Por Ana Cláudia Paixão
Quando Cassian Andor (Diego Luna) aparece no filme de 2016, Rogue One, logo perdemos a dúvida de que ele poderia ser um “novo Han Solo“.
Sem humor ou malícia da personagem icônica de Harrison Ford em Star Wars – A Nova Esperança, Cassian é o anti-herói trágico, sem tempo para piadas ou aventuras. Denso, complicado e imprevisível.
Sou muito fã de Rogue One cujo argumento base é dar aos heróis sem nome o crédito que mereciam.
Com isso, a frase de abertura do filme de 1977, que nos explica que “espiões rebeldes conseguiram roubar planos secretos para a arma suprema do Império, a ESTRELA DA MORTE”, finalmente endereça esse importante momento na guerra entre o Bem e o Mal.
Até porque, ninguém menciona quem foram esses heróis, nem mesmo quando a Princesa Leia, Luke Skywalker, Obi-Wan Kenobi e sim, Han Solo, levaram o crédito sozinhos pela vitória. Uma injustiça que precisou quase 40 anos para ser endereçada.
E, sem sutileza, descobrimos que os espiões eram renegados, pobres, estrangeiros e esquecidos que abriram mão de suas vidas para salvar a Galáxia.
Isso mesmo, a crítica social não foi sutil.
Em Rogue One é a história de Jyn Erso (Felicity Jones) que conduz a trama. Mas é Cassian Andor que nos deixa curiosos pois ele é genuinamente cínico com os dois lados e sua decisão de ajudar Jyn foi essencial para a conclusão da história, uma das mais tristes de todas em Star Wars. Ficamos nos perguntando como Cassian chegou até lá e Andor responde tudo.
Estrelada mais uma vez por um poderoso Diego Luna (que em 2016 ganhou o papel de outros nomes testados, como Aaron Paul, Edgar Ramirez e Sam Cafflin), a série também mantém o roteirista Tony Gilroy, o que garante continuidade e qualidade.
Para situar onde estamos, voltamos cinco anos antes dos eventos de Rogue One, no momento em que a Aliança Rebelde ainda está se organizando. Reencontramos Cassian da mesma forma que o conhecemos no filme, em busca de uma informação e cometendo um crime para apagar seus passos.
No entanto, paralelamente vamos finalmente tendo a explicação de quem é o jovem rebelde.
Ao disponibilizar os três primeiros episódios de Andor no mesmo dia, a Disney nos permite ter um contexto sobre a personalidade do herói e triplicar a emoção da história.
Vindo de um planeta considerado um lixo na galáxia, Kenari, Cassian tem ressentimento pela República pois foi a partir da queda de uma nave republicana que sua vida mudou.
Os nativos de Kenari são perseguidos e ele acaba separado de sua irmã, a quem busca incessantemente desde então. Cassian foi salvo por Maarva (Fiona Shaw, SEMPRE impactando qualquer cena em que apareça), que ocupa a posição de mentora e mãe para o menino.
Não vou dar mais detalhes e spoilers porque a série merece ser degustada.
O que importa é que ao mostrar que em regimes políticos – lembremos que o Império ainda não está no comando, é a República – há campos cinzentos e escolhas erradas de ambos os lados.
Ao ser exposto e passar a ser perseguido, Cassian é forçado a juntar esforços com Luthen Rael (Stellan Skarsgård), que passa ocupar a posição de mentor e figura paterna.
O antagonista direto é o esforçado (e fraco de personalidade) Syril Karn, interpretado por Kyle Soller. Syril é o oposto do rebelde em tudo e por conta de suas ambições (e erros), terá como principal missão capturá-lo, criando obstáculos a cada episódio.
Com ritmo, boa fotografia e linda trilha sonora, a principal qualidade de Andor está nas relações humanas (e com andróides), complexas e plausíveis. Não há humor ou leveza, mas é o que realmente nos faz identificar com a motivação dos personagens. Se continuar assim, será uma das melhores do ano.



Estener Ananias de Carvalho e Renata dos Santos Araújo de Carvalho
Anderson Varejão, Luiz Fruet e Aylton Tesch


