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MEMÓRIA

Fausto Matto Grosso alia lembranças pessoais e análise histórica

Fausto Matto Grosso cria uma preciosa lente de observação para a trajetória do PCB e da vida política do País a partir da atuação local da legenda

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A poesia e a política são demais para um só homem. A frase do jornalista Paulo Martins (Jardel Filho), no filme “Terra em Transe” (1968), um dos clássicos do cinema novo dirigido por Glauber Rocha, simboliza o ambiente de exasperação e distopia que contaminava o enredo do longa-metragem e a própria realidade daquele momento.

Com as crônicas de “Histórias que Ninguém Iria Contar – História da Vida Banal do PCB em Mato Grosso do Sul” (Fundação Astrojildo Pereira, 2021, 132 páginas), Fausto Matto Grosso dá mostras de não padecer do mesmo mal que dilacera a alma do personagem glauberiano.

Lançado na sexta-feira, no Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso Sul (IHGMS), o livro recria, de modo bastante particular, não somente a trajetória do Partido Comunista Brasileiro no Estado.

Ao aliar análise histórica e memória pessoal, o militante, que teve sua carreira docente na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) interrompida pela ditadura militar, revela todo um prisma inédito e fundamental da vida política e cultural do País a partir da mobilização partidária no Estado desde os tempos do Mato Grosso uno.

Desde o prefácio de Amarílio Ferreira Jr., que posiciona o Fausto engajado ainda no movimento estudantil, no Paraná, na mesma época de “Terra em Transe”, aos textos dos camaradas que integram o volume, as “Histórias” reunidas pelo autor consolidam um testemunho, muito mais que de luta política, de paixão pela vida e esperança no futuro.

Entre nomes importantes e bastidores de uma articulação ampla que, segundo Matto Grosso, garantiu a retomada da democracia, irrompem causos de sabor bem prosaico, que envolvem, por exemplo, a contratação do cantor Ivan Lins para fazer decolar uma campanha. Ou a providencial ajuda do ator Jece Valadão (1930-2006) para a emissão de uma nota fiscal fria para legalizar uma câmera de TV de ponta no patrimônio do Partidão, como o PCB é chamado por seus camaradas.

O livro marca uma dupla efeméride deste ano. Os 50 anos de Fausto Mato Grosso como integrante do partido e o centenário de fundação da legenda. 

“Não me considero um ex-comunista porque hoje não renego esse passado e me considero um pós-comunista”, define-se Matto Grosso, que, entre outros cargos na gestão pública, foi secretário estadual de Planejamento, na entrevista a seguir.

Fausto Matto Grosso - Perfil

Francisco Fausto Matto Grosso Pereira, ou simplesmente Fausto Matto Grosso, é engenheiro civil e professor aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. É formado pela Universidade Federal do Paraná e construiu sua história de militância no Partido Comunista Brasileiro, o PCB, nos anos 1970 e 1980, em Mato Grosso do Sul. 

Conte-me um pouco sobre a ideia de escrever essas “Histórias que Ninguém Iria Contar”. Quando e por que decidiu registrar no papel a história do Partido Comunista Brasileiro?

Na verdade, não pretendia escrever um livro, sentia a necessidade de contar algumas histórias. Se o projeto fosse o livro, talvez ele nem saísse. Escrever um livro é sempre um desafio muito pesado, e eu atingi uma situação de saborear o deixar tudo para amanhã. Até hoje não me arrependi de não ter feito as coisas na hora certa.

Fui escrevendo algumas crônicas sobre questões banais dos bastidores dos acontecimentos políticos dos quais eu participara como militante do PCB. Fui publicando essas crônicas no meu blog, onde mereceram sugestões de ajustes, feitas pelos antigos companheiros de partido. Alguns deles até incluíram suas próprias crônicas, como Carmelino Resende, Marisa Bittar, Mario César Ferreira e João José de Souza Leite, que enriqueceram a narrativa. Foi muito bom esse processo.

A partir de certo momento foi que surgiu a ideia de publicar essas crônicas em um livro. Consultei a Fundação Astrojildo Pereira, que prontamente incluiu a publicação dentro da programação de comemoração de 100 anos do PCB. Coincidentemente, neste ano, eu estou também de aniversário, completando 50 anos dentro desse mesmo partido, hoje com o nome de Cidadania.

 

Entre a História com agá maiúsculo e uma memória pessoal da legenda, o sr. ficou com a segunda opção ao escrever o livro. Como definiu isso?

Escrever a História é coisa para os historiadores, eu narrei bastidores e fatos menores, que ficariam esquecidos nos vãos da História se eu não os contasse; situações que vivi pessoalmente. Muitos amigos da minha geração política, por certo, devem ter interesse nessas lembranças.

Depois da obra pronta, veio uma indagação: “Por que eu escrevi este livro?”. Consegui achar a resposta em reminiscências sobre um autor italiano que, na juventude, muito me influenciou com as suas obras: Giovannino Guareschi [1908-1968]. Reli sua obra há uns 10 anos, continuava saborosa. O autor descreve a situação do interior da Itália no pós-guerra, quando a resistência antifascista desceu das montanhas para ocupar as cidades; criou os imortais personagens Dom Camilo, o pároco, e Peppone, o líder comunista local. Era a disputa entre os democratas cristãos e os comunistas. O bispo ocupou a casa paroquial, e o comunista ocupou a prefeitura, a partir de onde criavam várias cômicas escaramuças. As histórias eram muito engraçadas. Essa obra de Guareschi ganhou o mundo com seus imortais personagens. Muitas peças foram montadas, inclusive no Brasil, com o ator Otelo Zeloni [1921-1973], da “Família Trapo”, no papel de Dom Camilo. Modéstia à parte, tentei reproduzir a narrativa de Guareschi sobre a luta política.

 

Qual a passagem que considera mais marcante, polêmica ou curiosa dessas recordações?

Uma parte de importância política é a que explicita a relação do Partidão com os governadores Pedrossian e Wilson Martins; também, com o prefeito Lúdio Coelho. Outra narrativa importante abre o livro, “As Armas do Partidão”, que esclarece sobre essa polêmica questão. No aspecto pessoal, destaco a crônica “O Incrível Exército de Brancaleone”, que narra a aventura de cinco jovens que resolveram fazer treinamento para a guerrilha e foram humilhantemente derrotados pelas dificuldades – eu era um deles.

 
Qual o momento considera o mais perigoso na trajetória do partido em Mato Grosso do Sul?

Depois de 1964, sem dúvida, foi o ano de 1974, quando o governo Geisel resolveu encaminhar o processo de “abertura”. Para abrir, precisava aniquilar o Partidão, que imaginavam ser um perigo para a transição, com o potencial de transformar o MDB em um grande partido de esquerda. Por aqui passaram vários dirigentes nacionais a caminho do exílio. Tivemos também a prisão de três companheiros locais, que foram presos e torturados pelo mal famoso delegado Sérgio Fleury no Dops de São Paulo, nas mesmas celas por onde passava [o jornalista assassinado pelo regime militar] Vladimir Herzog [1937-1975].

 

Há uma grande derrota que lhe custa muita emoção lembrar?

Nesse ano de 1974, por motivo político, ocorreu também a minha demissão da universidade, à qual só retornei 13 anos depois, após anistia. Fui afastado do exercício de minha profissão de professor e tive que assumir o meu lado engenheiro, atuando em meu escritório de projeto estrutural. Em 10 anos, foram 200 projetos, principalmente prédios públicos e bancos.

 

E qual teria sido a grande vitória?

A grande vitória foi a redemocratização, fruto de uma prolongada luta conduzida pela frente democrática. A luta pelas eleições diretas foi um marco desse processo, depois veio a Anistia e a Constituinte.

 

O que é o comunismo hoje?

O comunismo foi uma doutrina e uma corrente política que lutava contra o capitalismo. Trazia também na sua concepção os generosos valores da igualdade e da solidariedade. A sua transformação em poder político na União Soviética levou à ditadura e ao terror. Com o avanço da sociedade, o sistema revelou-se anacrônico e foi derrotado pelo capitalismo. Esgotou-se e foi superado. Sobrou, entretanto, o que ele tinha de permanente, o seu sistema de valores que inclui a igualdade e a solidariedade, que deve ser realizado em democracia e em liberdade. Fui comunista; não me considero um ex-comunista porque hoje não renego esse passado e me considero um pós-comunista.

ALERTA PARA A EXAUSTÃO

A síndrome do dezembro perfeito

16/12/2025 11h30

Divulgação / Renata Carelli

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Dezembro traz dois fenômenos digitais que podem afetar o bem-estar: as retrospectivas de um ano supostamente perfeito e a pressão estética pelo chamado corpo de verão. O que deveria servir de inspiração tem se tornado gatilho de ansiedade para quem tenta conciliar o esporte com uma rotina de trabalho exaustiva.

O canal Atleta de Fim de Semana, criado pela produtora audiovisual Renata Carelli para servir de guia a uma prática mais saudável do esporte amador, defende que a matemática dessa comparação é injusta.

O erro comum do amador é comparar sua vida integral, que inclui boletos, trânsito, cansaço e limitações, com os melhores momentos editados de influenciadores ou atletas que vivem da imagem.

A vida é complexa demais para caber em um post. Quando nos comparamos com a retrospectiva de alguém, ignoramos o contexto, como a rede de apoio, o tempo livre e os recursos financeiros.

Essa busca por uma estética ou performance irreal no fim do ano gera uma sensação de fracasso, mesmo para quem teve um ano vitorioso dentro de suas possibilidades.

Para virar a chave em 2026, o Atleta de Fim de Semana sugere trocar a meta do corpo de verão pelo corpo funcional. A ideia é valorizar o corpo não pela aparência na praia, mas pela capacidade de viver experiências, aguentar a rotina e gerar disposição.

Confira três dicas que Renata considera essenciais para sobreviver ao fim de ano sem culpa.

NÃO DESISTIR

Não desistir é a verdadeira medalha: no mundo amador, a consistência vale mais que intensidade. Se você teve um ano difícil no trabalho e, mesmo assim, conseguiu treinar duas vezes na semana, isso é uma vitória.

O importante é celebrar o fato de não ter voltado ao sedentarismo, sem se comparar com quem treinou todos os dias.

FILTRE O FEED

Filtre o feed e a mente. Nesta época, o algoritmo privilegia corpos expostos e grandes feitos. Se isso gera ansiedade, a recomendação é prática: silencie perfis que despertam a sensação de insuficiência. O esporte deve ser sua válvula de escape para o stress, não mais uma fonte dele.

REDEFINA O SUCESSO

Redefina o sucesso para 2026: ao fazer as resoluções de Ano-Novo, evite metas baseadas apenas em estética, como perder peso a qualquer custo, ou em números de terceiros.

Trace metas de comportamento, como priorizar o sono ou se exercitar para ter energia para a família. Quando o objetivo é funcional, a pressão diminui e a longevidade no esporte aumenta.

SAÚDE NO VERÃO

Entenda os efeitos das ondas de calor em mulheres que estão na menopausa

Temperaturas elevadas intensificam ondas de calor e desconfortos da fase marcada pela queda dos níveis hormonais e alterações no organismo da mulher; ginecologista orienta como amenizar os efeitos para enfrentar o verão com mais conforto

16/12/2025 09h00

Temperaturas elevadas intensificam ondas de calor e desconfortos comuns durante essa fase da vida da mulher

Temperaturas elevadas intensificam ondas de calor e desconfortos comuns durante essa fase da vida da mulher Foto: Divulgação/Freepik

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A menopausa é um processo natural da vida feminina que marca o fim do período reprodutivo, geralmente entre os 45 anos e os 50 anos. A queda dos níveis hormonais, especialmente de estrogênio, provoca uma série de alterações físicas e emocionais, como ondas de calor, insônia, ressecamento da pele, secura vaginal, depressão, variações de humor, ganho de peso, diminuição da libido e sensação de fraqueza.

Com a chegada do verão e o aumento das temperaturas, muitos desses sintomas tendem a se intensificar. Isso ocorre porque o calor externo potencializa os mecanismos internos de termorregulação, tornando as ondas de calor mais frequentes, intensas e prolongadas.

Segundo a ginecologista Loreta Canivilo, essa combinação pode prejudicar o bem-estar e a qualidade de vida de mulheres que já convivem com os efeitos da menopausa.

“A elevação da temperatura no verão atua diretamente sobre o centro regulador de calor no cérebro, que já está mais sensível durante a menopausa. Por isso, os episódios de fogachos podem se tornar mais desconfortáveis”, explica Loreta Canivilo. Os fogachos são ondas de calor súbitas e intensas no rosto, no pescoço e no peito.

ALIVIANDO OS SINTOMAS

Apesar do desconforto, algumas atitudes simples podem reduzir os impactos da menopausa durante os dias mais quentes.

> Utilizar roupas leves e de tecidos naturais;
Hidratar-se constantemente;
Praticar atividades físicas regulares;
> Priorizar alimentos naturais e ricos em nutrientes;
> Reduzir o consumo de cafeína, bebidas alcoólicas e comidas muito picantes.

METABOLISMO

De acordo com Loreta Canivilo, essas medidas ajudam a estabilizar a temperatura corporal, a melhorar o humor e a favorecer o equilíbrio metabólico.

“Pequenas mudanças na rotina geram grandes resultados. A alimentação adequada e a hidratação, por exemplo, têm impacto direto na redução das ondas de calor e da irritabilidade”, reforça a médica.

TRATAMENTOS E REPOSIÇÃO

Em casos nos quais os sintomas são mais intensos, a reposição hormonal pode ser uma alternativa eficaz. O tratamento, porém, deve ser sempre conduzido com acompanhamento médico criterioso.

Os principais hormônios utilizados são estrogênio e progesterona, mas a testosterona também pode ser indicada em situações específicas, assim como versões modernas da terapia, incluindo o uso de gestrinona.

CADA UMA É UMA

“Cada mulher vive a menopausa de maneira única e nem todas as mulheres podem fazer reposição hormonal. Por isso, antes de iniciar qualquer reposição é indispensável realizar uma avaliação completa, levando em conta histórico médico, exames atualizados e necessidades individuais”, orienta a médica Loreta Canivilo.

A médica reforça que, quando bem indicada e acompanhada, a reposição hormonal reduz significativamente os desconfortos, melhora o sono, aumenta a libido e contribui para o bem-estar geral da paciente.

“Menopower”

(Rita Lee/Mathilda Kovak)

Vestida para matar em pleno climatério
A velha senhora só vai ficar mocinha no cemitério
Chega de derramamento de sangue
Cinquentona adolescente
Quem disse que útero é mangue
Progesterona urgente

Menopower pra quem foge às regras
Menomale, quando roça e esfrega
Menopower pra quem nunca se entrega
Melancólicas, vocês são piegas

Haja fogacho pra queimar essa bruxa em idade média
Em mulher não se pode confiar com menos
de mil anos de enciclopédia
O “chico” é tão incoerente
Ah, me deixa tiririca ao chegar
O “chico” quando vem é absorvente
E quando falta só rezando pra baixar

Menopower!
Pra quem foge às regras
Menomale quando roça e ah, ah, ah, ah
Menopower!
Pra quem nunca se entrega
Melancólicas, você são piegas

Tampax, tabelinha, ora pílulas, ora DIU
Diafragma, camisinha, vão pra mãe que não pariu
Chega do creme de aveia da véia perereca da vizinha
Chega do bom caldo e da “sustância” da galinha

Yeah, yeah yeah, yeah
Yeah, yeah, yeah

Menopower!
Pra quem foge às regras
Menomale, quando roça e esfrega
Menopower!
Pra quem nunca se entrega
Melancólicas, você são piegas.

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