Duas vezes por mês, Sônia de Fátima Moura, vem a Campo Grande para tratamento com psicólogos. Um dos pontos estratégicos da terapia é prepará-la para contar ao neto, Bruninho, de 1 ano e quatro meses, sobre as circunstâncias que o levaram a conviver com a avó: o desaparecimento da mãe, Eliza Samúdio e a prisão do pai, o ex-goleiro do Flamengo, Bruno Fernandes.
A data de amanhã, dia 10, marca um ano da provável data de assassinato de Eliza. Ela teria ficado por seis dias em cárcere privado, a mando de Bruno, quando foi executada. O plano, segundo a polícia, incluía a execução de Bruninho, mas foi abortado pelo pai momentos antes de ser colocado em prática.
Mesmo sem a localização do corpo de Eliza, dona Sônia tem certeza de que a filha está morta. "Não resta a menor dúvida", disse à reportagem do Correio do Estado, pouco antes de entrar na sessão com psicólogo, na terça-feira, em Campo Grande.
Um ano após o desaparecimento, a Justiça ainda não julgou os acusados de participação no crime. Quatro réus do caso estão presos: o goleiro Bruno Fernandes, o amigo dele Luiz Henrique Ferreira Romão, conhecido como Macarrão, o primo Sérgio Rosa Sales e o Bola, que é ex-policial civil e seria acusado de outros crimes.
Outros quatro acusados: Dayanne Rodrigues do Carmo Souza, ex-mulher de Bruno, Fernanda Gomes de Castro, ex-namorada do jogador, Elenilson Vitor da Silva e Wemerson Marques de Souza responderão ao processo em liberdade. Todos negam o crime e deverão ir a júri popular.
De acordo com a versão da polícia, Eliza e seu filho, na época com quatro meses, foram sequestrados e levados para o sítio do goleiro em Esmeraldas, região metropolitana de Belo Horizonte (MG). Lá, os dois teriam ficado reféns por alguns dias. A jovem teria sido espancada nesse período em que ficou no sítio.
A polícia diz ainda que, no dia 7 de julho, Eliza teria sido levada para a casa do ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, em Vespasiano. Ele teria então, estrangulado a vítima até a morte e depois esquartejado o corpo dela. Os restos mortais foram dados como comida para seus cachorros rottweilers e outra foi cimentada na obra da casa.
Dia após outro
"Vivo um dia após o outro. Não vou me enterrar viva, mesmo porque, preciso estar preparada para contar a verdade ao Bruninho. Estou me preparando para isso", disse. A verdade aliás, já integra o cotidiano da bebê. Ao ver a foto de Eliza Samúdio, ele balbucia: "mamãe". "Pergunto a ele onde ela está e a resposta é o dedo apontado para o céu", relata dona Sônia que é chamada por ele como vovó.
Sobre o pai, ainda não há referências. A presença masculina é marcada na vida do bebê, até o momento, pela presença do avô – marido de Sônia e padrasto de Eliza e o filho do casal e tio de Bruninho, um garoto de 11 anos.
"É por isso que tenho vindo ao psicólogo. Vai ser difícil o momento de contar tudo o que aconteceu", dasabafa.
Dona Sônia não tem contato com a família de Bruno, assim como nenhum parente dele a procurou para saber sobre o bebê. "As notícias que eles têm, vêm da imprensa. Nada além disso", aponta.
Sobre as investigações contra as pessoas que sequestraram, espancaram, executaram e ocultaram o cadáver de Eliza Samúdio, ela informa estar acompanhando cada detalhe. "Inclusive, se não tivéssemos insistido no inquérito sobre agressão e tentativa de aborto registrado por minha filha no Rio de Janeiro, ele (Bruno) seria réu primário nesse processo (de morte de Eliza). Lá, ele já foi condenado a 4 anos e meio", diz com aparente estado de satisfação.


