Como Ser Um Carioca nasceu como guia para estrangeiros navegarem pelo Rio de Janeiro. Escrito no início dos anos 1990s, pela americana Priscila Ann Goslin, que vivia na cidade e percebeu que havia a necessidade de explicar as particularidades da cultura local para amigos que vinham visitar e estranhavam hábitos como ouvir “a gente se vê”, quando não marcavam o local de encontro, ou o atraso crônico de meia-hora que até hoje confunde qualquer compromisso que precisa de horário marcado.
O guia já está na sétima edição e 31 anos depois, passou para o campo da ficção na série de mesmo nome, que estreou em outubro na StarPlus.
A série, que tem a assinatura de Carlos Saldanha, não é uma animação, e é uma declaração de amor ao Rio de Janeiro. É também, mesmo que feita por brasileiros, uma série para estrangeiros e apesar de ser precisa quanto aos hábitos cariocas, por horas parece feita para “gringo” gostar da cidade.
Visualmente o Rio ajuda e não desaponta, com imagens incríveis da cidade que foi batizada pela canção como “Maravilhosa”.
Toda gravada durante a pandemia, o que criou ainda mais dificuldades, traz um elenco internacional e histórias costuradas entre si, sempre com Seu Jorge em momentos cruciais em todas elas. Douglas Silva e Debora Nascimento também estão no elenco e nos ajudam a redescobrir o charme que fez do Carioca uma referência por tantos anos.
Foto: DivulgaçãoA proposta original era de que o guia virasse um filme, mas foi quando Saldanha entrou no projeto que percebeu que cada dica dada por Priscila no livro rendia uma história isolada, que funcionaria melhor em série. Ele tem razão, mesmo que em alguns momentos alguns dos ‘jeitinhos’ pareçam um tanto esticados, efetivamente é como se cada episódio endereçasse os que se completam e que traduzem o jeito carioca de ser.
O melhor, como ele mesmo me contou num papo durante o Festival do Rio, é que fica possível voltar à várias temporadas, algo que ainda não está confirmado.
Essa primeira temporada também destaque a uma trilha sonora assinada por Maria Gadú, com sucessos em novas versões de canções de Gilberto Gil e Fausto Fawcett. E aqui meus parênteses para quem não é do Rio: sim, é um Rio que não está nas páginas dos jornais ou sites de notícias, é um Rio que talvez tenha um apelo maior para estrangeiros, mas que existe em cada carioca.
A complexidade de ser um carioca demanda mesmo um guia (que aliás, é ultra divertido), mas foi ótimo que chegou às telas com sotaque real. Eu sinto saudade quando o Rio de Janeiro da série era mais facilmente identificado, um Rio romântico e leve, que encantava visitantes. Em três décadas muita coisa mudou, mas essencialmente a alma carioca está lá. Como ser Um Carioca é uma declaração de amor à cidade, mas diverte. Em pequenas doses, como cada episódio.
Foto: Divulgação

Helio Mandetta e Maria Olga Mandetta
Thai de Melo


