Líder da quadrilha que traficava drogas de Ponta Porã, na fronteira com o Paraguai, para outros estados do País, Joesley da Rosa preferia pagar R$ 40 mil pelo frete – o dobro do valor de mercado – para não matar possíveis “caguetas” entre os motoristas do grupo.
Em um de seus diálogos com Rodney Gonçalves Medina – o qual, segundo a denúncia do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), é um dos responsáveis pela logística e pelo transporte da droga entre a fronteira e São Paulo –, Joesley declarou não aceitar traições, enquanto oferecia o dobro para que os motoristas da quadrilha assumissem a responsabilidade pela carga em caso de flagrante policial.
“Eu chegava em você e falava: ‘Meu amigo, você é motorista? Tá bom! Todo mundo paga R$ 20 mil correto? Eu pago R$ 40 mil. [...] Eu quero te pagar R$ 40 mil, porque você vai assumir todo o B.O. Porque se eu pagar R$ 20 mil e você me caguetar, eu vou te matar”, disse Joesley.
Com a quadrilha baseada em Campo Grande, o transporte era, em regra, feito em compartimentos ocultos de caminhões frigoríficos (“mocós”), dada a maior dificuldade de fiscalização policial, uma vez que com a carga ilícita vinham cargas perecíveis.
Cabia à organização criminosa providenciar a inserção da droga em um compartimento previamente preparado para, posteriormente, carregar o veículo com as cargas lícitas que seriam transportadas. Após isso, o baú refrigerado era lacrado.
Para mascarar os reais proprietários dos veículos e chamar menos atenção em eventual fiscalização policial –geralmente a liberação é mais rápida quando o motorista consta como proprietário do veículo –, a organização criminosa promovia a transferência de propriedade dos veículos para os motoristas e para as empresas que eram utilizadas no esquema ilegal.
O grupo contava ao menos com 10 motoristas, que trabalhavam ligados a lojas de bebidas, a transportes logísticos, a comércios varejistas, a empresas administradas ou a outros integrantes da quadrilha utilizados para movimentar o dinheiro do tráfico.
De acordo com o inquérito coordenado pelo Gaeco, os motoristas do grupo eram Adriano Diogo Veríssimo, Ademar Almeida Ribas, Eric do Nascimento Marques, Frank dos Santos de Oliveira, Fernando Henrique Souza dos Santos, Paulo Cesar Ibarrola e Wellington Souza de Lima.
Todos eles foram denunciados na primeira fase da Operação Snow, em março de 2024, enquanto Claudeir da Silva Decknes (Bidu), Felipe Henrique Adolfo e Michael Guimaraes de Bairros acabaram denunciados na segunda fase, deflagrada no dia 15.
Segundo o inquérito, os transportadores da droga eram recrutados por Douglas Lima de Oliveira (Dodô), Fábio Antônio Alves da Silva, Márcio André Rocha Faria e Mayk Rodrigo Gama, que também se encarregaram de dar todo o suporte necessário para providenciar veículos e locais para servirem de entreposto da droga e de receber e despachar a droga para o destino final.
“Faziam o necessário para que a atividade criminosa se desenvolvesse com êxito”, afirma a investigação.
Na segunda fase da Snow, Lucas Ribeiro da Silva, o Luquinhas, foi apontado como um dos recrutadores, além de levar caminhões aos depósitos e providenciar a obtenção de veículos utilizados no transporte de entorpecentes.
Em um áudio datado de 14 de janeiro de 2023, Adriano Diogo Verissimo – um dos motoristas da quadrilha e identificado na agenda de contatos como Alemão Motorista – se preocupa com o fato de Bruno Ascari de Andrade também ser abordado e, consequentemente, preso, pois não sabia se ele estava “beozado”, ou seja, com drogas.
Em resposta, Bruno falou: “Ah, para que os guardas não tava pegando, não, não tava pegando, senão você tava preso, cheio de droga aí. Se essa abóbora aí falasse, vou falar para você, se ela vomitasse, só sairia droga”, disse ao motorista.
Bruno foi preso em maio de 2023, após transportar 262,25 kg de pasta base de cocaína e ainda 68,20 kg de cloridrato em um fundo falso de um carro.
Também apontado como o responsável logístico das cargas, Rodrigo de Carvalho Ribas – irmão de Ademar Almeida Ribas, o Pitoco, preso durante a primeira fase da Operação Snow – utilizava, segundo o Gaeco, de sua função de coordenador de Logística na Transportadora Print Ltda. para providenciar o carregamento de cocaína com carga lícita que seria transportada pela empresa, a qual prestava serviços para os Correios.
SAIBA
Durante as investigações, o Gaeco detalhou que a quadrilha era extremamente violenta e teria executado pelos menos três de seus membros.