A atriz Nathalia Serra, com uma carreira que abrange novelas, filmes e musicais, pode ser vista na nova temporada do musical “O Rei do Rock”, agora com apresentações no Rio de Janeiro. A produção, sucesso de público e crítica em São Paulo, e colecionando indicações aos principais prêmios do gênero, chegou ao Teatro João Caetano, onde a artista poderá ser vista na pele de Ann Margret, personagem que exige versatilidade e habilidades intensas em canto, dança e atuação.
A temporada iniciou em novembro, o musical marca o destacado retorno de Nathalia aos palcos cariocas, sua cidade natal.
“Estava morrendo de saudades de poder atuar ‘em casa’. Não tem preço poder receber na plateia a família, amigos e colegas de trabalho em peso!”, comemora ela, que se prepara para uma nova fase em sua carreira.
Em “O Rei do Rock”, Nathalia buscou trazer à tona a força e complexidade da personagem que foi convidada a interpretar, Ann Margret, hoje com 83 anos, foi uma das grandes estrelas de Hollywood, uma artista multifacetada e contemporânea de Elvis Presley, conhecida como “Elvis de saia”. “Meu maior desafio foi dar o protagonismo que ela merece, sem cair no estereótipo da amante, à sombra de um ídolo mundial. Ann é uma artista completa, ganhadora de um Grammy, e indicada diversas vezes ao Oscar. Eu mergulhei na vida dela e senti o peso da responsabilidade em interpretá-la”, conta.
Formada em artes cênicas nos Estados Unidos, Nathalia tem uma trajetória marcada pela dedicação ao ofício. Em “O Rei do Rock”, ela se debruça em cada detalhe, para oferecer ao público uma interpretação rica em camadas sobre a vida da artista ainda viva, resultado de muita pesquisa e preparação, além dos anos de estudo, que a levam a refletir sobre o impacto de sua formação no exterior:
“Viver e estudar em Nova York, me permitiu compreender a importância de um ator saber executar também as funções de backstage, e como isso faz toda diferença quando se está em cena. Saber fazer de tudo um pouco foi o que me proporcionou trabalhos tão diferentes nesses últimos 10 anos.”
Entre palcos, telas e rádio
Com formação sólida em atuação, cinema e teatro musical, construída na The Lee Strasberg Theatre and Film Institute e na New York Film Academy, em Nova York, sua carreira tem transitado com naturalidade pelo eixo Rio-São Paulo, onde participou de diversos musicais de destaque. Ela esteve em produções de sucesso como "O Rei do Rock", “Alguma Coisa Podre”, “Rock in Rio 40 anos", "The Town", "West Side Story", “Cinderella de Rodgers & Hammerstein", "Vamp - o musical" e "Simbora - o musical de Wilson Simonal". Esse repertório demonstra sua versatilidade como atriz e cantora, além de seu domínio sobre o gênero musical.
No campo audiovisual, Nathalia acumulou experiência na Rede Globo entre 2015 e 2018, onde participou das novelas “Malhação - Pro Dia Nascer Feliz” e “O Tempo Não Para”; ela também pôde ser vista há pouco tempo em duas produções cinematográficas nacionais: "O Sequestro do Voo" e "Mamonas Assassinas". Além de atuar, Nathalia possui um trabalho paralelo como diretora e preparadora de atores, tendo já contribuído com projetos como a adaptação de "French Kiss - Na Intimidade" e a assistência e preparação de elenco para o programa humorístico "Pracinha", exibido no SBT.
Sua versatilidade se atesta ainda mais com uma outra veia artística, essa na área da comunicação, marcada pelo período em que pôde ser ouvida também no dial, compondo a bancada de apresentadores do programa ao vivo "Reclame Rio" na Rádio Mix-FM.
Nathalia é Capa exclusiva do Correio B+ desta semana, em entrevista exclusiva ao Caderno ela fala sobre início, personagens e escolhas.
CE - Durante sua infância, o contato com sua avó foi marcante e inspirador para sua escolha de carreira. Como acha que essas memórias moldaram a artista que é hoje?
NS - Minha avó enfrentou um câncer e o tratamento era muito agressivo no início dos anos 90. Ela era cuidada pela minha madrinha em Petrópolis, e aos fins de semana ia com meu pai visitá-las.
Eu colocava todo mundo pra fora do quarto dela e me trancava lá dentro pra fazer meus shows com um karaokê de brinquedo. A família inteira ficava tentando espiar o que fazia minha avó dar tantas gargalhadas lá dentro. Ali, só eu eu e ela naquele quarto, experienciei pela primeira vez o poder curativo do entretenimento, e depois mais tarde, da arte em si.
CE - Sua trajetória inclui uma formação em desenho industrial antes de se dedicar totalmente às artes cênicas. Como essa experiência influenciou sua visão sobre criatividade e expressão artística?
NS - Eu sempre tive o hábito de me manifestar artisticamente. Começou como brincadeira de criança, e depois fui buscando técnica pra tudo aquilo que amava. Eu não compreendia muito bem como planejar uma carreira como atriz.
E com pais economista e jornalista, era cobrada por diplomas, e uma carreira vista como mais “normal”. Prestei vestibular para desenho industrial na esperança de ainda rondar os sets de filmagem ou palcos, buscando uma especialização como figurinista, set designer ou algo nesse sentido. Mas ao tentar me imaginar no backstage pra sempre, entrei numa super crise existencial, fui no fundo do poço mesmo, até conseguir compreender em terapia e com um dos meus professores da CAL a necessidade de assumir e buscar minha carreira como atriz. Como atriz, sinto que explorar e diversificar manifestações artísticas, é criar repertório.
CE - Morar e estudar em Nova York foi uma experiência transformadora? Como foi a adaptação cultural e pessoal durante esses anos fora do Brasil?
NS - Foi a melhor coisa que eu poderia ter feito na vida, o maior e mais importante presente que recebi do meu pai! Eu aprendi a me virar, conviver comigo mesma e amar a minha companhia. Socializar muito com pessoas do mundo inteiro, me expressar, e aprender como nunca!
Foi muito importante pra mim, um divisor de águas. Quando voltei, me sentia muito preparada para enfrentar o mercado de trabalho. Foi tão positivo, que sinto ter enfrentado com muita leveza, todas as dificuldades normais de uma brasileira (“latina” como eles chamam), morando em NY.
CE - O que mais te marcou na transição de dançarina para atriz, especialmente ao perceber que o palco era o seu verdadeiro lugar?
NS - Não houve uma “transição”. Eu nunca fui bailarina profissional, sempre dancei por hobby. No período da faculdade de desenho industrial, me aventurei a estudar paralelamente, também ainda como hobby, interpretação e teatro musical.
E foi aí que comecei a compreender que o que eu amava na dança era poder interpretar aquelas personagens. E que talvez eu fosse boa dançando, não por um virtuosismo técnico ou pelo físico, que cá entre nós eu nunca tive, mas sim por sempre buscar contar aquela história com o máximo de detalhes e envolvimento, mesmo que só através dos movimentos. Ao compreender isso, uma caixinha se abriu, e foi um caminho sem volta!
CE - Trabalhar em diferentes mídias, como teatro, televisão, cinema e rádio, requer habilidades distintas. Existe alguma dessas áreas que você sente mais afinidade? Por quê?
NS - Eu amo me comunicar, e normalmente na vida, falo pra caramba! Acredito que contando boas histórias, formamos opinião e contribuímos para dar sentido aos anseios de quem nos assiste.
Compreendo a arte como braço da educação, e com essa missão pulsando, independente do veículo, o que espero é poder tocar o maior número de pessoas. A afinidade está em saber se a mensagem está chegando, pra quem apresentamos.
CE - Interpretar Ann-Margret em “O Rei do Rock” te trouxe que tipos de desafios? Como foi equilibrar a pesquisa intensa com a liberdade criativa na construção da personagem?
NS - Eu mergulhei profundamente na pesquisa dessa mulher interessantíssima, e super ativa artisticamente até hoje, no auge dos seus 83 anos de idade.
Consumi todos os filmes, infinitas entrevistas e documentários, ouvi as músicas, criei pastas com galerias das fotos dela que mais me identifiquei, vivi num hiperfoco absoluto, até conseguir trazer pro meu corpo as características mais marcantes de movimentação e temperamento. Depois disso, é confiar na direção e deixar fluir! E existe um fã-clube fervoroso não só do Elvis, como também dela aqui no Brasil, que tem me dado feedbacks muito gratificantes! Estou bem feliz e orgulhosa do resultado!
CE - Em suas experiências com grandes produções, como as novelas e os filmes em que atuou, houve algum momento ou trabalho que você considera um divisor de águas em sua carreira?
NS - Todo trabalho tem sua importância. Me sinto uma operária da arte e minha aposta é sempre na constância do que faço, mas não tem como passar ilesa às duas grandes personagens que fiz na TV (Malhação - Pro Dia Nascer Feliz e O Tempo Não Para).
A resposta do público, tanto via redes sociais quanto nas ruas, era uma loucura! O alcance de um veículo de massa é impressionante, e sei que as novelas me proporcionaram essa visibilidade, e me abriram muitas portas!
CE - A vida no teatro musical exige muito preparo físico e emocional. Como você cuida de si mesma para manter o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional?
NS - Equilíbrio é realmente uma busca incansável. Nem sei se isso existe, a gente faz o que dá! O preparo vocal e corporal precisa acontecer o ano inteiro, através das aulas que precisamos atender para manter a técnica.
Porém, mais do que isso, acredito que a busca principal seja por uma maior constância nos trabalhos, e condições condizentes com todos os investimentos necessários para manter essa qualidade técnica. E na vida pessoal, conto com um parceiro maravilhoso, super compreensivo, que também divide a mesma correria que eu, como fotógrafo de cinema, e que hoje tem me acolhido como família, já que estou morando há 6 anos em São Paulo e deixei a família no Rio.
CE - Você cita a importância da arte como ferramenta de transformação e reflexão. Existe algum projeto futuro que sonha em realizar para explorar ainda mais essa ideia?
NS - Sonho que eu possa realizar projetos com mensagens relevantes, boas histórias e que cheguem para o maior número de pessoas. Mas também se eu conseguir tocar e transformar uma pessoa que seja, já me realiza quanto artista.
CE - Quais são os projetos da Nathalia para 2025? O que o público pode esperar?
NS - O público pode esperar uma artista incansável, executando seu ofício com muito amor. Desejo um 2025 repleto de muitos sets e ribaltas para continuar nesse ciclo de realização!