Cidades

PONTA PORÃ

Quase metade do Assentamento Itamarati já foi negociada com terceiros

Criado em 2002, há 20 anos, como o maior assentamento do País, população da área já supera quatro cidades de MS

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Pouco mais da metade dos 54 hectares do Assentamento Itamarati, um dos maiores do Brasil, com quase 16 mil habitantes, já foi negociada ilegalmente pelas famílias sorteadas pela primeira vez, em 2002.  

Vinte anos depois de sua criação, as cerca de 2.900 famílias que lá habitam começaram a receber o título de propriedade em cerimônia conduzida pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), na segunda-feira (29).  

O tamanho populacional da área se iguala ao total de habitantes dos quatro menores municípios de Mato Grosso do Sul: Jateí, Taquarussu, Novo Horizonte do Sul e Figueirão.  

O cálculo feito sobre as vendas dos lotes, as quais são proibidas por lei, é de Paulo José Roberval Barbosa Lla, conhecido no assentamento como Paulo da Padaria.

Paulo comandou por quatro anos (de 2012 a 2016) a associação dos moradores do assentamento. “Conheço cada pedaço daqui”, gabou-se o ex-presidente da associação.

O indício de que quase metade do assentamento já foi vendida sem mesmo que os moradores tivessem a titulação definitiva da área não é alegação apenas de Paulo.  

Há 9 anos, em março de 2014, reportagem do Correio do Estado já prognosticava o assunto em questão.  

À época, a superintendência do Incra em Mato Grosso do Sul preparava um estudo indicando que, dos 179 assentamentos rurais criados no Estado, as terras de 35 deveriam ser confiscadas por meios judiciais.

A retomada dos assentamentos teria acontecido porque os primeiros donos da terra, que mede de 8 a 25 hectares, haviam abandonado os imóveis, trocado por outros situados em áreas urbanas e desflorestado ambientes protegidos por leis, mas, geralmente, teriam negociado as terras sem o carimbo do Incra.

Paulo da Padaria, que mora no Assentamento Itamarati desde 2006, há 16 anos, disse ao Correio do Estado que “ainda hoje” assentados vendem suas áreas.  

“Uma área aqui custa em torno de R$ 250 mil”, disse, acrescentando que já soube de imóvel rural arrematado lá por R$ 500 mil.

“No início [na criação do assentamento], tinha assentado que vendia a área em troca de passagem [de ônibus] para ir embora. Outros trocavam por outra área na cidade. E outros trocavam por dinheiro mesmo”, afirmou o ex-presidente da associação de moradores do Assentamento Itamarati.

Paulo contou, ainda, que há casos de pessoas que se desfizeram do lote por não enxergarem futuro, não tinham dinheiro nem recursos através de crédito para tocar alguma lavoura, por exemplo.  

Hoje, famílias plantam soja, milho, criam gado e, com a colheita e a venda de leite, se sustentam. Alguns dos entrevistados se dizem “felizes” pela insistência em viver no Itamarati.

VENDAS

Pela internet, empresas que afirmam negociar áreas no Assentamento Itamarati exibem até fotografias da propriedade. A reportagem tentou, na tarde de ontem, conversar sobre o negócio com uma delas, por telefone, mas a ligação não foi completada.

Conforme as regras, o assentado, sem a escritura do lote em mãos, em seu nome, não pode vender, doar, arrendar, alugar, tampouco emprestar a terra a ninguém.

De acordo com explicações do Paulo da Padaria, os assentados que vendem suas propriedades fecham os negócios por meio do conhecido contrato de gaveta.  

Ou seja, o que vende promete passar o imóvel no nome do comprador assim que receber, oficialmente, a documentação definitiva do Incra. É um contrato de risco, na prática.

Na segunda-feira (29), o presidente Jair Bolsonaro foi ao Assentamento Itamarati e informou que o seu governo estava liberando 2,6 mil títulos de propriedade aos moradores do local.

DEZ ANOS

De acordo com as normas do Incra, o título definitivo, conhecido como Título de Domínio, liberado pelo atual governo, transfere o lote em definitivo para a família assentada, o que garante ao favorecido a transmissão da área para os herdeiros.  

Ainda conforme as regras do Incra, o Título de Domínio não permite, de forma nenhuma, que a área do assentamento seja vendida pelo prazo de dez anos. Então, quem recebeu o título da área do Itamarati, em Ponta Porã, só poderá negociar a sua terra em 2032.

O Assentamento Itamarati tornou-se distrito de Ponta Porã e, segundo o governo de MS, ainda neste ano, a parte central da localidade, onde foram construídas casas de comércio, será asfaltada.

Desde que virou distrito, em março de 2015, é a prefeitura de Ponta Porã que cuida das questões administrativas e sociais do assentamento, que hoje conta com três escolas e dois postos de saúde.

Ainda conforme Paulo da Padaria, até as áreas do município localizadas dentro do assentamento, que poderiam ser usadas para a construção de praças esportivas ou de lazer, por exemplo, foram vendidas.

“Hoje, a prefeitura não tem como construir um banheiro por aqui. Tudo foi vendido”, denunciou Paulo.

“Feliz e dançando”, diz assentado que hoje tem até carro

Em 1979, há 43 anos, Jair Bolsonaro, então tenente do Exército, foi morar em Nioaque, cidade distante cerca de 200 km do Assentamento Itamarati, em Ponta Porã. Lá, o militar, que depois se tornou presidente do Brasil, tentou tocar uma lavoura de arroz e melancia.  

Por não suportar a “dureza” que é mexer com agricultura, segundo trecho do discurso da ministra Tereza Cristina (Agricultura), que arrancou gargalhadas até do presidente, ele desistiu da lavoura.

No Itamarati, embora o número de desistência da vida no campo seja alto, há histórias que mostram um lado diferente e sinalizam que a perseverança pode derrotar o fracasso.

Morando no Assentamento Itamarati há 18 anos, Paulo Ramires Cardoso, o Cowboy, tem uma história boa para contar. Segundo ele, valeu a pena viver lá, depois de “muito ralo”. Ele contou que obteve uma área de 4,5 hectares no Itamarati em uma época em que “nada tinha, dinheiro, carro, conta bancária, nada”. Hoje, ele cultiva soja, maracujá, milho e grama.  

Fora do plantio, Cowboy zanza pelo centro do local, onde, em ruas poeirentas e sem asfalto, foram construídos restaurantes, lojas e bares.  

Segundo ele, na rua, é “audiovisual na publicidade”. Com um rádio na mão e saltando como dançarino, às vezes ganha dinheiro ou “só admiração”. 

Ele conta causos, declama poesias, dança e faz propaganda de comércio, por exemplo. Cowboy disse que hoje tem carro, conta bancária, é feliz e acha que a reforma agrária pode fazer o Brasil crescer. (CB)

CONFLITOS AGRÁRIOS

Queda do marco temporal preocupa produtores de MS

Em julgamento no STF, os ministros Gilmar Mendes e Flávio Dino já votaram pela inconstitucionalidade da tese que limita as demarcações de terras indígenas

16/12/2025 08h40

Indígenas bloquearam ontem parte da MS-156, em Dourados, em protesto contra o julgamento

Indígenas bloquearam ontem parte da MS-156, em Dourados, em protesto contra o julgamento Dourados News/Clara Medeiros

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A retomada do julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a constitucionalidade da tese do marco temporal, ferramenta que determina que terras só podem ser demarcadas se indígenas as estivessem ocupando quando a Constituição Federal foi promulgada, em outubro de 1988, tem causado preocupação aos produtores rurais de Mato Grosso do Sul, estado com a terceira maior população indígena do País.

Segundo o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), Marcelo Bertoni, a conciliação realizada ao longo de 10 meses no STF entre produtores rurais e representantes dos indígenas foi produtiva e rendeu alguns apontamentos, entretanto, a possibilidade de derrubar a tese do marco temporal, que foi aprovado pelo Congresso Nacional mesmo após a Corte o ter entendido como inconstitucional, preocupa o setor.

Ao Correio do Estado, Bertoni afirmou que a discussão no STF rendeu “pontos positivos”, como a indenização aos donos das propriedades demarcadas, a possibilidade de o produtor ficar com a posse da área até ela ser paga, o acompanhamento de todo o processo de levantamento de dados da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e a reintegração de posse.

“O que nos deixa preocupado é a queda do marco temporal. Discutimos muito isso, dizendo que o marco temporal não limita os direitos dos povos originários, ele simplesmente mostra a trava que tem naquele período em que os indígenas ocupam as suas terras e as próximas áreas eles teriam que comprar e desapropriar. Isso está no Estatuto do Índio, onde diz que a qualquer tempo eu posso criar novas reservas, então, a preocupação nossa é só com o marco, para fazer com que isso seja travado e dali para a frente começar a fazer indenização justa e prévia, e que a União não quer indenizar. Então, não adianta eu resolver uma injustiça com os indígenas criando outra com os produtores rurais”, declarou o presidente da Famasul.

Até este momento, dois ministros já votaram no julgamento, Gilmar Mendes, que foi o relator da matéria no STF, e Flávio Dino. Ambos votaram pela inconstitucionalidade do marco temporal para demarcação de terras indígenas. Os votos foram proferidos ontem, durante sessão do plenário virtual da Corte, que julga quatro processos sobre a questão.

Em sua manifestação, o ministro Gilmar Mendes considerou o marco temporal inconstitucional. No entendimento dele, o Legislativo não pode reduzir direitos assegurados aos povos indígenas.

“A imposição do marco temporal implicaria restrição indevida ao princípio da vedação ao retrocesso e à proteção insuficiente dos direitos fundamentais”, afirmou.

O ministro também determinou que todas as demarcações de terras indígenas devem ser concluídas no prazo de 10 anos.

Flávio Dino acompanhou o relator e disse que a proteção constitucional aos indígenas independe da existência de um marco temporal.

“Qualquer tentativa de condicionar a demarcação de terras indígenas à data da promulgação da Constituição de 1988 afronta o texto constitucional e a jurisprudência consolidada pelo Supremo Tribunal Federal”, afirmou Flávio Dino.

A votação ficará aberta até o fim da noite de quinta-feira. Ainda faltam oito ministros proferirem seus votos.

BRIGA

O julgamento é necessário porque em 2023 o STF considerou a tese do marco temporal inconstitucional. Além disso, o marco também foi barrado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que vetou parte da Lei nº 14.701/2023, aprovada pelo Congresso Nacional. Contudo, os parlamentares derrubaram o veto presidencial e promulgaram a medida.

Dessa forma, voltou a prevalecer o entendimento de que os indígenas somente têm direito às terras que estavam em sua posse no dia 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição Federal, ou que estavam em disputa judicial na época.

Após a votação do veto presidencial, o PL, o PP e o Republicanos protocolaram no STF ações para manter a validade do projeto de lei que reconheceu a tese do marco temporal.

Por outro lado, entidades que representam indígenas e partidos governistas também recorreram ao Supremo para contestar novamente a constitucionalidade da tese.

É neste cenário de divergência que o Supremo volta a analisar a matéria.

Em paralelo ao julgamento no Supremo Tribunal Federal, o Senado aprovou, na semana passada, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 48/2023, que insere a tese do marco temporal na Constituição Federal, em novo capítulo da briga entre Legislativo e Judiciário.

*SAIBA

Em meio à votação da constitucionalidade do marco temporal no Supremo Tribunal Federal (STF), indígenas ontem bloquearam parcialmente a rodovia MS-156, em Dourados. O grupo protestava contra a tese do marco temporal para demarcações de terras.

(Com agências)

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trágico

Mulher de 27 anos e rapaz de 28 morrem em acidente no interior de MS

A mulher conduzia um carro que atingiu o motociclista próximo ao Hospital Regional de Três Lagoas

16/12/2025 08h39

Na colisão que ocorreu na madrugada desta terça-feira morreram Fernando Ramos e Fernanda da Silva

Na colisão que ocorreu na madrugada desta terça-feira morreram Fernando Ramos e Fernanda da Silva (foto 24hnewsms)

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Duas pessoas morreram e três sofreram ferimentos em uma acidente que ocorreu no começo da madrugada desta terça-feira (16) próximo ao Hospital Regional, na BR-158, em Três Lagoas (MS), na região leste de Mato Grosso do Sul.

Morreram Fernanda Taina Costa da Silva, de 28 anos, que conduzia um Fiat Palio, e Fernando Marconi Ramos, de 27 anos, que trabalhava como moto-entregador. A colisão ocorreu pouto antes da uma hora da madrugada em um trecho urbano da BR-158, conhecido também como anel viário Samir Tomé. 

As circunstâncias do acidente ainda não haviam sido divulgadas até o começo da manhã. No Palio conduzido por Fernanda estavam três crianças, de 9 anos, 5 anos e nove meses, que tiveram de ser levadas ao Hospital Regional, mas o estado de saúde de todas era considerado estável. As três estavam no banco traseiro e as duas maiores estavam conscientes e orientadas. 

Imagens divulgadas pelo site 24hnewsms mostram que a motocicleta atingiu a parte frontal do veículo e o piloto acabou sendo jogado sobre o para-brisa, do lado da condutora, o que ajuda a explicar por que ela teve morte instantânea, apesar de estar no interior do veículo. 

Embora não haja testemunhas, os policiais que atenderam à ocorrência constataram sinais de frenagem da moto, que a moto seguia pelo anel viário no sentido ao shopping Três Lagoas, quando foi atingida frontalmente pelo carro, que teria invadido a pista contrária por motivos ainda ignorados. 

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