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Capa B+: Entrevista exclusiva com a atriz e apresentadora Monique Alfradique

Com mais de 20 anos de carreira, a atriz vive marco na carreira ao estrear como apresentadora e co-produtora das atrações "Crush Animal", do Multishow, e ''Beach Life'', do E!

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Natural de Niterói, Rio de Janeiro, Monique Alfradique é conhecida pelo público por seus papéis em novelas, cinema e no teatro. Em 2020, atuou em seu primeiro projeto como apresentadora, no programa ‘'Mestre do Sabor’', da TV Globo, e desde então, seu desejo por estar em mais projetos como apresentadora aumentou. Em busca de projetos que fizessem sentido, Monique reuniu um time de mulheres para co-produzir dois programas.

‘’Eu estou sempre em busca de desafios que façam sentido para a minha trajetória, e percebi que se quisesse realmente algo com meu estilo e que fizesse sentido, eu teria que produzir, assumir essa gestão, e foi quando encontrei mulheres incríveis, a Andrea Batitucci, que escrevia a Vila, e a talentosa Carol Durão, nossa diretora, que me ajudaram a colocar no papel dois programas que estou muito animada para apresentar ao público’', explica Monique.

Em “Crush Animal”, que estreou no final de abril, no Multishow, Monique se junta ao ator Pedro Ottoni no comando. Inspirada no comportamento amoroso de animais — como os pinguins, conhecidos pela monogamia, ou os cachorros, sempre simpáticos —, a atração promete surpreendeu o público com provas inusitadas. A primeira temporada teve cinco episódios, cada um deles acompanhou uma pessoa em busca de um amor.

Para isso, o participante encarava as dinâmicas ao lado de três pretendentes, que entravam no palco usando máscaras temáticas de animais e figurinos que refletetiam suas personalidades. Já em “Beach Life”, do canal E!, a apresentadora mostrará as belezas de diversas praias cariocas em um programa em formato de documentário reality.

Monique apresentará a cultura, beleza, esportes e gastronomia das cidades, além de contar com participações de vendedores ambulantes da região, famosos estilistas da moda praia, convidados especiais como atores, cantores, atletas e outras personalidades conhecidas pelo estilo “pé na areia”. Serão oito episódios com uma hora de duração cada, com previsão de estreia para 2026.

“Estou muito empolgada com essa nova fase da minha carreira! Sempre gostei de me envolver em todas as etapas do processo criativo, e agora tenho a chance de contribuir ainda mais para levar ao público conteúdos interessantes e divertidos. É um desafio que abracei com muita paixão e dedicação”, afirma Monique.

Com diversos papéis em novelas, Monique Alfradique também estará presente nesse formato, atuando na novela das 6 da TV Globo, Êta Mundo Melhor, dando vida a Tamires, uma personagem envolvente e cheia de reviravoltas dentro da trama assinada por Walcyr Carrasco e Mauro Wilson, com direção artística de Amora Mautner.

Ela será gerente do Taxi Dancing, um ponto de encontro animado e movimentado na história. “Estou muito animada para explorar essa história e compartilhar essa jornada com o público. E trabalhar novamente com o Walcyr Carrasco é um privilégio, e tenho certeza de que essa novela vai conquistar o coração de todo mundo!”, afirma Monique.

Monique é Capa exclusiva do Correio B+ desta semana, e em entrevista ao Caderno ela fala sobre nova fase na carreira, estreias, cuidados com a beleza e novos caminhos.

A atriz Monique Alfradique é Capa exclusiva do Correio B+ desta semana - Foto: Henrique Tarricone -Diagramação: Denis Felipe - Por Flavinha Viana

CE - Monique, como surgiu a ideia do Crush Animal? Foi algo que você já vinha pensando ou nasceu de uma proposta do Multishow?
MA -
Criei o programa Crush Animal junto com minha parceira Andrea Batitucci. Sempre fui fascinada por histórias de amor, adorava assistir programas de encontros e era a “conselheira amorosa” entre meus amigos. A ideia surgiu de forma muito orgânica, a partir dessas minhas paixões e vivências.

Queríamos criar algo divertido, inusitado e que também tivesse um olhar curioso sobre o comportamento humano. O Multishow entrou depois, acreditando na proposta e nos dando liberdade para experimentar esse formato tão único.

CE - Além de apresentadora, você é co-criadora do programa. Como foi esse processo criativo e o quanto da sua visão pessoal está ali?
MA - 
Como criadora do programa, eu tive a oportunidade de manter o roteiro sempre vivo e dinâmico. Muito da minha visão pessoal está ali: o humor, a leveza, a curiosidade em entender como nos conectamos uns com os outros. Foi um processo muito colaborativo, conseguimos trazer referências de histórias de amor e de encontros – tanto os românticos quanto os que temos com a gente.

CE - Como foi para você assumir esse papel de apresentadora em um projeto com uma linguagem mais  divertida e ousada?
MA -
 Foi uma delícia! Dei muitas risadas, me emocionei, e consegui colocar muito da minha personalidade ali. O programa me permitiu explorar um lado mais leve, espontâneo e até um pouco teatral, que eu adoro. Aprendi demais nos bastidores com toda a equipe – essa coisa mais lúdica, mais solta, foi uma verdadeira escola pra mim. Me senti muito leve para  brincar, dar risada com os participantes, mergulhar em suas histórias e curiosidades. 

CE - E qual foi o maior desafio ao criar o programa e também apresentar?
MA -
 Acredito que o maior desafio tenha sido reaprender a apresentar algo mais de humor, mas eu já tinha experiência como apresentadora, fiquei à frente do reality culinário “Mestre do Sabor” em 2020, na TV Globo, e foi um grande aprendizado.

No Crush Animal me dediquei em tudo, fui atrás, me envolvi em cada processo, até na escolha dos participantes, e, apesar dos desafios, tem sido muito gratificante ver o programa pronto! Estreou do jeito que imaginamos, isso é especial demais, estou muito feliz e ansiosa para acompanhar a reação do público dos próximos episódios.

CE - Como foi a recepção do público?
MA -
 A estreia foi no dia 26 de abril e fiquei muito feliz com a recepção do público. As mensagens de carinho, os comentários e a audiência mostraram que as pessoas se conectaram com o programa. É muito gratificante ver esse retorno tão caloroso logo na estreia.

CE - No programa, você dividiu a apresentação com Pedro Ottoni. Como foi essa parceria? 
MA -
 Foi incrível! Desde as gravações até o pós, a gente riu muito junto, se emocionou, aprendeu. A presença de Pedro Ottoni no palco foi um complemento essencial, trazendo uma dose extra de humor e energia, o que tornou o programa ainda mais envolvente e divertido, foi uma parceria muito positiva. Só tenho a agradecer por esse projeto. Tenho certeza de que o público ainda vai viver muitas emoções nos próximos episódios. 

CE - Você já teve uma experiência como apresentadora no reality culinário “Mestre do Sabor” em 2020, e agora retorna com um projeto totalmente diferente. Como foi esse reencontro com a função de apresentar, agora em um formato que tem muito da sua personalidade e humor?
MA -
 Apresentar o “Crush Animal” foi uma experiência desafiadora mas também muito leve. Tive que lidar com as emoções dos participantes, ser um apoio e mediar os encontros de forma leve foi uma grande responsabilidade. O mais legal foi conseguir revelar a personalidade de cada um, ajudando a criar a dinâmica ideal para que o encontro fosse uma experiência autêntica e envolvente.

CE - Olhando para sua trajetória até aqui - da atuação em novelas, séries, filmes, peças de teatro a apresentadora - que balanço você faz da sua carreira? Você sente que está vivendo um bom momento profissionalmente?
MA -
 Eu sinto que estou em um novo momento, sempre busquei me atualizar, trazer coisas novas para o mercado. Ao longo da carreira, sempre busquei ser reconhecida pelo meu trabalho e dedicação, acredito que nesses mais de 20 anos consegui trazer um pouco do que eu sou, das minhas conquistas e dos meus trabalhos me dedico muito a tudo que eu faço. 

A atriz Monique Alfradique é Capa exclusiva do Correio B+ desta semana - Foto: Henrique Tarricone -Diagramação: Denis Felipe - Por Flavinha Viana

CE - Quais outros sonhos profissionais ainda deseja realizar?
MA - 
Tenho muitos sonhos ainda por realizar. Tenho me envolvido com projetos que me desafiam artisticamente e, ao mesmo tempo, estou me associando às mulheres do cinema que admiro e com quem compartilho valores e propósito.

Tenho vontade, sim, de ter minha própria produtora — um espaço para contar histórias com profundidade, representatividade e impacto. Acho que estamos vivendo um momento poderoso para as mulheres no audiovisual, e quero fazer parte ativa dessa transformação.

CE - E olhando para o futuro, quais são seus próximos passos? Você já tem outros projetos em vista?
MA -
 Sim! Além do Crush Animal, este ano está cheio de novidades e desafios incríveis. Estarei em outro projeto como apresentadora, o Beach Life, do Canal E!.

Ainda não temos uma data de estreia definida, então não posso dar muitos detalhes por enquanto, mas estou super empolgada e feliz por ocupar novamente esse lugar como apresentadora — e ainda mais realizada por poder contribuir com ambos os projetos também como co-criadora. Além disso, estarei na próxima novela das 18h, “Êta Mundo Melhor”! Mal posso esperar para o público conferir tudo o que vem por aí!

CE - O que você faz para o seu bem-estar e saúde mental? Quais são as suas práticas?
MA -
 Eu cuido bastante da minha saúde mental e física, meu bem-estar como um todo, então gosto de praticar exercícios, de ter uma alimentação equilibrada… malho todos os dias, faço hot yoga, que amo, e o yoga me ajudou a meditar também, algo que antes da pandemia não fazia, mas que hoje me faz um bem danado.

Se cuidar, tirar um tempo pra si acredito que seja sim como uma terapia, mas ainda assim, faço terapia também, acho fundamental como parte de um autocuidado completo. 

CE - Com relação a beleza, você tem algum ritual?
MA -
 Gosto bastante de me cuidar em todos os aspectos, cuidar da gente é parte fundamental para estarmos bem, com autoestima e amor próprio. Então, para a pele, o protetor solar é o meu grande aliado, além disso, uso hidratantes, vitamina C, e realizo alguns tratamentos estéticos pontuais.

Tenho uma rotina de higienização e hidratação da pele, acredito que isso me ajuda bastante. Depois dos 30 anos, intensifiquei esses cuidados, unindo a skincare em casa e minhas consultas com a dermatologista. 

CE - Falando em TV, você esteve no ano passado no remake de “Elas por Elas”, vem novidades vindo por aí?
MA -
Sim, eu amo atuar em novelas! Agora, estou gravando “Etâ Mundo Melhor”, a próxima novela das 18h da Globo, assinada por Walcyr Carrasco e Mauro Wilson, além de contar com a direção da maravilhosa Amora Mautner.

CE - Você transita por diferentes formatos do audiovisual — cinema, streaming e TV — e também vemos hoje uma abertura maior para artistas atuarem nessas plataformas. Como você vê esse universo? Gosta de explorar essas diferentes linguagens?
MA -
Acredito que cada formato tem um encanto especial, e eu amo transitar entre eles! O cinema permite uma imersão profunda nos personagens e tem um ritmo de gravação diferente, que eu adoro. As novelas têm um alcance gigante e uma dinâmica intensa, enquanto as séries trazem outros ritmos e narrativas. Escolho os projetos que me desafiem e me façam crescer como artista independente do formato.

ENTREVISTA COM BIANCA

"A fauna pantaneira é a base musical das nove composições de 'Pantanal Jam'"

Cantora Bianca Bacha, da Urbem, fala como a paisagem natural de Miranda afetou o processo de criação e gravação do segundo álbum da banda, sobre a diferença entre o canto com letra e as vocalizações que são a sua marca e anuncia projetos nos EUA e Espanha

15/12/2025 11h00

A cantora Bianca Bacha se prepara para mais uma gravação na Fazenda Caiman, em Miranda, em junho deste ano

A cantora Bianca Bacha se prepara para mais uma gravação na Fazenda Caiman, em Miranda, em junho deste ano Divulgação / Alexis Prappas

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ENTREVISTA COM BIANCA

Recuperando para o leitor: como se deu a oportunidade do encontro e da parceria com o Ryan para o projeto do álbum “Pantanal Jam”?

Conhecemos Ryan Keberle no Campo Grande Jazz Festival [em março de 2024] e com ele tivemos uma troca musical instantânea. Tocamos juntos em um show no Sesc [Teatro Prosa] em setembro de 2024 e, a partir de lá, tivemos a certeza de que ainda faríamos muita música juntos.

No Pantanal, onde Ryan esteve pela primeira vez durante as gravações, ficou nítido que ele conseguiu transpassar para o repertório o encantamento que ele estava vivendo em meio a toda aquela natureza.

É o segundo disco, nove anos depois de “Living Room”. O que “Pantanal Jam” representa para a Urbem?

Este projeto é o nosso território sonoro: onde a música que criamos se entrelaça à natureza que nos guia em forma de jam. Na música, uma jam significa um encontro musical sem aviso prévio, as coisas vão acontecer ali na hora, portanto, o inesperado é bem-vindo e, com ele, você improvisa.

Qual seria o conceito geral do álbum?

O conceito do álbum nasce da escuta profunda da fauna pantaneira. Os cantos dos pássaros, o esturro da onça e os sons das águas e dos ventos não são efeitos nem pano de fundo: são a base musical das nove composições. A natureza atua como um músico a mais na banda de jazz, dialogando conosco em frases de pergunta e resposta.

Sandro Moreno registrou esses sons in loco, mergulhando no Pantanal para captá-los com precisão. Depois, analisou esse vasto material para identificar melodias, ritmos e motivos que se tornariam a essência das composições.

E, para fechar o ciclo, o álbum também foi gravado no coração do Pantanal. Com geradores a gasolina e um estúdio móvel, nós, a Urbem e o trombonista Ryan Keberle, levamos a música para o ambiente que a inspirou. E ali criamos, novamente in loco, em plena natureza selvagem.

Que tipo de referências buscaram para os arranjos, as sonoridades e as texturas?

Toda a referência e textura do álbum “Pantanal Jam” nascem dos próprios sons do Pantanal. A imersão no território e a escuta atenta transformaram cantos de pássaros, esturros, movimentos da água e vozes da mata em matéria-prima musical.

Cada faixa traduz essa convivência direta com a fauna e seus ritmos naturais, convertendo sons de bichos em música. Viva, orgânica e profundamente enraizada na paisagem pantaneira.

Isso está bastante perceptível. Os sons e toda a atmosfera do Pantanal atravessam o mood e talvez a própria concepção dos temas. Pode comentar um pouco mais sobre essa presença de elementos da natureza – e dessa natureza tão singular de MS – na criação de vocês?

A fauna, a luz, o silêncio amplo, os ventos, os cantos e até os vazios típicos da paisagem pantaneira influenciam diretamente a forma como criamos. É como se o ambiente nos orientasse musicalmente: às vezes guiando uma melodia, às vezes sugerindo um pulso, às vezes impondo uma pausa.

Esse encontro com a natureza não é decorativo, é estrutural. Ela atravessa tudo, o gesto musical, o espírito do disco e a maneira como a banda se relaciona com o som.

No “Pantanal Jam”, a paisagem não é cenário: é presença, é voz, é parceria criativa. É música.

A cantora Bianca Bacha se prepara para mais uma gravação na Fazenda Caiman, em Miranda, em junho deste anoFoto: Divulgação / Alexis Prappas

Onde exatamente estiveram e gravaram? E quando foi?

As gravações foram feitas na Fazenda Caiman, em junho deste ano, num cenário que não poderia ser mais inspirador. Foram escolhidas pela produtora três locações diferentes, e para cada uma delas, três músicas.

A cantora Bianca Bacha se prepara para mais uma gravação na Fazenda Caiman, em Miranda, em junho deste anoFoto: Divulgação / Alexis Prappas

Com uma equipe ultraprofissional que trouxe segurança e leveza para uma gravação ao vivo numa condição completamente inusitada.

E quanto ao repertório? Como chegaram às nove canções do disco?

Entre as composições, temos duas músicas do Paulo Calasans [“Swingue Verdejante” e “Suspiro da Terra”], um dos maiores produtores, arranjadores e instrumentistas do País, além de duas canções do Ryan Keberle junto com Sandro Moreno [“Paisagem Invertida” e “Entre Folhas”] e cinco composições nossas [“Espiral”, “Pluma”, “Voo Curvo”, “Barro” e “Canção do Ninho”].

Penso que o Pantanal é experimentado de um jeito bem particular por cada pessoa. Como é para você? Como aquele ambiente lhe toca e eventualmente interfere no seu jeito de cantar?

Tudo ali era extremamente inspirador. Dormir e acordar naquele lugar por alguns dias já me fazia até respirar de jeito diferente, com menos pressão e mais imersão.

Isso com certeza influenciou no jeito de cantar. Porém, o mais impressionante era saber que estava gravando um disco com toda aquela fauna ao redor, um jacaré no lago ao lado e uma onça a alguns quilômetros.

Embora domine há duas décadas o canto com letra e muitas vezes cante dessa forma em apresentações ao vivo, na Urbem, você investe sempre nos vocalizes e scats.

Todas as músicas do álbum “Pantanal Jam” usam a voz como instrumento, ou seja, não há letras nas músicas. Além de ser uma característica jazzística, esse estilo de canto se aproxima mais do cantar dos pássaros, a busca por seus fonemas e emissões.

Cada música exige uma altura e um escolher apropriado de sílabas que encaixem com a afinação e a expressão.

Adoro o canto com letras. Ali você tem palavras, interpreta, coloca ênfases. É até uma emissão de voz diferente. Só que comecei a me encantar com o mundo do jazz e toda essa coisa do canto que não usa palavras, o vocalize. E comecei a ouvir cantoras que cantam assim.

Tatiana Parra [cantora, compositora e professora paulistana] canta assim, nossa, de um jeito maravilhoso. A [portuguesa] Sara Serpa também. Tem também as divas mais antigas que faziam mais questão de improviso, o scat singing.

O canto sem palavra é muito desafiador porque ele é mais cru, mostra mais imperfeições de respiração, de emissão, de escolha de sílabas. E é muito improvisado. Porque a cada dia você pode usar uma sílaba diferente, pode caracterizar de uma outra forma.

Num dia vou fazer “u”, no outro dia posso fazer “a”, no outro posso fazer “e”. E você tem que descobrir ali, numa forma você com o seu corpo. E além de ter o desafio de você demonstrar o interpretar com emoção sem ter palavras.

Então é muito jazz [risos]. E acho muito bonito. Sempre vai ser um desafio. Sou com o meu corpo, com as palavras que eu escolho, que nem sempre são pensadas.

Claro que tem uma questão técnica de que o “i” você vai mais para um agudo, no “u” também; nos graves, você vai para outras escolhas, as consoantes também interferem. Gosto muito de passear pelas duas áreas. Tanto a área da interpretação com letra quanto a área dos vocalizes e texturas.

E Nova York? Pode contar um pouco sobre a recente temporada de vocês por lá?

O “Pantanal Jam” foi lançado em novembro deste ano com um show memorável em Nova York, durante a feira internacional de turismo Visit Brazil Gallery [na Detour Gallery], e a recepção foi extraordinária.

Pessoas do mundo inteiro, agentes de turismo, diretores da National Geographic, fotógrafos de natureza e profissionais de diversas áreas assistiram ao show com atenção absoluta.

Desde a primeira música, compreenderam nossa proposta e permaneceram maravilhados até o fim. Foi um momento histórico para Mato Grosso do Sul e para a arte sul-mato-grossense.

Esse resultado só foi possível graças ao apoio total da Fundtur e do seu diretor-presidente, Bruno Wendling, que acreditou no projeto desde o início e se comprometeu a nos apoiar tanto nas etapas de captação no Pantanal quanto no lançamento em Nova York. Além disso, segue impulsionando a campanha contínua de apresentar o “Pantanal Jam” ao mundo.

E faz sentido: ouvir o Pantanal desperta o desejo de visitá-lo, conhecê-lo e preservá-lo. O projeto reúne arte, natureza, conservação, turismo e toda a beleza única do nosso bioma, uma combinação que emociona e conecta o público global ao coração do Pantanal.

Além do álbum que já está lançado em todas as plataformas, temos uma série de vídeos das nove músicas e um minidocumentário.

Quando teremos shows da Urbem? Quais os próximos passos e projetos da banda?

A Urbem se sente profundamente entusiasmada em seguir os passos de Manoel de Barros, da família Espíndola, de Guilherme Rondon, Paulo Simões, Grupo Acaba, Geraldo Roca e tantos artistas que sempre beberam dessa fonte primária que é o Pantanal, transformando-a em arte para o mundo.

Recentemente, pesquisadores de Harvard e professores da UFMS colheram sons do Pantanal [pelo projeto Pantanal Sounds, que conta, entre outros, com nomes como o do violoncelista e professor William Teixeira], e esse movimento nos inspirou a ir a campo gravar os sons pantaneiros e a fazer composições dentro da nossa linguagem jazzística, incorporando esses registros naturais ao nosso modo de compor e evidenciando em música as belezas pantaneiras.

Temos planos de retornar aos Estados Unidos em breve e estamos em diálogo com a Embaixada do Brasil em Barcelona, onde palestraremos em março.

Além disso, a Urbem participará do Campo Grande Jazz Festival de Rua, no dia 21 de dezembro [neste domingo], em uma jam session com músicos locais e de São Paulo.

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MÚSICA

Entre onças e tuiuiús, o jazz

Em parceria com o trombonista Ryan Keberle, com nove composições inspiradas na exuberância do Pantanal, URBEM lança segundo álbum; 2º Campo Grande Jazz Festival celebra o gênero na Capital, com apresentações gratuitas

15/12/2025 10h00

A partir da esquerda, Bianca Bacha, Ana Ferreira, Ryan Keberle, Gabriel Basso e Sandro Moreno

A partir da esquerda, Bianca Bacha, Ana Ferreira, Ryan Keberle, Gabriel Basso e Sandro Moreno Divulgação / Alexis Prappas

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Sem dar muitos detalhes, o baterista Sandro Moreno, quando conversou comigo, em junho, sobre o álbum que a Urbem gravaria com Ryan Keberle, adiantou que o projeto seria “algo muito especial”.

Após o show – memorável, diga-se – que fizeram juntos no Teatro do Mundo, o quarteto campo-grandense – além de Sandro, Bianca Bacha (vocais), Ana Ferreira (piano), Gabriel Basso (contrabaixo) – e o trombonista norte-americano foram para a zona rural de Miranda e se instalaram na Fazenda Caiman.

Foi lá que a magia aconteceu. Na estrada desde 2013 e com apenas um álbum lançado até então, “Living Room” (2016), a banda disponibilizou “Pantanal Jam” no Spotify no dia 29 de outubro, três dias antes do show que realizaria em Nova York, em um evento na Detour Gallery que uniu arte, gastronomia e turismo para promover o Pantanal.

São nove faixas criadas e gravadas com extremo apuro e sensibilidade, que alcançam os músicos da Urbem e Ryan num ponto bem elevado de suas capacidades.

Os temas soam como se os cinco artistas tivessem se deixado abraçar pela contagiante pregnância da natureza de Miranda, e Bianca Bacha confirma isso em entrevista exclusiva.

Melodias, pulsações e andamentos foram se definindo conforme eles mergulhavam em tudo que viam, ouviam e sentiam por ali: ventos, o canto das aves, “o esturro da onça”, como Bianca relata. Ouvindo os sons naturais, captados previamente por Sandro, que assina a produção musical do projeto, cada um estabeleceu sua conversa criativa com o Pantanal.

O registro dos sons naturais – de aves, por exemplo — introduz, se mescla ou faz a ponte para uma execução instrumental (voz inclusa) coesa e deveras inspirada, que não força a barra para sorver e devolver, em forma de música, a fartura que o habitat de Miranda oferece.

“Suspiro da Terra”, doce e pulsante, e “Paisagem Invertida”, essa mais selvagem e misteriosa, são uma prova disso.

Ryan pontua, preenche ou arremata sempre com uma precisão e desprendimento envolventes. Ana, como se ouve em “Espiral”, migra da base para os solos numa transparência que comove. Gabriel – em “Canção do Ninho”, por exemplo, que começa e segue na cama dos gomos que vai colhendo ao longo do tema – parece deter a justa medida para o desempenho de seu baixo.

"Foi uma grande honra participar da criação do ‘Pantanal Jam’. Os sons da Pantanal, do modo como Sandro captou, tiveram um papel direto no processo de composição das duas músicas que fiz para o álbum.

A partir da esquerda, Bianca Bacha, Ana Ferreira, Ryan Keberle, Gabriel Basso e Sandro MorenoRyan Keberle, trombonista - Foto: Divulgação / Alexis Prappas

O tom e os ritmos dos sons naturais do Pantanal, inspirados por ideias musicais e paisagens sonoras próprias, criaram um clima que eu tentei capturar nas minhas composições. Quando nós gravamos, literalmente no meio de um dos lugares mais selvagens e remotos do mundo, a beleza e a energia natural nos inspirou a ouvir a natureza e um ao outro mais profundamente, o que resultou numa performance musical que demonstra uma profunda comunicação musical.

Adoro os músicos e a música da Urbem. E, desde que tocamos juntos em diversas ocasiões anteriores, eu compus as minhas músicas especificamente com o talento e a habilidade musical especial deles em mente” - Ryan Keberle, trombonista.

Sandro é um laboratório inquieto, dos pedais aos pratos de condução. E Bianca conduz os vocais numa têmpera e numa fruição que se articula como síntese do conjunto.

Comparações e referências são uma tentação no mundo do jazz. Mas a qualquer palpite sobre “Pantanal Jam”, é melhor calar e ouvir. É um álbum estimulante para esse silêncio de dentro, que nos faculta as melhores emoções da escuta e da experiência musical.

Brazilian jazz? Jazz? Ouça. Música apenas. E quanta música! Embrenhada e revelada nos refúgios de um lugar mágico, onde a natureza se recobra e o espírito se fortalece.

A Urbem lança “Pantanal Jam” hoje, às 18h, no Centro de Convenções Arquiteto Rubens Gil de Camillo. Apareça.

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