Jovens empresários do Sul do Brasil são investigados por furto, lavagem de dinheiro e sonegação após desviar criptomoedas de vítimas em Campo Grande
Um grupo de jovens empresários do Sul do Brasil é suspeito de furtar 12,16186856 bitcoins de um casal de Campo Grande. À primeira vista, pode parecer pouco, mas o valor, na cotação desta quinta-feira (10), representava nada menos que R$ 5,99 milhões na cotação desta sexta-feira (11), no período da tarde.
Além do furto dos bitcoins, o grupo de jovens empresários, que atua em Curitiba (PR) e cidades do litoral-norte catarinense, como Itapema e Camboriú (SC) é suspeito de outros crimes, como lavagem de dinheiro e sonegação de impostos, além da qualificadora do crime de furto, quando se abusa da confiança da vítima.
E, pelo relato das investigações, foi exatamente isso o que o grupo de jovens empresários fez: abusou da confiança de José Neiva Alves Rezende e de Antônia Castro.
Os crimes foram praticados em 2021, as investigações avançaram via Ministério Público de Mato Grosso do Sul, e agora chegaram também à Polícia Civil.
O casal começou a investir em bitcoins em 2021 e, segundo relato do Ministério Público, por falta de conhecimento do mercado de criptomoedas, buscou ajuda de Felippe Barreto Sims.
Os 12,16186856 BTC investidos na época estavam avaliados em R$ 3,6 milhões. A disparada no preço da cripto, que é um ativo digital, fez com que hoje o valor em reais quase dobrasse.
Na época, as vítimas converteram os reais em bitcoin na plataforma Binance e depois transferiram os bitcoins para uma “hardware wallet”, uma espécie de carteira eletrônica, da marca Trezor.
No fim de 2021, porém, ao acessarem suas carteiras, o casal verificou que as mesmas estavam vazias. Na época, a investigação policial concluiu que os autores foram, além de Felippe, Marco Aurélio Pereira de Souza e Jair do Lago Ferreira Júnior.
Os promotores de Justiça evidenciaram a autoria do furto de bitcoins quando, após requisição, a Binance forneceu dados cadastrais com as transferências realizadas. O que se viu a partir de então foi uma operação sofisticada para pulverizar a criptomoeda em várias contas e lavar o produto do furto milionário — ao menos em reais — em imóveis na região Sul do Brasil.
No mês de novembro daquele ano, o casal verificou que as retiradas foram feitas em várias transações entre a noite do dia 7 de maio e o dia 8 de maio.
As transações, que também foram constatadas ao acessar os dados da plataforma Binance, totalizaram sete transferências para Marco Aurélio Pereira de Souza. No mesmo período, Marco Aurélio fez mais três transações para, segundo o Ministério Público, “despistar o rastreamento do dinheiro”.
Os investigadores seguiram o caminho do dinheiro e chegaram a Jair do Lago Ferreira Júnior, que recebeu 6,793666 BTC (R$ 3,34 milhões na cotação desta sexta-feira, 11). Outro suspeito do golpe, Felippe Barreto Sims, recebeu 3,833689 BTC (R$ 1,88 milhão na mesma cotação).
Na sequência, os investigadores encontraram “diversas evidências” de uma possível lavagem de dinheiro por parte de Jair, juntamente com sua esposa, Sainara Nunes da Silva, utilizando a compra e venda de imóveis na região Sul do Brasil, no Rio Grande do Sul e em Curitiba (PR).
Após os furtos de bitcoin, Jair também passou a operar uma rede de barbearias no litoral de Santa Catarina, nas cidades de Itapema, Camboriú, Tijucas e Porto Belo.
O mercado de criptos e o Bitcoin
O mercado de criptomoedas é um ecossistema digital baseado em moedas virtuais descentralizadas, que utilizam a tecnologia blockchain para registrar transações de forma segura, transparente e sem a necessidade de intermediários como bancos ou governos.
Criadas a partir de códigos de computador, essas moedas operam em redes distribuídas que validam e armazenam informações por meio de criptografia avançada. Além de funcionar como meio de pagamento, muitas criptomoedas também são utilizadas como ativos de investimento.
Dentro desse mercado, o Bitcoin é a criptomoeda mais conhecida e foi a primeira a ser criada, em 2009, por um desenvolvedor (ou grupo) sob o pseudônimo de Satoshi Nakamoto. Seu objetivo inicial era ser uma alternativa ao sistema financeiro tradicional, permitindo transferências diretas entre pessoas, sem burocracia ou taxas elevadas.
Por ter sido pioneiro e possuir um sistema limitado de emissão — serão criados no máximo 21 milhões de bitcoins — o ativo passou a ser visto por muitos como uma espécie de “ouro digital”, com valor de mercado influenciado por escassez, demanda e fatores econômicos globais.
O sucesso do Bitcoin abriu caminho para milhares de outras criptomoedas, conhecidas como altcoins, que buscam resolver diferentes problemas ou oferecer funcionalidades específicas, como contratos inteligentes ou sistemas de privacidade reforçada.
Ainda assim, o Bitcoin continua liderando o mercado em valor e influência, sendo referência para analistas, investidores e até governos que estudam formas de regulação.
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