A pandemia do novo coronavírus acrescentou diversas novidades no dia a dia das pessoas. 

Distanciamento social, álcool gel e máscara tornaram-se elementos de rotina da população há pouco mais de um ano. 

Bruno Ferrari, no entanto, encarou esses protocolos antes da Covid-19 entrar em pauta. 

Na pele do empreendedor Rafael de “Salve-se Quem Puder”, o ator viu seu personagem desenvolver um TOC por hábitos de higiene nos últimos capítulos da primeira fase da novela das sete. 

Nas sequências, o empresário exigia o uso de máscara e a constante higienização das salas da fictícia empresa de tecnologia Labrador.

“O Rafael virou ‘meme’, né? Muitas pessoas me mandaram mensagens dizendo que o Daniel (Ortiz, autor) era vidente. Ao voltar a gravar nos Estúdios Globo durante a pandemia, eu me senti muito mais à vontade em cena. Até mesmo porque agora Rafael não era um solitário no quesito prevenção a bactérias. Era só eu olhar ao redor, para a equipe de produção, e todos estavam iguais: com máscaras, luvas, álcool em gel... Foi inusitado. O personagem me ensinou todos os cuidados necessários para o que estamos vivendo nesta pandemia. Quando o novo coronavírus chegou, eu já estava um passo à frente de todos (risos)”, relembra. 

Aos 39 anos, Bruno surgiu no vídeo na temporada 2002 de “Malhação”. 

Após alguns trabalhos na Globo, o ator assinou com a Record, onde estreou na trama de “Cidadão Brasileiro”. 

Ao longo dos oito anos em que esteve na emissora, ele participou de tramas, como “Chamas da Vida”, “Bela, A Feia”, “Balacobaco” e “Vitória”. 

Em 2016, reestreou na Globo no elenco de “Liberdade, Liberdade”, em que interpretou o protagonista Xavier Almeida. 

“Tenho tido um olhar mais cauteloso na hora de selecionar trabalhos. Os projetos sempre têm de acrescentar algo. Gosto de pensar no que vou ganhar ao final desse trabalho”, explica.

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P – Como foi retomar os trabalhos em estúdios após pouco mais de seis meses de paralisação?

R – Tivemos diversas reuniões com a produção, onde todos participaram, inclusive com a orientação de um médico para tirar nossas dúvidas. Levamos alguns dias para nos adaptarmos àquela nova realidade. 

Ficamos mais confiantes e o trabalho rendeu mais do que o esperado. 

P – Você teve dificuldades para voltar a interpretar o Rafael?

R – Não, depois de três ou quatro dias já me sentia mais à vontade. 

Confesso que durante o isolamento minha preocupação e atenção estavam voltados para o bem-estar da minha família e com tudo que estava acontecendo na saúde do nosso país. 

Tive de separar as coisas, um dia de cada vez, cada problema no seu tempo, para voltar a me concentrar nas gravações e no trabalho.

Agora, apenas vendo a exibição da novela, tenho um certo distanciamento desse trabalho.

P – Como assim?

R – Já faz mais de três meses que finalizamos as gravações. 

Então, quando me vejo no ar, tenho a sensação de que é outra pessoa. 

É a mesma sensação de quando vejo uma reprise minha. 

Fico menos crítico com relação ao meu trabalho, mais tranquilo, mais leve. 

Parece até que não sou eu, mas uma outra pessoa que está fazendo.

P – A retomada das gravações contou com inúmeros protocolos de segurança, como distanciamento social e placas de acrílico entre os atores. Como foi se adaptar a essa nova forma de gravação?

R – Somos latinos, gesticulamos e nos abraçamos muito. 

É algo natural para a gente. 

Tive uma certa dificuldade em relação a isso. 

Não só em cena, mas na vida também. Até hoje, né? Em função do distanciamento social ainda precisamos seguir adotando essas medidas. 

Vivi a experiência de beijar o acrílico (risos), mas também ficamos em quarentena num hotel para que pudéssemos fazer as outras cenas de beijo. 

Ainda assim, senti que o elenco ficou mais unido nessa segunda fase de gravação. 

Estávamos com muito gás para fazer aquilo dar certo.

P – Ao longo desse trabalho, teve alguma cena que foi mais especial de gravar?

R – Sem dúvida o primeiro “reencontro espiritual” entre Rafael e Kyra. 

Adorei gravar essa cena, que foi inspirada naquela sequência clássica do Patrick Swayze e Demi Moore no filme “Ghost”. 

O Fred (Mayrink, diretor artístico) nos deu toda a liberdade, tempo e calma para sentirmos o que realmente a cena pedia. 

Tenho um carinho especial por essa sequência e estou feliz por poder rever nessa reprise dos primeiros capítulos. 

Foi um trabalho especial, independentemente de todas as adversidades que vivemos ainda hoje.

P – Você já consegue fazer um balanço desse projeto?

R – Fomos muito felizes durante todo o processo. 

Fizemos uma novela leve, gostosa, sem pretensões, com o simples intuito de alegrar as pessoas e acho que conseguimos. 

Ainda conquistamos um público infantojuvenil, o que me deixou bem alegre também. 

Finalizar esse trabalho em tempos de pandemia foi uma conquista enorme para todos nós.

P – No próximo ano, você completa duas décadas de carreira na tevê. Além das novelas, você também tem participado de séries, como “Matches” e “Impuros”. Você sente que tem sido mais seletivo com seus trabalhos nos últimos anos?

R – Sim, eu estou buscando ser mais seletivo. 

Isso no teatro, no cinema e na tevê. Tem muita série boa sendo feita. 

Eu até estava na terceira temporada de “Impuros”, mas, por conta das gravações de “Salve-se Quem Puder”, precisei deixar o elenco. 

Eu gosto de trabalho que enche meus olhos, que me chame a atenção. 

Quando fui para a Record, fui pelo Lauro César Muniz, que é um autor que admiro muito e queria muito trabalhar. 

Depois disso, outros trabalhos foram sendo encaminhados na emissora. 

O retorno para a Globo seguiu essa mesma linha.

P – De que forma?

R – Eu queria muito voltar a trabalhar com o Vinícius Coimbra (diretor). 

Eu já tinha trabalhado com ele em outras ocasiões e queria retomar essa parceria. 

“Liberdade, Liberdade” era uma novela com um texto ótimo e um personagem muito bom. 

Todo trabalho tem de acrescentar alguma coisa na gente. 

Sempre penso o que vou ganhar com esse projeto. 

Essa seletividade vem muito da maturidade também, a ideia de reduzir a carga de trabalho, não se desgastar tanto.

Amizade prévia

Bruno Ferrari se deparou com uma equipe totalmente nova ao iniciar os trabalhos de “Salve-se Quem Puder”.

Ainda assim, o ator teve a companhia de um rosto conhecido. 

Bruno já havia contracenado diretamente com Vitória Strada. 

Os dois fizeram par romântico em “Tempo de Amar”, que foi ao ar em 2017.

 “Quando eu entrei no elenco, a Vitória ainda não estava escalada. Se eu não estiver enganado, outra atriz estava cotada para viver o papel. Quando soube que a Vitória tinha entrado, fiquei muito feliz”, valoriza.

O ator, inclusive, afirma que foi bom contracenar com uma parceira já conhecida. 

Ao longo dos dois projetos, eles desenvolveram uma sólida amizade. 

“Nós já tínhamos uma parceria em cena. É muito bom trabalhar com alguém mais de uma vez. A gente já estabelece um diálogo, uma amizade. A Vitória é uma atriz incrível. É uma delícia trabalhar com ela”, aponta. 

Divisão de torcida

A trama de “Salve-se Quem Puder” é marcada pela comédia. 

No entanto, o romance também é um fio condutor do enredo assinado por Daniel Ortiz. 

O casal Kyra e Rafael protagoniza diversos momentos de amor ao longo dos capítulos da primeira fase. 

“O Rafael é louco por ela. Já ouvi pessoas que dizem: ‘como ele acreditou naquele encontro espiritual e nas invenções da Alexia?’ Quando você está apaixonado ou sofre alguma perda trágica, no caso o Rafael, ele viveu essas duas situações, você quer acreditar em qualquer coisa que dê um alívio à sua dor. Por mais absurda que seja a história criada pela Alexia/Josimara, Rafael tenta se apegar a isso para continuar ‘sentindo’ a presença da noiva”, defende.

Na leva inédita de capítulos, que está prevista para ir ao ar ainda em maio, Rafael terá um adversário em seu caminho. 

Trabalhando como babá, Kyra começa a se envolver com Alan, de Tiago Fragoso. 

O trio gravou mais de um final para o desfecho dos personagens. 

“Óbvio que eu torço para a Kyra e o Rafael ficarem juntos. Rafael merece, mas teremos que aguardar até o final da novela para saber o que o autor decidiu”, despista.

Instantâneas

# Antes da pandemia, Bruno viajou para Cancún para gravar as primeiras cenas de “Salve-se Quem Puder”. “Fiquei apenas dois dias lá. Mas foi ótimo. É um local lindo”, afirma. 

# Bruno é casado com a atriz Paloma Duarte. Os dois são pais do pequeno Antônio, de 5 anos. 

# O ator é natural de Catanduva, em São Paulo.

# Bruno está no elenco da série “Cinema Café”, do canal Cine Brasil. A produção ainda não tem data de estreia definida.