"Algumas pessoas ainda se sentem donas de outras até hoje, inclusive. Por isso, a série infelizmente, está mais atual que nunca"
O ator Pedro Nercessian está no elenco da aguardada série “Ângela Diniz’, na Max. Na produção, que relata o real caso do assassinato de Ângela Diniz, ele interpreta Otávio, milionário carioca, casado, que tem um romance com Ângela quando ela chega a Rio de Janeiro.
O artista está atualmente na Europa rodando seu primeiro trabalho internacional com o diretor francês Ruben Alves. Trata-se de um filme que aborda os tradicionais casamentos coletivos no dia de Santo Antônio.
Na produção, ambientada em uma Lisboa cosmopolita e em plena mudança, o ator vive um imigrante brasileiro que vai se casar com uma portuguesa (interpretada por Maria Rueff). Em paralelo, ele aproveita os intervalos da filmagem para aperfeiçoar o inglês em Dublin, na Irlanda.
Com 40 anos e 24 de carreira, Pedro Nercessian também tem se dedicado nos últimos dois anos a trocar experiências com seu público de maneira mais regular com vídeos que falam sobre relações humanas e evolução pessoal. Muitos deles atingem milhões de visualizações.
Carioca, Pedro Nercessian estreou na TV em 2001 em “O clone”. Depois vieram dezenas de novelas e séries, como “Mahação”, “Justiça” e “A força do querer”, na Globo. Também vem sendo cada vez mais conhecido pelo público da Record, aonde fez , “Reis” e ‘Amor sem igual”.
Em seu último trabalho na emissora em “Paulo, o apóstolo” interpretou o personagem Bispo Tiago, liderança na igreja primitiva nos primeiros anos do cristianismo que também estará em “Ben-Hur”, a próxima produção da emissora.
O ator Pedro Nercessian é a Capa exclusiva do Correio B+ desta semana, e em entrevista ao Caderno, a última de 2025, ele fala sobre suas estreias, a vida de artista que vem de sua família e próximos projetos.
O ator Pedro Nercessian é a Capa exclusiva do Correio B+ desta semana - Foto: Vand Rodriguez - Diagramação: Denis Felipe - Por: Flávia VianaCE - Pedro você está rodando seu primeiro trabalho internacional. Um filme em Portugal. O que pode adiantar desse projeto?
PN - É um filme que fala de transformações culturais em Lisboa e, principalmente, de relações humanas. Tem um olhar sensível, leve, mas profundo, isso sempre me interessou como ator. O projeto mistura equipes de diferentes países o que amplia a visão de mundo impressa na tela. Eu não poderia estar mais feliz.
CE - Carreira internacional estava nos planos? Como surgiu o convite?
PN - Estava nos planos, sim. Trabalho há alguns anos pensando nessa expansão, mas nunca com a ideia de trabalhar só fora. Sou apaixonado pelo nosso audiovisual e acredito muito na potência do cinema brasileiro, que não deve nada ao cinema europeu. O convite surgiu dessa conexão afetiva que tenho com a cultura portuguesa.
CE - Filmar um projeto em Portugal que envolve equipe francesa e espanhola. Percebeu métodos de trabalho diferentes do Brasil?
PN - Muito diferentes. E isso me fez valorizar ainda mais o improviso e o chamado jeitinho brasileiro, que eu antes enxergava só como algo negativo. Quanto mais conheço o mundo, mais me apaixono pelo Brasil, mesmo com tudo o que ainda precisamos corrigir. Estar aberto ao inesperado é uma bênção brasileira, e isso faz muita diferença no processo criativo.
CE - Estamos vendo cada vez mais artistas ganhando notoriedade mundial através do cinema. Como você enxerga esse momento para o audiovisual e para os artistas brasileiros?
PN - O Brasil é incrível e a gente precisa aprender a gostar mais de si mesmo. Precisamos nos enxergar como povo, mesmo com nossas diferenças, porque só assim ficamos fortes.
Quando nos vemos nas telas, conseguimos nos apaixonar pelo povo que somos e pelo que temos potencia pra ser. Cinema é política. Vale sempre se perguntar a quem interessa que a gente se divida e a quem interessa que a gente não se veja nas telas.
CE - Atualmente, você está no elenco da série recém lançada na MAX Ângela Diniz, que trata sobre um caso de assassinato conhecido no Brasil. Como é para um artista encenar uma história verídica? Como pesquisou a respeito de seu personagem na história?
PN - Trabalhar com uma história real exige muito cuidado e responsabilidade. Não existe distanciamento confortável quando se fala de um caso tão simbólico e doloroso.
A pesquisa passa por ver filmes da época, relatos, contexto histórico e, principalmente, pela compreensão das relações de poder envolvidas. O desafio é o equilíbrio de construir um personagem complexo sem suavizar a violência mas sem transformá-la em um espetáculo barato.
O ator Pedro Nercessian é a Capa exclusiva do Correio B+ desta semana - Foto: Vand Rodriguez - Diagramação: Denis Felipe - Por: Flávia VianaCE - A série, ambientada nos anos 70, traz à tona a discussão de um tema muito atual, a violência contra a mulher. Como Pedro observa esse tema na arte?
PN - Ainda acho que o tema não ocupa o espaço que deveria. Muitas vezes falamos só da ponta do problema. A violência de gênero é o final de um processo em que tudo deu errado. A base está muito antes disso. Pode parecer contraditório, mas acredito que, para acabar com a violência contra a mulher, precisamos falar sobre os homens, sobre como chegamos até aqui e como educar nossos meninos para interromper esse ciclo.
CE - Vários homens têm se posicionado em apoio às mulheres no combate ao feminicídio. Como você busca apoiar a causa? Como sua educação impactou nas suas atitudes?
PN - Apoiar passa por ir à base. Faço parte do projeto Atitude Positiva, uma parceria da Firjan e da GSK, que usa o teatro para falar sobre violência de gênero.
Em quinze anos, já levamos esse debate para mais de dez mil pessoas, a maioria jovens de escolas públicas. Acredito muito nisso. Mudança real dá mais trabalho do que um post, mas é onde as coisas realmente começam a se transformar.
CE - Você é de família de artistas e trabalha na área há quase 25 anos. Cogitou não ser artista? O que faria se tivesse outra profissão?
PN - Justamente por vir de uma família de artistas, nunca romantizei a profissão. Cresci e me formei artisticamente no Retiro dos Artistas, conhecendo todas as faces dessa escolha, as bonitas e as duras. Já pensei em outros caminhos, claro, mas a arte sempre falou mais alto.
Se não fosse artista, provavelmente estaria envolvido com educação ou projetos culturais, algo que também tivesse impacto social. Apesar das dificuldades, sigo acreditando na arte.
CE - Aliás, em breve você completará 25 anos de trajetória. Quais momentos mais marcantes? E como analisa essa caminhada?
PN - Olho pra trás e gosto do que vejo. Os encontros, as amizades verdadeiras que fiz em cena. Os amores que vivi dentro e fora de cena. É uma profissão que envolve afeto, sangue quente e dias sempre diferentes um do outro.
Fazer parte da memória afetiva das pessoas, como no começo de tudo em Malhação, ou ganhar um premio em Los Angeles por um filme que fizemos aqui, ou até levar teatro pra quem nunca tinha visto uma peça antes são emoções que não consigo te explicar aqui com palavras.
CE - Quais os próximos projetos de Pedro Nercessian?
PN - Quero experimentar formatos novos nas redes, que hoje me parecem um espaço potente para inovação e troca direta com o público. Ao mesmo tempo, sigo fazendo as séries. A próxima será Ben Hur. Gosto dessa mistura entre o digital e o audiovisual tradicional, reforça minha conexão com esse público que está na minha vida desde a nossa adolescência em Malhação. Tem sido bonito ver a gente crescendo e amadurecendo junto.