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Escritor e filósofo Benedito Nunes morre aos 81 anos

Escritor e filósofo Benedito Nunes morre aos 81 anos

FOLHA ONLINE

27/02/2011 - 19h22
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O escritor e filósofo paraense Benedito Nunes, 81, morreu na manhã deste domingo (27). Ele estava internado havia dez dias no Hospital Beneficência Portuguesa de Belém (PA). Às 20h de sábado (26), foi transferido ao CTI (Centro de Terapia Intensiva), após sofrer hemorragia no estômago, mas não resistiu.

O corpo está sendo velado na igreja Santo Alexandre. Amanhã, às 9h será realizada uma missa de homenagem ao escritor e logo após, às 11h, o corpo será cremado no cemitério Max Domini, localizado no município de Marituba (20km de Belém).

Vida e obra

Nascido em Belém em 21 de novembro de 1929, Benedito José Viana da Costa Nunes foi um dos fundadores da Faculdade de Filosofia do Pará, posteriormente incorporada à Faculdade Federal do Pará.

Por "A Clave do Poético", Nunes recebeu o prêmio Jabuti na categoria crítica literária, em 2010. No mesmo ano, ganhou o prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto da obra.

Em 1989, publicou "O Drama da Linguagem - Uma Leitura de Clarice Lispector", um ensaio literário sobre a escritora.

Depoimentos

Aldrin Figueiredo, escritor e amigo de Nunes, conta que teve o privilégio de ter escrito um texto em parceira com ele, e que fez o prefácio de uma de suas obras, "Luzes e Sombras do Iluminismo no Pará", escrito em 2004, com Milton Hatoum.

Nunes era crítico literário e de arte, e sua primeira análise foi sobre as obras da escritora Clarice Lispector. "Desse estudo foram criados dois livros, 'O Mundo de Clarice Lispector' e o 'Drama da Linguagem', onde se observa uma análise fenomenológica e existencialista", explica Aldrin.

Ele conta que as obras foram elogiadas por Clarice que se tornou amiga do autor.

Amarilis Tupiassu, professora de Letras da Universidade Federal do Pará e da Universidade da Amazônia, afirma que Nunes estava sempre de bom humor, e uma de suas últimas brincadeiras foi dizer que, quando saísse do hospital, a primeira coisa que iria fazer seria comer um pastel.

"Benê sempre foi brincalhão até nessa situação ele fez piada." Ela lembra que quando ele recebeu o título de Doutor Honoris Causa, homenagem feita aos professores eméritos, ela fez a saudação.

MEMÓRIA

Ana Ivanova nos ensinou que a capital mais próxima de Campo Grande é Assunção

A última estada de Ivanova no MS foi no Festivali, em agosto. Ministrou workshops de interpretação para cinema. Fez amizade com artistas e com gente do povo. Nadou nas águas do rio e ouviu a araponga, reconhecendo de longe o canto do seu 'pájaro campaña'

21/03/2025 14h00

A grande artista de Assunção no tapete vermelho do Festival Internacional de Cinema de San Sebastián, na Espanha

A grande artista de Assunção no tapete vermelho do Festival Internacional de Cinema de San Sebastián, na Espanha Foto: Reprodução

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O cineasta e produtor cultural Ricardo Pieretti Câmara relembra a presença contagiante, carismática e inspiradora de Ana Ivanova no meio cultural sul-mato-grossense; premiada no Festival de Gramado, em 2018, atriz paraguaia, que faleceu aos 51 anos em Assunção, na segunda-feira (17), em decorrência de um câncer, atuou, desde 1999, em dezenas de montagens teatrais, inclusive sob a direção de Gerald Thomas, produções televisivas e em 40 filmes de longa-metragem (Marcos Pierry)

Ana Ivanova (1973-2025) nos ensinou que a capital mais próxima de Campo Grande é Assunção. A estrela do teatro e cinema paraguaios não precisou mais do que um ano para aproximar a classe artística de Mato Grosso do Sul da cultura contemporânea paraguaia. Nesse pequeno espaço de tempo, Ivanova transitou em importantes círculos culturais das terras onde o Brasil foi Paraguai e, com a mesma desenvoltura que desfilou nos tapetes vermelhos de Gramado, Cannes e Berlim, com o filme “As Herdeiras”, de Marcelo Martinessi, de 2018, fez história em eventos como a Mostra Desver, da UFMS, em Campo Grande, o Bonito Cinesur em Bonito e o Festivali em Ivinhema.

Além dos compromissos com o cinema, a atriz fez uma memorável performance na Casa-Quintal Manoel de Barros, onde leu em espanhol poemas de nosso poeta maior, acompanhada do maestro Eduardo Martinelli e do grande pianista Júlio Figueiredo. Fazendo parceria com Ana, estava Lídia Baís, interpretada nesse recital chamado “Lídia Visita Manoel”, por Beatrice Sayd.

A atriz campo-grandense Beatrice Sayd foi quem apresentou Ana Ivanova ao Mato Grosso do Sul. As duas haviam trabalhado juntas em São Paulo com o icônico diretor de teatro Gerald Thomas. Ao ser convidada para estrelar “Lídia”, longa de ficção em produção sobre a nossa pintora surrealista (nota do editor: com direção do autor deste texto), e sabendo haver um importante papel para uma atriz paraguaia, Beatrice sugeriu o nome de Ivanova, que aceitou o trabalho imediatamente após ler o roteiro. Em uma viagem a Assunção em julho de 2023 para pesquisa de locações, a equipe de “Lídia” foi recebida pela atriz de “As Herdeiras” e desfrutou da hospitalidade de Ivanova e de sua grande popularidade no meio cultural assunceno.

A grande artista de Assunção no tapete vermelho do Festival Internacional de Cinema de San Sebastián, na EspanhaA atriz durante sessão do filme no Berlinale, em 2018 - Foto: Reprodução

A estada na capital guarani foi suficiente para que os laços de afeto e de trabalho fossem atados e a equipe voltou para Campo Grande com um punhado de locações, histórias e personalidades que enriqueceram o projeto e aproximaram os territórios. Em um pôr-do-sol em frente ao emblemático lago de Ypacaraí, na casa do produtor e grande amigo de Ivanova, Osvaldo Codas, tivemos uma forte definição da relação de seu país com o nosso estado. Para Codas, “o Mato Grosso do Sul é como um filho do Paraguai sequestrado. O sequestrador ficou com o filho, mas o pai e a mãe, que são o Paraguai, não trataram de manter viva nesse filho a sua imagem paterna e materna, e isso não diz respeito à geopolítica, mas à cultura e à arte”.

CAMPO GRANDE

De volta da casa desses pais, onde se toma tereré e se come chipa. Onde não se necessita pedir mandioca, porque essa já acompanha naturalmente a carne. Onde os cardápios oferecem sopa paraguaia e chipaguaçu e nossas raízes estão expostas como nos vendedores de yuyus (ervas medicinais) nas praças. De volta dessa casa-cidade, onde encontramos as origens de nosso dia-a-dia chamado identidade, a grande vontade era de nos aproximar de todo aquele bem cultural que nos alicerça.

A primeira oportunidade bateu logo na porta. O professor do curso de Audiovisual da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul Júlio Bezerra estava montando o elenco do Desver, Festival de Cinema Universitário.

O evento aconteceria em setembro daquele ano e se aproximar de profissionais do Paraguai fortaleceria sua importância na região, sobretudo em tempos de alvoroço com o novo caminho da América do Sul, a rodovia Bioceânica. Ana Ivanova foi um dos principais nomes do festival. Com seu carisma e sua competência, fez uma semana de oficina de atuação para audiovisual e conquistou professores e acadêmicos.

A grande artista de Assunção no tapete vermelho do Festival Internacional de Cinema de San Sebastián, na EspanhaAna Ivanova (à direita) com Ana Brun no longa “As Herdeiras” - Foto: Reprodução

Também durante o Desver foi exibido o filme “As Herdeiras” no Museu da Imagem e do Som. Ivanova novamente brilhou e, diante dos profissionais do audiovisual de Campo Grande, se integrou rapidamente no universo local e o debate pós-exibição quase adentrou a madrugada. Parte do filme se passa em uma casa de detenção no Paraguai. Diante dessa oportunidade, a também professora da UFMS, Daniela Siqueira, convidou Ana Ivanova, que no dia seguinte exibiu seu filme e fez seus comentários diante de uma plateia de detentas no Instituto Penal Feminino.

Durante essa temporada, Ivanova fez inúmeros amigos em nossa casa-cidade e o já citado recital na Casa-Quintal Manoel de Barros. Conheceu também por histórias outro ícone de nossas artes, a violeira Helena Meirelles. E com uma semelhança física incrível, apontada pelo cineasta Joel Pizzini, Ana aceitou na hora fazer Helena em um filme futuro. Esse sonho acompanhou a atriz até seus últimos momentos.

BONITO

Em novembro de 2023, Ivanova voltava para Mato Grosso do Sul. Dessa vez a cidade era Bonito, onde se realizava a primeira edição do Festival de Cinema Sul-americano, o Cinesur. O evento reunia expoentes do audiovisual de toda a América do Sul e a atriz era o grande nome representando o Paraguai no júri da principal mostra competitiva. Participou também de mesa de discussão e mostrou seu lado de artista engajada nas lutas da descentralização da cultura. Sua participação como público enriquecia todos os encontros e debates, mostrando seu lado socióloga e filósofa.

IVINHEMA

A última estada de Ivanova no MS foi no 18º. Festival de Cinema do Vale do Ivinhema, o Festivali, em agosto de 2024. Nesse momento, ela já era uma velha conhecida de todos os profissionais que participaram do evento. Ana ministrou workshops de interpretação para cinema nas cidades de Ivinhema, Angélica, Novo Horizonte do Sul e Nova Andradina. Fez amizade com artistas como Antônio Pitanga e muita gente do povo.

O último compromisso foi uma visita ao Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema, onde nadou nas águas do rio e ouviu a araponga, reconhecendo de longe o canto do seu ‘pájaro campaña’.

A grande artista de Assunção no tapete vermelho do Festival Internacional de Cinema de San Sebastián, na EspanhaA estrela paraguaia posa para fotos na Festival Internacional de Cinema de Berlim (Berlinale), ocasião em que esteve com o diretor Marcelo Martinessi - Foto: Reprodução

DOSTOIÉVSKI

Ana Ivanova era reconhecida como grande estrela em seu país, detentora de muitos prêmios como o Kikito de Ouro do Festival de Gramado (nota do editor: Ivanova dividiu a estatueta com Ana Brun e Margarita Irún; as três foram agraciadas pela performance em “As Herdeiras”). Apesar de todo o glamour que os tapetes vermelhos apresentam, Ana era simples. Filha de uma família da antiga aristocracia paraguaia, ela só se locomovia de bicicleta pelas ruas de Assunção. Seu nome foi uma homenagem à personagem de “Crime e Castigo” de Fiódor Dostoiévski, livro que seu pai e sua mãe liam quando se conheceram. 

A passagem de Ana Ivanova foi meteórica por nossas terras, mas deixou um grande legado, a possibilidade de encontro entre artistas sul-mato-grossenses e paraguaios. A comunhão de povos, separados pela guerra, mas que são filhos da mesma tradição guarani. A beleza da proximidade entre Campo Grande e Assunção.

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Cinema B+: Crítica do filme Branca de Neve: Entre o Clássico e a Reinvenção A Princesa do Futuro?

Depois de anos de polêmica e discussão, o novo longa chega aos cinemas lidando com o dilema de atualizar um clássico sem perder sua essência.

21/03/2025 13h30

Cinema B+: Crítica do filme Branca de Neve: Entre o Clássico e a Reinvenção  A Princesa do Futuro?

Cinema B+: Crítica do filme Branca de Neve: Entre o Clássico e a Reinvenção A Princesa do Futuro? Foto: Divulgação

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Como prometi na semana passada, aqui vai a minha impressão de Branca de Neve e os Sete Anões, filme que está em cartaz em todo país desde ontem, dia 20 de março.

Há quase 90 anos, Walt Disney lançou o primeiro longa-metragem de animação, um marco que deu início a uma revolução na indústria do cinema e na forma como os contos de fadas seriam contados. Branca de Neve e os Sete Anões se tornou um ícone, alimentando a fantasia de várias gerações.

Desde então, a Disney encantou o público com princesas como Cinderela e Aurora, criando o que eu chamo de "trinca de ouro". Mas, nas últimas décadas, os estúdios passaram a resgatar seus filmes e reformulá-los para refletir os valores de inclusão, empatia e ação. E, no caso de Branca de Neve, a transformação foi visível na versão de 2025, uma reinvenção que desafia e homenageia o clássico ao mesmo tempo.

Ao assistir ao live-action de Branca de Neve, fui com o coração apertado, temendo que o filme fosse ser uma bagunça e sem respeito com o original. O que vi, no entanto, foi algo mais inspirado no clássico do que uma simples cópia, e, para mim, essa foi sua principal vantagem.

Em um cenário onde a modernidade exige mais do que apenas nostalgia, um elenco inclusivo e uma Branca de Neve latina são bem-vindos. Afinal, se a figura de Malévola tirou o protagonismo de Aurora, qual seria o problema de trazer uma princesa com a cara do nosso tempo?

O filme de 2025 traz uma Branca de Neve completamente diferente. A história foi atualizada para refletir um mundo mais inclusivo, mas, para mim, a falha principal está na música. Em 1937, a trilha sonora de Branca de Neve e os Sete Anões foi a primeira a ser gravada e comercializada, marcando um marco na história do cinema.

Contudo, as mudanças nas canções no live-action de 2025 comprometem a experiência que os fãs tanto esperavam. Embora a nova versão traga músicas inéditas, como "Esperando por Um Desejo", o impacto das canções originais foi diluído, e as canções que definiram o clássico, como Heigh-Ho e Someday My Prince Will Come, não foram preservadas na totalidade.

Cinema B+: Crítica do filme Branca de Neve: Entre o Clássico e a Reinvenção  A Princesa do Futuro?Cinema B+: Crítica do filme Branca de Neve: Entre o Clássico e a Reinvenção – A Princesa do Futuro? - Divulgação

Algumas dessas canções fazem parte da memória coletiva, e sua ausência pesa. Apesar de a nova Branca de Neve ter uma voz incrível, mais potente e adaptada ao novo contexto, a melodia que acompanhava a história original é insubstituível.

De forma geral, o filme traz uma Branca de Neve mais empoderada, mais ativa e não à espera do destino. Ela é doce, empática, mas vai atrás de sua própria história, em uma narrativa que se distoa da passividade do filme de 1937.

Como ela mesma canta na nova canção, ela não será mais uma “garotinha em um poço solitário”. Mas será que esse novo espírito, com suas letras mais alinhadas ao feminismo, conseguiu se manter fiel ao que Branca de Neve representava na essência?  

Ao alinharmos as princesas com os valores de inclusão e empoderamento feminino, o filme tenta se adaptar aos tempos modernos. No final, o que vemos não é uma regravação do filme de 1937, mas uma nova história, com a princesa tomando as rédeas do seu destino.

E, sim, isso é uma evolução. O espírito de Branca de Neve sempre foi de transformação e adaptação, e isso é algo que a versão de 2025 resgata, mesmo que se distancie de seu público original. Talvez já fosse a hora mesmo...

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