Ao longo dos últimos anos, o mercado editorial sofreu importantes transformações, com a popularização dos e-books e dos leitores digitais e o declínio das vendas nas livrarias físicas, como consequência do aumento nas vendas de livros digitais ou pela internet.
Porém, mesmo com a aparente modernidade e o avanço das tecnologias, o espaço destinados às mulheres no mercado editorial como produtoras de conteúdo continua menor do que o reservado aos homens.
Segundo uma pesquisa publicada pelo Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea, da Universidade de Brasília (UNB), coordenado pela pesquisadora Regina Dalcastagnè, o mercado editorial das grandes editoras, como Companhia das Letras e Rocco, é monopolizado pelos homens, que são 70,6% dos autores publicados.
Os personagens seguem a mesma dinâmica, 58,2% são homens, 77,9% são brancos e 85,7% são heterossexuais.
A pesquisa analisou 692 romances, escritos por 383 autores nos períodos de 1965 a 1979, de 1990 a 2004 e de 2005 a 2014.
Esse cenário desigual inspirou a criação do coletivo feminista Mulherio das Letras, formado por cerca de 7 mil escritoras, editoras, ilustradoras, pesquisadoras e livreiras, que buscam questionar, ampliar e promover a visibilidade das mulheres no cenário literário.
Integrantes do coletivo, as autoras Eva Vilma, Diana Pilatti e Tânia Souza lançarão livros pela Coleção II.
“O coletivo Mulherio das Letras existe há quatro anos e é um movimento nacional, foi a escritora Maria Valéria de Rezende, ao lado de outras autoras, que teve essa ideia. Essa coleção, especificamente, está no segundo ano, começou em 2019, quem idealizou foi a Karine Bassi – ela é uma poeta, dona de uma editora popular de Belo Horizonte”, explica Diana Pilatti.
Essa é a segunda coleção do coletivo Mulherio das Letras, do qual Diana participa.
“Ela fez esse convite em nível nacional de autoras que quisessem participar dessa coleção. Eu entrei na primeira – de Mato Grosso do Sul eu fui a única. O objetivo é divulgar a escrita das mulheres de uma forma acessível, com um custo bem acessível, porém, com um material de qualidade. No segundo ano, eu comecei a divulgar para as escritoras daqui que eu conhecia, e aí a Tânia Souza enviou a proposta do livro dela e a Eva Vilma também. Nessa segunda coleção, são 15 autoras, e três são de MS”, pontua.
Os livros da coleção são de prosa e poesia.
“Tem livros que são só de prosa e [outros] só poesia. Ficou a critério de cada autora, o que colocar em cada livro. No caso de MS, os três livros são de poesia”, frisa.
Intitulado “Palavras Póstumas”, o livro de Diana traz a voz de uma mulher vítima de um relacionamento abusivo, com poemas em um tom triste e de solidão.
“O livro é um olhar sensível ao tema e também uma forma de chamar atenção, fomentar o diálogo sobre questões de violência contra mulher, tanto física quanto psicológica”, frisa.
Mulheres na literatura
A escritora Eva Vilma seguiu um caminho semelhante ao de Diana, também abordando o universo da mulher contemporânea.
“Eu busquei dar continuidade a uma reflexão que eu fiz em um livro anterior, que eu lancei em 2018, denominado ‘Incômoda’. Nele eu trago textos reflexivos sobre o ser mulher. Neste livro agora da coleção eu busquei dar continuidade a essa reflexão, muito dentro de alguns estudos sobre como essa mulher foi vista ao longo dos tempos, como ela foi rotulada, como a escrita feminina foi rotulada ao longo dos tempos”, reflete.
O novo livro, “Incandescente”, inicia com textos mais amargos e caminha para uma crescente sobre a libertação feminina.
Do infantil à reflexão
A escritora Tânia Souza tem uma história profunda com a literatura, principalmente a infantojuvenil.
“Eu já publiquei anteriormente para o público infantojuvenil e também [publiquei] poesia”, frisa.
Apesar da experiência, Tânia ainda se considera uma escritora iniciante e ficou impressionada com o trabalho desenvolvido no coletivo, o que a motivou a integrar a coleção.
Para o livro “Entre as Rendas dos Ossos e Outros Sonhos Desabitados” Tânia trouxe diversas reflexões.
“Esse livro é muito específico. Os livros que eu escrevi anteriormente são contos fantásticos, que eu havia publicado na internet, depois eu escrevi dois livros infantis. Quando surgiu a ideia desse livro, eu havia passado por algumas situações emocionais complicadas, havia passado por alguns lutos e também diversas reflexões”, frisa.
O livro traz memórias de Tânia, inclusive sobre a infância.
“Eu até achei que seria um livro triste, mas não é. É um livro cheio de memórias da infância. Eu sou de Bela Vista, tem referências à culinária, aos sotaques e às questões da fronteira. E traz uma maturidade, fala um pouco sobre a questão da morte, mas fala muito sobre a questão da sobrevivência”.
Serviço – A live de lançamento será no dia 19 de setembro, no perfil do Instagram da escritora Diana Pilatti (@dianapilatti).