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Capa B+: Entrevista exclusiva com a atriz Miá Mello

"Achei que fosse jet lag, mas eram os primeiros sintomas. Falar disso no teatro é oferecer ferramentas para atravessar esse período, que pode durar até 10 anos e ter mais de 70 sintomas."

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Três mulheres 40+ ficam presas em um elevador e, em apenas dezessete minutos sem sinal, ventilação ou filtros, desabafos, confissões e risadas tomam conta. As angústias do corpo em mudança, a sobrecarga familiar, o desejo em trânsito e a vergonha de falar sobre o óbvio se misturam ao surreal: um pentelho branco ganha voz e os hormônios fazem piquete numa greve. Inspirada em histórias reais, Mulheres em Chamas transforma o medo de envelhecer em humor e reconhecimento.

A peça onde tem a atriz e apresentadora Miá Mello no palco, estreou no dia 2 de julho na capital paulista e fica em cartaz até 28 agosto (quartas e quintas) no Teatro UOL. Miá está ao lado de Juliana Araripe e Camila Raffanti com direção Paula Cohen.

Marília Penariol Melo, é conhecida como Miá Mello, é tamém é publicitária, e estreou no teatro como parte do grupo Desnecessários, destacando-se na televisão no Legendários e em diversos trabalhos no Multishow. No cinema estrelou os sucessos Meu Passado Me Condena e Meu Passado Me Condena 2 com o amigo Fábio Porchat.

Miá em agosto retorna com a peça Mãe Fora da Caixa, saindo em turnê e celebrando mais de 100 mil espectadores. Ela também filmou um longa com Hassum e Letícia Isnard que ainda não tem data para sua estreia, mas já já, ela lança o filme que origina da peça Mãe Fora da Caixa que está pronto e em finalização com todos só no aguardo da estreia.

"Primeiro eu quero agradecer novamente o interesse, a entrevista, dizer que eu adoro a entrevista de vocês. Sempre que eu leio as perguntas eu falo, olha aí, uma jornalista ou um jornalista muito legal, informado, inteligente".

A nossa Capa exclusiva da semana tem tantas novidades, histórias e roteiros interessantes, que novamente após alguns anos deu uma nova e super entrevista exclusiva para o Caderno falando de sua primeira vez no palco, como começou como atriz, tudo sobre Mulheres em Chamas que estreou essa semana em São Paulo e a peça Mãe Fora da Caixa que já já estará nas telonas.
 

A atriz e apresentadora Miá Mello é Capa exclusiva do Correio B+ desta semana - Foto: Thay Bonin - Diagramação: Denis Felipe - Por: Flávia Viana


CE - Miá como foi a sua transição da publicidade para a carreira de atriz?
MM -
 Oiê! Primeiro eu quero agradecer novamente o interesse, a entrevista, dizer que eu adoro a entrevista de vocês. Sempre que eu leio as perguntas eu falo, olha aí, uma jornalista ou um jornalista muito legal, informado, inteligente.

Então, primeiro de tudo, é um agradecimento e eu já emendo aqui na primeira pergunta que me formei em publicidade, trabalhei na área e aí quando eu fiz o último ano da faculdade, como eu já estava habituada a estudar à noite e trabalhar de dia, eu fiquei com um buraco aí à noite, porque eu só ia mais alguns dias para apresentar meu TCC, então a minha mãe viu um curso de teatro no jornal e falou, por que você não faz? Você está com essa noite livre aí? E eis que fui eu lá fazer o curso de teatro, que foi tão significativo.

Foi lá que eu vi que tinha gente que trabalhava com isso gente que não era filho de artista, porque na minha cabeça, eu nunca poderia ser atriz, sabe? Eu nunca tive esse sonho desde pequena porque não era uma possibilidade dentro da minha cabeça, eu achei tão bonito isso.  Conversando com a minha mãe esses dias, minha mãe é super artista, ela só não foi efetivamente, mas ela é rsrs!

E ela me disse que quando ela era mais jovem ela assistiu O Inimigo do Povo, do Ibsen, que foi uma peça que marcou muito ela e ela falou essa frase, se eu tivesse um artista na família com certeza eu ia fazer isso, ela falou essa frase e eu achei tão legal.

Então é quase uma crença limitante que a gente carrega de artista só pode ser quem vem de linhagem artística e tudo mais e que sorte que eu tive dessa de ter essa coragem/ignorância/loucura, não sei, que me deu de tentar correr atrás de uma coisa que parecia ser tão distante pra mim, porque eu de fato me encontrei.

E eu lembro que quando eu comecei a perguntar pras pessoas, mas vem cá, você faz isso, como que você faz? E comecei a ir atrás, de tentar fazer uns testes de publicidade, as coisas eram muito estranhas pra mim, nada, nada foi, nada dessa transição foi fácil ou simples, e ainda assim parecia que eu tava no caminho certo, acho isso tão interessante, tão bonito, tão mágico.

CE – Em que momento as artes cênicas entraram na vida e como?
MM -
 Bom, acho que eu respondi um pouco da primeira pergunta, acabei respondendo um pouco sobre isso, mas o que eu não contei, que é uma coisa que eu acho muito bonita também, é que eu sempre amei cinema.

Eu lembro que eu assistia cinema nacional e me dava uma espécie de um comichão na barriga, que eu não sabia explicar o que era. E que quando eu comecei a entender que eu ia vir a atriz, que eu queria fazer isso como profissão, claro, fui atrás do teatro, porque eu entendi que era a grande base de tudo, mas eu carregava já comigo esse desejo muito grande de fazer cinema.

E eu lembro que meu primeiro trabalho em dramaturgia na televisão foi uma série, a série com o Fábio Porchat. E aí, quando a gente estava fazendo a série, a Marisa Leão, que era a produtora, falou gente, me procuraram para fazer um filme e eu achei que a gente pode fazer a nossa história num navio. O que vocês acham?

Eu lembro que eu ouvi aqui e pensei, calma, Miá, não vai ser tão rápido assim. E aí foi muito rápido, claro, por mérito de tudo, da história ser muito boa, de todo mundo ver o potencial naquele casal, da Marisa Leão ser uma potência como produtora e um nome muito forte do cinema brasileiro.

Mas eu lembro que eu fiquei tão feliz e tão emocionada de estar realizando aquele sonho. E não à toa, né, o comichão lá da barriga era isso, era porque eu tinha que fazer isso. E eu amo o cinema, toda vez que eu faço eu não deixo de me deslumbrar fazendo.

CE – Como foi a sua primeira vez no palco, você se lembra?
MM -
 Nossa, essa pergunta me deixou tão intrigada, eu não lembro qual foi a minha primeira vez no palco. Não lembro mesmo, porque talvez eu deva ter feito peças na escola, porque eu gostava bastante. Mas uma que eu lembro, eu fiz o Célia Helena, a cada final de semestre a gente apresentava uma peça.

E aí uma que eu lembro, assim, como se chamasse meu pontapé inicial da carreira artística já profissional, eu fiz a gata da Cinderela, numa peça do Zé Wilker. E nossa, eu lembro que eu fiquei muito feliz com o convite.

A Renata Ricci, que na época fazia gata, foi fazer algum musical da Disney, alguma coisa desse tipo, e aí eles me convidaram pra fazer a gata. E eu amei, eu amei, a maquiagem era tão linda, tão legal, essa é uma primeira lembrança profissional de palco.

CE – Teatro, cinema ou TV?
MM -
 Nem vem com essa pergunta, hein? Não dá, não dá. Cada um tem a sua beleza. O teatro, ele tem um mergulho tão profundo, denso e verdadeiro na arte. E tem um trabalho muito intenso que é feito antes de você apresentar para o público.

Quando você apresenta para o público, claro que tem um ganho grande dessa troca, tem evolução, tem melhoras, tem tudo isso. Mas quando a gente chega ali para mostrar alguma coisa, esse trabalho já foi profundamente feito, refeito e apresentado. Eu acho isso muito lindo do teatro.

Já o cinema foi tudo aquilo que eu contei, meu xodó. Eu amo, eu acho que o cinema faz as coisas com tanto cuidado, com tempo, com uma beleza, com dinheiro muito bom. Não que o teatro não tenha, mas eu acho que o cinema tem um outro lugar de verba para as coisas acontecerem. No cinema é onde a gente dá nome para o personagem, a gente conta uma história de onde ele vem, pra onde ele foi, a gente mostra detalhes. Não que no teatro não dê, mas no cinema eu sinto que é uma beleza muito grande que acontece.

E na TV a gente ganha um alcance, ganha o povo, ganha o público, ganha notoriedade. E claro, às vezes a gente ganha de alguns trabalhos muito incríveis na TV também.

CE – Como nasceu o Mãe Fora da Caixa?
MM -
 Eu amo essa história porque o Mãe Fora da Caixa começou com o homem, o Pablo Sanábio, meu amigo, ator, ele é um idealizador muito potente e tinha adotado a Manoela e tava naquele hiperfoco da paternidade, onde ele me ligou e falou, você já ouviu falar do Mãe Fora da Caixa, a gente tem que fazer alguma coisa.

E isso que nasceu, todo esse projeto que é tão próspero e tão importante, no meio da conversa, ainda na conversa, eu comprei o livro da Thais Vilarinho, o livro chegou no mesmo dia, eu devorei o livro, o que mais me chamou atenção foi que mesmo quando eram histórias que não diziam a respeito da minha maternidade, faziam eu lembrar da minha maternidade, então eu acho aquilo muito potente e não à toa que a peça tem essa alta poder de identificação, eu sempre digo isso, que muitas vezes a gente não tem filho, mas todo mundo é filho de alguém. Então eu acho que essa aqui é uma potência muito linda desse projeto.

A atriz e apresentadora Miá Mello é Capa exclusiva do Correio B+ desta semana - Foto: Edu Pimenta - Diagramação: Denis Felipe - Por: Flávia Viana

CE – Você volta com a turnê da peça?
MM -
 Volto com a turnê agora em agosto, eu vou para seis cidades: Ribeirão Preto, Natal, Fortaleza, Brasília, Florianópolis... será que eu tô esquecendo alguém? Bom, mas faço essa turnê e eu tô muito animada porque eu vou fazer essa turnê do Mãe Fora da Caixa em cartaz com Mulheres em Chamas, então eu fico em cartaz quarta e quinta em São Paulo e faço essa turnê pelo Brasil.

Estou achando tão chique, tô contando pra todo mundo que eu vou fazer essa jornada dupla. Então volto com a peça, por enquanto são essas as cidades, mas eu acho que a gente ainda dá uma pinta por São Paulo, todo mundo pede pra gente voltar pro Rio, então eu acho que é uma peça, fico com a sensação que o Mãe Fora da Caixa é uma peça que dá pra fazer por muitos e muitos anos.

CE – São mais de 100mil expectadores? Qual a sensação?
MM -
 Bom, 100 mil espectadores. Que orgulho, hein? A sensação que eu tenho é essa, que as pessoas gostam de assistir a peça e gostam de voltar com outras pessoas. Eu tenho a impressão de que o que elas gostam é de mostrar o que se passa dentro da nossa cabeça, do nosso corpo. Acho que essa peça exemplifica através do humor, através das cenas que a gente mostra lá, o que mais ou menos acontece nesse período tão intenso que é o Puerpério.

CE – E o filme, quando teremos a estreia? E como foi todo o processo?
MM - 
Bom, o filme já está pronto e, nossa, eu fiquei tão feliz de assistir porque eu acho que eu vi muita verdade no filme. Eu acho que isso é muito importante quando a gente está falando de maternidade real. Eu acho que ele está previsto para sair até o semestre que vem.

Estou aqui guardando minha ansiedade numa caixinha porque eu não vejo a hora de dividir com todo mundo. E acho que acontece um processo muito interessante, onde a peça nasce do livro da Thais Vilarinho, quando a gente fala de Cláudia Gomes para escrever a peça. A gente aproxima um pouco mais, a gente cria um guarda-chuva e uma história de uma mãe que está ali no banheiro vendo se está grávida do seu segundo filho ou não, mas ainda chama mãe e só.

E quando a gente chama a Patrícia Corso, e eu também assino colaborando o roteiro, a gente aproxima ainda mais dessa história e essa mãe ganha um nome, ganha uma profissão, ganha um marido. E com tudo isso, esses detalhes deixam a história. Rica. Então não vejo a hora de dividir com todo mundo.

Mãe Fora da Caixa - Divulgação

CE – Fale um pouco do longa com Hassun e Letícia Isnard?
MM - 
Vim agora desse filme que eu rodei no Rio de Janeiro, O Alibi, que é a direção do Felipe Joffily, e foi um deleite. É a palavra que eu fico toda hora reverberando pra lembrar de como foi o processo. O Felipe é um diretor muito aberto, eu lembro que eu escutava em cena assim, faz do jeito que você quiser que a câmera te pega. Nossa, isso chega a emocionar, assim, porque é de uma liberdade criativa.

E muitas das vezes a parte que eu mais gosto do meu trabalho é a criação da gênese e da personagem, esse mergulho em pesquisa, dessa nova personalidade dessa pessoa que eu tô criando e tudo mais, mas muitas das vezes a gente fica com esse trabalho muito subjetivo. 

Quase ninguém nunca vê esse trabalho, é um trabalho que compõe muito, mas a gente não pode, não tem espaço pra mostrar ele. E tudo certo, é sobre isso mesmo. Mas com o Felipe Joffily, eu tive a oportunidade de colocar muitas.

Coisas que eu criei dessa gênese da personagem, que chama Nath, pra fora, eu consegui mostrar, então eu fiquei muito feliz, assim, achei que foi uma parceria muito legal. Saí de lá falando assim, não vejo a hora de fazer o próximo filme com você.

E que delícia conseguir fazer o filme com o Hassun, né, há tempos que a gente vem tentando trabalhar juntos, falei pra ele que também não valeu, porque a gente fez algumas cenas só, nossos personagens não ficam o tempo todo interagindo juntos, então eu falei, olha, não valeu esse, eu quero outro, hein, e ele é muito legal, um baita companheiro de camarim, cara engraçado, divertido, talentoso, humilde.

Tudo que ele toca vira ouro, então eu tô feliz de estar junto com ele, e Letícia Isnard, era um sonho trabalhar com ela, eu fiquei muito, assim, honrada de estar junto com ela, porque eu acho que ela é uma baita atriz, e eu tinha certeza que seria maravilhoso trabalhar com ela, e foi.

Ela é uma atriz, assim, que faz o que ela faz, ela é uma atriz que faz tudo sem um menor esforço. Ela fala de um jeito que as coisas já são muito engraçadas e divertidas e também uma baita companheira.

Quero deixar também registrado que trabalhar com o Dudu Azevedo foi uma grande revelação. Revelação no sentido de que eu não estava como eu estava com o Hassun e a Letícia, né? Claro que eu gostaria de trabalhar com ele e tudo, mas foi uma dupla tão divertida.

Acho que a gente ganhou tanto com os nossos personagens ali que eu saí de lá falando Dudu, eu acho que a gente tem que fazer um spin-off dos nossos personagens e que virasse um filme só dos dois, porque foi muito divertido. Que ator inteligente, espirituoso, bonito, gente boa. Nossa, foi muito legal trabalhar com ele também.

Miá com Juliana Cohen e Camila Raffanti - Foto: Edu Pimenta - Mulheres e Chamas 

CE – Você estreou Mulheres em Chama com a Juliana Cohen e Camila Raffanti, conta pra gente sobre o porjeto? Como foi a estreia?
MM -
 Nossa, a estreia de Mulheres em Chamas foi catártica. Acho que é a única palavra que eu tenho para definir perto do que aconteceu. A gente já estava mergulhado nesse processo há um mês e uma semana, que é pouco, mas ao mesmo tempo parece que foi uma vida.

Fora todo o tempo que a gente escreveu e concebeu a ideia que foram mais ou menos uns dois, três meses. Ou seja, pouco tempo no total para muita coisa conquistada. Um grande acerto foi a direção da Paula Cohen. A gente chamou ela para dirigir, ela foi muito sensível e fez a gente fazer teatro. Tem umas partes tão interessantes da peça. Eu estou muito entusiasmada, sério.

Eu estou quase explodindo de orgulho. Estou com vontade de fazer de novo, que a gente está em cartaz às quartas e quintas. Estou com vontade de fazer hoje de novo já. Então isso é um ótimo sinal. Eu e as meninas a gente está impressionada com a repercussão. E o que a gente mais escuta é: o trio é muito legal, o trio é muito engraçado. Isso é tão interessante para a gente que, imagina, somos totalmente atrizes autorais.

A gente escreveu o texto, a gente concebeu a peça e a gente está atuando. E a gente está com um pé na produção e um pé ali. Também junto com um sócio muito incrível. Então viabilizar teatro dessa qualidade me dá muito orgulho. Eu estou muito satisfeita. Aliás, fica o convite. Quando vier a São Paulo, por enquanto a gente fica até outubro. Você vem assistir.

CE – Você acha que a menopausa ainda é vista como algo que se fala à respeito?
MM - 
Eu acho que somos a primeira geração a falar disso, quando eu vou conversar com a minha mãe. Tem até uma história maravilhosa que durante essa pesquisa, nesse mergulho, eu fui conversar com a minha mãe e perguntei pra ela, porque eu descobri que você entra na menopausa numa idade muito próxima que a sua mãe entrou, aí eu fui conversar com a minha mãe.

Aí sabe o que que ela me falou? Não tive! Você acredita? Como não teve, mãe? Todo mundo, imagina, você tá viva aqui? Não tive! Um dia eu fui conversar mais a fundo com ela, eu falei, não, mãe, sério, mas e aí? Suas amigas? A Leonor me dava um chá, ela tomava uns chás e a gente também tomava.

Aí eu falei, mas e aí? E sua mãe? Ela, minha mãe? Minha mãe me deu um livro, A Moça e Seus Problemas, quando me instruí pela primeira vez, foi a única conversa que ela teve comigo. Aí eu fui pesquisar, esse livro existe, ele é muito... Estranho, preconceituoso, ignorante, sabe? É muito doido. E olha o nome, né? A Moça e Seus Problemas, mas, enfim. falta muito a se falar ainda e eu acho que a geração passada não pode nem olhar pra isso.

CE – Como foi a criação e construção do texto da peça?
MM -
 Nossa, a criação desse texto foi algo muito intenso e visceral para mim em algum lugar. Primeiro porque eu já venho buscando esse lugar de roteirista também, de escritora, acho que talvez seja muito, meu Deus, que os deuses do Olimpo me perdoem por usarem uma palavra tão grandiosa, mas uma roteirista, digamos assim.

Então eu colaborei no Mãe Fora da Caixa, no filme, com o roteiro, e dessa vez eu entro para fazer o Mulheres em Chamas como roteirista junto com as meninas, que são duas grandes atrizes e roteiristas. Foram muito generosas nesse lugar de me ensinar, de ter paciência até de me ensinar a mexer no Final Draft, porque até isso elas tiveram que me ensinar, de me credibilizar, a Juliana Araripe tem muito isso, ela muito me credibiliza, ela é muito legal. Uma torcida assim, junto, que é muito legal de ter junto, sabe?

                 Miá com Juliana Cohen e Camila Raffanti - Foto: Edu Pimenta - Mulheres e Chamas 

CE -  Para vocês como foi compartilhar as histórias?
MM -
 E o compartilhar das histórias foi algo muito engraçado, onde a gente tinha trocado experiências, tem até um pedaço de uma história de uma pessoa que eu conheço que está na peça, ali misturada nos personagens, nas gênese dos personagens.

E tem muitas coisas que a gente foi extraindo da vida, porque a vida é muito maluca. A vida é, até se você transporta muito, o roteiro vão falar que é louco demais. Tem que dar uma atenuada na vida para o roteiro parecer incrível.

Porque a vida é muito louca. Até esse encontro das três foi muito legal, como a gente brinca que eu comecei com um pedido de amizade para a Juliana, porque a gente já tinha trabalhado juntas, a gente era vizinha, e um belo dia deu um estalo assim, nossa, como que eu saio mais com a Juliana? Ela é minha vizinha aqui, e aí comecei a ver ela andando com uma turma legal, umas mulheres interessantes, engraçadas, aí um dia eu mandei para ela, cara, vamos ser amigas?

A gente mora uma do lado da outra, ela, vamos, lógico, a gente já é, é maravilhoso, e a gente, na segunda vez, sei lá, terceira que eu fui sair com ela, ela me convidou para um aniversário na casa dela, super legal. E quando ela me chamou a terceira vez para sair, ela falou, vou te apresentar a minha melhor amiga, vem aqui. E aí ela me apresentou a Camila Rafante, que é um tesouro.

Uma baita atriz, uma baita roteirista, uma baita amiga. E no final das contas a gente está fazendo uma peça muito legal, mas a gente também está celebrando essa nossa amizade. A gente está toda hora juntas, a gente passou o dia inteiro juntas, porque a gente teve que trabalhar, gravar vídeo, porque isso, a gente está fazendo milhões de coisas.

É um assunto muito próspero. Então a gente vai fazendo várias coisas sobre o assunto já, muito legal. Então a gente está juntas no dia seguinte da peça, só reverberando tudo o que aconteceu.

CE – Quem for assistir vocês no teatro o que podem esperar?
MM -
 Olha, eu acho que quem for assistir Mulheres em Chamas vai rir muito e vai se identificar. Vai lembrar de quando era jovem, vai lembrar dos medos que ainda tem, vai lembrar de tanta coisa. Eu senti uma peça tão divertida de ver junto, dá vontade de ver com várias pessoas, eu fico com vontade de assistir.

Olha que doido, estou fazendo uma peça que eu queria sentar na poltrona lá e assistir. Porque fazer já é muito divertida, eu acho que é uma peça muito legal, muito divertida. Para falar de um assunto que às vezes dá tanto medo e também é tão bonito de falar. Isso que é a beleza e a arte por teatro, a arte nisso é muito especial.

ENTREVISTA COM BIANCA

"A fauna pantaneira é a base musical das nove composições de 'Pantanal Jam'"

Cantora Bianca Bacha, da Urbem, fala como a paisagem natural de Miranda afetou o processo de criação e gravação do segundo álbum da banda, sobre a diferença entre o canto com letra e as vocalizações que são a sua marca e anuncia projetos nos EUA e Espanha

15/12/2025 11h00

A cantora Bianca Bacha se prepara para mais uma gravação na Fazenda Caiman, em Miranda, em junho deste ano

A cantora Bianca Bacha se prepara para mais uma gravação na Fazenda Caiman, em Miranda, em junho deste ano Divulgação / Alexis Prappas

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ENTREVISTA COM BIANCA

Recuperando para o leitor: como se deu a oportunidade do encontro e da parceria com o Ryan para o projeto do álbum “Pantanal Jam”?

Conhecemos Ryan Keberle no Campo Grande Jazz Festival [em março de 2024] e com ele tivemos uma troca musical instantânea. Tocamos juntos em um show no Sesc [Teatro Prosa] em setembro de 2024 e, a partir de lá, tivemos a certeza de que ainda faríamos muita música juntos.

No Pantanal, onde Ryan esteve pela primeira vez durante as gravações, ficou nítido que ele conseguiu transpassar para o repertório o encantamento que ele estava vivendo em meio a toda aquela natureza.

É o segundo disco, nove anos depois de “Living Room”. O que “Pantanal Jam” representa para a Urbem?

Este projeto é o nosso território sonoro: onde a música que criamos se entrelaça à natureza que nos guia em forma de jam. Na música, uma jam significa um encontro musical sem aviso prévio, as coisas vão acontecer ali na hora, portanto, o inesperado é bem-vindo e, com ele, você improvisa.

Qual seria o conceito geral do álbum?

O conceito do álbum nasce da escuta profunda da fauna pantaneira. Os cantos dos pássaros, o esturro da onça e os sons das águas e dos ventos não são efeitos nem pano de fundo: são a base musical das nove composições. A natureza atua como um músico a mais na banda de jazz, dialogando conosco em frases de pergunta e resposta.

Sandro Moreno registrou esses sons in loco, mergulhando no Pantanal para captá-los com precisão. Depois, analisou esse vasto material para identificar melodias, ritmos e motivos que se tornariam a essência das composições.

E, para fechar o ciclo, o álbum também foi gravado no coração do Pantanal. Com geradores a gasolina e um estúdio móvel, nós, a Urbem e o trombonista Ryan Keberle, levamos a música para o ambiente que a inspirou. E ali criamos, novamente in loco, em plena natureza selvagem.

Que tipo de referências buscaram para os arranjos, as sonoridades e as texturas?

Toda a referência e textura do álbum “Pantanal Jam” nascem dos próprios sons do Pantanal. A imersão no território e a escuta atenta transformaram cantos de pássaros, esturros, movimentos da água e vozes da mata em matéria-prima musical.

Cada faixa traduz essa convivência direta com a fauna e seus ritmos naturais, convertendo sons de bichos em música. Viva, orgânica e profundamente enraizada na paisagem pantaneira.

Isso está bastante perceptível. Os sons e toda a atmosfera do Pantanal atravessam o mood e talvez a própria concepção dos temas. Pode comentar um pouco mais sobre essa presença de elementos da natureza – e dessa natureza tão singular de MS – na criação de vocês?

A fauna, a luz, o silêncio amplo, os ventos, os cantos e até os vazios típicos da paisagem pantaneira influenciam diretamente a forma como criamos. É como se o ambiente nos orientasse musicalmente: às vezes guiando uma melodia, às vezes sugerindo um pulso, às vezes impondo uma pausa.

Esse encontro com a natureza não é decorativo, é estrutural. Ela atravessa tudo, o gesto musical, o espírito do disco e a maneira como a banda se relaciona com o som.

No “Pantanal Jam”, a paisagem não é cenário: é presença, é voz, é parceria criativa. É música.

A cantora Bianca Bacha se prepara para mais uma gravação na Fazenda Caiman, em Miranda, em junho deste anoFoto: Divulgação / Alexis Prappas

Onde exatamente estiveram e gravaram? E quando foi?

As gravações foram feitas na Fazenda Caiman, em junho deste ano, num cenário que não poderia ser mais inspirador. Foram escolhidas pela produtora três locações diferentes, e para cada uma delas, três músicas.

A cantora Bianca Bacha se prepara para mais uma gravação na Fazenda Caiman, em Miranda, em junho deste anoFoto: Divulgação / Alexis Prappas

Com uma equipe ultraprofissional que trouxe segurança e leveza para uma gravação ao vivo numa condição completamente inusitada.

E quanto ao repertório? Como chegaram às nove canções do disco?

Entre as composições, temos duas músicas do Paulo Calasans [“Swingue Verdejante” e “Suspiro da Terra”], um dos maiores produtores, arranjadores e instrumentistas do País, além de duas canções do Ryan Keberle junto com Sandro Moreno [“Paisagem Invertida” e “Entre Folhas”] e cinco composições nossas [“Espiral”, “Pluma”, “Voo Curvo”, “Barro” e “Canção do Ninho”].

Penso que o Pantanal é experimentado de um jeito bem particular por cada pessoa. Como é para você? Como aquele ambiente lhe toca e eventualmente interfere no seu jeito de cantar?

Tudo ali era extremamente inspirador. Dormir e acordar naquele lugar por alguns dias já me fazia até respirar de jeito diferente, com menos pressão e mais imersão.

Isso com certeza influenciou no jeito de cantar. Porém, o mais impressionante era saber que estava gravando um disco com toda aquela fauna ao redor, um jacaré no lago ao lado e uma onça a alguns quilômetros.

Embora domine há duas décadas o canto com letra e muitas vezes cante dessa forma em apresentações ao vivo, na Urbem, você investe sempre nos vocalizes e scats.

Todas as músicas do álbum “Pantanal Jam” usam a voz como instrumento, ou seja, não há letras nas músicas. Além de ser uma característica jazzística, esse estilo de canto se aproxima mais do cantar dos pássaros, a busca por seus fonemas e emissões.

Cada música exige uma altura e um escolher apropriado de sílabas que encaixem com a afinação e a expressão.

Adoro o canto com letras. Ali você tem palavras, interpreta, coloca ênfases. É até uma emissão de voz diferente. Só que comecei a me encantar com o mundo do jazz e toda essa coisa do canto que não usa palavras, o vocalize. E comecei a ouvir cantoras que cantam assim.

Tatiana Parra [cantora, compositora e professora paulistana] canta assim, nossa, de um jeito maravilhoso. A [portuguesa] Sara Serpa também. Tem também as divas mais antigas que faziam mais questão de improviso, o scat singing.

O canto sem palavra é muito desafiador porque ele é mais cru, mostra mais imperfeições de respiração, de emissão, de escolha de sílabas. E é muito improvisado. Porque a cada dia você pode usar uma sílaba diferente, pode caracterizar de uma outra forma.

Num dia vou fazer “u”, no outro dia posso fazer “a”, no outro posso fazer “e”. E você tem que descobrir ali, numa forma você com o seu corpo. E além de ter o desafio de você demonstrar o interpretar com emoção sem ter palavras.

Então é muito jazz [risos]. E acho muito bonito. Sempre vai ser um desafio. Sou com o meu corpo, com as palavras que eu escolho, que nem sempre são pensadas.

Claro que tem uma questão técnica de que o “i” você vai mais para um agudo, no “u” também; nos graves, você vai para outras escolhas, as consoantes também interferem. Gosto muito de passear pelas duas áreas. Tanto a área da interpretação com letra quanto a área dos vocalizes e texturas.

E Nova York? Pode contar um pouco sobre a recente temporada de vocês por lá?

O “Pantanal Jam” foi lançado em novembro deste ano com um show memorável em Nova York, durante a feira internacional de turismo Visit Brazil Gallery [na Detour Gallery], e a recepção foi extraordinária.

Pessoas do mundo inteiro, agentes de turismo, diretores da National Geographic, fotógrafos de natureza e profissionais de diversas áreas assistiram ao show com atenção absoluta.

Desde a primeira música, compreenderam nossa proposta e permaneceram maravilhados até o fim. Foi um momento histórico para Mato Grosso do Sul e para a arte sul-mato-grossense.

Esse resultado só foi possível graças ao apoio total da Fundtur e do seu diretor-presidente, Bruno Wendling, que acreditou no projeto desde o início e se comprometeu a nos apoiar tanto nas etapas de captação no Pantanal quanto no lançamento em Nova York. Além disso, segue impulsionando a campanha contínua de apresentar o “Pantanal Jam” ao mundo.

E faz sentido: ouvir o Pantanal desperta o desejo de visitá-lo, conhecê-lo e preservá-lo. O projeto reúne arte, natureza, conservação, turismo e toda a beleza única do nosso bioma, uma combinação que emociona e conecta o público global ao coração do Pantanal.

Além do álbum que já está lançado em todas as plataformas, temos uma série de vídeos das nove músicas e um minidocumentário.

Quando teremos shows da Urbem? Quais os próximos passos e projetos da banda?

A Urbem se sente profundamente entusiasmada em seguir os passos de Manoel de Barros, da família Espíndola, de Guilherme Rondon, Paulo Simões, Grupo Acaba, Geraldo Roca e tantos artistas que sempre beberam dessa fonte primária que é o Pantanal, transformando-a em arte para o mundo.

Recentemente, pesquisadores de Harvard e professores da UFMS colheram sons do Pantanal [pelo projeto Pantanal Sounds, que conta, entre outros, com nomes como o do violoncelista e professor William Teixeira], e esse movimento nos inspirou a ir a campo gravar os sons pantaneiros e a fazer composições dentro da nossa linguagem jazzística, incorporando esses registros naturais ao nosso modo de compor e evidenciando em música as belezas pantaneiras.

Temos planos de retornar aos Estados Unidos em breve e estamos em diálogo com a Embaixada do Brasil em Barcelona, onde palestraremos em março.

Além disso, a Urbem participará do Campo Grande Jazz Festival de Rua, no dia 21 de dezembro [neste domingo], em uma jam session com músicos locais e de São Paulo.

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MÚSICA

Entre onças e tuiuiús, o jazz

Em parceria com o trombonista Ryan Keberle, com nove composições inspiradas na exuberância do Pantanal, URBEM lança segundo álbum; 2º Campo Grande Jazz Festival celebra o gênero na Capital, com apresentações gratuitas

15/12/2025 10h00

A partir da esquerda, Bianca Bacha, Ana Ferreira, Ryan Keberle, Gabriel Basso e Sandro Moreno

A partir da esquerda, Bianca Bacha, Ana Ferreira, Ryan Keberle, Gabriel Basso e Sandro Moreno Divulgação / Alexis Prappas

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Sem dar muitos detalhes, o baterista Sandro Moreno, quando conversou comigo, em junho, sobre o álbum que a Urbem gravaria com Ryan Keberle, adiantou que o projeto seria “algo muito especial”.

Após o show – memorável, diga-se – que fizeram juntos no Teatro do Mundo, o quarteto campo-grandense – além de Sandro, Bianca Bacha (vocais), Ana Ferreira (piano), Gabriel Basso (contrabaixo) – e o trombonista norte-americano foram para a zona rural de Miranda e se instalaram na Fazenda Caiman.

Foi lá que a magia aconteceu. Na estrada desde 2013 e com apenas um álbum lançado até então, “Living Room” (2016), a banda disponibilizou “Pantanal Jam” no Spotify no dia 29 de outubro, três dias antes do show que realizaria em Nova York, em um evento na Detour Gallery que uniu arte, gastronomia e turismo para promover o Pantanal.

São nove faixas criadas e gravadas com extremo apuro e sensibilidade, que alcançam os músicos da Urbem e Ryan num ponto bem elevado de suas capacidades.

Os temas soam como se os cinco artistas tivessem se deixado abraçar pela contagiante pregnância da natureza de Miranda, e Bianca Bacha confirma isso em entrevista exclusiva.

Melodias, pulsações e andamentos foram se definindo conforme eles mergulhavam em tudo que viam, ouviam e sentiam por ali: ventos, o canto das aves, “o esturro da onça”, como Bianca relata. Ouvindo os sons naturais, captados previamente por Sandro, que assina a produção musical do projeto, cada um estabeleceu sua conversa criativa com o Pantanal.

O registro dos sons naturais – de aves, por exemplo — introduz, se mescla ou faz a ponte para uma execução instrumental (voz inclusa) coesa e deveras inspirada, que não força a barra para sorver e devolver, em forma de música, a fartura que o habitat de Miranda oferece.

“Suspiro da Terra”, doce e pulsante, e “Paisagem Invertida”, essa mais selvagem e misteriosa, são uma prova disso.

Ryan pontua, preenche ou arremata sempre com uma precisão e desprendimento envolventes. Ana, como se ouve em “Espiral”, migra da base para os solos numa transparência que comove. Gabriel – em “Canção do Ninho”, por exemplo, que começa e segue na cama dos gomos que vai colhendo ao longo do tema – parece deter a justa medida para o desempenho de seu baixo.

"Foi uma grande honra participar da criação do ‘Pantanal Jam’. Os sons da Pantanal, do modo como Sandro captou, tiveram um papel direto no processo de composição das duas músicas que fiz para o álbum.

A partir da esquerda, Bianca Bacha, Ana Ferreira, Ryan Keberle, Gabriel Basso e Sandro MorenoRyan Keberle, trombonista - Foto: Divulgação / Alexis Prappas

O tom e os ritmos dos sons naturais do Pantanal, inspirados por ideias musicais e paisagens sonoras próprias, criaram um clima que eu tentei capturar nas minhas composições. Quando nós gravamos, literalmente no meio de um dos lugares mais selvagens e remotos do mundo, a beleza e a energia natural nos inspirou a ouvir a natureza e um ao outro mais profundamente, o que resultou numa performance musical que demonstra uma profunda comunicação musical.

Adoro os músicos e a música da Urbem. E, desde que tocamos juntos em diversas ocasiões anteriores, eu compus as minhas músicas especificamente com o talento e a habilidade musical especial deles em mente” - Ryan Keberle, trombonista.

Sandro é um laboratório inquieto, dos pedais aos pratos de condução. E Bianca conduz os vocais numa têmpera e numa fruição que se articula como síntese do conjunto.

Comparações e referências são uma tentação no mundo do jazz. Mas a qualquer palpite sobre “Pantanal Jam”, é melhor calar e ouvir. É um álbum estimulante para esse silêncio de dentro, que nos faculta as melhores emoções da escuta e da experiência musical.

Brazilian jazz? Jazz? Ouça. Música apenas. E quanta música! Embrenhada e revelada nos refúgios de um lugar mágico, onde a natureza se recobra e o espírito se fortalece.

A Urbem lança “Pantanal Jam” hoje, às 18h, no Centro de Convenções Arquiteto Rubens Gil de Camillo. Apareça.

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