Os Top 10 semanais não são tabelas de poder, mas mapas de interesse coletivo. A partir deles, é possível perceber tendências mais sutis: quando o público busca escapismo, quando retorna ao conforto do conhecido ou quando se entrega ao desconforto da curiosidade mórbida.
E nesta terceira semana de outubro, as listas mostram um padrão inconfundível — o mundo quer sentir. Seja medo, riso, nostalgia ou esperança, o streaming virou o principal espelho emocional do nosso tempo.
Netflix: o fascínio pelo medo e pela fantasia
A Netflix continua a dominar o imaginário global com a fórmula que melhor domina: metade horror psicológico, metade escapismo pop.
O topo entre as séries segue com “Monster: The Ed Gein Story”, consolidando o império de Ryan Murphy — e provando que o público ainda consome o mal com a mesma curiosidade com que assiste a reality shows.
Logo abaixo, “Old Money” e “The Diplomat” acrescentam sofisticação, enquanto “Boots” e “Genie, Make a Wish” oferecem alívio leve e fantasioso. “Victoria Beckham” e “The Hunting Wives” confirmam: glamour e crime são sempre irresistíveis quando embalados em narrativa serializada.
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Nos filmes, “The Woman in Cabin 10” surge como o novo fenômeno — um thriller claustrofóbico que traduz a paranoia contemporânea com precisão cirúrgica.
“Caramelo” segue surpreendendo, um pequeno filme que virou sucesso mundial, mostrando o poder dos algoritmos em descobrir o inesperado.
Entre os demais títulos — “KPop Demon Hunters”, “My Father, the BTK Killer” e a dupla “Godzilla: King of the Monsters” e “Godzilla vs. Kong” — o que se revela é um cardápio que abraça o absurdo e o previsível com a mesma paixão.
A Netflix continua sendo o palco do excesso: entre monstros, crimes e desejos, ela reflete o caos do nosso apetite por tudo.
HBO / Max: prestígio, peso e intensidade
Na HBO, “Task” permanece soberana — uma série que condensa tudo o que a plataforma representa: densidade emocional, atuações impecáveis e dilemas morais que desafiam o espectador.
Ao redor dela, o ecletismo é calculado: “Peacemaker” e “Twisted Metal” garantem a dose de ação e irreverência, enquanto “The Thaw” e “The Chair Company” mantêm a tradição de dramas existenciais.
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Nos filmes, “Superman” lidera novamente, um lembrete de que os mitos ainda sustentam a imaginação coletiva.
“The Substance” continua em alta, reforçando o domínio do horror corporal como gênero contemporâneo.
Entre “Oppenheimer”, “Materialists” e “Valiant One”, o catálogo da HBO/Max reafirma seu território: histórias que combinam espetáculo e inquietação — cinema em formato de série, e séries com alma de cinema.
Disney+: o equilíbrio entre conforto e reinvenção
O Disney+ encontrou seu novo eixo entre nostalgia e experimentação. O docudrama “Murdaugh: Death in the Family” entrou com força, mostrando que até o público da Disney está pronto para true crime — desde que venha com verniz de elegância.
Ao lado dele, “Chad Powers”, estrelada por Glenn Powell, confirma a expansão do catálogo para o público adulto, enquanto “Marvel Zombies” mantém o fandom fervendo entre risadas e vísceras animadas.
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Nos filmes, o império Pixar segue intocável: “Elio” lidera e “Incredibles 2”, “Lilo & Stitch” e “The Nightmare Before Christmas” reforçam o poder da memória afetiva.
“Thunderbolts”* e o teaser de “Tron: Ares” lembram que a marca ainda sabe antecipar o futuro — mesmo quando revisita o passado.
O resultado é um Top 10 que se equilibra entre o doce e o sombrio, entre o filme que a criança ama e o adulto não esquece.
Prime Video: o mundo em várias línguas
A Amazon segue como o laboratório multicultural do streaming.
“Gen V” mantém a liderança, provando que o universo de The Boys ainda tem combustível para anos.
“The Summer I Turned Pretty” continua firme com seu romance ensolarado, mas o destaque é a longevidade de “Yo Soy Betty la Fea”, um clássico latino que ultrapassa gerações e fronteiras.
Entre “Maxton Hall”, “The Girlfriend” e “De viaje con los Derbez”, o Prime constrói o retrato mais plural entre os serviços: cada título fala com um público diferente, e todos encontram espaço no mesmo ranking.
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Nos filmes, o domínio absoluto é do universo “Culpa Mía” — agora expandido em “Our Fault”, “Culpa Tuya” e “My Fault: London”. É o melodrama digital em sua forma mais pura, impulsionado por redes sociais e legiões de fãs adolescentes. A coexistência com títulos como “No Time to Die” e “Pig” prova que a Amazon pode ser, ao mesmo tempo, blockbuster e confissão íntima.
É a plataforma que melhor traduz a globalização emocional: histórias de todos os sotaques, sentimentos de um só tipo — intensos.
Paramount+: memória e permanência
O Paramount+ é, mais do que nunca, o templo da nostalgia.
“South Park” reina absoluto, e o retorno de “Sabrina, the Teenage Witch”, “Dexter” e “Charmed” confirma o apelo do que já foi sucesso. Enquanto isso, “Tulsa King” e “Lioness” mantêm viva a promessa de modernidade, equilibrando gerações em uma mesma prateleira digital.
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Nos filmes, “Vicious” e “Top Gun: Maverick” seguem lado a lado — adrenalina e heroísmo em estado puro.
“Mean Girls” e “World War Z” completam o ciclo afetivo da Paramount: rir, lembrar e escapar.
A plataforma entendeu que nostalgia não é apenas memória — é produto, linguagem e identidade.
Apple TV+: elegância e consistência
A Apple TV+ continua sendo o endereço da excelência silenciosa. “The Last Frontier” estreou com impacto, enquanto “Slow Horses”, “The Morning Show” e “Severance” mantêm o padrão de ouro da televisão premium. Cada série da Apple parece desenhada à mão — e o público responde à coerência de quem prefere qualidade à saturação.
Nos filmes, “The Lost Bus” assume o topo e confirma o apetite do público por narrativas originais e intimistas.
“Wolfs”, “The Family Plan” e “Greyhound” consolidam um catálogo de sofisticação sem pressa.
Enquanto outros serviços correm atrás do algoritmo, a Apple segue cultivando o tempo — e o prestígio.
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O retrato da semana
Comparada à primeira quinzena de outubro, esta semana mostra um espectador dividido entre o caos e o conforto. O true crime continua forte, o terror resiste, o melodrama adolescente cresce e a nostalgia se consolida como força comercial.
Cada plataforma reflete um desejo coletivo:
A Netflix explora o medo.
A HBO reflete a culpa.
A Disney oferece consolo.
A Amazon fala todas as línguas.
A Paramount preserva o passado.
E a Apple ainda aposta na eternidade.
O FlixPatrol não revela quantas pessoas estão assistindo — revela por que estamos assistindo.
E talvez isso seja mais interessante.
Top 10 Miscelana — Semana de 18 de outubro de 2025
Slow Horses (Apple TV+) — Gary Oldman transforma o caos em arte. A série continua impecável, inteligente e humana.
The Diplomat (Netflix) — poder, casamento e manipulação política num equilíbrio raro entre drama e ironia.
Monster: The Ed Gein Story (Netflix) — Ryan Murphy faz do horror um espelho da curiosidade coletiva.
Task (HBO / Max) — o thriller mais denso do ano; uma aula de tensão e moral.
Murdaugh: Death in the Family (Disney+) — Patricia Arquette dá vida e complexidade a uma tragédia real.
The Morning Show (Apple TV+) — poder e vulnerabilidade em combustão permanente; um drama sobre o caos moderno.
Caramelo (Netflix) — o pequeno filme que virou sensação global; doce, humano e inesperado.
Gen V (Prime Video) — sátira, anarquia e juventude: o universo The Boys no auge do sarcasmo.
Only Murders In the Building (Disney+) — Meryl Streep liderando um episódio de destaque para personagens femininas e avançando no mistério da temporada.
The Lost Bus (Apple TV+) — minimalista e emocional; a melhor prova de que o cinema autoral sobrevive no streaming.
Fontes: FlixPatrol (dados de 18 de outubro de 2025). Compilação e análise: Miscelana.


