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Prefeitura barra consignados, beneficia financeira e induz servidores a "pegadinha"

Funcionários públicos foram negativados na rede bancária convencional, mas têm acesso a um cartão de crédito que cobra juros de 4,5% ao mês

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Servidores da prefeitura de Campo Grande, principalmente aqueles que costumam fazer empréstimos consignados, estão com os nomes negativados na rede bancária tradicional desde o começo de julho e depois disso passaram a ser alvo de uma enxurrada de ligações e mensagens oferecendo um Cartão Consignado de Benefícios. 

E, junto com este novo benefício, a margem de empréstimos foi reajustada em 15%, possibilitando o endividamento ainda maior daqueles que já estavam com a “corda no pescoço”. Mas, o que estes agentes financeiros não informam é que este “cartão benefício” não passa de um simples cartão de crédito com taxa de juros mensal da ordem de 4,5%. 

Ao ofereceram o “benefício”, os agentes da financeira informam que parte do empréstimo será descontada da folha de pagamento e o restante, terá de ser pago por meio de fatura. O desconto em folha, porém, refere-se somente aos juros, deixando de lado o abatimento da dívida propriamente dita. 

Deste modo, sem perceber o servidor acaba entrando no chamado rotativo e seu empréstimo tenderá a virar uma bola de neve impagável. A armadilha está justamente no fato de os servidores estarem acostumados aos descontos integrais na folha de pagamento, o que neste caso não ocorre. 

Os relatos sobre a “pegadinha”, os altos juros e o veto ao empréstimo consignado tradicional foram feitas ao Correio do Estado por uma servidora municipal concursada, na atividade de arquiteta, que pediu para ter a identidade preservada por temer retaliações. 

Com  mais de três décadas de serviços prestados à prefeitura, ela diz que no último dia 9 tentou refinanciar um débito para que pudesse tomar um novo empréstimo e assim pagar os medicamentos de uso contínuo dela e da mãe, que chegam à casa dos R$ 2 mil mensalmente. 

Porém, foi surpreendida pela informação de que seu nome estava negativado, sendo que já havia feito consultas em dias anteriores e estava com margem para contrair novo empréstimo. No caso de um empréstimo para desconto em folha feito no Bradesco, por exemplo, a taxa de juros pode ser inferior a 1,2%. No cartão de crédito disponível agora, são de pelo menos 4,5%. 

Somente nesta quinta-feira (25) a arquiteta recebeu seis ofertas de empréstimo por meio desta nova modalidade, todas de agentes financeiros da Credcesta, empresa ligada ao Banco Master, comandado pelo investidor Daniel Vorcaro. 

Sem direito ao consignado tradicional, por ter sido incluída em uma espécie de “lista suja”, lhe ofereceram R$ 25 mil em depósito bancário e outros R$ 8 mil para fazer compras, como ocorre com qualquer outro cartão. 

JUROS EXORBITANTES

E, pela proposta da Credcesta, a arquiteta poderia pagar os R$ 25 mil em 120 parcelas, ao final das quais teria desembolsado em torno de R$ 150 mil, o que significa aumento de 500% em relação ao valor inicial.

Em simulação de empréstimo feita pela reportagem nesta sexta-feira usando o empréstimo consignado tradicional, ao final das 120 parcelas o servidor em questão teria pagado “apenas” 119% acima do valor inicial. 

Em um dos áudios enviados à arquiteta, o funcionário da Credcesta deixa evidencia a parceria nada republicana que conseguiram com a municipalidade.

“A prefeitura fez um decreto que alterou as margens dos servidores públicos. Negativou a margem para consignados, mas abriu um limite novo para cartão benefício. Então eles reajustaram a folha e aí esse limite de 15% para o cartão benefício. E esse cartão te dá essas duas opções, que é o saque para valor de empréstimo e o valor do limite para cartão”, diz o funcionário da Credcesta.

Atualmente, a legislação federal determina que as taxas máximas estão fixadas em 1,72% para empréstimos consignados e em 2,55% para cartões de crédito consignados. 

QUEBRA DE SIGILO

Segundo a arquiteta, ao fazerem as ofertas de empréstimo os agentes financeiros mostram que têm acesso a todos os dados dos servidores, inclusive senhas pessoais e usadas para acessar o histórico funcional dos funcionários públicos e até número de telefone de familiares. Isso, segundo ela, evidencia que alguém do alto escalão da administração municipal repassou as informações. 

E isso só é possível porque existe acordo formal entre o município e a financeira. Em pesquisa no Diogrande, o diário oficial da prefeitura de Campo Grande, é possível ver que a “parceria” com a Credcesta começou ainda em maio do ano passado. Inicialmente ela teve acesso aos dados somente dos ativos. Em maio deste ano, porém, os aposentados também passaram a fazer parte da lista de possíveis clientes da financeira. 

Mas, conforme áudios enviados à arquiteta na semana passado, um dos representantes da financeira informa que a empresa tem 40 lojas pelo Brasil e que está em Campo Grande desde setembro do ano passado, mas abriu a concessão dos empréstimos “pra prefeitura e o IMPCG apenas na semana passada”.

Diz, ainda, que para servidores estaduais já oferece os cartões desde julho do ano passado. E, um ano depois disso já existem pelo menos 25 ações judiciais contra a Credcesta na Justiça Estadual, conforme rápida pesquisa no site do Judiciário. Isso, segundo a arquiteta, evidencia a insatisfação dos servidores com aquilo que lhes foi apresentado como “novo benefício”. 

AÇÕES JUDICIAIS

Em uma destas ações o advogado do servidor deixa claro que muitos estão caindo em pegadinha, conforme alerta a arquiteta. “Como se não bastasse a ausência de informação da característica da operação como consignado, a parte requerente, que não possui conhecimento técnico, acreditou que essa contratação se tratava da mesma modalidade dos empréstimos consignados, cujos pagamentos são feitos com parcelas fixas pré-determinadas de juros e com previsão de data de quitação do débito, motivo pelo qual não restam dúvidas que foi induzida ao erro”, diz trecho de uma das ações judiciais. 

Nestas ações também é possível descobrir que vários daqueles que caíram na “pegadinha” tentem renegociar ou até quitar os empréstimos, mas simplesmente não conseguem atendimento ou são barrados quando tentam antecipar o pagamento das parcelas. O próprio nome do benefício, induz os servidores ao erro, já que oficialmente ele é apresentado como “cartão consignado de benefício”, dando a entender que se trata dos empréstimos tradicionais. 

Embora faça empréstimos consignados desde 2013,  a dívida atual da arquiteta está longe de ser impagável, pois não chega a R$ 3 mil. E, esta dívida só existe, segundo ela, porque não recebe um centavo de reajuste faz mais de dois anos e porque a prefeitura congelou as promoções horizontais.  Se as normas trabalhistas estivessem sendo cumpridas, não teria dívida nenhuma, explica ela.

LEILÃO

No final de março deste ano, a prefeitura  da Capital fechou contrato de R$ 100,2 milhões com o Bradesco para que ele tenha exclusidade para o pagamento dos salários dos 37.742 servidores ativos e inativos durante mais cinco anos. 

Procurada a prefeitura enviou nota no final da tarde desta sexta-feira dizendo que "a Secretaria Municipal de Gestão informa que em 19 de abril de 2024, foi publicado um novo Decreto de consignação sob o n° 15.908, que estabeleceu uma nova modalidade de consignação por Cartão Benefício, que já funciona em vários locais do Brasil. 

Os cálculos de margem foram aplicados respeitando os artigos do referido Decreto, onde são aplicados percentuais diferentes para o Crédito Consignado e Cartão Benefício. A Seges informa ainda, que o Município não é responsável por quaisquer divulgações sobre o CREDCESTA."

(Matéria editada para adição da nota da prefeitura)

CLÍNICA DO TERROR

Prefeituras pagavam até R$ 27 mil para internar pacientes em local com sequestros e cadeira elétrica

Inspeção flagrou centro de reabilitação em Campo Grande operando como cárcere privado; Internos eram caçados por recompensa, dopados e mantidos sob tortura física e psicológica, tudo financiado com verbas de famílias e municípios do interior

23/12/2025 14h01

Relatório operava engrenagem de tortura, sequestro e exploração humana

Relatório operava engrenagem de tortura, sequestro e exploração humana Foto: Divulgação

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Sob a fachada de tratamento médico e recuperação de dependentes químicos, a "Clínica de Reabilitação Os Filhos de Maria", na zona rural de Campo Grande, operava uma engrenagem de tortura, sequestro e exploração humana.

A revelação consta no relatório de inspeção do Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (MNPCT), realizado em outubro de 2024 e divulgado no final de outubro deste ano. O documento descreve um cenário de campo de concentração onde a "terapia" consistia em espancamentos, uso de braçadeiras de nylon para imobilização e dopagem química forçada.

O relatório aponta que ao menos três prefeituras do interior tinham contrato com a clínica e pagavam valores exorbitantes para enviar pacientes ao local. 

Caçadores de cabeças

A entrada na clínica não era um ato médico, mas uma captura. O relatório detalha a existência de "equipes de resgate" formadas pelos próprios internos ou monitores, que atuavam como caçadores de recompensa.

Para cada paciente capturado à força, a equipe recebia uma comissão: R$ 50 reais se o sequestro fosse na capital e R$ 100 se fosse no interior. 

O valor não era pago em dinheiro, mas em "crédito na cantina" da própria instituição, de acordo com o relatório. 

Uma vez capturado, o interno passava pelo protocolo de boas-vindas: o "sossega-leão". Relatos colhidos pelos peritos descrevem a administração forçada de um coquetel de medicamentos apelidado de "abobrão", capaz de deixar uma pessoa desacordada por até três dias.

A inspeção encontrou um estoque ilegal de psicotrópicos (Haldol, Diazepam, Carbamazepina) sem receita médica, manuseados por pessoas sem qualificação, configurando tráfico de drogas e exercício ilegal da medicina.

Tortura Medieval e trabalho escravo

Quem tentava fugir ou reclamar das condições enfrentava o "Grupo de Apoio ao Paciente" (GAP), uma espécie de milícia interna. As punições descritas no relatório são medievais:

Uso de braçadeiras de plástico apertadas nos punhos e pescoço, causando lesões visíveis e risco de asfixia; Relatos de surras com pedaços de madeira e socos e confinamento em quartos sem maçaneta, trancados por fora, por períodos que variavam de sete dias a três meses.

Além da violência, a clínica lucrava com a mão de obra gratuita. Sob o pretexto de "laborterapia", internos eram submetidos a jornadas de trabalho análogo à escravidão. Um dos cozinheiros relatou trabalhar 17 horas seguidas (das 5h às 22h), em dias alternados, sem receber um centavo.

Financiamento público

Enquanto os internos viviam em condições insalubres, com relatos de esgoto vazando sobre os alimentos na despensa, a clínica faturava alto.

A investigação do MNPCT descobriu que prefeituras do interior de Mato Grosso do Sul firmavam contratos para internação compulsória ou voluntária.

Nos prontuários examinados foi constatado que o município de Nova Andradina pagou R$ 27.300,00 pela internação de um único paciente por seis meses, mais taxa de remoção.

O município de Miranda teria desembolsado R$ 21.700,00 por outro paciente.

Famílias particulares também eram extorquidas, pagando mensalidades entre R$ 1.800 e R$ 2.700, além de multas contratuais abusivas caso tentassem retirar o parente do local antes do prazo.

Desfecho Policial

Diante da gravidade do flagrante, que incluiu um interno com 19 pontos na cabeça após tentar fugir e ser recapturado, a equipe de inspeção acionou a Polícia Civil. Cerca de 90 pessoas foram retiradas do local em uma ação de desinstitucionalização de emergência.

O relatório pede a responsabilização criminal dos proprietários por cárcere privado, tortura, sequestro e tráfico de drogas, além de investigação sobre a improbidade administrativa das prefeituras que financiaram a clínica sem fiscalizar o destino dos pacientes.

Até o momento, a defesa da clínica (agora fechada por ordem judicial) não se pronunciou sobre as acusações de tortura e desvio de finalidade médica.

Outro lado

O município de Miranda não retomou os contatos feitos pela reportagem. 

O município de Nova Andradina respondeu em nota que não foi feito pagamento à clínica, ao contrário do que o relatório do MNCPT aponta. Em consulta ao portal da transparência do município, realmente não consta o pagamento ao CNPJ cadastrado pela clínica ou convênio referente. 

“Cumpre esclarecer que não foi localizado qualquer pagamento direto ao CNPJ da clínica “Os Filhos de Maria”, uma vez que o Município de Nova Andradina não possui e nunca possuiu contrato, convênio ou qualquer outro instrumento jurídico com a referida instituição", cita a prefeitura. 

Vale destacar que a atual administração do município assumiu a gestão municipal em janeiro de 2025, antes do período citado pelo relatório. 

“O único contato ocorrido deu-se no ano de 2024, quando o Município instaurou processo licitatório visando à contratação de clínica especializada em internação compulsória. Na oportunidade, foi realizada vistoria técnica in loco, conforme praxe administrativa.

Contudo, a clínica “Filhos de Maria” não foi habilitada no certame (Processo n°4365/2024), por não atender às exigências técnicas, estruturais e legais necessárias à execução do objeto, motivo pelo qual não houve qualquer contratação com o Município de Nova Andradina.”

“Dessa forma, caso algum paciente residente em Nova Andradina/MS tenha sido internado na referida clínica, tal fato não decorreu de contratação administrativa do Município, sendo plausível que eventual internação tenha ocorrido por determinação judicial, situação em que o Poder Judiciário, no âmbito de ações individuais, pode determinar o sequestro ou bloqueio de valores dos cofres públicos, geralmente com base em orçamentos apresentados por familiares ou terceiros, sem ingerência direta da Administração Municipal na escolha da instituição.”

Cidades

Após perder emprego no SBT, filho de David Cardoso vai contra Havaianas

Tomando chimarrão, ator que tem fortes laços com a terra do tereré gravou um vídeo, publicado com a legenda em que afirma que "empresas esquerdistas não são bem vindas"

23/12/2025 13h13

"Tenho meu chinelo da Harley Davidson. Tchau Havaianas, que assim seja com todas as empresas que fazem isso", disse.  Reprodução

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Menos de uma semana após ser desligado e perder o emprego no Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), o filho de um dos ícones sul-mato-grossenses da teledramaturgia símbolo da pornochanchada, o também ator David Cardoso Jr., aparece agora engrossando o coro da extrema-direita contra os chinelos Havaianas. 

Após a atriz Fernanda Torres protagonizar uma peça publicitária da marca, em que diz não querer que o telespectador "comece 2026 com o pé direito, não sendo nada contra a sorte", mas desejando que "comece com os dois pés... na porta, na estrada, na jaca", a extrema-direita se mordeu com a expressão antiga e têm se manifestado através das redes sociais como quem se sente atacado, propondo um boicote aos chinelos Havaianas. 

Recentemente, tomando um chimarrão, o ator que tem fortes laços com a terra do Tereré gravou um vídeo, publicado nas redes sociais com a legenda em que afirma que "empresas esquerdistas não são bem vindas. Chega de sermos otários". O ator mostra um par de chinelos Havaianas e diz: "nunca mais". 

"Tenho meu chinelo da Harley Davidson. Tchau Havaianas, que assim seja com todas as empresas que fazem isso", disse. 

Logo em seguida o ator, que diz não querer causar polêmica mas, sim, salvar o Brasil, postou uma nova gravação dizendo que o primeiro vídeo "explodiu" e que não pretende ser candidato, mas querendo mostrar "a força da direita". 

"Vamos nos posicionar sim!!!!! A direita tem mais força do que imagina. Chega de covardia. A palavra é Boicote!!!!!! Eles vão sentir no bolso e vão aprender", comentou o ator.  

Sem emprego

Recentemente, David Cardoso Jr., que chegou a afirmar em janeiro de 2025 que já havia ganhado mais dinheiro com um ano de OnlyFans o mesmo que ganharia em 25 anos de "A Praça É Nossa", foi desligado da emissora após compactuar com as posições de ataque de Zezé de Camargo às filhas de Silvio Santos. 

Após ser desligado, o ator usou das próprias redes sociais para contar sua versão e exaltar sua história, dizendo que trabalhou a primeira vez com Silvio Santos ainda em 1975, sendo inclusive "o príncipe do 'Boa Noite Cinderela' que seria dirigido por Gugu Liberato.  

David diz que nunca quis ofender ninguém, mas expõe a opinião de que, atualmente, "está havendo uma inversão de valores no Brasil", afirmando que nunca foi valorizado na emissora e não possuía contrato nesses 14 anos de serviço prestado. 

"O que está acontecendo no Brasil chama-se inversão de valores, sou a maior prova de que isso está explícito, porque eu, hoje, depois de 14 anos trabalhando e dedicando uma parte da vida para o SBT, sou 'persona non grata' lá dentro. Enquanto que o Lula, que é 'persona non grata' pelo Benjamin Netanyahu, pelo primeiro ministro de Israel, é muito bem quisto no SBT, fundado por um judeu. Ou seja, no Brasil o crime compensa", afirma ele. 

O ator complementa que adora a família, mas que nunca conheceu a esposa de Silvio Santos, por exemplo, lembrando que a Rede Globo chegou a "escurraçá-lo" lá de dentro, enquanto o SBT acabou "desfazendo dos meus serviços de maneira muito feia". 
 

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