No ano de 1908, chegava a primeira leva de imigrantes japoneses ao Brasil, dando início a uma incrível jornada de resiliência com valiosas contribuições que se estendem até os dias atuais. A bordo do navio Kasato Maru, os primeiros 793 imigrantes do Japão vieram em busca de novas oportunidades e uma nova vida.
Hoje, os seus descendentes formam uma comunidade de aproximadamente dois milhões de nipo-brasileiros, desempenhando um papel significativo tanto na economia quanto na cultura do nosso país.
Um dos estados onde esses imigrantes constituíram suas comunidades é Mato Grosso do Sul, que abriga atualmente a terceira maior colônia de japoneses no Brasil, ficando atrás apenas de São Paulo e do Paraná.
Para chegar a terras sul-mato-grossenses, esses desbravadores, que vinham em grande parte da província de Okinawa, embarcaram em uma brava jornada rumo ao oeste brasileiro.
Para homenagear a sua chegada e os 115 anos de imigração japonesa no País, a Associação Okinawa de Campo Grande promove, no Shopping Bosque dos Ipês, até 31 de agosto, a exposição “O Romance Noroesute Tetsudo e os Okinawanos de Campo Grande”, baseada em um romance de Tatsuhiro Oshiro, que foi o primeiro escritor de Okinawa a conquistar o Prêmio Akutagawa, uma premiação literária japonesa de grande prestígio.
Com uma série de imagens, textos e recursos audiovisuais, a exposição conta a trajetória dos imigrantes okinawanos que se estabeleceram na cidade de Campo Grande, vindos pela Ferrovia Noroeste do Brasil, expondo suas adversidades e conquistas, proporcionando ao público uma visão mais profunda não apenas sobre a história da comunidade japonesa local, mas também sobre a própria história da Capital.
“Esta exposição, originalmente criada e organizada pela Biblioteca de Okinawa, é fruto de um grande esforço para contar uma história tão rica e significativa. Hoje, graças a esse esforço, temos o privilégio de compartilhar essa história também aqui, em Campo Grande”, explica Marcel Arakaki Asato, presidente da Associação Okinawa na cidade.
“A exposição traça a trajetória dos primeiros imigrantes okinawanos no Brasil, com foco especial em nossa cidade. Ela revela a saga dos bravos imigrantes, suas dificuldades e seus triunfos, ajudando-nos a compreender melhor não apenas a história de nossa comunidade okinawana, mas também a história de Campo Grande em si”, afirma Asato.
“Serve como uma janela para a cultura okinawana, permitindo-nos uma oportunidade única de conhecer e apreciar nossas raízes e nosso patrimônio. É um lembrete poderoso da rica tapeçaria de histórias e culturas que moldam Campo Grande”, completa.
PROMESSA ENGANOSA
Na cerimônia de abertura de “O Romance Noroesute Tetsudo e os Okinawanos de Campo Grande”, realizada na tarde de sábado, em outra área do shopping, além da presença de uma comitiva da Biblioteca da Província de Okinawa, marcaram presença atrações musicais e outros artistas que vieram do Japão especialmente para o evento da Capital e de outras cidades que celebram a efeméride.
A exposição está montada no segundo piso do Bosque dos Ipês, em frente ao UCI Cinemas. O acesso é gratuito.
“Com a exposição, gostaríamos de divulgar um pouco da história dos primeiros imigrantes de Okinawa que se estabeleceram nesta nossa cidade de Campo Grande. A nossa cidade é a cidade mais okinawana do Brasil”, afirma Sayuri Higa, uma das organizadoras da mostra, que reitera o fato de a Capital ser também considerada a terceira maior comunidade japonesa do País.
“O fato é que a nossa cultura se misturou à de Okinawa”, afirma, destacando como exemplo maior o sobá, prato japonês (e okinawano) que, além de ser um dos mais típicos do cardápio local, é a “cara” de Campo Grande.
Sayuri considera “os relatos de como os futuros imigrantes eram arregimentados no Japão com uma promessa enganosa de fartura e prosperidade” um dos destaques da mostra.
“Sabemos que, na realidade, não foi isso que ocorreu”, afirma a filha de imigrantes. “Meus pais passaram por duras perdas e sofrimento. Acredito que é importante trazer um pouco dessa história”, finaliza.



Estener Ananias de Carvalho e Renata dos Santos Araújo de Carvalho
Anderson Varejão, Luiz Fruet e Aylton Tesch


