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DIA DAS BRUXAS

Halloween: como comemorar o Dia das Bruxas no Brasil

A comemoração tradicionalmente festejada nos Estados Unidos, vem sido aderida pelo Brasil

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Halloween ou Dia das bruxas, é a comemoração mundialmente conhecida do dia 31 de outubro. 

Em uma mistura de terror e brincadeira, a festividade tem como seu público alvo crianças e adolescentes que se fantasiam de personagens assustadores para pedir doces ou travessuras. 

Sendo tradicionalmente comemorada em países como os Estados Unidos e Canadá.

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O que é o halloween?

A palavra se origina da expressão inglesa “hallow evening”, o termo Hallow significa “santo”, enquanto eve quer dizer “véspera”. 

Isso acontece porque dia 31 é a véspera do Dia de todos os Santos, celebrado em 1º de novembro.

A comemoração leva a população para as ruas, todos fantasiados de personagens aterrorizantes, como Bruxas, Vampiros, Zumbis, personagens de filmes de terror e muito mais. 

O intuito é pedir doces ou travessuras batendo de porta em porta, além de se divertir com as produções inusitadas e ousadas realizadas nessa época do ano. 

Diferente do que muitos acreditam, a data comemorativa não foi criada nos Estados Unidos e sim na Europa. 

Que dia se comemora o dia das Bruxas no Brasil?

Halloween ou Dia das Bruxas é comemorado no dia 31 de outubro no Brasil, mas a festividade que se espalhou por todo o mundo foi aderida recentemente pelo País.

A comemoração, levada muito a sério por norte-americanos, foi apresentada para a população brasileira através de filmes e séries da indústria cinematográfica, além de escolas de línguas que introduzem a festividade como forma de interação com a cultura estrangeira. 

No entanto, existe uma certa resistência quanto a adesão da comemoração no País. Isto porque algumas pessoas justificam que o Brasil tem o seu folclore e ignorá-lo para celebrar um evento estrangeiro seria desrespeitoso com a nossa própria cultura e valores. 

Foi pensando nessa divergência de opiniões que a lei nº 2.762/2003 foi sancionada, oficializando o dia 31 de outubro como o Dia do Saci, personagem do folclore brasileiro retratado por um menino travesso que vive na mata.

Personagem do Dia das Bruxas: conheça algumas lendas

Bruxa também é personagem do HalloweenBruxa também é personagem do Halloween (Foto: Pixabay)

A Bruxa

Ao longo fa história, a bruxa é retratada como uma mulher antiquada, em alguns países essa figura é descrita como uma mulher com nariz grande, encarquilhada, com uma risada terrivelmente assustadora, manipuladora e má.

No dicionário português, bruxa é um substantivo feminino, e se refere a uma pessoa que pratica bruxaria, feitiçaria ou prática de magia que pretende alcançar, por meios ocultos, efeitos sobrenaturais ou extraordinários sem explicação aparente ou razões determinadas pelas leis naturais.

Em 1600, mulheres que não queriam se casar, que tinha conhecimento sobre plantas, eram parteiras ou tinham marcas de nascença, eram acusadas de bruxaria e como punição eram queimadas vivas.

O julgamento mais famoso retratado na história mundial foi o de Salem, no Estado americano de Massachusetts, no século XVII, a onde 20 pessoas foram mortas. 

No entanto, pesquisadores apontam que o maior número de execuções de "bruxas" aconteceu na atual Alemanha, estima-se que 25 mil pessoas perderam suas vidas. 

Vampiro

Conforme a crendice, vampiros são mortos-vivos que se alimentam de sangueVampiros são mortos-vivos que se alimentam de sangue

Os vampiros sugiram no início do século XVIII na fronteira da Áustria com a Hungria. Conforme os primeiros relatos registrados, um vampiro é uma pessoa morta, que volta a vida e se alimenta de sangue humano. 

Fontes afirmam que a palavra "vampiro" foi escrita pela primeira vez em 1725, por um médico do exército do Sacro Império Romano-Germânico.

Segundo as histórias contadas, vampiros queimavam quando tinham contato com a luz do sol, desta forma só saiam a noite, durante o dia eles repousavam em um caixão. A única forma possível de matar um, seria com uma estaca de madeira em seu coração. 

Além disso, a criatura teria força descomunal, e agilidade, podendo viver por milhares de anos. 

Com o passar dos anos a história de tais seres começaram a ser retardas em livros, filmes e séries, uma das histórias mais famosas é a do Lord Drácula. 

MúmiaMúmia (Foto: Pixabay)

A múmia 

Quando falamos sobre múmia, logo pensamos em um morto-vivo de milhares anos, enrolado em faixas brancas. A partir disso, surgiu a lenda da Maldição do Faraó. 

Segundo manuscritos, a crença é de que qualquer pessoa que viole a múmia de um faraó do Antigo Egito cairá em uma maldição, pela qual a vítima morrerá em breve. 

A lenda contemporânea surgiu no início do século XX. Ninguém sabe ao certo quem é o responsável por sua elaboração e propagação.

A maldição associada com a descoberta da tumba do faraó Tutancâmon da XVIII Dinastia, é a mais famosa na cultura ocidental. 

Alguns membros da equipe de arqueólogos que desenterraram a múmia do faraó Tutancâmon morreram de causas sobrenaturais na sequência de uma maldição do governante falecido. 

Muitos autores negam que houvesse escrito uma maldição, mas outros dizem que Howard Carter encontrou na antecâmara um óstraco de argila com uma inscrição dizendo: "A morte vai atacar com seu tridente aqueles que perturbarem o repouso do faraó.

Quais são os personagens nacionais

No Brasil existem personagens que compõe o Folclore, criatura de regiões de todo o país com poderes especiais, características peculiares e algumas vezes assustadoras. 

Alguns carregam a fama de serem maus, outros são vistos como protetores. Dentre eles estão; 

  • Saci-Pererê, 
  • Cuca, 
  • Curupira, 
  • Lobisomem, 
  • Mula sem cabeça, 
  • Boto, 
  • Negrinho Pastoreiro, 
  • Iara,
  • Boitatá.

Personagens do folclore brasileiro também fazem parte do Halloween nacionalPersonagens do folclore brasileiro também fazem parte do Halloween nacional (Divulgação)

Origem

O evento surgiu através de uma celebração que ocorria na Irlanda, realizada pelo povo Celta. 

O Festival Samahain era realizado no último dia do verão. Com duração de três dias, o evento cultuava o Rei dos Mortos e as abundantes colheitas do ano. 

Registros apontam que as primeiras comemorações teriam ocorrido há 2,5 mil anos, onde acreditava-se que, no último dia do verão, os mortos e espíritos malignos despertavam para atormentar os vivos. 

Em uma tentativa frustrada de cristianizar o evento pagão, Gregório 3º alterou a data de todos os Santos, comemorada em 13 de maio para 1º de novembro, promovendo a união das datas. 

Devido ao período da Grande fome na Irlanda, em 1845, diversos habitantes do país tiveram de imigrar para os Estados Unidos. Algum tempo depois, em 1870 já se tinha registros da festividade na América.

O que é a brincadeira de Doces ou Travessuras?

A prática de gritar “trick or treats”, na tradução brasileira “doces ou travessuras”, na porta das casas, começou na Grã-Bretanha durante a Idade Média, onde crianças e pobres vestidos de acordo com as tradições do evento na época, batiam de porta em porta se oferecendo para cantar músicas ou realizar orações aos mortos em troca de comida ou dinheiro. 

Com a modernização do evento, ao passar do tempo, músicas e orações não são mais oferecidas. 

Nos dias, as crianças fantasiadas saem com seus sacos e cestas vazias batendo de porta em porta em busca de guloseimas, em caso de o morador da casa negar ou não ter doces para as mesmas, essas poderão fazer uma pequena travessura com o morador. 

A pegadinha mais comum praticada pelos jovens é jogar papel higiênico em árvores da residência.

Brincadeira de doces ou travessuras é mais comum no exteriorBrincadeira de doces ou travessuras é mais comum no exterior (Divulgação)

Símbolos do dia das Bruxas?

O primeiro pensamento que nos vem à cabeça quando pensamos em Halloween ou Dia das Bruxas automaticamente são: Bruxas, abóboras iluminadas, espantalhos, zumbis, caveiras e monstros assustadores. 

A famosa abóbora esculpida com um rosto não muito amigável é um tradicional e importante símbolo do evento. A luminária é uma adaptação da lenda Jack O` Lantern, um homem mesquinho que quando morreu não pode ir para o céu e nem para o inferno, tendo que ficar perambulando pela terra segurando um nabo com uma brasa dentro para iluminar seu caminho.

O nabo esculpido com um rosto se tornou um símbolo de proteção contra almas como a de Jack.

Quando a tradição do evento chegou nos Estados Unidos, o alimento mais abundante era a abóbora motivo da substituição.

Os mortos vivos, mais conhecidos zumbis, são os seres que voltam a terra em busca de vingança. 

As bruxas ocupam o lugar do misticismo e da magia. Sendo um importante produto da agricultura norte-americana, o milho foi incluído na festividade e espantalhos usados para dispersar os pássaros das plantações eram usados como componentes decorativos. 

Lendas urbanas criadas para assustar crianças relata que, ao anoitecer, os bonecos ganham vida própria.

Dicas para o Halloween

Filmes de Terror 

Produções cinematográficas de terror ganham visibilidade nessa época do ano. É pensando nos sustos que você pode passar o dia curtindo um filminho.

Preparamos uma lista especial para os nossos leitores, com produções recentes. 

  • Alive: é uma produção sul-coreana que retrata um surto não esperado de zumbis.
  • Bulbbul: produção indiana aclamada pela crítica, o filme conta a história de um homem que retorna para casa e se depara com assassinatos misteriosos em sua aldeia.
  • A Babá: Rainha da Morte 2: o filme norte-americano categorizado pelo gênero comédia de terror, conta a hístoria de uma babá nada convencional e seus amigos.
  • Quatro Histórias de Fantasmas: o filme contém quatro segmentos, apresentando histórias de terror antológico.
  • Vampiros contra o Bronx: é uma comédia de terror, que aborda um grupo de adolescentes que tentam proteger sua vizinhança de vampiros.
  • O Halloween do Hubie: comédia americana de terror, conta a história de um morador de Salém que ama o Halloween e precisa salvar a cidade de um sequestrador no da festividade.
  • Abracadabra 2: A comédia live-action Abracadabra 2 é uma continuação assombrosa do clássico cult de 1993. O enredo se passa na época do Halloween.
  • A maldição de Brfge Hollow: Um pai e a filha adolescente são obrigados a se unir para salvar a cidade do caos quando um espírito antigo e travesso faz as decorações de Halloween ganharem vida.

Maquiagens de Dia das Bruxas

Próximo a data comemorativa, todos buscam inspirações de como entrar na brincadeira. E as maquiagens artísticas tomam conta das redes sociais. 

A maquiadora sul-mato grossense Maria Clara, atualmente moradora em Marietta, na Geórgia, explicou: “Minhas inspirações vêm de filmes e vídeos que vejo, acho incrível podermos nos transformar no que quisermos ser”, pontuou.

Em seu Instagram, Maria Clara divulga inspirações realizadas por ela.

Maria Clara faz maquiagens temáticasMaria Clara faz maquiagens temáticas (Foto: Reprodução)

Atividades para as crianças no Dia das Bruxas

Pedir doces é legal, mas com o passar dos anos, brincadeiras foram criadas para deixar essa época do ano ainda mais divertida como:

Contando histórias: A brincadeira é realizada em um círculo com todos os participantes, uma primeira pessoa escolhe o tema para criar uma história assustadora, cada participante deve contribuir com uma parte, até que todos tenham falado. 

O último da roda é quem encerrará a história, quanto mais personagens e coisas estranhas, melhor a brincadeira se torna. 

Frankenstein: Dê as crianças revistas, cola, cartolina e tesoura. O objetivo é montar um frankenstein com recortes de diferentes pessoas, o dono da melhor colagem ganha um doce.

Verruga de Bruxa: Em um papel pardo desenhe uma bruxa com a altura das crianças que estiverem participando da brincadeira, em seguida, dê goma de mascar para as crianças. A criança que conseguir colar o chiclete no nariz da bruxa recebe um prêmio. 

Conclusão

O Halloween ou Dia das Bruxas é um evento de história, descontração e união. As alterações na comemoração ao longo do tempo é o resultado da imigração da cultura por diversos países. 

Nos Estados Unidos o dia é considerado feriado nacional e gera forte impulsionamento na economia do país, ultrapassando a páscoa em 2019. 

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ENTREVISTA COM BIANCA

"A fauna pantaneira é a base musical das nove composições de 'Pantanal Jam'"

Cantora Bianca Bacha, da Urbem, fala como a paisagem natural de Miranda afetou o processo de criação e gravação do segundo álbum da banda, sobre a diferença entre o canto com letra e as vocalizações que são a sua marca e anuncia projetos nos EUA e Espanha

15/12/2025 11h00

A cantora Bianca Bacha se prepara para mais uma gravação na Fazenda Caiman, em Miranda, em junho deste ano

A cantora Bianca Bacha se prepara para mais uma gravação na Fazenda Caiman, em Miranda, em junho deste ano Divulgação / Alexis Prappas

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ENTREVISTA COM BIANCA

Recuperando para o leitor: como se deu a oportunidade do encontro e da parceria com o Ryan para o projeto do álbum “Pantanal Jam”?

Conhecemos Ryan Keberle no Campo Grande Jazz Festival [em março de 2024] e com ele tivemos uma troca musical instantânea. Tocamos juntos em um show no Sesc [Teatro Prosa] em setembro de 2024 e, a partir de lá, tivemos a certeza de que ainda faríamos muita música juntos.

No Pantanal, onde Ryan esteve pela primeira vez durante as gravações, ficou nítido que ele conseguiu transpassar para o repertório o encantamento que ele estava vivendo em meio a toda aquela natureza.

É o segundo disco, nove anos depois de “Living Room”. O que “Pantanal Jam” representa para a Urbem?

Este projeto é o nosso território sonoro: onde a música que criamos se entrelaça à natureza que nos guia em forma de jam. Na música, uma jam significa um encontro musical sem aviso prévio, as coisas vão acontecer ali na hora, portanto, o inesperado é bem-vindo e, com ele, você improvisa.

Qual seria o conceito geral do álbum?

O conceito do álbum nasce da escuta profunda da fauna pantaneira. Os cantos dos pássaros, o esturro da onça e os sons das águas e dos ventos não são efeitos nem pano de fundo: são a base musical das nove composições. A natureza atua como um músico a mais na banda de jazz, dialogando conosco em frases de pergunta e resposta.

Sandro Moreno registrou esses sons in loco, mergulhando no Pantanal para captá-los com precisão. Depois, analisou esse vasto material para identificar melodias, ritmos e motivos que se tornariam a essência das composições.

E, para fechar o ciclo, o álbum também foi gravado no coração do Pantanal. Com geradores a gasolina e um estúdio móvel, nós, a Urbem e o trombonista Ryan Keberle, levamos a música para o ambiente que a inspirou. E ali criamos, novamente in loco, em plena natureza selvagem.

Que tipo de referências buscaram para os arranjos, as sonoridades e as texturas?

Toda a referência e textura do álbum “Pantanal Jam” nascem dos próprios sons do Pantanal. A imersão no território e a escuta atenta transformaram cantos de pássaros, esturros, movimentos da água e vozes da mata em matéria-prima musical.

Cada faixa traduz essa convivência direta com a fauna e seus ritmos naturais, convertendo sons de bichos em música. Viva, orgânica e profundamente enraizada na paisagem pantaneira.

Isso está bastante perceptível. Os sons e toda a atmosfera do Pantanal atravessam o mood e talvez a própria concepção dos temas. Pode comentar um pouco mais sobre essa presença de elementos da natureza – e dessa natureza tão singular de MS – na criação de vocês?

A fauna, a luz, o silêncio amplo, os ventos, os cantos e até os vazios típicos da paisagem pantaneira influenciam diretamente a forma como criamos. É como se o ambiente nos orientasse musicalmente: às vezes guiando uma melodia, às vezes sugerindo um pulso, às vezes impondo uma pausa.

Esse encontro com a natureza não é decorativo, é estrutural. Ela atravessa tudo, o gesto musical, o espírito do disco e a maneira como a banda se relaciona com o som.

No “Pantanal Jam”, a paisagem não é cenário: é presença, é voz, é parceria criativa. É música.

A cantora Bianca Bacha se prepara para mais uma gravação na Fazenda Caiman, em Miranda, em junho deste anoFoto: Divulgação / Alexis Prappas

Onde exatamente estiveram e gravaram? E quando foi?

As gravações foram feitas na Fazenda Caiman, em junho deste ano, num cenário que não poderia ser mais inspirador. Foram escolhidas pela produtora três locações diferentes, e para cada uma delas, três músicas.

A cantora Bianca Bacha se prepara para mais uma gravação na Fazenda Caiman, em Miranda, em junho deste anoFoto: Divulgação / Alexis Prappas

Com uma equipe ultraprofissional que trouxe segurança e leveza para uma gravação ao vivo numa condição completamente inusitada.

E quanto ao repertório? Como chegaram às nove canções do disco?

Entre as composições, temos duas músicas do Paulo Calasans [“Swingue Verdejante” e “Suspiro da Terra”], um dos maiores produtores, arranjadores e instrumentistas do País, além de duas canções do Ryan Keberle junto com Sandro Moreno [“Paisagem Invertida” e “Entre Folhas”] e cinco composições nossas [“Espiral”, “Pluma”, “Voo Curvo”, “Barro” e “Canção do Ninho”].

Penso que o Pantanal é experimentado de um jeito bem particular por cada pessoa. Como é para você? Como aquele ambiente lhe toca e eventualmente interfere no seu jeito de cantar?

Tudo ali era extremamente inspirador. Dormir e acordar naquele lugar por alguns dias já me fazia até respirar de jeito diferente, com menos pressão e mais imersão.

Isso com certeza influenciou no jeito de cantar. Porém, o mais impressionante era saber que estava gravando um disco com toda aquela fauna ao redor, um jacaré no lago ao lado e uma onça a alguns quilômetros.

Embora domine há duas décadas o canto com letra e muitas vezes cante dessa forma em apresentações ao vivo, na Urbem, você investe sempre nos vocalizes e scats.

Todas as músicas do álbum “Pantanal Jam” usam a voz como instrumento, ou seja, não há letras nas músicas. Além de ser uma característica jazzística, esse estilo de canto se aproxima mais do cantar dos pássaros, a busca por seus fonemas e emissões.

Cada música exige uma altura e um escolher apropriado de sílabas que encaixem com a afinação e a expressão.

Adoro o canto com letras. Ali você tem palavras, interpreta, coloca ênfases. É até uma emissão de voz diferente. Só que comecei a me encantar com o mundo do jazz e toda essa coisa do canto que não usa palavras, o vocalize. E comecei a ouvir cantoras que cantam assim.

Tatiana Parra [cantora, compositora e professora paulistana] canta assim, nossa, de um jeito maravilhoso. A [portuguesa] Sara Serpa também. Tem também as divas mais antigas que faziam mais questão de improviso, o scat singing.

O canto sem palavra é muito desafiador porque ele é mais cru, mostra mais imperfeições de respiração, de emissão, de escolha de sílabas. E é muito improvisado. Porque a cada dia você pode usar uma sílaba diferente, pode caracterizar de uma outra forma.

Num dia vou fazer “u”, no outro dia posso fazer “a”, no outro posso fazer “e”. E você tem que descobrir ali, numa forma você com o seu corpo. E além de ter o desafio de você demonstrar o interpretar com emoção sem ter palavras.

Então é muito jazz [risos]. E acho muito bonito. Sempre vai ser um desafio. Sou com o meu corpo, com as palavras que eu escolho, que nem sempre são pensadas.

Claro que tem uma questão técnica de que o “i” você vai mais para um agudo, no “u” também; nos graves, você vai para outras escolhas, as consoantes também interferem. Gosto muito de passear pelas duas áreas. Tanto a área da interpretação com letra quanto a área dos vocalizes e texturas.

E Nova York? Pode contar um pouco sobre a recente temporada de vocês por lá?

O “Pantanal Jam” foi lançado em novembro deste ano com um show memorável em Nova York, durante a feira internacional de turismo Visit Brazil Gallery [na Detour Gallery], e a recepção foi extraordinária.

Pessoas do mundo inteiro, agentes de turismo, diretores da National Geographic, fotógrafos de natureza e profissionais de diversas áreas assistiram ao show com atenção absoluta.

Desde a primeira música, compreenderam nossa proposta e permaneceram maravilhados até o fim. Foi um momento histórico para Mato Grosso do Sul e para a arte sul-mato-grossense.

Esse resultado só foi possível graças ao apoio total da Fundtur e do seu diretor-presidente, Bruno Wendling, que acreditou no projeto desde o início e se comprometeu a nos apoiar tanto nas etapas de captação no Pantanal quanto no lançamento em Nova York. Além disso, segue impulsionando a campanha contínua de apresentar o “Pantanal Jam” ao mundo.

E faz sentido: ouvir o Pantanal desperta o desejo de visitá-lo, conhecê-lo e preservá-lo. O projeto reúne arte, natureza, conservação, turismo e toda a beleza única do nosso bioma, uma combinação que emociona e conecta o público global ao coração do Pantanal.

Além do álbum que já está lançado em todas as plataformas, temos uma série de vídeos das nove músicas e um minidocumentário.

Quando teremos shows da Urbem? Quais os próximos passos e projetos da banda?

A Urbem se sente profundamente entusiasmada em seguir os passos de Manoel de Barros, da família Espíndola, de Guilherme Rondon, Paulo Simões, Grupo Acaba, Geraldo Roca e tantos artistas que sempre beberam dessa fonte primária que é o Pantanal, transformando-a em arte para o mundo.

Recentemente, pesquisadores de Harvard e professores da UFMS colheram sons do Pantanal [pelo projeto Pantanal Sounds, que conta, entre outros, com nomes como o do violoncelista e professor William Teixeira], e esse movimento nos inspirou a ir a campo gravar os sons pantaneiros e a fazer composições dentro da nossa linguagem jazzística, incorporando esses registros naturais ao nosso modo de compor e evidenciando em música as belezas pantaneiras.

Temos planos de retornar aos Estados Unidos em breve e estamos em diálogo com a Embaixada do Brasil em Barcelona, onde palestraremos em março.

Além disso, a Urbem participará do Campo Grande Jazz Festival de Rua, no dia 21 de dezembro [neste domingo], em uma jam session com músicos locais e de São Paulo.

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MÚSICA

Entre onças e tuiuiús, o jazz

Em parceria com o trombonista Ryan Keberle, com nove composições inspiradas na exuberância do Pantanal, URBEM lança segundo álbum; 2º Campo Grande Jazz Festival celebra o gênero na Capital, com apresentações gratuitas

15/12/2025 10h00

A partir da esquerda, Bianca Bacha, Ana Ferreira, Ryan Keberle, Gabriel Basso e Sandro Moreno

A partir da esquerda, Bianca Bacha, Ana Ferreira, Ryan Keberle, Gabriel Basso e Sandro Moreno Divulgação / Alexis Prappas

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Sem dar muitos detalhes, o baterista Sandro Moreno, quando conversou comigo, em junho, sobre o álbum que a Urbem gravaria com Ryan Keberle, adiantou que o projeto seria “algo muito especial”.

Após o show – memorável, diga-se – que fizeram juntos no Teatro do Mundo, o quarteto campo-grandense – além de Sandro, Bianca Bacha (vocais), Ana Ferreira (piano), Gabriel Basso (contrabaixo) – e o trombonista norte-americano foram para a zona rural de Miranda e se instalaram na Fazenda Caiman.

Foi lá que a magia aconteceu. Na estrada desde 2013 e com apenas um álbum lançado até então, “Living Room” (2016), a banda disponibilizou “Pantanal Jam” no Spotify no dia 29 de outubro, três dias antes do show que realizaria em Nova York, em um evento na Detour Gallery que uniu arte, gastronomia e turismo para promover o Pantanal.

São nove faixas criadas e gravadas com extremo apuro e sensibilidade, que alcançam os músicos da Urbem e Ryan num ponto bem elevado de suas capacidades.

Os temas soam como se os cinco artistas tivessem se deixado abraçar pela contagiante pregnância da natureza de Miranda, e Bianca Bacha confirma isso em entrevista exclusiva.

Melodias, pulsações e andamentos foram se definindo conforme eles mergulhavam em tudo que viam, ouviam e sentiam por ali: ventos, o canto das aves, “o esturro da onça”, como Bianca relata. Ouvindo os sons naturais, captados previamente por Sandro, que assina a produção musical do projeto, cada um estabeleceu sua conversa criativa com o Pantanal.

O registro dos sons naturais – de aves, por exemplo — introduz, se mescla ou faz a ponte para uma execução instrumental (voz inclusa) coesa e deveras inspirada, que não força a barra para sorver e devolver, em forma de música, a fartura que o habitat de Miranda oferece.

“Suspiro da Terra”, doce e pulsante, e “Paisagem Invertida”, essa mais selvagem e misteriosa, são uma prova disso.

Ryan pontua, preenche ou arremata sempre com uma precisão e desprendimento envolventes. Ana, como se ouve em “Espiral”, migra da base para os solos numa transparência que comove. Gabriel – em “Canção do Ninho”, por exemplo, que começa e segue na cama dos gomos que vai colhendo ao longo do tema – parece deter a justa medida para o desempenho de seu baixo.

"Foi uma grande honra participar da criação do ‘Pantanal Jam’. Os sons da Pantanal, do modo como Sandro captou, tiveram um papel direto no processo de composição das duas músicas que fiz para o álbum.

A partir da esquerda, Bianca Bacha, Ana Ferreira, Ryan Keberle, Gabriel Basso e Sandro MorenoRyan Keberle, trombonista - Foto: Divulgação / Alexis Prappas

O tom e os ritmos dos sons naturais do Pantanal, inspirados por ideias musicais e paisagens sonoras próprias, criaram um clima que eu tentei capturar nas minhas composições. Quando nós gravamos, literalmente no meio de um dos lugares mais selvagens e remotos do mundo, a beleza e a energia natural nos inspirou a ouvir a natureza e um ao outro mais profundamente, o que resultou numa performance musical que demonstra uma profunda comunicação musical.

Adoro os músicos e a música da Urbem. E, desde que tocamos juntos em diversas ocasiões anteriores, eu compus as minhas músicas especificamente com o talento e a habilidade musical especial deles em mente” - Ryan Keberle, trombonista.

Sandro é um laboratório inquieto, dos pedais aos pratos de condução. E Bianca conduz os vocais numa têmpera e numa fruição que se articula como síntese do conjunto.

Comparações e referências são uma tentação no mundo do jazz. Mas a qualquer palpite sobre “Pantanal Jam”, é melhor calar e ouvir. É um álbum estimulante para esse silêncio de dentro, que nos faculta as melhores emoções da escuta e da experiência musical.

Brazilian jazz? Jazz? Ouça. Música apenas. E quanta música! Embrenhada e revelada nos refúgios de um lugar mágico, onde a natureza se recobra e o espírito se fortalece.

A Urbem lança “Pantanal Jam” hoje, às 18h, no Centro de Convenções Arquiteto Rubens Gil de Camillo. Apareça.

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