Por Flávia Viana
“O ator é protegido por um bom roteiro, um bom diretor e um bom elenco além de muitas vezes um bom editor. Meu desejo é e sempre foi trabalhar com as melhores equipes em cima das melhores histórias”, diz o ator.
Antonio Saboia nasceu em Paris. Ele diz que é meio brasileiro e meio francês.
Seu pai é maranhense e sua mãe francesa.
Dos 4 aos 9 anos morou no Brasil e depois voltou para França (Paris).
Aos 22 mudou-se para Londres para estudar teatro dos quais dois na Webber Douglas Academy of dramatic Art. Retornou ao Brasil onde iniciou sua carreira. Com mais de 13 filmes no seu currículo, o ator ganhou prêmio de melhor ator em “Orbitas da água” e ator coadjuvante em “Lamparina da Aurora”, ambos independentes.
Saboia estará no 78º Festival de Cinema em Veneza com o filme “Deserto Particular” do diretor Aly Murutiba. Ele é o protagonista do longa.
O filme fará sua première mundial na mostra “Venice Days”, que acontece em setembro.
Além disso, a série “Rotas do Ódio” que está na Globoplay, Antonio também faz o papel principal.
Entre os destaques de sua carreira está o filme Bacurau.
“A estreia de Bacurau em Cannes com 2500 pessoas vibrando com o filme no maior cinema que já estive. Foi muito especial sentir essa energia!”.
Confira a entrevista exclusiva para o B+ com o ator Antonio Saboia...
CE - Antonio você nasceu na França e viveu no Brasil e depois retornou para a Europa. Porque?
AS - Eu era criança então seguia o fluxo dos meus pais. Meu pai tinha encerrado o ciclo de trabalho dele no Brasil e precisava retomar o trabalho de correspondente do Estado de São Paulo em Paris.
Minha mãe era professora então tinha essa flexibilidade de trabalhar tanto na França quanto no Brasil. Foi estranho e demorado me adaptar a França.
CE - Quando retornou ao Brasil novamente foi por alguma oportunidade de trabalho?
AS - Voltei a morar no Brasil por causa de uma namorada brasileira que conheci no país quando eu morava em Londres. A vida dá seu jeito de trazer a gente de volta para os lugares onde devemos estar.
CE - Você é um brasileiro quase francês?
AS - Sou 50% maranhense 50% parisiense, ou como diria um amigo sou 100% dos dois. Mas devo confessar que a balança pesa mais para o lado brasileiro.
CE - Sua carreira começou com curtas? Como foi?
AS - Os curtas são um ótimo lugar pra começar, experimentar, explorar e mostrar seu trabalho. Comecei fazendo curtas com amigos, atuando, dirigindo e as vezes escrevendo e/ou produzindo.
CE - Como começou a sua trajetória com os filmes (longa metragem)?
AS - Com muita insistência e cara de pau herdada do meu pai. Sou do teatro, mas sempre fui fascinado por cinema, então fiquei quase que exclusivamente focado nisso depois de me formar em teatro. “O Lobo atrás da Porta” do amigo Fernando Coimbra foi um marco para mim.
Primeiro filme do qual me orgulho muito. Foi há 10 anos atrás exatamente…
CE - Você sempre quis ser ator?
AS - Nem sempre (risos). Quando criança queria ser chef de cozinha. Nada prendia minha atenção na escola até eu descobrir o teatro aos 15 anos de idade.
CE - Trabalhos na TV aberta? Gosta de fazer?
AS - Sim gosto muito, já fiz duas novelas com o Jayme Monjardim, mas nunca na íntegra. Espero fazer uma novela inteira em breve.
CE - Qual a diferença entre os trabalhos?
AS- A diferença principal são os tempos. O ritmo da novela é puxado. Às vezes você grava até 25 cenas por dia.
Tem que ter fôlego. É um exercício difícil para o ator, mas bem interessante. No cinema você grava uma média de 1 a 6 cenas por dia dependendo da cena.
Consequentemente você acaba tendo mais tempo para se aprofundar e explorar cada cena.
CE - Você acha que o cinema valoriza a carreira de um ator? (Dentro e/ou fora do país).
AS- Depende do filme, da história que você está contando e de como ela vai ser recebida dentro e fora do país.
CE - Qual a sua opinião sobre o cinema nacional?
AS- Nosso cinema é rico e potente, mas infelizmente não é valorizado e incentivado o suficiente. Isso se estende para cultura em geral, principalmente nesse momento.
O incêndio na cinemateca é exemplo claro do descaso total com a cultura do nosso país.
Poderia ter sido evitado se o governo tivesse tomado as devidas providências.
CE - Fala pra gente sobre Bacurau. Ele foi um fenômeno!
AS - Como diz o Kleber, “na época que lançou Bacurau era meio sci-fi, hoje é crônica”. Esse filme foi catártico para muita gente. Não à toa virou o fenômeno que virou.
CE - As Orbitas da Agua e Lamparina da Aurora? Suas participações foram premiadas. Conta pra gente...
AS- Os dois são filmes ultra independentes (produzi o Lamparina) do mesmo diretor, Frederico Machado.
Filmes que exploram lados obscuros do ser humano em busca de redenção. São filmes viscerais.
O processo do Fred permite ir fundo nas emoções porque ele dá muito espaço para o ator ser criador também. É uma troca intensa.
CE - Qual a sua expectativa de Deserto Particular?
AS - Tento não criar muita expectativa.
O processo todo foi muito especial e engrandecedor para mim. Fiz meu melhor e espero que o filme toque e agrade as pessoas.
CE - Pensa em sair do país novamente?
AS- Se aparecerem projetos bacanas, porque não? Sou “condenado” a ir e vir para sempre (risos).
CE - Trabalhos na TV?
AS- Ainda não posso adiantar.
CE - Novos projetos?
AS- Tenho um filme “doc-ficção” americano-brasileiro “WARDEN” de Marcus Alqueres em pós-produção.
O filme é conduzido como um estudo antropológico sobre a trajetória do que seria o primeiro super-herói. Um roteiro bem bacana e sem concessões.
CE - Um momento marcante na sua carreira..
AS- A estreia de Bacurau em Cannes. 2500 pessoas vibrando com o filme no maior cinema que já estive. Foi muito especial sentir essa energia!
CE - Uma expectativa...
AS- Continuar sempre contando histórias que me façam crescer como ator e ser humano e toquem as pessoas. Que Bolsonaro não seja eleito em 2022. Chega! Merecemos mais!
Um pouco de sua filmografia:
- “Bacurau” (Kleber Mendonça – direção. Indicação de melhor ator coadjuvante),
- “Os últimos dias de Gilda” (Gustavo Pizzi - direção),
- “Deserto Particular” (Aly Muritiba - direção),
- “O Lobo atrás da porta” (Fernando Coimbra - direção) e “Rotas do Ódio” (Susanna Lira – direção) e “Felizes para sempre” (Fernando Meirelles – direção) são alguns trabalhos realizados por Saboia.
- Outro destaque é o longa “As órbitas da água” de Frederico Machado, uma produção independente, gravada no Maranhão onde também é protagonista. O longa está no Festival Cine Jardim (de 9 a 28 de agosto – Pernambuco).
- Em pós-produção, o projeto “Warden” de Marcus Alqueres. O longa que é todo filmado em inglês, acompanha (de certa forma), a jornada do que seria o primeiro “super herói”.





