Ronnie Lessa, acusado de matar Marielle Franco e Anderson Gomes, permanece por mais um ano em Campo Grande. A decisão se deu após um ruído de comunicação entre os sistemas judiciários de Mato Grosso do Sul e Rio de Janeiro.
No primeiro momento, a Justiça Federal de MS determinou que o ex policial militar voltaria para o estado fluminense, no entanto o Tribunal de Justiça do Rio afirmou que a prorrogação de permanência de Lessa na Capital de MS já havia sido determinada.
Segundo informações obtidas pela TV Globo, a confusão se deu porque o juiz Luiz Augusto Iamassaki Fiorentini, da 5ª Vara Federal de Campo Grande, alegou que não houve pedido de permanência de Ronnie Lessa no Presídio Federal de Campo Grande, e como o prazo havia terminado no dia 21 de março, o acusado deveria retornar ao Rio de Janeiro em até 30 dias.
Momentos depois, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro afirmou que a decisão de permanência de Lessa no sistema federal já havia ocorrido, no dia 19 de março, e a comunicação ao Tribunal de Justiça Federal de MS também tinha sido feita por e-mail no mesmo dia, e por ofício, no dia 20 de março, portanto, dentro do prazo.
De acordo com o jornalista César Tralli, da TV Globo, o próprio Ronnie Lessa teria interesse em voltar para o Rio de Janeiro, local onde sua família mora.
Em Campo Grande, o ex-PM não está tendo contato com os familiares, e suas conversas são, em grande maioria, com a sua defesa.
Esse seria um dos fatores que teria levado Lessa a colaborar com a investigação da Polícia Federal por meio de delação premiada, apontam as fontes do jornalista.
O depoimento, que ocorreu no Presídio Federal de Campo Grande e foi homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), foi primordial para levar aos nomes e prisão de possíveis mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.
No dia 24 de março, o deputado federal Chiquinho Brazão (União Brasil-RJ), o irmão dele, o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ), Domingos Brazão, e o delegado Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, foram presos por envolvimento no atendado como possíveis mandantes do crime.
Chiquinho Brazão está preso no Presídio Federal de Campo Grande, assim como Ronnie Lessa, autor do crime e da delação premiada que levou aos nomes da família Brazão. Já Domingos Brazão foi encaminhado para o Presídio Federal de Porto Velho (RO) e Rivaldo Barbosa permaneceu em Brasília (DF).
Ainda de acordo com a apuração de César Tralli, as tratativas para a delação de Lessa começaram após o acordo feito por Élcio de Queiroz, que também contribuiu com a PF, depondo sobre como aconteceu o crime e apontando o ex-PM como o autor dos disparos.
O acusado de matar Marielle foi ouvido em aproximadamente 10 oitivas, e teria prestado três depoimentos após a delação firmada com a PF e com a Procuradoria-Geral da República. Lessa responde também por outros homicídios no Rio de Janeiro, além do caso que envolve a ex-vereadora e o motorista.
O CASO
Marielle Franco e Anderson Gomes foram mortos em uma emboscada no dia 14 de março de 2018, ambos foram mortos a tiros dentro do carro em que estavam, na região Central do Rio de Janeiro.
Ao todo, foram 13 disparos efetuados contra o veículo da vereadora. Uma assessora de Marielle também estava no carro, mas sobreviveu.
Desde então, o inquérito foi instaurado e só agora, em março de 2024, que os possíveis mandantes foram presos. De acordo com a investigação da Polícia Federal, a parlamentar foi morta “por ser vista como um obstáculo aos interesses” da família Brazão.
Ao realizar o cruzamento de dados sobre a atuação parlamentar de Marielle e da delação premiada de Ronnie Lessa, os investigadores chegaram aos possíveis motivos do crime, como as supostas atividades criminosas dos irmãos Brazão, envolvendo principalmente a milícia e grilagem de terras.
Em um relatório de cerca de 500 páginas, a PF aponta divergências entre Marielle e Chiquinho Brazão, que na época do crime era vereador, na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, a respeito de um projeto de lei que flexibiliza regras de regularização de terras.
A PF destaca ainda que os encontros para tratar sobre o crime foram feitos em locais desertos e de maneira breve, e assim, comprometendo a confirmação “do acordo fatal e de sua respectiva motivação”.
Já o papel de Rivaldo Barbosa no crime, foi de obstrução do trabalho dos policiais na investigação e colaboração no planejamento do crime, aponta a PF.
Na época, Barbosa era chefe da Polícia Civil, e foi nomeado um dia antes da morte da vereadora e do motorista, mesmo após um parecer do setor de inteligência, que apontava atividades suspeitas de Rivaldo.
O delegado esteve diversas vezes com a família de Marielle, chegando a falar que era uma “questão de honra”, elucidar o caso.
Após a prisão de Rivaldo Barbosa, a família de Marielle e amigos, como o ex-deputado Marcelo Freixo, relataram surpresa e dor, ao saber da participação do delegado, que durante os primeiros momentos das investigações.
SAIBA
Além dos supostos mandantes, Chiquinho Brazão, Domingos Brazão e Rivaldo Barbosa, constam na lista de acusados de envolvimento no assassinato de Marielle e Anderson, o ex-bombeiro Maxwell Simões Correia, que monitorou a rotina da vítima e ajudou a ocultar a arma do crime; Élcio de Queiroz, que dirigiu o carro que perseguiu as vítimas, Edilson Barbosa dos Santos, dono do ferro velho onde foi feito o desmanche do veículo usado, e Ronnie Lessa, autor dos disparos.