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Capa B+: Entrevista exclusiva com o ator Geyson Luiz destaque na série "Cangaço Novo" da Prime

"Me considero um artista nascido pelo movimento. A cultura popular é presente em minha trajetória".

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Com 26 anos e 20 de carreira, Geyson Luiz é Farmácia, um jovem anarquista que protagoniza a série "Lama dos Dias", que estreou sua segunda temporada no dia 24 de maio, no Canal Brasil. A produção, que teve a primeira parte lançada em 2019, resgata o início do movimento manguebeat e remonta a cena cultural de Recife dos anos 1990.

Também no elenco da primeira temporada da elogiada série "Cangaço Novo", na Prime Video, Geyson Luiz nasceu em Limoeiro, na zona da mata pernambucana, e começou a estudar interpretação na escola até ser chamado para integrar um grupo teatral local, a Cia. Lionarte.

"Eu era um intenso brincante do Cavalo marinho, ogã, dançava e cantava no terreiro que ficava no alto da serra. Fui criado no terreiro de mãe Carminha (avó) e frequentava de forma fluida os encontros de mestres em cortejos e comemorações tradicionais da minha cidade natal, Limoeiro - PE. Foi a insatisfação com o "mundo doente" que me motivou a reconhecer como ator, ter o ofício de comunicar ao povo, com poesia, com arte, aquilo que enxergo, ouço, sinto sobre o outro", explica o artista.

Aos 13 anos fugiu de casa e foi trabalhar num circo. Tempos depois, através do grupo de teatro, o artista teve oportunidade de fazer um intercâmbio em Minas Gerais MG, onde ficou por dois anos. Sem querer retornar à sua cidade natal, chegou a morar nas ruas mineiras até ser convidado para alegrar o público no circo do ator Marcos Frota e no Le Cirque.

Aos 16 anos, o artista retornou para o nordeste, se tornando estudante e monitor do Centro Cultural Piollin, ONG de João Pessoa voltada para o desenvolvimento infanto-juvenil por meio da arte, cultura e educação.

Com vários espetáculos no currículo e se graduando em licenciatura de teatro na UFPB, o pernambucano já atuou em diversos longas e curtas-metragens, como o curta "BOYZIN", que lhe rendeu o prêmio de Melhor Ator no 16° Fest Aruanda do Audiovisual Brasileiro em 2021. 

Geyson é Capa exclusiva do Correio B+ desta semana, e em entrevista ao Caderno ela conta sua história inspiradora e também sua parceria com a arte e estreias.

Geyson Luiz é Capa exclusiva do Correio B+ desta semana - Foto: Divulgação - Diagramação - Denis Felipe e Denise Neves

 

CE - Geyson Luiz, você estrela a série "Lama dos Dias", que estreou a segunda temporada dia 24 de maio no Canal Brasil. Como é fazer parte de um projeto que retrata um período tão importante da cultura nacional? 
GL -
Me considero um artista nascido também pelo movimento. A influência da cultura popular é presente em toda minha trajetória como artista. Como, por exemplo, ao me vestir com os trajes do caboclo de lança, uma das figuras do folguedo popular Maracatu rural: usava um galho de arruda atrás da orelha e um cravo ou rosa branca na boca para manter o corpo fechado, proteger-me.

Eu era um intenso brincante do Cavalo marinho, ogã, dançava e cantava no terreiro que ficava no alto da serra. Fui criado no terreiro de mãe Carminha (avó) e frequentava de forma fluida os encontros de mestres em cortejos e comemorações tradicionais da minha cidade natal, Limoeiro - PE. Foi a insatisfação com o "mundo doente" que me motivou a reconhecer como ator, ter o ofício de comunicar ao povo, com poesia, com arte, aquilo que enxergo, ouço, sinto sobre o outro. 

O manguebeat se tornou um movimento popular, onde no início, o objetivo era denunciar as desigualdades, a pobreza, os problemas de Recife e propôs uma renovação cultural com o aparecimento de ritmos que misturavam elementos da cultura tradicional com a cultura urbana. O movimento foi além da zona metropolitana, chegando até o sertão com o teatro, a dança, a música, as artes visuais, o audiovisual.

CE - "Lama dos Dias" é passada nos anos 90 quando você ainda nem era nascido. Como se preparou para esse trabalho? E o que pode contar sobre Farmácia, seu personagem?
"Não tente se esconder na realidade, pois na fantasia, cedo ou tarde, lhe dará um golpe de misericórdia" - Essa frase guiará o Farmácia, meu personagem, em sua nova jornada, ele quer fazer um filme!

No meu diário de bordo sobre o "Farmácia", estudava o manifesto "Caranguejo com Cérebro" que foi escrito por Fred Zero Quatro, da banda Mundo Livre S/A. Que foi uns dos precursores na caminhada para o movimento Mangue beat no Recife e afirmava as propostas desse movimento, o manifesto me possibilitou as razões que eu poderia traçar na criação de uma obra.

Tenho assistido entrevistas, histórias do Chico Science e do DJ Dolores que é a minha principal referência na construção do "Farma", além da leitura dos livros, "Homens e Caranguejos" de Josué de Castro e "Vidas secas" de Graciliano Ramos. Tive a preparação de elenco com (Atriz/Preparadora - Nash Laila), que tem sido uma grande parceira em toda minha trajetória com a série desde a primeira temporada.

O Farmácia está mais certo dos seus objetivos, porém difícil de lidar com as consequências. No início encontramos Farmácia cheio de dúvidas e agora estando mais preciso com as suas decisões, baterá de frente com a realidade em seus olhos, e descobrirá na própria arte, a conexão com os seus amigos, as razões que lhe fazem ser o que é.

O "Farmácia" - "Jorge Aleixo" é um chato, sarcástico, insuportável, egocêntrico. Porém sua sensibilidade com tudo em volta é a razão que atraí a vontade de conhecer mais quem é ele, sua chatice se torna um véu que esconde uma peculiaridade, fazendo conectar-se com todes a vontade de estar com o "Farma". O "Farmácia" tem a essência de um "Peixe Betta", é encantador porque ele é único.

Foto: Thereza Helena 

CE - Ano passado, a série "Cangaço Novo", da qual você também faz parte, fez muito sucesso retratando a cultura nordestina e sendo estrelada por um elenco local. Como você analisa o aumento do interesse do público e do mercado por produções ambientadas no Nordeste e que estão dando espaço para novos artistas da região?
GL -
É um momento chave, meio tardio pra reconhecer o óbvio! O país carrega tantas histórias, tantas lutas. Dentro desse eixo norte - nordeste, os olhares estão voltados para novas narrativas e suas complexidades que o nosso país carrega, em cada estado com o seu sotaque, costumes e tradições.

No trabalho do ator, temos de entender que não existe só uma forma de naturalidade, construir uma personagem dentro dos padrões existentes que o público tem acompanhado. Na atuação, não podemos pensar só em estereótipos, todo indivíduo carrega uma história, sua luta, razões que na arte trazemos para reflexão da existência. O Artista tem a responsabilidade com o seu público, fazer pensar, olhar nos  olhos do outro, não ter medo de sentir, se emocionar. A vida é breve.

CE - Você é um grande exemplo de superação: chegou a fugir de casa e até a morar na rua por conta do sonho de viver de arte quando ainda era criança. Hoje, já reconhecido pelo mercado, se arrepende de algo? O que faria se não fosse artista?
GL -
Não. Dizer não às vezes me dói, mas é necessário. Não me arrependo, mesmo um adolescente encarando a solidão das ruas, sempre acreditei na poesia, pois foi a poesia que me fez agir e ela me deu alimento, acreditar na colheita do que planta e ter Exú abençoando os meus caminhos. Sempre acreditei nos xamãs, mesmo em terras de concreto e, não tenho ideia de onde vou chegar e nem como, mas estou vivo e festejo com todo amor e bravura o sol de cada dia.

Se eu não fosse artista, seria de qualquer forma, um educador. Sempre fui pupilo de alguém que quer comunicar, passar a verdade, a história, a responsabilidade. Ser esses vagalumes que iluminam os nossos caminhos.

CE - Impossível não ver a sua história e não imaginar que há muitos jovens pelo país que sonham em serem artistas, mas não têm apoio da família ou não sabem como chegar lá. Como é ser essa inspiração? Quais as barreiras que você ainda identifica para quem deseja seguir seus passos?
GL -
Como diz Paulo Freire: "É preciso ter esperança, mas ter esperança do verbo esperançar; porque tem gente que tem esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperar não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo."
 
Não sei o que do meu movimento, da minha ação possa significar, mas desde a minha infância era chamado de pupilo por muitos mestres e educadores, de todos eles(as) carrego uma verdade, uma memória, o que é valioso da nossa arte, a presença, então desfruto dela.

Acredito que quando passamos a olhar pra dentro, aprendemos a reconhecer o que realmente estamos vivendo naquele momento e, nos tornamos mais tolerantes com a gente e com o outro. A construção de nós mesmos é um processo diário, mas que pede gentileza e tolerância.

Geyson Luiz é Capa exclusiva do Correio B+ desta semana - Foto: Divulgação - Diagramação - Denis Felipe e Denise Neves

CE - Você tem apenas 26 anos de idade e já festeja 20 de profissão. Como você analisa sua trajetória? O que te move?
GL -
O incentivo artístico veio de muita inspiração do que me afetava na realidade da minha infância, a visceralidade dos fatos de um ambiente caótico e efêmero, tornava a arte uma tradução de inquietude e vulnerabilidade escancarada de um pirralho que adormecia com pesadelos sobre os homens e acordava cheio de sonhos vivos. Admitindo os erros que o ser humano carrega como a fortaleza para quebrar muros da ignorância, da dor  e do caos pela sobrevivência. Como diz Guimarães Rosa: "viver é um rasgar-se e remendar-se".

Foi no medo da realidade que busquei os porquês na arte. Tenho uma trajetória feita por grupos de teatro, dança, o picadeiro, a própria rua e sua poesia, Carrego sonhos intranquilos, e o que me move é saber que um passo à frente não estarei mais no mesmo lugar.

-  No seu currículo tem trabalho em grandes circos do país. Como foi a experiência? O que essa atividade agrega na sua arte?
Um dos motivos de entrada nos circos foi a necessidade de juntar dinheiro da passagem para onde minha arte teria mais sustância, a Paraíba, estado que me abriu portas. A experiência do circo, sendo honesto, é uma vida dura, mambembe, mas uma grande escola. Além de aprender a arte do humor com outros artistas, aprendi a valorizar os afetos, pertencimento de onde venho e para onde vou, ter amor e celebrar a todos os sonhos  que eu possa carregar.

CE - Como você se vê daqui 20 anos?
GL -
Saudosista. Espero que as circunstâncias preservem o tônus de hoje e que a fonte do aprendizado não seque e continue a banhar meus sonhos. Mais vivo do que nunca, com a memória boa e o corpo disposto, presente com a arte, com o meu povo.

CE - Quais seus sonhos profissionais e pessoais?
GL - 
Tenho sonhos intranquilos, tanto profissionais quanto pessoais(...) quero ganhar o mundo. Mesmo jovem tendo muito do que aprender, minha loucura multifacetada me dará bons frutos. Quero fazer cinema sem deixar de fazer teatro.

Quero poder abrir uma escola e escreverei sobre a porta, escola de arte. Quero matar a fome, pois a conheci. Quero ver os amigos que no passado eram apontados como sem futuro, que todos estejam bem hoje, com saúde. É tanta coisa...

CE - Você se assiste? É muito autocrítico?
GL -
Assisto, sou autocrítico, não muito pra adoecer. Minha autocrítica tem como principais ferramentas a escuta, a disponibilidade e a vontade de construir, desconstruir, reconstruir, de novo, com o outro.

Com uma carreira em franca ascensão, o que Geyson Luiz faz quando não está trabalhando?
Estudando licenciatura em Teatro na Universidade Federal da Paraíba. Estudando  sobre os "costumes", "diálogos", os folguedos populares e as danças urbanas, no intuito de reconhecermos as nossas origens, tradições, culturas, memórias coletivas com as manifestações em massa do intenso agora.

 


 

MÚSICA REGIONAL

Márcio de Camillo canta músicas de Geraldo Rocca em seu novo trabalho

Os dois me levam de volta ao Litoral Central, definição cunhada por Geraldo Roca para traduzir um pedaço de Brasil onde a água doce domina uma vastidão de terra que, supõe-se, um dia foi mar

01/04/2025 10h00

"O punhal afiado da poesia de Geraldo Roca corta manso na voz de Márcio de Camillo, sem perder o fio, nem a capacidade aguda de ferir de morte o senso comum" Foto: Divulgação/Márcio de Camillo

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Recebo mensagem de Márcio de Camillo me avisando sobre seu novo trabalho. “Márcio de Camillo canta Geraldo Roca”. Um show ao vivo que virou disco e já está disponível nas plataformas digitais.

Aproveito a estrada entre a minha casa e o trabalho para ouvir o disco. Ouvir Roca na voz de Camillo é quase um delírio. Uma surpresa, uma saudade imensa, muitas lembranças. Os dois me levam de volta ao Litoral Central, definição cunhada por Geraldo Roca para traduzir um pedaço de Brasil onde a água doce domina uma vastidão de terra que, supõe-se, um dia foi mar.

A praia pantanal me serve de ponte para unir, em mar aberto imaginário, o Rio de Janeiro – lugar de nascimento – ao coração do Brasil, onde Geraldo Roca se fez e se desfez desse plano. Seu coração, irrigado por sangue pantaneiro, fazia dos campos alagados, das fronteiras paraguaia e boliviana seu berço metafísico. E foi assim sempre.

Talvez isso também sirva pra explicar por que a passagem meteórica dele por aqui tenha início figurado e fim real nestas plagas, onde aprendemos desde cedo a sonhar em Guarany e poemar em Manoelês.

Os carros passam por mim em alta velocidade. Eu ouço Camillo cantando Roca. E me transmuto. O punhal afiado da poesia de Geraldo Roca corta manso na voz de Márcio de Camillo, sem perder o fio, nem a capacidade aguda de ferir de morte o senso comum. Não, Geraldo não cabe em uma única caixinha. E Márcio sabe disso. 

Às vezes, ele encarna um bardo. Um Dylan pantaneiro em letras incomuns, longas e lisérgicas. Em outras, reúne numa só figura a essência folk de Crosby, Still, Nash & Young. Mas nesse universo BeatFolkPolkaRock há espaço para a mansidão de um Caymmi fronteiriço, para a sutileza urbana de um Jobim. Geraldo, como eu disse, não cabe numa caixinha.

E tudo isso se transforma em mais, muito mais, na homenagem à altura dos arranjos, das violas, da flauta, do celo reunidos por Márcio de Camillo nesse show que vira disco e que se torna eterno de agora em diante. Pra gente não se esquecer. Nunca. 

Quando Geraldo Roca decidiu sair de cena, fechar as portas desse mundo, que já lhe arreliara o suficiente, era muito cedo pra isso. Foi o que todos pensamos. Mas ele era dono de seus próprios rumos. Sua poesia e sua música seguem aqui. Pra nossa sorte, a desassossegar nossos ouvidos e almas. Agora, mais ainda, na voz também infinita de Márcio de Camillo. 

P.S.: Márcio. A foto da capa é uma obra de arte. É você nele... É ele em você. Uma fusão, uma incorporação. Cara... que disco!!!

Brasília, 25/3/2025

"Souber ler a música de fronteira"

O cantor, compositor e instrumentista Márcio de Camillo estreou o show “Do Litoral Central do Brasil: Márcio de Camillo Canta Geraldo Roca”, no Teatro Glauce Rocha, no dia 24 de setembro de 2024. Com direção de Luiz André Cherubini, o show é uma homenagem ao “cantautor” Geraldo Roca, falecido em 2015, considerado um dos principais compositores da música regional de Mato Grosso do Sul.

Roca é autor, em parceria com Paulo Simões, da música “Trem do Pantanal”, sucesso na voz de Almir Sater. Considerado maldito por seus pares, era chamado de príncipe por Arrigo Barnabé. Sua produção musical pode ser considerada pequena, se tomarmos como referência a quantidade de composições e discografia, mas analisada a fundo, perceberemos um artista de voz potente e marcante, com composições inspiradas e profundas.

São polcas, rocks, chamamés, guarânias e até baladas, e Márcio de Camilo, amigo e admirador de Roca, aprofundou-se na pesquisa para definir o repertório como “uma panorâmica deste artista reverenciado, cantado e gravado por amigos que, assim como ele, fizeram parte da ‘geração de ouro’ da música pantaneira sul-mato-grossense: Paulo Simões, Alzira E, Geraldo Espíndola, Tetê Espíndola, Almir Sater, entre muitos outros”, como afirma Camillo.

“Além de um músico que eu admirava muito, não só como compositor, mas como violonista, violeiro e cantor, Roca influenciou muito a música da minha geração”, conta o músico. “Além disso, ele era meu vizinho, morava em frente à minha casa. A gente saía para jantar, para conversar, éramos amigos. Conheço a obra dele e vejo a obra dele na minha, compusemos uma canção juntos, em parceria com outros compositores, chamada ‘Hermanos Irmãos’”, relembra Camillo.

“Também dividimos uma faixa no CD ‘Gerações MS’ chamada ‘Lá Vem Você de Novo’. Roca é referência e pedra fundamental na construção da moderna música sul-mato-grossense. Ele soube ler a música de fronteira, mesclando elementos do rock, do pop, do folk, criando um estilo único. Ele é um verdadeiro representante do folk brasileiro”, conta.

A arte visual do show, com fotos feitas por Lauro Medeiros, foi baseada no álbum “Veneno Light”, que Geraldo Roca lançou em 2006. A foto principal de divulgação do show faz referência direta à capa deste álbum, cuja foto original é assinada pelo cineasta Cândido Fonseca. (Da Redação)

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Curiosidades

1º de abril: verdades sobre a origem do Dia da Mentira

Existem várias versões sobre o surgimento da data onde é "permitido" pregar peças

01/04/2025 07h00

1º de abril, dia da Mentira

1º de abril, dia da Mentira pathdoc / Shutterstock.com

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Mentir é um ato provavelmente tão antigo que podemos considerá-lo milenar. No entanto, o Dia da Mentira passou a ser celebrado oficialmente em 1º de abril a partir da instituição do Calendário Gregoriano, no século 16, em substituição ao Calendário Juliano, determinado no Concílio de Trento (o conselho ecumênico da Igreja Católica), na Itália.  

O calendário Gregoriano divide o ano em quatro estações distribuídas ao longo de 12 meses, ou 365 dias, de acordo com o movimento da terra e estabelece o primeiro dia do ano em 1º de janeiro. 

Historiadores contam que, com a instituição do novo calendário pelo papa Gregório XIII, em 1582, parte da população francesa se revoltou contra a medida e se recusou a adotar o 1º de janeiro. Os resistentes à mudança sofriam zombarias pelo resto da população, que os convidavam a festas e comemorações inexistentes no dia 1º de abril. Eram chamados de “tolos de abril”, já que este é o mês que a Páscoa acaba ocorrendo na celebração católica, evento que, anteriormente, iniciava o ano. 

Desse modo, nascia a tradição de zombaria e pregação de peças nesse dia, como uma forma bem humorada de protestar contra novas mudanças. 

Já a Encyclopedia Britannica, do Reino Unido, defende que as verdadeiras origens do Dia da Mentira não são totalmente conhecidas, já que a data é próxima à data de festivais como a Hilária, da Roma Antiga, em 25 de março e a celebração de Holi na Índia, que termina em 31 de março, que podem ter influenciado esse marco. 

No Brasil, a tradição de pregar peças no Dia da Mentira foi introduzida no ano 1828, quando o jornal mineiro A Mentira resolveu fazer uma brincadeira “mentirosa” e trouxe, na sua primeira edição, a morte de Dom Pedro I na capa, sendo publicado justamente no dia 1º de abril. Porém, o monarca só viria faleceu anos depois, em 1834, em Portugal. 

Em todos os casos, a ideia central do Dia da Mentira é fazer alguém acreditar em algo que não é verdade, sendo “feito de bobo”. Hoje, é comum receber ou enviar mensagens com brincadeiras aos mais próximos para dizer que a pessoa “caiu no 1º de abril”. 

Quando se torna um problema clínico

Apesar de ser “permitido” nessa data, a mentira pode se tornar um hábito e comprometer e degradar relações sociais. Notícias falsas ou com dados manipulados, por exemplo, podem ser considerados fake news e são punidas legalmente. 

Para o psiquiatra Fernando Monteiro, existem vários níveis de análise para a questão da mentira. Para ele, mentira é dar alguma informação ou omitir alguma informação de forma deliberada para uma outra pessoa.

“Imagine, por exemplo, uma pessoa que fala que existe uma conspiração da máfia chinesa para matá-la. Se essa pessoa realmente acredita nisso, dizemos que ela está ‘delirando’. Mas se ela não acredita nisso de verdade, ela está ‘mentindo’.Agora, imagine uma pessoa que diga que o Sol é um planeta. Mas ela está dizendo isso pois não teve acesso às descobertas científicas atuais. Nesse caso, ela não está 'mentindo', ela só está 'equivocada'. Como nossa mente é limitada, podemos cometer erros não intencionais. E isso é diferente de 'mentir', comenta o médico.

Fernando continua dizendo que a mentira, assim como diversos comportamentos, faz parte do espectro normal do ser humano.

“Como diria o Dr. House, "todo mundo mente". Não que isso seja certo ou errado, mas é um fato”, afirma e complementa dizendo que devemos tomar cuidado para “não transformar em doença, aquilo que é apenas um comportamento humano.” 

No entanto, existe um ponto onde esse comportamento pode se tornar estranho e anormal, quando deixa de ser algo normal do ser humano e se torna algo “patológico”. O médico explica que, quando uma pessoa desenvolve uma perturbação clinicamente significativa, causando prejuízos na vida social, educacional, profissional, ela desenvolveu um transtorno ou doença mental. 

“Para a mentira alcançar níveis preocupantes do ponto de vista Psiquiátrico, dois fatores são fundamentais: 

  • A pessoa precisa ter uma perda do controle do comportamento. (Exemplo: ela não tem absolutamente nenhum motivo para mentir, mas o impulso de mentir é tão forte que ela o faz.)
  • O comportamento precisa estar afetando várias áreas da vida (relacional, profissional, educacional, etc)”, finaliza. 

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