Durante a pandemia da Covid-19, a obesidade foi apontada como uma das comorbidades que poderiam agravar a doença, principalmente, por sua associação com outras patologias, como diabetes e hipertensão.
Apesar de a reeducação alimentar e o exercício físico serem os primeiros tratamentos indicados para estes casos, segundo o médico Cesar Giovani Conte, cirurgião do aparelho digestivo, uma das saídas também pode ser a cirurgia bariátrica.
“A obesidade sempre foi tratada como algo estético, e a pandemia da Covid-19 mostrou a importância de se tratar a obesidade da maneira correta, como uma patologia. Quando pegamos os dados dos pacientes de Covid-19 que foram internados, entubados ou acabaram falecendo e de quantos eram obesos, percebemos essa questão”, afirma Conte.
Segundo o médico, a cirurgia não deve ser vista como uma opção estética, mas uma intervenção pela saúde do paciente. Além disso, o acompanhamento psicológico é essencial para o sucesso no pré e no pós-cirúrgico.
“A cirurgia de obesidade não deve ser confundida com procedimento estético. Cito que muitos de nossos pacientes necessitam de cirurgias reparadoras pelas sobras cutâneas oriundas da perda de peso", ressalta.
"A comunidade médica começou a ver na cirurgia de obesidade algo realmente efetivo e que muda o curso da vida de muitos pacientes, que antes seriam vitimados e que teriam a vida encurtada pelas doenças associadas à obesidade”, completa.
Últimas notícias
Cirurgia
Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, os procedimentos são feitos por técnicas cada vez menos invasivas – por videolaparoscopia, por robótica e até mesmo por via endoscópica atualmente (ainda em protocolo de estudo).
Para saber se a intervenção é indicada, o médico avalia, entre outros fatores, o índice de massa corporal (IMC), dividindo-se o peso do paciente pela sua altura elevada ao quadrado.
É o padrão utilizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que identifica o peso normal quando o resultado do cálculo do IMC está entre 18,5 e 24,9. Para ser considerado obeso, o IMC deve estar acima de 30.
“Classificamos os pacientes como obesos de grau 1, de 30 a 35, obeso de grau 2, de 35 a 40, e obeso de grau 3 ou obeso mórbido quando o IMC é de mais de 40”, pontua Conte.
“É importante dizer que a cirurgia de obesidade é indicada quando esses pacientes já tentaram, mesmo obesos mórbidos, outras formas de tratamento, seja com medicações, seja com dietas. Isso é muito importante que isso seja colocado: não existe o ‘prefiro operar à dieta’ ou ‘eu vou operar porque eu não gosto de tomar remédio’", frisa.
"O tratamento cirúrgico de obesidade não substitui o clínico e o medicamentoso”, completa.
De acordo com o cirurgião, muitos pacientes procuram a cirurgia sem terem sido submetidos previamente a outras tentativas de tratamento.
“Fazemos buscar inicialmente o endocrinologista, para tentar o tratamento medicamentoso, que pode ser suficiente para a resolução do problema obesidade”, frisa, ressaltando que normalmente se indicam dois anos de tentativas com outros tratamentos antes de partir para a cirurgia.
Outro ponto essencial é a avaliação psíquica. “Uma vez que o paciente tenha indicação do endocrinologista para o tratamento cirúrgico, em que não há outra maneira de tratamento, os pacientes devem passar por uma avaliação multidisciplinar, com psicologia, psiquiatria, nutricional e cardiológica, para risco cirúrgico", afirma.
"Não há nenhuma doença psíquica que seja contraindicação absoluta para a cirurgia bariátrica, mas, se o psicólogo ou o psiquiatra julgarem que o paciente precisa de algum tratamento prévio para depois ser submetido à operação, eles estão cobertos de razão, e isso será respeitado", ressalta.
"É muito importante falar que alguns pacientes são ansiosos e alguns pacientes têm quadros alimentares de fundo psíquico, e isso deve ser trabalhado”, completa.
Segundo o médico, o paciente não deve acreditar que a cirurgia vai curar algum problema psicológico. “De maneira alguma a cirurgia bariátrica vai curar alguma questão psíquica. Porém, desde que ela esteja muito bem controlada e tenha, sim, esse plano de acompanhamento pós-operatório, o paciente deve e pode ser operado”, frisa.
Embora o medo e o preconceito ainda sejam grandes, Conte acredita que o melhor remédio nesses casos seja um pré-operatório bem-feito.
“Operar, embora existisse no passado um estigma, um medo enorme do procedimento cirúrgico, pacientes bem estudados no pré-operatório do ponto de vista cardiopulmonar e com os devidos cuidados têm uma redução no índice de complicações de maneira significativa, fazendo com que essa cirurgia tenha taxas de mortalidade e de complicações muito pequenas”, pontua.
"Muitos desses pacientes têm uma ou mais doenças associadas à obesidade, como diabetes, colesterol e hipertensão. É uma ótima maneira de tratamento e até mesmo de cura dessas doenças”, acredita.
Estilo de vida
Apesar de a cirurgia auxiliar na perda de peso, a mudança no estilo de vida é imprescindível após o procedimento.
“O operar envolve mudança no estilo de vida. A parte fácil passa a ser a cirurgia, e a mudança no estilo de vida é a mais difícil. Eu sempre brinco que o paciente que tem que ser operado pode ser operado, desde que esteja ciente de que os hábitos que o trouxeram à obesidade devem ser abolidos. Ele deve criar hábitos novos, saudáveis, desde hábitos alimentares até exercícios físicos”.
Conte ainda ressalta que o acompanhamento médico e as vitaminas devem ser para o resto da vida.
“É importante que o paciente procure equipes experientes na cirurgia, hospitais bem estruturados, inclusive, com UTI e centro cirúrgico adequados. E no pós-operatório tenha o acompanhamento nutricional e psíquico", frisa.
"Lembrando que doenças psiquiátricas não são tratadas pela cirurgia, e, dessa forma, pacientes portadores de compulsão devem manter seu tratamento, porque podem manifestar compulsão no pós-operatório, quer por alimentos ou por outros hábitos”, completa.
Recomeço
A técnica em radiologia Vania Carvalho, 53 anos, fez a cirurgia bariátrica em 2013, quando pesava 105 quilos. “Então, eu já estava decidida a fazer. Eu tinha 105 quilos na época. O médico disse que eu poderia fazer porque eu tinha um problema no joelho”, explica.
Ela conta que foi tranquilo mudar o estilo de vida. “Não foi difícil mudar o meu estilo de vida porque eu já estava decidida. Eu aprendi a me alimentar com a nutricionista, por seis meses. Hoje não sinto muita vontade de tomar refrigerante, como pouca comida e já me encho e tem alimentos que me dão enjoo. Não consigo comer muito, como antes [da cirurgia]”, explica.
Durante o período de recuperação, Vania precisou se alimentar por líquidos por um tempo, até passar para os sólidos.
“Água de coco tomei durante seis meses. Copinho de água, copinho de comida líquida, depois fui para a [comida] pastosa. Tudo no liquidificador para ser triturado. Depois vai para o sólido, aumentando o volume sempre aos poucos”, relembra ela sobre o pós-operatório.



Felipa Araujo Coimbra e Edson d’Alcantara Rodrigues Coimbra, que comemoram 57 anos de casamento neste domingo


