A atriz, cantora e dubladora Lara Suleiman soma mais um grande papel à sua trajetória de sucesso na montagem brasileira de “Meninas Malvadas – O Musical”, que estreiou em março no Teatro Santander, em São Paulo.
A artista faz a irreverente Janis, personagem que, na adaptação do filme para os palcos, ganha ainda mais destaque. Para Lara, dar vida a Janis é tanto uma grande responsabilidade quanto uma realização artística:
"É uma personagem muito querida por todos, então fiquei muito animada quando soube que teria a oportunidade de defender a história dela. Ela tem muitas camadas, qualidades e defeitos, como todo ser humano. Além disso, ela e Damian são os narradores da história, então, passando por aulas de jazz e sapateado".
Aos onze, sua paixão pelo teatro e pelo canto começou a aflorar, consolidando-se como um caminho profissional definitivo um ano depois. Aos 17 anos, estreou no elenco de “Les Misérables” (2017) como cover de Éponine, dando início à sua trajetória no teatro musical. Desde então, assumiu papéis icônicos, como alternante de Lydia Deetz em “Beetlejuice” e cover de Wandinha Addams em “A Família Addams”, além de integrar o elenco de produções como “Bonnie & Clyde”, “A Noviça Rebelde” e “Tick, Tick... Boom!”. Mais recentemente, interpretou Lydia Hillard na montagem carioca de “Uma Babá Quase Perfeita”.
Agora, em “Meninas Malvadas”, Lara assume a persona de Janis Sarkisian, mais uma personagem de personalidade forte. Sarcástica, criativa e rebelde, ela adota um estilo alternativo e uma postura crítica às convenções sociais do colégio.
Embora emende trabalhos há oito anos, a artista se vê desafiada pelo seu novo momento profissional, que exige dela grande esforço vocal e emocional, algo que tem enfrentado com dedicação:
"A demanda vocal da personagem é muito grande, então preciso prestar mais atenção do que antes na minha saúde física e vocal. Apesar de ser um prazer imenso viver essa personagem, a exposição é bem maior do que nas minhas experiências anteriores."
Felizmente, a base técnica sólida que adquiriu, em especial com as aulas do Maestro Marconi Araújo, que a acompanha há mais de 10 anos, tem sido essencial. "Mesmo nos dias mais corridos, consigo aplicar o que aprendi e manter minha voz protegida. Isso tem sido fundamental para viver essa experiência com segurança", revela ela sobre o domínio da técnica do Belting Contemporâneo.
O número musical I’d Rather Be Me é um dos momentos mais marcantes do espetáculo, e Lara se identifica profundamente com sua mensagem: "Amo cantar I’d Rather Be Me porque ela reflete muito a maneira como escolho viver minha vida. Para mim, é quase como cantar um hino da minha própria trajetória."
Com um olhar atento ao desenvolvimento da personagem, Lara tem trabalhado cada detalhe da construção de Janis, tanto no aspecto emocional quanto visual:
"Ela passa por transformações significativas ao longo da história. Temos a Janis imatura, movida por um desejo de vingança, e a Janis mais madura, que aprende a lidar de maneira diferente com suas relações."
Além disso, destaca a relevância da personagem na trama:
"A Janis não é a mocinha da história, nenhuma delas é, e essa é a parte mais interessante. O musical pode parecer só uma briga de meninas malvadas numa escola, mas, na verdade, mostra que nenhum de nós é uma coisa só."
Entre palcos e telas
Fora dos palcos, Lara também se destaca na dublagem, uma paixão que surgiu por acaso em 2018, quando, durante a temporada do musical “Romeu e Julieta ao Som de Marisa Monte”, foi incentivada pelo experiente Cláudio Galvan a fazer um curso.
Pouco tempo depois, fez seu primeiro teste e foi aprovada para dublar a Princesa Jasmine no live-action de “Aladdin” (2019), eternizando a canção inédita Ninguém Me Cala na versão brasileira. Desde então, acumulou papéis marcantes, como, mais recentemente, Luisa Madrigal e Matangi nas animações da Disney “Encanto” e “Moana 2”, respectivamente, Horse na série animada musical “O Mundo dos Centauros”, da Netflix, Jentorra em “Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania”, entre outros.
"Foi quase como voltar à minha infância quando dublei a Jasmine. Já com a Luisa, pude explorar a parte mais grave da minha voz, o que foi muito legal", relembra.
Com um currículo que reúne grandes papéis no teatro musical e na dublagem, Lara Suleiman segue em ascensão, sempre em busca de novos desafios. Entre seus sonhos, tem espaço ainda para protagonizar “Rent” e retornar a “Les Misérables”.
Além disso, almeja lançar um show solo, explorar o teatro musical no exterior e até mesmo revisitar sua formação acadêmica e adentrar o mundo do cinema com um projeto próprio, um roteiro de suspense/thriller que pretende escrever e que também quer dirigir. "Me sinto sempre livre para mudar esses sonhos e realizar o que fizer sentido para mim naquele momento."
A atriz e dubladora Lara Suleiman é Capa exclusiva do Correio B+ desta semana, e em entrevista ao Caderno ela fala de carreira, musicais, sua personagem em "Meninas Malvadas" e novos projetos.
A atriz Lara Suleiman é Capa exclusiva do Correio B+ desta semana - Foto: Fabio Audi - Diagramação: Denis Felipe -Por Flávia Viana
CE - Lara, você começou sua trajetória artística muito cedo, com dança, teatro e canto. O que mais te encantava nesta fase inicial e como isso moldou a artista que você é hoje?
LS - Eu comecei a estudar as vertentes do teatro musical desde muito nova e sempre fui muito curiosa em aprender mais, evoluir, descobrir novas técnicas de canto, novos métodos de atuação, novos estilos de dança e nesse percurso tive diversos professores que me incentivaram muito, mas ao mesmo tempo mantiveram meus pés nos chão.
Sempre soube que seria difícil ingressar no mercado do teatro musical e quando entrei, percebi que mais difícil ainda é se manter nele. Há muitas pessoas talentosas chegando no nosso meio a cada dia que passa, por isso é preciso se atualizar e continuar estudando.
Acredito que, desde o início até agora, a curiosidade é o que molda a artista que eu sou hoje, a vontade de querer sempre melhorar e explorar cada vez mais áreas do nosso trabalho.
CE - Você tem uma formação em Cinema pela FAAP. Como essa bagagem acadêmica influencia suas escolhas artísticas e sua atuação no palco e na dublagem?
LS - Eu amo cinema, sou apaixonada pela energia de set e a magia que é fazer audiovisual. Mas diferente do teatro, no cinema eu prefiro estar atrás da tela.
A faculdade me abriu os olhos para referências que, provavelmente, eu não teria contato sozinha, me fez entender o que eu gosto e o que eu não gosto, me fez conhecer novos diretores, atores, métodos de atuação e me ensinou as escolhas certas para que o público entenda a história que está sendo contada, tudo isso eu levo para os meus trabalhos no palco e na dublagem.
Além disso, a parte de produção me interessa muito e aprendendo isso, pude entender melhor como a engrenagem funciona nesses outros mercados também, abrindo portas para produzir meus próprios projetos no futuro.
CE - Atualmente você interpreta a Janis em “Meninas Malvadas – O Musical”, que pode ser considerada um desafio vocal e emocional. Como você se preparou para esse papel tão intenso e querido pelo público?
LS - Assim como a personagem, foi uma preparação muito intensa. Vocalmente tive ajuda do meu mestre, Marconi Araújo, para preparar as músicas desafiadoras da Janis, para que pudessem ser interpretadas de uma forma potente, saudável e confortável.
Eu já conhecia a história de Meninas Malvadas, mas quando tive contato com o texto, encontrei camadas que só assistindo não tinha percebido. Nosso diretor, Mariano Detry, me ajudou muito a construir um arco de maturidade da personagem.
A Janis começa como uma adolescente rebelde, com sede por vingança e se transforma em uma mulher empoderada e amadurecida em suas tomadas de decisão. A minha ideia foi criar uma Janis com referências do primeiro filme e do musical, com uma pitada da minha própria personalidade, para que o público pudesse sentir um equilíbrio entre o clássico e a novidade.
CE - Você já viveu personagens icônicos no teatro como Éponine, Lydia Deetz e agora Janis. Que características em comum você percebe nessas figuras e o que cada uma deixou em você?
LS - São três personagens trágicas, cada uma em seu próprio universo. A Éponine sofre por um amor impossível, a Lydia enfrenta a dor da perda da mãe e a Janis carrega as marcas da humilhação causadas por uma amiga.
Viver cada uma delas foi extremamente significativo para mim, acredito que chegaram nos momentos certos da minha trajetória e me ensinaram muito. Sempre fui intensa no amor, mas nem sempre gostei de assumir isso. A Éponine me fez enxergar essa intensidade como uma qualidade, e não como uma fraqueza.
Já a Lydia, apesar de termos histórias muito diferentes, me proporcionou um estudo profundo e me deixou um olhar mais esperançoso diante das dificuldades, a sensação de que sempre há outro caminho possível. E a Janis, por fim, reafirmou uma escolha que venho fazendo na vida: ser quem eu sou de verdade, sem tentar me moldar para ser aceita.
Por muito tempo busquei me encaixar em lugares que não eram para mim. Hoje, só quero estar onde me sinto pertencente, e a Janis me lembra disso todos os dias.
A atriz Lara Suleiman é Capa exclusiva do Correio B+ desta semana - Foto: Fabio Audi - Diagramação: Denis Felipe -Por Flávia Viana
CE - Na dublagem, seu primeiro grande papel foi dar voz à Jasmine no live-action de 'Aladdin'. Como foi essa experiência de estrear com um personagem tão marcante e se tornar uma “princesa da Disney”?
LS - Dar voz à Jasmine na versão brasileira foi, sem dúvida, a realização de um sonho. É uma responsabilidade enorme interpretar esse papel, especialmente sabendo que minha voz ficará marcada na memória de uma nova geração de crianças, assim como as vozes de Kika Tristão e Silvia Goiabeira ficaram no meu imaginário.
Tive a sorte de contar com a direção sensível e acolhedora de Thiago Longo e Nandu Valverde, que me deram segurança e espaço para crescer, especialmente por ser minha primeira experiência na dublagem. A Disney sempre fez parte da minha vida, a fita VHS de Aladdin era uma das que eu mais assistia na infância.
Por isso, foi uma surpresa maravilhosa me tornar a voz de uma das minhas princesas favoritas e justamente a que mais se parece comigo, por conta da minha descendência árabe. A Jasmine ocupa um lugar muito especial no meu coração.
CE - Dublar personagens tão distintos em filmes, séries, animações e games deve exigir versatilidade vocal. Como você explora e cuida da sua voz para manter essa flexibilidade?
LS - É muito divertido explorar a versatilidade de cada personagem, é preciso muito foco para se atentar aos detalhes de cada uma delas e criatividade para encaixar nossa própria personalidade também.
Eu estudo canto desde criança, então, graças à meus professores, desenvolvi uma técnica que me auxilia na flexibilidade vocal de cada personagem: a Luisa de Encanto (2021), é uma personagem super grave, já a Princesa Jasmine de Aladdin (2019) tem uma voz doce na fala, mas potente nas músicas, a técnica me ajuda a acessar esses diferentes registros.
Além disso, é muito importante cuidar da voz fora do trabalho, minha fonoaudióloga, Adriana Bezerra, me ajuda com exercícios e cuidados específicos para minha voz e meu otorrino, Reinaldo Yazaki, confere, praticamente todo mês, se todo o trato vocal está saudável. A demanda é grande e manter a voz saudável e protegida é essencial.
CE - Você já revelou o desejo de escrever e dirigir um suspense no cinema. Pode contar um pouco mais sobre essa ideia e o que te atrai nesse gênero?
LS - Sim, estou muito animada para começar a desenvolver esse projeto. Escrever um roteiro, ainda mais de suspense, no qual você tem que se atentar a todos os detalhes, leva tempo e infelizmente eu não consigo conciliar com a rotina do teatro musical.
Sendo assim, tenho muitas ideias para meu filme, mas ainda não consegui desenvolvê-las. O que posso contar é que será um suspense policial, mas especificamente um "who dunnit?” com muitas referências à Agatha Christie, um pouco do terror de Stephen King e gravado em apenas uma única locação: um teatro.
Em "Meninas Malvadas" - DivulgaçãoCE - Quais foram os momentos mais transformadores da sua carreira até agora — aqueles que te fizeram repensar, crescer ou mudar de rumo?
LS - Acho que uma das coisas mais legais da minha carreira, é ter o privilégio de trabalhar com artistas que eu cresci assistindo e admirando. Pessoas que me inspiraram a seguir o caminho das artes, hoje são meus colegas de elenco e amigos.
Eu entrei no mercado muito nova e com eles cresci. Aprendi a tomar minhas próprias decisões, entendi o que é importante priorizar na minha carreira, aprendi como me portar no ambiente de trabalho e todas as minhas escolhas de hoje, tem um pouco de cada um deles.
Um exemplo disso, foi uma conversa que tive com Marisa Orth, em A Família Addams (2022), ela me disse que não dá para ser uma grande artista e conseguir grandes papéis se não tivermos confiança. Precisamos confiar em nós mesmos e no nosso trabalho, para que a produção e o público também comprem o nosso barulho. Arriscar sem ter medo, pode nos levar a lugares que sempre sonhamos.
CE - Você já disse que seus sonhos estão sempre em movimento. Hoje, o que te inspira e impulsiona a seguir em frente, seja nos palcos, nos estúdios ou nos bastidores?
LS - A nossa profissão é muito divertida, principalmente para quem olha de fora, porém, é um trabalho como qualquer outro, com suas dificuldades, seus desafios, suas frustrações e quando essas características começam a ficar mais em evidência eu gosto de lembrar da Lara criança, que sempre desejou estar no palco.
Tem sempre um momento, em cada teatro que eu me apresento hoje, que eu paro e penso onde eu estava sentada quando assisti alguma peça lá, qual foi minha sensação. Isso me ajuda a lembrar de onde eu vim, o porquê de ter escolhido essa profissão e transforma um dia ruim em gratidão.
CE - Além dos palcos e da dublagem, você menciona o desejo de fazer um show solo e explorar o teatro musical no exterior. Quais desses sonhos se sente mais perto de realizar e o que os fãs podem esperar de seus projetos futuros?
LS - Com certeza meu show solo está cada vez mais perto de ser realizado. Mas antes dele, farei um show com meu parceiro de cena Arthur Berges. Dia 05 de julho faremos um show único com músicas de musicais em estilo de rock, com banda ao vivo e participações especiais.
Ainda em julho, assim que terminar a temporada de Meninas Malvadas, começo a ensaiar o musical Jersey Boys, que estreia dia 02 de agosto no 033 Rooftop, em São Paulo. Farei a personagem Lorraine, um desafio completamente diferente de outras personagens que já interpretei. Estou muito animada para esse novo processo!


