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Capa B+: Entrevista exclusiva com o ator Caio Mutai

Em comemoração ao Dia da Imigração Japonesa no Brasil, Caio conversa com exclusividade com o Correio B+. "Ter outra etnia diferente do padrão branco europeu te deixa cheio de estigmas".

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Caio Mutai sempre esteve imerso no mundo das artes, mesmo antes de nascer. Sua mãe, que deu aulas de ballet até quase o dia do parto, transmitiu-lhe esse legado. Cresceu praticamente dentro da escola de ballet da família, um ambiente artístico que herdou da avó e que foi também a formação inicial de suas tias.

A arte era parte intrínseca da vida familiar, com todos sendo multi-talentosos. Esse ambiente artístico familiar, aliado a uma infância solitária, contribuiu para que Caio desenvolvesse sua imaginação criativa, criando mundos, personagens e histórias onde atuava intensamente.

A dança foi a primeira forma de expressão artística de Caio. Aos seis anos, iniciou aulas de ballet clássico e, aos onze, começou a estudar canto. A atuação veio um ano depois, despertando nele uma paixão avassaladora pela interpretação teatral.

Sua mãe, sempre presente em suas decisões, ajudou-o a ingressar nesse mundo, apesar do preconceito que enfrentou por ser um menino no ballet. Com o apoio de uma amiga da mãe, ele fez um curso de teatro musical, o que consolidou seu amor pela atuação.

O apoio da família de Caio foi ambivalente. Embora nunca o tenham impedido de seguir seus sonhos e o tenham ajudado financeiramente, sempre houve uma preocupação com sua estabilidade financeira.

Sugestões para seguir outras carreiras eram frequentes, mas isso nunca abalou sua determinação. Ele soube que teria que ser firme em suas decisões, apesar das dúvidas e preocupações familiares.

Caio não tem formação em outras áreas, mas tem muitos interesses e projetos paralelos. Atualmente, ele e um parceiro desenvolvem diversas frentes de trabalho, incluindo produções teatrais, audiovisuais, mercado financeiro e educação. Recentemente, começaram a pré-produção de um grande musical da Broadway, marcando sua estreia como idealizador e aprendiz de produtor.

No teatro, Caio considera o ao vivo e a interação com o público os maiores desafios, especialmente por ser tímido e ansioso. Entre seus trabalhos mais significativos, ele destaca suas atuações no Teatro Bradesco São Paulo com a companhia do Billy Bond, "Chaplin - O Musical" e "Aladdin - O Musical". Esses trabalhos marcaram o início de sua carreira e foram grandes escolas para ele.

No audiovisual, Caio menciona a dificuldade de manter a qualidade de atuação consistente em diferentes cenas e momentos das gravações. Entre seus projetos mais importantes estão "SmokeMaster", "O Coro - O Sucesso Aqui Vou Eu", "As Five" e "Furnas Fundas".

Em "As Five", Caio interpretou PR, um personagem que desafiava estereótipos de sexualidade e etnia. A experiência foi intensa, pois ele conciliou as gravações dessa série com "O Coro", alternando entre personagens muito diferentes.

Em "SmokeMaster", seu primeiro longa-metragem, ele vivenciou a imersão total no set, gravando em locações rurais e naturais, o que marcou profundamente sua trajetória.

"Furnas Fundas" foi uma experiência única, onde Caio interpretou um vampiro, um papel que nunca imaginou fazer no Brasil. O processo foi intenso, desde a preparação até as gravações, desafiando-o fisicamente e emocionalmente.

VIDA E ARTE AMARELA

A questão de ser "amarelo" sempre esteve presente na vida de Caio, mas ele só começou a entender e a enfrentar isso em 2017, quando se envolveu com o grupo Yobanboo. Antes disso, ele aceitava passivamente as situações racistas, sem reconhecer plenamente o impacto delas. No entanto, ao começar a satirizar e criticar essas experiências através da arte, ele despertou para a luta contra o racismo e começou a se redescobrir.

Ao longo de sua vida pessoal e profissional, Caio enfrentou inúmeros episódios de preconceito. Desde comentários aparentemente inofensivos até situações mais graves, como ser preterido em trabalhos por sua aparência.

Em um episódio particularmente marcante, ele perdeu um grande papel em uma novela porque decidiram remover um elemento que justificava sua presença como mestiço. Esse tipo de discriminação deixou cicatrizes profundas e influenciou suas decisões, incluindo a tentativa de esconder sua etnia trocando de sobrenome.

Hoje, Caio orgulhosamente usa seu nome verdadeiro e trabalha para que sua presença na arte seja vista de forma normalizada, sem a necessidade de estereótipos ou justificativas. Ele busca abrir caminhos para outros artistas amarelos, para que possam existir e ser representados de forma autêntica e sem preconceitos.

Em celebração do Dia da Imigração Japonesa no Brasil, O Correio B+ conversou com Caio para o Caderno com exclusividade e falou de estreias, trabalhos e preconceitos em sua trajetória.

O ator Caio Mutai é Capa exclusiva do Correio B+ desta semana - Foto: Tony Marquez - Diagramação Denis Felipe e Denise Neves

CE - Como iniciou na carreira artística?
CM -
 Certamente foi na barriga da minha mãe! Ela deu aulas de ballet até quase o dia do meu nascimento. Praticamente cresci dentro da escola de ballet dela, observando de perto, até que um dia pedi para participar também. Ao final das aulas das crianças, sempre havia brincadeiras. Comecei querendo brincar junto e, logo depois, já estava fazendo as aulas inteiras.

E embora tudo tenha começado ali, com ela, sem dúvida a arte veio da minha família. Minha mãe, minhas tias, meu tio, meu primo... todos são multitalentosos. Ao longo da vida, até certa idade, eu me mudei várias vezes de casa e, consequentemente, de escola, então por vezes fui uma criança bastante solitária, o que me obrigou a aprender a brincar sozinho e explorar muito a imaginação, criando diversas histórias, cheias de ludicidade e diferentes personagens - mal sabia eu que já estava atuando.

CE - Teve o apoio da família na decisão de seguir na carreira artística?
CM - 
Sim e não. "Sim" porque sempre me ajudaram como puderam, inclusive financeiramente. Nunca me impediram de seguir meus desejos e sempre estiveram ao meu lado nas minhas decisões. "Não" porque, se eu não tivesse sido firme nas minhas escolhas, provavelmente teria seguido os conselhos deles e escolhido uma carreira diferente para ter “dinheiro e segurança”.

Minha família nunca deixou de sugerir outras profissões. E nisso incluo todos, sem exceção. Sabemos que a vida de artista neste país é difícil se você não é famoso, então sempre houve uma grande preocupação com meu futuro e não os culpo, pois sempre recebi isso como um “cuidado”, sei que agiram por amor - o que não impediu de causar uma grande confusão na minha cabeça (risos).

Hoje digo que eles me ajudaram a entender o quanto amo o que faço e o quanto precisaria me preparar e lutar para conquistar meus objetivos. Se eu tinha que convencê-los de que este era meu caminho, primeiro precisava convencer a mim mesmo, e essa é a parte mais difícil.

CE - Chegou a considerar um ‘plano B’?
CM -
Sou uma pessoa com muitos interesses, desejos e estudos, mas não tenho formação formal em outras áreas. Atualmente, estou desenvolvendo outras frentes de trabalho com um grande parceiro, com quem compartilho de projetos teatrais, audiovisuais, e até mesmo do mercado financeiro e educacional, mas não vejo isso como planos B, C ou D, e sim como um empreendedor que gere negócios.

Sempre ouvi que deveria tentar outras coisas, mas só não o fiz por teimosia. Muitas vezes pensei em desistir da arte devido às inúmeras conversas, justamente sobre os tais planos B. Acho que, se tivesse parado minha vida para construir um, hoje meu ‘plano A’ não estaria tão avançado. Agora, com o ‘plano A’ encaminhado, posso pensar em construir outros planos. Meu objetivo é trabalhar intensamente para que todos eles se desenvolvam e cresçam exponencialmente ao longo do tempo.

Elenco da estreia de “Furnas Fundas”- Divulgação

CE - Quais são suas inspirações artísticas?
CM -
Confesso que quem mais me inspira hoje são meus amigos e colegas de trabalho. Meus mestres e professores! Mas posso dizer que na atuação, vou por um caminho mais discreto, como Daniel Day Lewis, ou outros artistas que fazem menos coisas, mas quando fazem é arrebatador. 

Já que a chama da causa amarela arde em mim, posso fazer menção honrosa à nossa musa Michelle Yeoh que, além de uma excelente atriz, é super ativa na causa. Tony Leung que é uma lenda e é claro, meu herói favorito de todos os tempos: Jackie Chan, que além de um maravilhoso ator, é talvez o maior produtor de cinema na China e um grande empresário.

Já na música, posso dizer que nasci e cresci escutando de Michael Jackson a Andrea Bocelli e na dança é o maravilhoso e eterno Baryshnikov. Quase um robô de tão perfeito. Que técnica absurda! 

CE - E suas aspirações de carreira?
Se fosse há uns anos atrás, eu com certeza diria: fazer filmes, séries, ir pra Hollywood etc etc.
CM - 
Quando eu comecei a ter a mínima noção da minha identidade amarela, isso passou a ser uma aspiração coletiva. Quero poder ser uma referência e um modelo de artista multifacetado que possa inspirar as próximas gerações. Não só inspirar, mas desbravar e possibilitar caminhos novos e diferentes. Quero ser ponte, escada. Quero poder proporcionar! Antes ser, para depois poder ajudar os outros a serem também. Serem o que quiserem! Muitos artistas de Hollywood são também produtores, empresários e é nisso que me inspiro.

CE - Como foi atuar nas temporadas de “As Five” e como o personagem impactou sua carreira?
CM -
 Sempre que recebo um personagem, primeiro tento entender a importância dele para a história, para o mundo e para mim. Acho que o PR veio com a proposta de simplesmente ser, sem parecer nada específico. Por trás de toda a fachada de "heterotop", ele era homossexual.

Mas a intenção era que "não parecesse", justamente para mostrar que não deve haver motivo para rotular pessoas e suas sexualidades apenas por características físicas, intelectuais ou comportamentais.
Outro ponto importante é que o PR não precisava ser um brasileiro asiático, mas era. Eu sou mestiço, então o PR também era, mas não havia essa necessidade.

O personagem foi escrito de forma aberta, podendo ser de qualquer etnia. Eu simplesmente podia existir normalmente, sem ter que justificar minha presença com parentes orientais ou um background extenso. Resumindo? PR veio para simplesmente SER. E ele chegou como um furacão!

Na mesma semana, fui aprovado para interpretar o Emídio em "O Coro", do Miguel Falabella, dois personagens essencialmente distintos e contrastantes. Gravei as duas séries ao mesmo tempo! Foi uma loucura. Das mais gostosas da vida, mas ainda assim uma loucura.

Em AS FIVES - Divulgação

CE - Em breve você estreia seu segundo longa-metragem, “Furnas Fundas”. O que pode contar sobre o projeto?
CM -
 Parei tudo que estava fazendo para mergulhar de cabeça no universo do longa e dos vampiros, muito inspirado por filmes como "Only Lovers Left Alive". O Yukun foi meu primeiro personagem de ficção e meu segundo vilão, e me permitiu viver as mais diversas experiências durante as gravações, desde gravar nos lugares mais quentes e inusitados como cemitério, mausoléu, igreja, hospital, até raspar a cabeça, ter o corpo pintado, usar próteses dentárias e claro, muito sangue cenográfico.

Tudo isso ao lado de um elenco estelar, como Eriberto Leão, Otávio Muller, Natália Lage, entre outros grandes nomes, e sendo eu o mais novo. O maior presente foi poder acompanhar de perto artistas tão incríveis e aprender muito com eles. Que honra!

CE - Como asiático você é bastante ativo em prol da causa amarela. Como começa sua luta? 
CM -
 Passei por situações de racismo óbvio que eram tratadas como normais. Isso gerava uma aceitação apática da minha condição, como uma doença incurável que você apenas aceita. Para mim, não existia o conceito de racismo com amarelos.

Vivi assim por muito tempo, até começar a ouvir sobre a causa e entender, iniciando meu processo de despertar. Esse despertar foi lento e gradual, cheio de altos e baixos.

Em 2017, fui convidado pelo grupo Yobanboo, formado por três artistas asiáticos brasileiros, para participar de esquetes de comédia que satirizavam e criticavam o racismo disfarçado de apelidos, brincadeiras e estereótipos. Esse foi o início da minha participação na luta, meu entendimento e aprendizado, e meu redescobrimento de quem eu sou, de quem fui e de quem tentei esconder por tanto tempo.

Divulgação

CE - Ao longo de sua vida pessoal, já sofreu algum tipo de preconceito por isso? 
CM -
 Inúmeras. Desde coisas mais "leves" que antes eram tratadas como apenas brincadeiras, até situações mais sérias em relação à COVID-19 e a relação preconceituosa, ignorante e errônea de associar orientais à causa dessa doença. 

Ter outra etnia diferente do padrão branco europeu te deixa cheio de estigmas. Sejam negativos, aos quais você pode ser rotulado e ter que passar por situações em que você é diminuído por isso ou até estigmas positivos, onde se cria uma gigante expectativa em cima de você sobre algo que não necessariamente você tem plenas condições de atender. 

CE - E na sua vida profissional?
CM - 
Pior ainda. Desde situações ridículas até coisas mais sérias, passei por experiências que ilustram bem o racismo que enfrento. Um exemplo: fui a um teste de publicidade e a diretora disse que eu "não era muito japonês" e me mandou para outra sala.

Lá, o diretor disse que eu "era muito japonês". Fiquei confuso e chateado, me sentindo insuficiente, nem japonês, nem brasileiro, nem nada. Hoje, teria respondido a eles e ao produtor de elenco que me chamou.

Sou mestiço, minha mãe é filha de japonês e minha avó é de diversas origens. Meu pai é branco europeu misturado. Metade das pessoas me vêem como "muito japonês", a outra metade acha que não sou "nada japonês". Mestiços no Brasil vivem num limbo, especialmente na atuação, onde já é difícil conseguir papéis para orientais, imagine para mestiços. 

O caso mais grave foi a perda do meu primeiro grande trabalho, uma novela com um personagem que dançava balé. Fui aprovado, tranquei a faculdade e estava pronto para começar, mas mudaram a trama, tiraram o balé e me substituíram por um ator branco e loiro. Foi uma tristeza profunda e entendi que meu caminho seria diferente do dos meus colegas brancos.

CE - De que forma acha que ser amarelo “te diferencia” no mercado de trabalho?
CM - 
Definitivamente não tem ninguém com a minha cara. Se hoje alguém me escolhe, com certeza não será porque não achou outro. Ser amarelo, hoje, é não ser parte do padrão, mas ainda assim poder ser muito talentoso, bonito e tudo mais. Mas hoje né, que, enfim, as coisas estão começando a mudar.

Até um tempo atrás, a diferença mesmo era que eu não ia ter trabalho e meus colegas brancos sim. Acho que outro fator importante é que eu não conheço UM artista amarelo que não tenha se lascado (risos) de estudar para ser bom. Porque não basta ser bonito, até porque ninguém nos achava bonitos até recentemente. Então ou éramos mil vezes melhor que outras pessoas "normais", ou a gente nunca ia pegar um papel. Isso até hoje, pra ser sincero. 

Caio Mutai - Divulgação

CE - Vê algum avanço no mercado considerando o início de sua carreira e os tempos atuais?
CM - 
Muito. Por experiência própria mesmo, na pele. Antes eu era sempre o japonês, o mestiço. Não tinham muitas coisas e era muito difícil ter trabalho no meu perfil. Quando era pra ser o "meu perfil", tinha que aparentar ser mais japonês do que eu sou. 

Hoje eu já tenho no currículo alguns bons personagens, que não foram escritos para serem orientais, mas acabaram sendo por minha causa. Hoje sou tratado como um ator brasileiro que também pode exercer papéis de personagens com ascendência oriental e tenho a sorte de poder ter alguns bons trabalhos por ano nessa linha. 

CE - O que pode contar sobre os próximos trabalhos?
CM - 
Finalizei recentemente a gravação de um curta-metragem do escritor Vitor Rocha e agora está em fase de pós-produção. No próximo semestre começo a rodar um novo filme, esse como protagonista, mas ainda não posso dar muitos detalhes

Para os próximos meses, temos a estreia de “Furnas Fundas”, que tem a direção de Beto Marques e a fotografia brilhante de Paulo Vainer, que fizeram uma linda obra de arte com as cenas dos vampiros.

Em paralelo estou produzindo com mais dois sócios uma peça inspirada no Dorama “Navillera” para o ano que vem, onde estarei como ator também e será minha primeira produção com um elenco inteiramente de amarelos!

E por último, estou trazendo junto de outros dois parceiros, nosso primeiro título Broadway, o musical “Once on This Island”, vencedor de 8 tonys! Esse entrarei como idealizador, ator e tudo o que mais eu puder fazer lá dentro. Vai ser lindo!!

 

 

LÍNGUA PORTUGUESA

Academia de Letras oferece oficina sobre literatura e gramática

Com três neste mês, os eventos começam amanhã, na UEMS, e clube de leitura sobre García Márquez, na quinta-feira, na sede da entidade, com participação de André Luiz Alvez

08/04/2025 10h00

Ricardo Cavaliere e Henrique de Medeiros

Ricardo Cavaliere e Henrique de Medeiros Foto: Divulgação/ASL

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No mês em que se comemora o Dia Mundial do Livro (23), a Academia Sul-Mato-Grossense de Letras (ASL) promove nada menos que três eventos, destacando autores regionais, nacionais e de fora do País. Mas talvez a grande homenageada seja a língua portuguesa, com uma oficina sobre o cotejo entre literatura e gramática a ser ministrada pelo filólogo e linguista Ricardo Cavaliere (RJ), membro da Academia Brasileira de Letras (ABL).

Cavaliere vai conduzir a oficina a partir do tema “O vínculo eterno entre literatura e gramática”, amanhã, às 14h, no curso de Letras da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), no Bairro José Abrão. Na quinta-feira, será a vez do clube de leitura da ASL centrar foco no colombiano García Márquez (1927-2014). E, no dia 24, a roda acadêmica da entidade homenageará a autora corumbaense Oliva Enciso (1909-2005). 

INCULTA E BELA

Tida poeticamente por Olavo Bilac (1865-1918) como “inculta e bela”, a língua portuguesa – “inculta”, por ter sido a última a derivar do chamado latim vulgar, e “bela”, por um crivo personalista do poeta parnasiano – certamente receberá um tratamento de primeira linha de Ricardo Cavaliere, um dos maiores especialistas no idioma, que abordará a relação entre a arte literária e a disciplina gramatical.

O renomado linguista adianta que vai tratar da “vinculação entre a literatura e a gramática, que nos últimos decênios tem sido objeto de crítica devido a possíveis inadequações, tais como o excessivo descompasso entre a língua literária e o padrão culto contemporâneo”.

O imortal da ABL – na qual ocupa a cadeira número 8, cujo patrono é o árcade Cláudio Manuel da Costa (1729-1789) – resume o evento, que será aberto ao público, como “um painel da relação entre a arte literária e a disciplina gramatical desde a Antiguidade Clássica até os dias atuais”.

É recorrente o próprio idioma servir de mote à criação literária. Em Guimarães Rosa (1908-1967), os neologismos saltam aos olhos, ecoando uma dimensão metalinguística. Na poesia, além do exemplo de Bilac, destaca-se o concretismo, que teve lugar a partir dos anos 1950.

Na canção popular, a irônica e divertida letra de “Assaltaram a Gramática” (1984), de Waly Salomão e Lulu Santos, sucesso na gravação dos Paralamas do Sucesso, serve de grande exemplo.

Mas, de modo geral, a indústria cultural mais recente e o estilo telegráfico do universo virtual, entre outras razões, têm maltratado a “última flor do Lácio”, a ponto de muitos erros ou desvios passarem a soar como norma.

“Apesar das críticas, a literatura continua a ocupar lugar necessário na descrição da denominada norma-padrão, sobretudo devido à sua especial relevância como expressão maior das potencialidades da língua no plano estilístico”, pontua Cavaliere.

Henrique de Medeiros, presidente da ASL, afirma que esse primeiro evento no formato de oficina, uma parceria com a ABL, pode abrir novos projetos, inclusive buscando uma participação ainda maior de professores e estudantes junto à Academia Sul-Mato-Grossense de Letras.

O evento faz parte do projeto ABL na ASL: Palestras Imortais, realizado pela ASL em parceria com a Secretaria de Estado de Turismo, Esporte e Cultura (Setesc) e a Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul.

RICARDO CAVALIERE

O imortal da Academia Brasileira de Letras é graduado e licenciado no curso de Letras (português/inglês) e graduado em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Obteve o título de mestre e doutor em Língua Portuguesa pela mesma instituição. Sua ênfase é na descrição do português e na historiografia dos estudos linguísticos.

Atua no Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagem da Universidade Federal Fluminense. Também é membro da Academia Brasileira de Filologia, conselheiro do Liceu Literário Português e tem experiência como conselheiro no Real Gabinete Português de Leitura, onde tem o título de grande benemérito.

Destacam-se, entre suas obras, os títulos “Fonologia e Morfologia na Gramática Científica Brasileira” e “Pontos Essenciais em Fonética e Fonologia”. A Medalha do Mérito Filológico da Academia Brasileira de Filologia e o Prêmio Celso Cunha da União Brasileira de Escritores estão entre os prêmios obtidos.

Cavaliere assina mais de uma centena de trabalhos acadêmicos em sua especialidade, entre eles, “Palavras Denotativas e Termos Afins: Uma Visão Argumentativa” e “A Gramática no Brasil: Ideias, Percursos e Parâmetros”. É membro de diversas associações nacionais e internacionais, entre elas, a Société de Linguistique Romane, a Henry Sweet Society for the History of Linguistic Ideas e a Associação Brasileira de Linguística.

GARCÍA MARQUÉZ

O projeto Leituras e Conversas na ASL, clube de leitura que teve início em março, prossegue nesta quinta-feira, com entrada franca, no auditório da instituição (Rua 14 de Julho, nº 4.653, Altos do São Francisco), às 19h30min, abordando a obra do romancista Gabriel García Márquez, Nobel de Literatura em 1982.

Coordenado por Lenilde Ramos, Maria Adélia Menegazzo e Sylvia Cesco, o clube contará com participação do escritor André Luiz Alvez.

Para Henrique de Medeiros, “a abertura do projeto na sua primeira apresentação teve excelente repercussão e presença de público, e espera-se que passe a ser um programa de referência para os amantes da literatura em Campo Grande”. García Marquéz segue a alternância entre autores regionais, nacionais e estrangeiros na sequência das atividades. No mês passado, o autor em destaque foi Paulo Leminski (1944-1989).

O convidado André Luiz Alvez é escritor, publicitário e cronista do Campo Grande News com a coluna Beba das Crônicas. Já foi cronista do Correio do Estado e é autor de diversas obras, entre elas, “A Bruxa da Sapolândia”, “Todo Bicho Alado Sente Medo do Vento” e “A Mão Esquerda”.

Um dos mais influentes e celebrados autores desde os anos 1950, García Marquéz, conhecido carinhosamente como Gabo, cresceu na casa de seus avós maternos, cujas histórias e tradições culturais influenciaram profundamente sua imaginação e estilo literário.

Sua obra mais famosa, “Cem Anos de Solidão” (1967), é considerada uma das maiores contribuições à literatura mundial. O livro combina realismo mágico com reflexões profundas sobre a condição humana, a história da América Latina e os efeitos do isolamento. “O Amor nos Tempos do Cólera” (1985), “Crônica de Uma Morte Anunciada” (1981) e “O Outono do Patriarca” (1975) estão entre as suas principais obras. 

RODA

Na roda acadêmica deste mês, no dia 24, a homenagem será para a professora, escritora e ex-deputada Oliva Enciso, com palestras de Raquel Naveira, Reginaldo Araújo e Rubenio Marcelo e, ainda, performance musical do projeto Movimento Concerto: Música Erudita e suas Fronteiras (UFMS). Às 19h30, com entrada franca e traje esporte.

Língua Portuguesa

Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura.
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Em que da voz materna ouvi: “meu filho!”,
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

(Olavo Bilac)

Assaltaram a Gramática (trechos)

Assaltaram a gramática
Assassinaram a lógica
Hum, botaram poesia
Na bagunça do dia a dia
Sequestraram a fonética
Violentaram a métrica
Hum, meteram poesia
No meio da boca, uma língua
Ô, ôu
Só não pode beber com a boca no gargalo
Não perca o show do intervalo
Lá vem o poeta
Com sua coroa de louros
Bertalha, pimentão, agrião, boldo
O poeta é a pimenta do planeta
(...)
Estupraram a gramática
Senhora datilógrafa, anota aí na máquina
O Zagalo vai mudar de tática
E no intervalo, eu quero ver a matemática
Dessa pelada
Violentaram o segundo tempo
Sequestraram meus melhores momentos
Expulsaram a lógica, chutaram a fonética
Eu vou de arquibancada ou de cadeira (elétrica)
Ô frangueiro, bate logo o tiro de métrica
Eu entro de carrinho
E faço um gol de bicicleta (ergométrica)
O poeta é a pimenta do planeta
Passa essa bola que eu vou meter de letra
Eu entro em cena, tô na área
Se derrubar é pena, pena, pena
Penalidade máxima

(Waly Salomão/Lulu Santos)

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Diálogo

Prefeitos de alguns municípios do interior de MS estão achando que adminis... Leia na coluna de hoje

Confira a coluna Diálogo desta terça-feira (08/04)

08/04/2025 00h01

Diálogo

Diálogo Foto: Arquivo / Correio do Estado

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Lya Luft - escritora brasileira

Que a gente se divirta sem se matar, 
que ame sem se contaminar, que aprenda 
sem se enganar, que viva sem se vender”
.

FELPUDA

Prefeitos de alguns municípios do interior de MS estão achando que administração municipal é para resolver o problema de desemprego na família deles. Assim, nomeiam esposas, sobrinhas e filhas, como se as repartições públicas fossem utilizadas para pagamento de “mesadas”. Vereadores, que deveriam fiscalizar, parecem fechar os olhos para tal tipo de farra, até porque, em muitas Câmaras Municipais, a mesma prática é utilizada. Nesses primeiros meses das atuais administrações, as denúncias são muitas e o Ministério Público está tendo muito trabalho.

Pediu...

Em Paranhos, o PT “entrou duas vezes na fila” para perder. Na eleição suplementar de domingo a prefeito, 
o petista Dr. Jorge levou uma surra nas urnas do tucano Hélio Acosta, que obteve 69,41% dos votos válidos (4.088). 

Mais

O esquerdista já havia sofrido derrota, em março, na Justiça Eleitoral, que havia indeferido sua chapa (que tinha como vice Dr. Vicente, também do PT). Ele recorreu, participou sub judice do pleito e foi derrotado, 
recebendo apenas 1.802 votos.

Diálogo

Durante o mês de março, o Ibama realizou uma megaoperação em sete estados e no Distrito Federal para combater a manutenção e o comércio ilegal de peixes ornamentais geneticamente modificados que resultou em autos de infração e na apreensão de mais de 58 mil exemplares modificados de espécies utilizadas na aquariofilia. Os agentes encontraram variedades das espécies paulistinha (Danio rerio), tetra-negro (Gymnocorymbus ternetzi) e beta (Betta splendens) modificados geneticamente para emitirem fluorescência por meio da inserção de genes de anêmonas ou de águas-vivas, conferindo-lhes cores fortes, com capacidade de bioluminescência quando submetidos à luz ultravioleta. Essas características têm atraído a atenção e tornado esses peixes muito populares entre os aquaristas ao redor do mundo.

DiálogoDr. Alexandre Adames e sua mãe, Dra. Josete Adames

 

DiálogoLarissa Chehuen

Ataque

A crítica do deputado José Orcírio em suas redes sociais ao governador Eduardo Riedel, tendo como pano
de fundo a concessão de anistia aos acusados dos atos do 8 de Janeiro, deve significar o rompimento 
da aliança política de PT e PSDB. O petista acusa o tucano, em cuja administração seu partido ocupa uma série de cargos, de defender a tese para beneficiar o ex-presidente Bolsonaro. O ataque destemperado de Orcírio deixa as duas siglas em situação incômoda.

Destoando

Na análise de alguns políticos, se o governador Riedel mantiver na administração um “partido crítico” ao que pensa, estaria dando brecha perigosa à interpretação de que não estaria mandando “no próprio quintal” e, aí, para “botar os pingos nos is”, teria de usar a conhecida frase: “Os incomodados que se mudem”. Se o PT, por sua vez, continuar apoiando um governador que estaria destoando da ideologia da esquerda, estará mostrando puro oportunismo e submissão.

Rumo

A sinalização de defesa de Eduardo Riedel à concessão da anistia mostra, segundo conversa de bastidores, que ele estaria mais próximo do PL, partido liderado nacionalmente pelo ex-presidente Bolsonaro.
Na eventual extinção do PSDB, ele poderia ingressar nas hostes dos liberais. O “padrinho” de Riedel, o ex-governador Reinaldo Azambuja, pré-candidato ao Senado, ainda está sendo aguardado por Bolsonaro, 
com vistas a assumir o comando do PL em Mato Grosso do Sul. Isso acontecendo, os dois tucanos continuariam a caminhar juntos.

ANIVERSARIANTES

Camila Tannous De Lamônica Guimarães, 
Stheven Ouríveis Razuk, 
Roberto da Cunha, 
Luiz Carlos Spengler Filho,
Franck Amorim,
Regina Maura Palhano Melke Prado,
Marco Antonio Nachif China,
Rodrigo Dalpiaz Dias, 
Esnel Expedito Otavio Portes,
Dr. Hélio Mendes,
Juares Pessoa de Abreu,
Israel Novaes Ramires,
Francisco Berbel Lopes,
Maurício de Souza Lima, 
Salete Bruno Almeida,
Tomoyoshi Wauke,
Antonio Eugenio Bergo Duarte,
Edileusa Cosmo da Silva,
Patricia Fortes Adorno Ribeiro, 
Maria Chaves Faustino, 
Nelson Luiz de Vasconcelos Junior,
Suely da Silva Pereira Lima,
Pedro Paulo Pedrossian,
Rosa Helena Tonissi Nasser Amoedo, 
Cynthia Moraes Rego Mandetta,
Valério Skovronski, 
Dr. Carlos Alberto Pedrosa de Souza, 
Rafael Farias Cação,
Jania Dagher Arce Queiroz,
Heber Maria Nogueira dos Santos Bezerra,
Irene Marcelino Vieira da Costa,
Carlos Eduardo Gomes da Rocha,
Vanessa dos Santos Lima
Mara Bethânia Bastos Gurgel de Menezes,
Sueli da Silva Pereira,
Zilda Paniago Trindade,
Raynara Macedo,
Venturino Collet,
Gislaine Teixeira Araújo,
Gabriel Ferreira,
Laicy Corrêa Martins,
Pedro Albino Coimbra Pedra, 
Mário Duailibi, 
Nelson Shiguenori Tsushima,
Dra. Maria Aparecida Rogado, 
Augusto Ribeiro Portugal, 
Evaldo Corrêa Chaves,
Carlos Furtado Fróes,
Maria Higa,
Vania Freitas Pires da Silva,
Zélia Quevedo Chaves,
Juvenal de Almeida Branco Filho,
Deusdet da Silva Santos,
Osvaldo Castro Brandão,
Sérgio Assis Godoy de Mesquita,
Nadia Cristina Mendonça,
Valdevino Goulart,
Vera Lúcia Ghizzi Figueiredo,
Luiz Akira Oshiro,
Nelly Albertino Valdivia Alamanzar,
Silvio Martins Adorno,
Luiza Pithan Freire,
Júlio César Kuroce,
Marcelo de Oliveira Vera,
Salviano Mendes Fontoura Júnior, 
Laerte Paes Coelho, 
Aleide Lemos Coelho,
Tathiana Corrêa Silva, 
TeIma Menezes de Araújo,
Ivan da Silva Mendes,
Carla Fernandes Juliano da Silva,
Lorita Duro Montagner,
Melissa Martins de Almeida,
João Maria Ferreira Antunes,
Denise Mendes Fonseca,
Alexandre Socovoski,
Amancio Gomes Machado,
Rui Queiroz Galvão,
Altevir Alberton,
Inácio Schneider,
Juarez Dambroz,
Margarete Camargo,
Maria de Lurdes de Brito Lima,
Dalila da Silva Corrêa,
Luccas Ribeiro de Souza D’athayde,
Vanderlei Caetano do Nascimento,
Darcy Rodrigues, 
Álvaro Scriptore Filho, 
Maria Augusta Sena Madureira Figueiró, 
Ruy de Menezes Câmara Junior, Paulo Mello Miranda, 
Jean Fernandes dos Santos Junior,
Enio Roberto Walker,
José Henrique Kaster Franco,
Luiz Antonio de Souza Martins,
Herlan Aponte Paz,
Laércia Aparecida Lemos Coelho Cannazzaro,
André Luiz Tanahara Pereira,
Gislene de Rezende Quadros, 
Walkiria Kosloski Ferreira, 
Teresinha Rigon,
José Nobuo Shiraishi Kawabata,
Silvio Yoshio Yokoyama,
Diego Rieffe Franco,
Faylon Alves da Rocha.

*Colaborou Tatyane Gameiro

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