O escritor e artista visual paulista Fábio Quill não conseguiu ignorar as similaridades entre Lídia Baís e Frida Kahlo.
“Sou paulistano, quando mudei para cá, em 2017, eu fui visitar a Morada dos Baís, aquele rolê básico para conhecer a cidade, e fiquei muito chocado quando entrei na Morada, porque tinha um paralelo muito grande com a Frida Kahlo. Eu tinha estado em 2012 no México e lá tem a Casa Azul, onde a Frida morou”, explica.
Para Fábio, guardadas as devidas proporções, as artistas tinham similaridades, principalmente relacionadas às personalidades transgressoras.
“Além de terem suas residências transformadas em museus, há ainda muita similaridade entre as duas: as personalidades transgressoras, a religiosidade, o afrontamento ao status quo da época, as pinturas polêmicas, como a tela em que Lídia pinta a si mesma ao lado de Cristo, enfim".
"Foi impossível não questionar como até então eu nunca tinha ouvido falar da história de Lídia, uma mulher tão forte. Isso ficou remoendo em mim durante uns três anos, até que eu decidi contar sua história”, revela.
O livro “A Casa Baís”, baseado na vida e na obra de Lídia, é o resultado da curiosidade e do encantamento de Fábio. O projeto todo feito em quadrinhos foi financiado pelo Fundo Municipal de Incentivo à Cultura (Fmic), realizado pela Prefeitura Municipal de Campo Grande por meio da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Sectur).
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O nome “A Casa Baís” também remete à moradia de Lídia, que tornou-se um museu importante de Mato Grosso do Sul.
“Há uma história muito interessante, o próprio fato da moradia dela ter se tornado um museu. Virou pousada, teve incêndio, virou secretaria. Tudo isso foi somando no meu imaginário e no meu entendimento do que estava acontecendo e do porque estava acontecendo. Eu fui conversando com as pessoas e vi o quanto elas eram apaixonadas pela história dela – as que conheciam, obviamente”, pontua.
Fábio explica que Lídia foi capaz de romper uma barreira profissional do escritor, que nunca quis escrever uma biografia.
“Sempre brinquei que eu ia trabalhar em uma biografia, por uma questão de estilo, achava que não daria conta, mas o incômodo foi aumentando com o passar do tempo. Essa coisa de ter uma mulher com toda essa qualidade artística e não ser conhecida como deveria foi aumentando essa minha indignação, até que uma hora eu falei: ‘acho que merece ser contada em uma história’”, frisa.
O escritor também acredita que contar a história de Lídia em quadrinhos possibilita um registro histórico sobre sua trajetória e faz, de certa forma, uma ponte com a obra dela, que é artista visual.
“Uma HQ seria um registro que duraria mais tempo e também, dado que os quadrinhos no Brasil têm ganhado cada vez mais leitores, é uma forma de alcançar essas pessoas”, explica.
Processo
O livro de Fábio nasceu a partir de um extenso trabalho de pesquisa. Como principal inspiração, o autor escolheu a autobiografia de Lídia, escrita com um pseudônimo e em terceira pessoa.
“Além disso, conversei com amigos que tinham histórias e até relatos sensoriais com a obra dela”, pontua.
Cem professores da rede pública foram contemplados e receberão exemplares de “A Casa Baís”. Além disso, outras 200 unidades serão disponibilizadas a bibliotecas municipais e estaduais.
Em breve, Fábio fará a entrega desses livros e organizará um lançamento on-line do livro para o público em geral.
“Espero despertar o interesse sobre a vida e a obra de Lídia Baís e que todos saibam que, no Centro-Oeste brasileiro, mais precisamente em Campo Grande (MS), existiu uma mulher incrível que merece ser reconhecida por sua vida e sua obra”, defende.
Ícone
Uma artista transgressora, Lídia Baís nasceu em 1900 e viveu durante 85 anos. Na Morada dos Baís, o famoso edifício amarelo localizado na Avenida Afonso Pena, está um museu dedicado à sua vida e sua arte.
Lídia foi a sétima filha de um total de nove herdeiros de Bernardo Franco Baís e sempre foi apaixonada pelas artes. No museu há quadros e instrumentos musicais que foram da artista, que só recentemente começou a ser alvo de produções artísticas que relembram toda a sua vivacidade.
Serviço – Para quem quiser adquirir o livro, a pré-venda começou no dia 10 de maio, pelo link: https://www.catarse.me/acasabais.


