Cidades

ODILON DE OLIVEIRA:

"Temos duas justiças penais: uma do pobre outra da elite", diz Odilon de Oliveira

Juiz critica injustiças do sistema penal e fala da necessidade de alterar lei

MILENA CRESTANI

19/03/2017 - 04h00
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Aos quatro anos de idade, o destino de Odilon de Oliveira começava a ser transformado. Em pau-de-arara, sua família saiu de Exu, no Sertão Pernambucano, seguiu para São Paulo e depois para Jaciara, no Mato Grosso. Os pais, ele e os oito irmãos trabalhavam na roça. Com dificuldades, conseguiu estudar em escola agrícola e, aos 29 anos, formou-se em Direito. Estudou passou em quatro concursos, o último para juiz federal, função que desempenha há 30 anos, quase todos em Mato Grosso do Sul. Vive acompanhado por escolta policial há 18 anos, em razão das diversas ameaças que recebeu por ter condenado grupos de traficantes. Sua história inspirou filme. Nesta entrevista, ele conta um pouco de sua história e fala da necessidade de leis mais duras para combater as grandes organizações. 

CORREIO PERGUNTA – O senhor completou mês passado 30 anos na Justiça Federal. Como foi o início da sua carreira?
ODILON DE OLIVEIRA – Completei 30 anos somente na magistratura federal. Comecei meu trabalho em Cuiabá, em 1987. Vim para Campo Grande, onde começamos a travar luta dentro do cenário do crime organizado. Ainda não tinha vara na fronteira. Eram duas que faziam serviço em todo estado. Depois especializou. Atuei em Dourados, Ponta Porã e Corumbá. De dez anos para cá, essa vara especializou-se em crimes financeiros, como lavagem de dinheiro, corrupção sonegação e crimes conexos, como tráfico de drogas. A jurisdição abrange o estado todo. 

Grande parte desse período foi sob escolta policial. Como é isso na sua rotina? Tem ideia de quantas ameaças já recebeu?
Recebi a primeira ameaça logo que entrei na magistratura. Em 1998 solicitei proteção policial.  Não teve mais jeito. As ameaças e planos só aumentaram. Descobriu-se que dois grupos de traficantes estavam querendo me matar: o grupo do Pepito, o Nilton Andrade dos Santos, e grupo dos Moréis, cujo patriarca era João Morel, que acolheu Beira-Mar na fronteira. Depois Beira-Mar mandou matá-lo no presídio. A Polícia Federal começou a trabalhar pesado, em 1994, no combate ao tráfico internacional, principalmente atacando a fonte, combatendo as produções de maconha no Paraguai. Na Operação Aliança, plantações eram destruídas em parceria de policiais federais com autoridades do Paraguai. Então, começaram os embates contra grandes traficantes. Condenei até a terceira geração da família Morel. E Pepito a 26 anos de prisão. Também havia atuação contra outras organizações grandes, ligadas a cartel de carne. Houve trabalho intenso na fronteira.

Na sua avaliação, houve avanço da atuação das organizações criminosas?
Os crimes de natureza econômica modificaram-se. A organização criminosa só pratica homicídio se for necessário. O foco é dinheiro. Esses grupos se sofisticaram muito, principalmente com avanço da tecnologia. Se Justiça, Ministério Público e polícia não se sofisticarem também, nada será resolvido. Não se investiga lavagem de dinheiro ouvindo testemunhas ou com barreira em estradas. Há técnicas especiais de investigação, quebrando sigilo bancário às escondidas, acompanhamento saques e depósitos, quebrando sigilo fiscal, verificando evolução patrimonial, quebrando sigilo telefônico e o telemático, para verificar mensagens, pois hoje os aplicativos têm sido muito usados. O resultado só acontece se tiver trabalho harmônico entre polícia, Ministério Público e Justiça. Não pode ter desencontro. Obviamente, o juiz não vai ficar dependente, amarrado, pois na hora do processo segue sozinho, para julgar. Na investigação é necessário porque a constituição foi muito aberta,  protege demais o criminoso e deixa sociedade desamparada. O trabalho da polícia depende do juiz. Para entrar em uma residência, por exemplo.

Houve algum caso mais tenso, que foi além da ameaça? 
Foram muitas ameaças, planos, correspondências. Um dos casos mais complicados ocorreu em Ponta Porã, onde fiquei um ano e meio. Hospedava-me no hotel do Exército, destinado a  militares e seus familiares. Pagava apenas uma taxa e minha escolta também ficava lá. Até que houve tentativa de invasão, com troca de tiros. Houve inquérito, não identificaram os envolvidos, mas sabe-se que foi a mando de traficantes. Aí fui para hotel na cidade, pois a situação já estava causando apreensão nas esposas do militares. Então era melhor o alvo sair. Nesse hotel fiquei apenas quatro dias e precisei mudar para o fórum, por segurança, pois poderia colocar a vida dos outros em risco. Certo dia, bandidos me esperaram na porta. Logo cedo, saí para academia e o guarda do hotel não estava ali. O portão estava aberto. Agente desceu antes  para vistoria, quando percebeu o carro com pessoas suspeitas, apenas esperando para atirar, a poucos metros dali. Pelo rádio, os agentes se comunicaram. Correram, mas não conseguiram pegar os bandidos, que fugiram para o Paraguai. Fomos para academia e, no caminho, recebemos telefonema da Polícia Federal dizendo que estávamos sendo seguidos. Conseguiram interceptar conversas. Aí fui para fórum. No hotel havia risco de envolver outros. 

No dia a dia, é difícil essa convivência com proteção 24 horas? O que já te atrapalhou?  
Não me arrependo e plano de morte, para mim, é a mesma coisa de nada. Entra por um ouvido sai pelo outro. Nunca atrapalhou no meu trabalho. Não me senti intimidado nas decisões. Mas, claro que há certo receito. Tenho escolta desde que tinha 50 anos de idade. Isso aniquilou minha vida social e a parte familiar ligada ao social. Evitamos, por exemplo, andar na rua com os filhos. Isso mudou completamente. Fique confinado e minha mulher sofreu efeitos. Única coisa causa que me angustia é a certeza que nunca vou ter liberdade, vou morrer com essa restrição de liberdade. Isso me faz até perder sono, ter pesadelo. Tenho 68 anos e vivi bom tempo com escolta, residindo dentro de casa, dia e noite. Não tenho a chance de andar sozinho. A escolta faz parte da minha vida mais que a minha família, pois me acompanha 24 horas. 

O senhor continuará com a escolta depois da aposentadoria?  
Atualmente não há norma que garante ao juiz segurança após aposentadoria. Eu entendo que enquanto houver necessidade, estando aposentado ou não, tenho direito a escolta. Tanto que vou ajuizar ação de obrigação de fazer se União não me der escolta depois de aposentar. Porque vejo como injustiça grande. O sujeito é usado e depois jogado fora, como se fosse bucha de laranja, que não presta mais. Esse é meu sentimento, como de muitos juízes. Quem recebe ameaça no Brasil não é apenas o juiz Odilon. São aproximadamente 150. O meu, certamente, é o caso mais grave e prolongado. Foi apresentado projeto de lei que tratava justamente de proteção. A lei criou vários instrumentos que, aparentemente, protegem juiz e Ministério Público, mas enganosamente. Não foi aprovada a introdução de artigo para  proteger depois da aposentadoria.  Foi aprovado, por exemplo, colegiado para decidir em processo de determinada organização se juiz sentir-se ameaçado. Então, posso chamar mais dois juízes para assinar comigo, fazer audiências e determinar prisões. Para mim, a norma não tem efeito prático porque bandido sabe quem é juiz do processo e outros dois são auxiliares. Então vou continuar visado. Jamais chamaria colegiado. Segundo, há ponto mais grave. Isso representa covardia do Estado no enfrentamento dos bandidos. Tenho que dizer que estou com medo. É o Estado dizendo covardemente que está com medo, algo que acaba fortalecendo organização. Não têm futuro esses mecanismos. Não resolve. Tem que partir para cima dos vagabundos, botar no xadrez e dar proteção aos juízes enquanto necessitar. Se estado brasileiro for firme, a bandidagem não vai mais ameaçar. 

(Fotos: Paulo Ribas / Correio do Estado)

Hoje notamos organizações em guerra na fronteira e barbáries nos presídios. No que o Governo erra? 
O Brasil combate a criminalidade organizada com talco e perfume francês. A legislação é mãe para o crime organizado. É boa só para punir o pé de chinelo. Mas, ao mesmo tempo, é fraca para crime organizado. Trás desigualdade de tratamento. O pequeno se submete às mesmas ferramentas a que estão sujeitos os grandes. Precisava de lei mais rigorosa. Se o pequeno vai no Paraguai e trás cinco quilos de maconha, a pena é de cinco a dez anos mais aumento pela internacionalidade, de um a dois terços. Se o grande buscar cinco toneladas, a pena é a mesma. Então, como vai combater? A lei acaba incentivando. Ao invés de trazer um quilo, trás logo uma tonelada que a pena é a mesma. A lei faz apologia ao crime de maior potencial. Nos crimes econômicos, é assim. Se lavar R$ 10 mil a pena é a mesma de R$ 10 milhões.

O primeiro passo seria, portanto, a mudança partindo do Legislativo?  
Isso mesmo. Já ouvi de muitas pessoas que a justiça penal brasileira está podre. Acrescento que não é a justiça, mas o sistema penal brasileiro que não funciona. Começa no Congresso, onde são feitas as leis. Se são feitas leis boas, trabalha-se com martelo bom. Agora, as leis fracas vão ser aplicadas primeiramente pela polícia, passam pelo Ministério Público que oferece a denúncia e o processo vem para a justiça. O começo já vai ser ruim. Tem que haver com tabela de pena com potencial de dano. Quem trafica um quilo, até tantos xx anos, por exemplo.

É isso que o senhor denominou como hipocrisia da justiça brasileira?  
Exatamente. Não funciona. Olha a hipocrisia: sujeito fraudou licitação e conseguiu contrato milionário, de quase 500 milhões ou até mais, para ganhar dinheiro.  Cometeu fraude com prejuízo à sociedade. Vai pegar de dois a 4 anos de prisão. Com essa pena, fica em regime aberto e, muitas vezes, o juiz tem de substituir por prestação de serviço à comunidade. Mas, um outro cidadão, que ganha menos de salário mínimo, a família está passando fome, resolve invadir residência e furtar televisão. Qual a pena para esse coitado, que não é magnata? Um a oito anos de prisão.  No Brasil temos duas justiças penais: uma para pobre, outra para elite. Isso faz parte da hipocrisia da justiça penal brasileira. Cria injustiça social muito grande. É uma frustração ver o crime organizado, a fronteira abandonada e a insegurança aumentando. 

Seu nome já foi cotado para a política. Tem essa pretensão?  
Não tenho projeto na  política. O que penso mesmo é me aposentar e aproveitar minha vida familiar com social. Sou casado há 42 anos. Quero aproveitar, ter momentos melhores. Vivo para minha mulher também. Vontade é aposentar e ter sossego.

E como avalia seu filho, Odilon Júnior,  na política? 
Ele gosta da política e se dedica de corpo e alma. Será político de sucesso porque foi criado com disciplina, é evangélico, prima pela idoneidade, ética. Tem qualidade muito importante que é a humildade.

FIM DA PARALISAÇÃO

Governo de MS antecipa repasse e greve dos ônibus deve acabar

Expectativa é que os motoristas voltem ao trabalho nas próximas horas, ainda nesta quinta-feira (18)

18/12/2025 08h34

Expectativa é que ônibus voltem a circular ainda hoje em Campo Grande

Expectativa é que ônibus voltem a circular ainda hoje em Campo Grande Marcelo Victor/Correio do Estado

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Governo de Mato Grosso do Sul antecipou o repasse milionário à Prefeitura Municipal de Campo Grande (PMCG), referente as gratuidades dos estudantes da Rede Estadual de Ensino (REE-MS).

A verba será transferida para o Consórcio Guaicurus, para pagamento dos salários dos motoristas que estão atrasados.

O valor, de R$ 8 milhões, seria pago em janeiro de 2026, mas foi adiantado para dezembro de 2025, para resolver a crise financeira do transporte coletivo na Capital. A remuneração deve cair na conta dos motoristas em breve.

Com isso, a greve dos ônibus deve acabar e a expectativa é que os motoristas voltem ao trabalho nas próximas horas, ainda nesta quinta-feira (18).

Haverá uma reunião na manhã desta quinta-feira (18), na Câmara Municipal de Campo Grande, entre vereadores e Sindicato dos Trabalhadores do Transporte Coletivo Urbano de Campo Grande, para comunicar que os salários finalmente serão depositados e exigir que os motoristas voltem ao trabalho ainda hoje (18).

O presidente da Câmara Municipal de Campo Grande, vereador Epaminondas Neto (PSDB), mais conhecido como Papy, foi quem articulou o repasse da verba milionária com o governador do Estado, Eduardo Riedel (PP).

Em entrevista exclusiva ao Correio do Estado, Papy afirmou que está tentando negociar com o governador desde terça-feira (16) a possibilidade de antecipar o pagamento.

"Terça-feira eu falei com o governador, no sentido de ele antecipar a parcela de janeiro para agora, e a gente pagar os salários, e acabar a greve independente de quem tem culpa, se vai ter intervenção ou não. O importante agora era reunir forças para acabar com a greve que está acabando com a cidade em época de Natal. O governador precisava ver a possibilidade disso e me pediu um dia. Hoje ele me ligou cedo e confirmou que vai fazer o repasse. Já avisou a prefeita de forma antecipada para salvar a cidade e a greve. Vou receber o sindicato agora aqui na Câmara mais uma vez, porque a gente tinha feito um compromisso que assim que o governador sinalizasse, eles já voltassem, mesmo que isso não caísse na conta automaticamente", explicou Papy ao Correio do Estado.

4 DIAS DE GREVE

Campo Grande amanheceu sem ônibus pelo quarto dia consecutivo nesta quinta-feira (18).

Mais uma vez, os terminais Morenão, Julio de Castilho, Bandeirantes, Nova Bahia, Moreninhas, Aero Rancho, Guaicurus, General Osório e Hércules Maymone amanheceram fechados sem nenhuma "alma viva".

Os pontos estão vazios. Em contrapartida, as garagens estão lotadas de ônibus estacionados.

A greve afeta 100 mil usuários, que usam o transporte coletivo diariamente para ir e voltar do trabalho.

Com isso, os usuários precisam recorrer a outras alternativas para chegar ao trabalho: bicicleta, a pé, carona, transporte por aplicativo, táxi ou mototáxi. A greve foi alertada antecipadamente, estava prevista e não pegou passageiros de surpresa.

Possivelmente está já é a maior greve da história, superando a greve de 1994, quando o transporte coletivo paralisou por dois dias e meio. Os ônibus tomaram as ruas do centro e interditaram o trânsito há 31 anos, na gestão do ex-prefeito Juvêncio César. Na ocasião, motoristas murcharam os pneus dos ônibus em forma de protesto.

Além diso, esta é a segunda vez no ano em que a Capital fica sem transporte. Em 22 de outubro de 2025, Campo Grande amanheceu sem ônibus, com terminais fechados e pontos vazios. Os motoristas do transporte coletivo paralisaram atividades por duas horas, das 4h30min às 6h30min, o que refletiu em atrasos o dia todo. O fato pegou usuários de surpresa, que acordaram para ir trabalhar e não tinham meio de locomoção.

Os motoristas reivindicam pelo pagamento do mês, que foi pago 50%:

  • Pagamento do 5º dia útil venceu em 5 de dezembro
  • Pagamento da segunda parcela do 13º salário vai vencer em 20 de dezembro
  • Pagamento do vale (adiantamento) vai vencer em 20 de dezembro

O Consórcio Guaicurus alega que está em crise financeira e que não tem dinheiro para pagar a folha salarial, 13º salário e custos operacionais básicos (combustível, manutenção da frota e encargos). 

transporte público

Greve dos ônibus chega ao 4º dia mesmo com intervenção da justiça

Possivelmente está já é a maior greve da história, superando a greve de 1994, quando o transporte coletivo paralisou por dois dias e meio

18/12/2025 07h15

Terminais sem uma

Terminais sem uma "alma viva" nas primeiras horas da manhã desta quinta-feira MARCELO VICTOR

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Campo Grande amanheceu sem ônibus pelo quarto dia consecutivo nesta quinta-feira (18).

Mais uma vez, os terminais Morenão, Julio de Castilho, Bandeirantes, Nova Bahia, Moreninhas, Aero Rancho, Guaicurus, General Osório e Hércules Maymone amanheceram fechados sem nenhuma "alma viva".

Os pontos estão vazios. Em contrapartida, as garagens estão lotadas de ônibus estacionados.

A greve afeta 100 mil usuários, que usam o transporte coletivo diariamente para ir e voltar do trabalho.

Com isso, os usuários precisam recorrer a outras alternativas para chegar ao trabalho: bicicleta, a pé, carona, transporte por aplicativo, táxi ou mototáxi. A greve foi alertada antecipadamente, estava prevista e não pegou passageiros de surpresa.

Possivelmente está já é a maior greve da história, superando a greve de 1994, quando o transporte coletivo paralisou por dois dias e meio. Os ônibus tomaram as ruas do centro e interditaram o trânsito há 31 anos, na gestão do ex-prefeito Juvêncio César. Na ocasião, motoristas murcharam os pneus dos ônibus em forma de protesto.

Além diso, esta é a segunda vez no ano em que a Capital fica sem transporte. Em 22 de outubro de 2025, Campo Grande amanheceu sem ônibus, com terminais fechados e pontos vazios. Os motoristas do transporte coletivo paralisaram atividades por duas horas, das 4h30min às 6h30min, o que refletiu em atrasos o dia todo. O fato pegou usuários de surpresa, que acordaram para ir trabalhar e não tinham meio de locomoção.

Os motoristas reivindicam pelo pagamento do mês, que foi pago 50%:

  • Pagamento do 5º dia útil – venceu em 5 de dezembro
  • Pagamento da segunda parcela do 13º salário – vai vencer em 20 de dezembro
  • Pagamento do vale (adiantamento) – vai vencer em 20 de dezembro

O Consórcio Guaicurus alega que está em crise financeira e que não tem dinheiro para pagar a folha salarial, 13º salário e custos operacionais básicos (combustível, manutenção da frota e encargos). 

De acordo com o Consórcio, a Prefeitura Municipal de Campo Grande (PMCG) deve R$ 39 milhões à empresa desde 2022 e que os salários dos motoristas só serão pagos caso o poder público repasse o valor.

“O atraso e o pagamento parcial não decorrem de má gestão, mas sim da inadimplência reiterada do Município de Campo Grande/MS no repasse do subsídio financeiro contratualmente instituído no quarto termo aditivo previsto. O valor devido pelo Poder Concedente, apenas no período compreendido desde 2022, quando foi designada a tarifa técnica no quarto termo aditivo do contrato de concessão, já soma um subsídio superior a R$ 39 milhões ainda não repassados ao Consórcio. A dificuldade financeira é uma consequência direta da quebra do equilíbrio econômico-financeiro do contrato de concessão pelo Poder Concedente. O pagamento da complementação do salário de novembro, do adiantamento de dezembro de 2025 (vencível em 20/12/2025) e da segunda parcela do 13º salário está condicionado à regularização desses repasses públicos”, explicou o Consórcio Guaicurus por meio de nota enviada à imprensa.

Mas, a Prefeitura Municipal de Campo Grande (PMCG) rebateu o Consórcio e disse que os pagamentos estão em dia. A prefeita, Adriane Lopes (PP), afirmou que a greve é "abusiva" e "ilegal", pois todos os repasses financeiros foram feitos.

"Além das gratuidades, o Município aporta também o vale-transporte dos nossos servidores, que são adquiridos e utilizados pelos servidores do município e, rigorosamente está em dia esse repasse. As questões judiciais serão discutidas na justiça, dentro da legalidade e da realidade, tanto do Consórcio como do Município. O dinheiro que é a responsabilidade do Município foi pago e, se o Município está rigorosamente em dia, a empresa também teria que estar rigorosamente em dia com os pagamentos dos seus funcionários", disse a prefeita, em coletiva de imprensa realizada na tarde desta terça-feira (16).

"Todas as verbas que são contratuais, que tem relação do Município com o Consórcio Guaicurus foram feitos os repasses, ou seja, a subvenção de R$ 19 milhões, pagamento de vale-transporte de R$ 16 milhões, o Governo do Estado transferiu R$ 7 milhões, ele fez um acordo de R$ 13 milhões neste ano e R$ 4 milhões ficou para o ano que vem, acordado com o consórcio, então todas as verbas que implicam o Poder Público foram transferidas", disse o secretário municipal de Governo, Ulisses Rocha.

INTERVENÇÃO JUDICIAL

O Poder Judiciário de Mato Grosso do Sul reconheceu a existência dos indícios de má gestão e execução do transporte coletivo de Campo Grande e decidiu dar andamento à Ação Popular que pede a intervenção da Prefeitura Municipal no serviço operado pelo Consórcio Guaicurus. 

A decisão determina que, em até 30 dias, o Município instaure um processo administrativo de intervenção no contrato com o Consórcio, além de nomear um interventor e apresentar um plano de ação com cronograma para a regularização da situação do Transporte Urbano, sob pena de multa diária de R$ 300 mil. 

A Tutela de Urgência foi deferida pelo juíz Eduardo Lacerda Trevisan, na ação ajuizada pelo advogado Lucas Gabriel de Souza Queiroz Batista em desfavor da Agência Municipal de Regulação dos Serviços Públicos (Agereg), Agência Municipal de Transportes e Trânsito (Agetran), Consórcio Guaicurus SA e Município de Campo Grande. 

Para o autor, o Consórcio deve ser penalizado por frota velha e precária, falta de manutenção e inexistência de seguros obrigatórios, além de irregularidades financeiras, como a transferência de R$ 32 milhões para a empresa Viação Cidade dos Ipês sem justificativa e a omissão contábil de receitas e fluxos de caixa desde 2012, como constatado pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Transporte Coletivo. 

Por outro lado, o Município de Campo Grande deve ser responsabilizado por omissão de fiscalização, ausência de auditoria operacional, técnica e financeiras desde 2018, e continuidade de repasse dos subsídios milionários ao Consórcio “sem contrapartida efetiva de melhoria do serviço”. 

“Alego que não obstante as recomendações da CPI, a Prefeitura Municipal nada fez e essa inércia estatal configura verdadeira conduta lesiva passível de controle judicial. Que do ato omissivo lesivo é necessária intervenção corretiva por intermédio da presente ação popular”, escreve a decisão. 

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