de casa, sem revelar para ninguém o que acontece dentro de quatro paredes.

Sozinha, a vítima não tem voz ou como se defender e a única saída que resta é ela mesma pedir socorro.

Dados divulgados pela Secretaria de Estado e Segurança Pública (Sejusp) apontam que 4.472 mulheres foram vítimas de violência doméstica, 453 foram estupradas e cinco morreram, em Mato Grosso do Sul, entre 1º de janeiro e 26 de março de 2023.

Em Campo Grande, 1.573 mulheres sofreram violência doméstica, 137 foram estupradas e duas morreram em 2023.

O Correio do Estado entrou em contato, na quinta-feira (23) e sexta-feira (24), com o Comando Geral da Polícia Militar e com o Centro Integrado de Operações de Segurança (CIOPS) para saber, em média, quantas ligações a PMMS recebe diariamente de ocorrências de violência contra a mulher. Mas, não foi respondida até o fechamento desta reportagem.

Em entrevista exclusiva ao Correio do Estado, o tenente-coronel da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul, Augusto Regalo, afirmou que é incomum a própria vítima ligar pedindo ajuda, mas que já aconteceu algumas vezes.

Geralmente, quem faz a denúncia são vizinhos ou pessoas próximas à mulher que presenciam ou sabem da violência.

Por mais que seja incomum, militares estão cientes e em alerta de que pedidos de pizza, lanche ou remédio no 190 são pedidos de socorro.

Caso haja este tipo de ocorrência, a guarnição estará pronta para socorrer a vítima de forma ágil e rápida e prender o autor do crime.

“Já houve um caso no ano passado em que a mulher ligou para o 190 solicitando medicamento e o operador do 190 percebeu que se tratava de um pedido de socorro. Guarnição deslocou até o local e efetuou a prisão do agressor”, disse o tenente-coronel.

COMO DENUNCIAR?

Os números para denunciar violência contra mulher são:

  • Polícia Militar - 190
  • Disk Denúncia CIOPS - 181
  • Polícia Civil – 197
  • Central de Atendimento à Mulher - 180
  • Patrulha Maria da Penha da Guarda Municipal - 153

O sinal "X" da cor vermelha, escrita na mão, significa que a vítima quer alertar que sofre violência doméstica, portanto, a população deve ficar atenta e acionar a Polícia quando presenciar este tipo de situação.

Violência contra mulher é crime. Ver, ouvir, ou saber que uma mulher sofre violência física ou sexual, e não denunciar, também é.

Deixar de prestar assistência, negar ajuda ou não pedir socorro é ilegal e pode causar danos graves à vítima, inclusive levar a óbito.

Omitir socorro pode resultar em prisão de um a seis meses ou multa. Se a omissão resulta em lesão corporal grave, a pena será duplicada e, caso houve morte, triplicada.

Portanto, é importante denunciar e expor o delinquente para que a vida, saúde e integridade da vítima sejam preservadas.

Caso não queria ser identificado, é possível efetuar a denúncia em anônimo por meio dos números citados acima.

CASA DA MULHER BRASILEIRA

Casa da Mulher Brasileira foi inaugurada em 3 de fevereiro de 2015, em Campo Grande (MS), e completou 8 anos em 2023. 

O local é a primeira Casa da Mulher Brasileira criada no país.

Está localizada na rua Brasília, Jardim Imá, em Campo Grande, próxima ao Aeroporto Internacional da Capital. 

O local funciona 24 horas, inclusive em finais de semana e feriados. O telefone para contato é o (67) 2020-1300.

Em 8 anos de funcionamento, a instituição acolheu 108.248 mulheres e realizou 917.585 atendimentos, entre encaminhamentos e retornos. 

O local oferece acolhimento de mulheres e filhos, triagem, serviço de saúde, hospedagem temporária, apoio psicossocial, delegacia, juizado, Ministério Público, Defensoria Pública, promoção de autonomia econômica, atenção com os filhos da mulher como brinquedoteca, alojamento de passagem e central de transportes.

Órgãos do governo do Estado e prefeitura estão vinculados à Casa da Mulher Brasileira, como Secretaria Municipal de Saúde (SESAU), Secretaria de Assistência Social (SAS), Centro de Referência da Saúde da Mulher (CEAM), Casa Abrigo, Instituto de Medicina e Odontologia Legal (IMOL), Polícia Militar (PMMS), Polícia Civil (PCMS), entre outros. 

De acordo com a subsecretária de políticas para as mulheres de Campo Grande, Carla Stephanini, para baixar índices de feminicídio, é preciso uma consciência social coletiva, de que não se pode conviver em sociedade com a violência doméstica.

"É importante dizer que, ainda assim, nós sabemos que há uma subnotificação da violência doméstica e familiar e da violência contra as mulheres. Os nossos números são expressivos, são superlativos, sim, mas assim como o nosso compromisso de manter o bom funcionamento da Casa da Mulher Brasileira. Dessa forma promovemos a dignidade das nossas mulheres", disse a subsecretária em 3 de fevereiro de 2023.

Atualmente, estão em funcionamento as Casas da Mulher Brasileira de Campo Grande (MS), São Luís (MA), Curitiba (PR), Fortaleza (CE), São Paulo (SP), Brasília (DF) e Boa Vista (RR).

MATO GROSSO DO SUL

Efetivo policial segue em área de conflito indígena no interior em MS

Passado 24 horas da morte de Nery, indígenas tiveram protesto em homenagem reprimido na tarde de ontem (19), com a sexta-feira (20) amanhecendo com ânimos mais "apaziguados"

20/09/2024 13h01

Grupo residente na tekoha Ñanderu reuniu-se às margens da MS-166, junto à cruz de Dorvalino quando os policiais chegaram com viaturas e camburões para impedir o protesto.

Grupo residente na tekoha Ñanderu reuniu-se às margens da MS-166, junto à cruz de Dorvalino quando os policiais chegaram com viaturas e camburões para impedir o protesto. Reprodução

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Com ânimos mais "apaziguados" nessa sexta-feira (20), que amanhece sem registros de ataques ou conflitos entre povos originários e forças policiais, a Terra Indígena Ñanderu Marangatu e seus habitantes ainda viram resposta mais dura quando tentavam fazer um protesto junto à cruz de Dorvalino Rocha, 24 horas após a morte de Nery Ramos da Silva Guarani Kaiowá. 

Vídeo gravado ainda na quinta-feira (19) registra o momento tenso, em que é possível ouvir gritos indignados e sons de disparos, após os indígenas se reunirem junto às margens da rodovia MS-166. Confira: 

No registro feito na TI de Antônio João - distante mais de 280 km da Capital de Mato Grosso do Sul - é possível notar a hostilidade na ação contra os povos originários e, como bem aponta o advogado representante, Anderson Santos, um idoso foi ferido pela Polícia Militar. 

Segundo informações, esse senhor machucado chegou a sofrer um desmaio, momento em que todos acharam que ele havia morrido, mas felizmente não foi o caso. 

Conforme os povos originários da região, foi notório um aumento do contingente das forças policiais pela região, que atuam pela decisão do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3).

Apoiados judicialmente, os policiais designados para área de conflito estão ordenados a garantir o ir e vir dos funcionários e 'proprietários' da Fazenda Barra, desde a rodovia até a sede, num percurso de mais de 10 quilômetros. 

Relatos indígenas apontam que o grupo residente na tekoha Ñanderu reuniu-se às margens da MS-166, junto à cruz de Dorvalino, morto nessa mesma Terra Indígena ainda no ano de 2005, quando os policiais chegaram com viaturas e camburões para impedir o protesto.

Dorvalino foi alvejado por dois tiros - disparado por segurança privado de fazendas da região -, quase 20 anos atrás dessa morte mais recente de Nery Kaiowá, que se juntam a dois outros nomes mortos nessa mesma terra indígena desde a década de 80, sendo: 

  • 1983 | Marçal de Souza: morto em casa com 5 tiros, na Aldeia Campestre 
  • 2015 | Simião Vilhalva: morto com tiro na cabeça durante conflito por terras

100 homens

Importante ressaltar que, essa decisão de "escolta" já vinha sendo cumprida e, após a morte de Nery Ramos Guarani Kaiowá, o próprio secretário de Estado de Justiça e Segurança Pública apontou um reforço armado para a região. 

Na ocasião, em que o Governador Eduardo Riedel convocou um "sala de situação" para tratar o que ocorre em Antônio João, o titular da Sejusp, Antônio Carlos Videira, culpou 'índios paraguaios a serviço do tráfico' pelo acirramento do confronto, destacando uma centena de policiais para apoio. 

Conforme a Sejusp, esses 100 homens tratam-se policiais de reforço/recobrimento, que atuam em apoio aqueles que já estão agindo em cumprimento da decisão judicial, que, em tese, busca segurança para a família residente na Família Barra. 

 

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FALTA DE MEDICAMENTOS

Cinco anos depois e HR segue tratando à míngua pacientes com câncer

Em 2019 a Justiça já havia determinado fim da falta de medicamentos, mas a carência persite e por isso o MPE abriu nova investigação nesta sexta-feira

20/09/2024 11h55

Em maio deste ano, 641 pessoas procuraram atendimento contra o câncer no Hospital Regional de Campo Grande

Em maio deste ano, 641 pessoas procuraram atendimento contra o câncer no Hospital Regional de Campo Grande

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Cinco anos depois de o Ministério Público Estadual conseguir na primeira e segunda instância da Justiça uma decisão obrigando o Governo do Estado a acabar com a falta crônica de medicamentos para o tratamento contra o câncer no Hospital Regional de Campo Grande, o problema continua e por isso virou alvo de mais um inquérito civil instaurado pelo MPE. 

A decisão sobre a abertura do inquérito foi publicada no diário oficial do MPE nesta sexta-feria (20) e entre as justificativas o promotor Marcos Roberto Dietz escreve que “a gravidade das falhas, em especial quando ocorre no campo da oncologia, pode resultar no agravamento do quadro dos pacientes, terminando, não raras vezes, no aumento da demanda hospitalar e majoração dos índices de mortalidade por câncer no Estado”. 

Na abertura da investigação, a promotoria diz que recebeu relatos de pelo menos dois pacientes nas últimas semanas. "Já não é a primeira vez que falta. Remédio essencial para salvar vidas'. A segunda reclamante diz que "Não é a primeira vez, isso tem sido recorrente, com isso tem atrapalhado meu tratamento e meu processo de cura," informaram os pacientes ao MPE. 

Além de relatos de pacientes que procuraram o MPE, o inquérito mostra o desespero dos próprios médicos com a situação. Em carta enviada à promotoria no dia 2 de setembro os profissionais dizem que “tais falhas geram real perda da possibilidade de cura, progressão evidente da doença e óbitos”. 

Em suas justificativas para abertura de nova investigação o promotor explica que “o Estado de Mato Grosso do Sul e a Fundação Serviços de Saúde (FUNSAU), passados mais de 5 (cinco) anos da decisão judicial citada em linhas anteriores, não adotaram as providências cabíveis para fornecimento contínuo de medicamentos aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS). Ou seja, antes e depois da decisão judicial é observado o grave cenário de desabastecimentos de medicamentos básicos do Hospital Regional de Mato Grosso do Sul, implicando reconhecer falhas estruturais e estratégias nos procedimentos de aquisição e distribuição dos itens”. 

A promotoria até já ouviu os representantes do hospital para explicarem a demora na compra. Estes, por sua vez, deixam claro que existe um “racha” na administração estadual, que está preparando a "privatização" do hospital. Os administradores reclamam que perderam a autonomia para fazerem as compras. Esta responsabilidade passou para a Secretaria de Administração.

 “Os processos de compra conduzidos pela Secretaria de Estado de Administração (SAD) são marcados por excessiva morosidade, de modo que "a maioria dos processos de compra iniciou em 2023, permanecendo por meses na SAD sem andamento", explicaram os administradores ao promotor. 

Essa centralização das compras ocorre desde meados do ano passado, conforme a direção do hospital. E, além de provocar mortes, ela onera os cofres públicos, embora o objetivo da centralização fosse exatamente o contrário. “As compras emergenciais realizadas HRMS têm sido mais econômicas do que as realizadas regularmente pela SAD”, relatou a direção do hospital à promotoria. 

E não é um ou outro medicamento que está em falta. “Os atrasos incidem sobre demanda contínua (não há itens novos), 88 (oitenta e oito) quimioterápicos, sendo cerca de 15 (quinze) de consumo mais frequente. Atualmente a falta tem ocorrido de modo geral, não só em quimioterápicos, o que também se atribui à crescente demanda oncológica”, diz o texto do inquérito. 

ALTA NA PROCURA

A direção do hospital acredita que existe alguma irregularidade no aumento desta demanda. “Sugerem que se comparem os números de atendimentos oncológicos entre os hospitais, pois há muita discrepância, de modo que o HRMS tem sido mais onerado pela regulação do que outros hospitais desta capital que oferecem serviços oncológicos”. 

Ou seja, dão a entender que faltam medicamentos porque a regulação, que é municipal, manda gente demais para o Regional. Em média, diz a direção do hospital, eram 300 por mês em 2022. No fim do ano passado, essa média mensal já estava em 450. A quantidade de novos casos saltou de 15 para 45 mensalmente de 2022 para 2023. Em maio de 2024 havia 641 pessoas em tratamento, com 53 novos casos.

Em vistoria feita em março deste ano ano pelo MPE, também foram constatados outros graves problemas no hospital. Um deles é a falta de profissionais da enfermagem, o que obrigou inclusive a desativação de leitos para pacientes oncológicos. 

Nesta mesmo vistoria também foi constatado que os pacientes enfrentam extremo calor, pois não havia ar condicionado. Aqueles que conseguiam, traziam ventilador de casa. 

FALTA DE CONTRATOS

O inquérito também evidencia que os problemas do hospital não se restringem à demora na aquisição de medicamentos. A direção revelou ao promotor situação delicada com os setores de anestesiologia e limpeza hospitalar.

“O contrato venceu ano passado e desde então estão pagando por indenização (reconhecimento de dívida). A estrutura do hospital somente comporta a contratação da Servan, por ter um corpo maior de profissionais, porém, a nova lei não permite a contratação emergencial da mesma empresa. E,  não é possível contratar anestesistas de fora, pois necessitam de profissionais locais para que o serviço não tenha interrupções. O serviço de lavanderia também está provocando pagamento de indenizações”, relata o promotor no inquérito. 
 

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