Correio B

CORREIO B+

Jayme Monjardim: "Hoje a indústria do bem é meu novo projeto que abraço e vejo como uma coisa muito ousada"

Capa dupla do Correio B+ desta semana, o diretor Jayme Monjardim conversou com a gente com exclusividade sobre família, realizações, cinema e pantanal

Continue lendo...

"Pantanal para mim foi uma grande virada, experiência que eu jamais vou esquecer na minha vida"

Um dos maiores diretores do Brasil, está comemorando 40 anos de carreira e também novos projetos.

Jayme Monjardim (65 anos), coleciona inúmeros trabalhos de sucesso com reconhecimento internacional, uma trajetória que agradece todos os dias.

 

“Bom, meu sentimento é o melhor e o mais lindo possível. Sensação de compromissos assumidos, feitos e bem resolvidos. Graças a Deus a maioria com muito sucesso.  

A única certeza que eu tenho é o quanto ainda tenho para fazer. Eu estou muito feliz com tudo, com todos esses anos de trabalho”, comemora.

Jayme também celebra o sucesso constante da novela “O Clone” (2001) reprisada novamente na TV Globo e também na Globoplay.

“O Clone é um marco em minha vida. Primeiro, pelos temas abordados e por quem escreveu. Glória é fantástica, responsável por todo o resultado da novela, que passou pelo mundo inteiro colhendo bons resultados, colhendo boas críticas, colhendo conhecimento”, enaltece Jayme.

 Devoto de Nossa Senhora Aparecida, o diretor conta que a escolha da sua profissão foi por causa de sua mãe, a cantora Maysa.

“Já me fizeram várias vezes essa pergunta e eu não me canso de dar esse crédito toda a minha mãe.  Porque quando minha mãe morreu, após um ano, eu comecei a sentir uma necessidade muito grande de contar um pouco sobre ela. Eu fazia muito filme de casamento, até que um dia falei: - “sabe o que eu vou fazer? Vou pegar o Super 8, e fazer um filme em homenagem à minha mãe.” Pronto. E resolvi fazer um filme. Minha mãe chamava-se Maysa e esse filme foi muito bem recebido. Ganhou o Festival de Penedo na época e fiquei muito feliz”, relembra.

Em sua trajetória sólida e importante para a história da TV e do cinema no país e fora dele também, Monjardim já fez 21 novelas, 11 séries e cinco filmes desde o início na década de 1970, quando estudou Cinema na Itália, integrando a equipe de Michelangelo Antonioni. 

Dentre as novelas destacam-se: 

  • “Roque Santeiro’, 
  • ‘Sinhá Moça’,
  •  ‘Pantanal’, 
  • ‘Terra Nostra’,
  •  ‘O Clone’, 
  • ‘Páginas da Vida’, 
  • ‘Viver a Vida’, 
  • ‘A Vida da Gente’, 
  • ‘Sete Vidas’ e ‘Tempo de Amar’, em tramas escritas por grandes nomes da dramaturgia brasileira como Manoel Carlos, Glória Perez, Walther Negrão, Benedito Ruy Barbosa, Gilberto Braga, Lícia Manzo, entre outros. 

Também assinou a direção de minisséries e séries marcantes como ‘Chiquinha Gonzaga’, ‘A Casa das Sete Mulheres’, ‘Maysa - Quando Fala o Coração’ e a recente estreia coproduzida por TV Globo, Sony Pictures Television e Floresta, “Passaporte para a Liberdade”, escrita por Mário Teixeira e atuações de Sophie Charlotte, Rodrigo Lombardi e Tarcísio Filho nos papéis principais. 

Já no cinema, celebra títulos indicados a importantes prêmios como: ‘O Tempo e o Vento’, ‘O Vendedor de Sonhos’ e ‘Olga’ onde estreou no cinema.

“Eu fiquei muito feliz, porque era o filme que eu queria ter estreado como diretor.  E por fim, como o longa-metragem, foi a minha estreia. Sou muito grato a Deus, grato a Rita e ao Fernando Morais que me deu todo o apoio para poder fazer esse filme”, conta o diretor.

Jayme tem um carinho especial pelo Pantanal e pelo Mato Grosso do Sul. Essa relação se estreitou quando ele dirigiu um dos maiores sucessos da TV brasileira da década de 90, a novela Pantanal do autor Benedito Ruy Barbosa exibida pela extinta TV Manchete, onde na época Monjardim era diretor artístico. 

“Eu na verdade vou sempre ao Pantanal. Eu tenho uma relação muito forte com o Pantanal. Coincidentemente quase que eu comprei aquela fazenda da gravação na época, mas acabou indo para a WWF e foi assim um momento incrível. Essa possibilidade de poder comprar na região, mas aí eu vesti a camisa do Almir Sater, que acabou comprando as terras lá. A gente acabou ficando muito amigos, então eu sempre aproveitei bastante o Pantanal indo para lá e indo para Rio Negro também. Então a relação ficou eternizada. Nunca vai desaparecer”.

Capa dupla do Correio B+ desta semana, o diretor Jayme Monjardim conversou com a gente com exclusividade sobre família, realizações, cinema, Pantanal e sua parceria com a WOGY – Word Organization of Good Industry, a “Indústria do Bem”, organização que deve fomentar o terceiro setor e gerar transformação social conectando forças em vários cantos do mundo em prol de um Brasil melhor.

Logo abaixo a entrevista com um dos maiores diretores do país, Jayme Monjardim para o Correio B+.

CE - Jayme, são 40 anos de uma carreira sólida e cheia de grandes sucessos, referência em todo o mundo. Qual é o seu sentimento?

JM - Bom, meu sentimento é o melhor e o mais lindo possível. Sensação de compromissos assumidos, feitos e bem resolvidos. Graças a Deus a maioria com muito sucesso.  

A única certeza que eu tenho é o quanto ainda tenho para fazer. 

Eu estou muito feliz com tudo, com todos esses anos de trabalho. 

Eu acho que quando a gente foca, a gente tem sim aquele sentido de que o que a gente quer é muito importante. 

Cada trabalho foi um filho, e tratado como um filho. Então é isso, tive muito foco e muita dedicação. São 40 anos assim, e que graças a Deus a gente colheu só coisas muito boas.

CE - O Clone foi uma novela muito marcante, e sei que para a maioria do público não só no Brasil, mas fora dele também, o reconhecimento é internacional. Na Rússia, por exemplo, eles reprisam sempre não é mesmo? Ao que você acarreta esse sucesso todo e tantas premiações?

JM - O Clone é um marco em minha vida. Primeiro, pelos temas abordados e por quem escreveu. 

Glória é fantástica, responsável por todo o resultado da novela, que passou pelo mundo inteiro colhendo bons resultados, colhendo boas críticas, colhendo conhecimento. 

Então eu acho que O Clone foi um momento incrível da minha vida. Foram quatro meses em que a gente ficou trabalhando e filmando em várias cidades do Marrocos. 

Enfim, foi um grande aprendizado para nós e foi um grande projeto da TV Globo. Daqueles que a gente fala que só a Globo é capaz de fazer. 

Só colhi coisas fantásticas e continuo colhendo até hoje.

CE - Me fala um pouco sobre “Passaporte para a Liberdade” e essa parceria com a Sony...

JM - “Passaporte para Liberdade” eu diria que é o nosso passaporte para a liberdade no mundo (risos). 

É um projeto que tem como principal objetivo mostrar a Globo para o planeta e mostrar que a Globo é capaz de fazer um trabalho muito consistente em língua inglesa. 

Entendo que este é mesmo o passaporte para a gente entrar no mercado mundial de entretenimento. 

Acho muito importante o projeto ser em parceria com a Sony, que é tão expressiva e importante na América Latina e no mundo.

CE - Jayme, quando descobriu que era isso que gostaria de fazer? Já pensou em outra área?

JM - É engraçado essa pergunta. Já me fizeram várias vezes e eu não me canso de dar esse crédito toda a minha mãe. 

Porque quando minha mãe morreu, após um ano, eu comecei a sentir uma necessidade muito grande de contar um pouco sobre ela. 

Eu fazia muito filme de casamento, até que um dia falei: - “sabe o que eu vou fazer? Vou pegar o Super 8, e fazer um filme em homenagem à minha mãe.” Pronto. 

E resolvi fazer um filme. Minha mãe chamava-se Maysa e esse filme foi muito bem recebido. 

Ganhou o Festival de Penedo na época e fiquei muito feliz. 

E aí resolvi fazer isso em 35 milímetros. Então eu sempre digo que eu entrei na televisão fazendo um documentário para minha mãe. 

Agradeço a ela por ter me dado essa luz de fazer um filme em sua homenagem, pois foi a partir disso que nasceu todo esse sentimento meu como diretor.

CE - Você trabalhou com os maiores autores de novelas do mundo, imagino que tudo tenha sido importante, mas consegue me destacar momentos e realizações que aconteceram dentro dessa história que construiu com novelas especificamente?

JM - Sinto que o destino me deu um presente gigante que foi, e é ter realmente conseguido trabalhar com os maiores autores de novelas. 

De Dias Gomes a Benedito Rui Barbosa, passando pela Glória Peres, nossa, tanta gente incrível! Lícia Manzo e o amigo Manoel Carlos, meu parceiro de sempre, para sempre. 

São tantos os autores que eu tive a oportunidade de trabalhar. 

E, mais do que nunca, sempre digo que novela é uma parceria, um casamento de autor e diretor. 

Essa união entre autor e diretor faz uma diferença gigante, pois é onde nascem todos os conceitos, onde a gente tira do papel e coloca tudo para acontecer. 

Posso dizer que eu aprendi muito nesses anos todos com tantos autores incríveis que eu tive a oportunidade de trabalhar.

CE - Eu vi Olga no cinema, e me tocou muito, foi seu primeiro filme. Como foi esse processo?  

JM - Olga foi uma coisa muito especial em minha vida, porque, na verdade...(pausa.)  Vou te contar uma coisa que eu nunca falei mesmo! 

Olga veio quando aos 21 anos eu descobri que eu queria ser diretor. Olga estava disponível em livro e eu pensei: “Meu Deus do céu, é esse livro e essa a história que eu quero contar”. 

E saí correndo atrás de comprar os direitos de Olga. Mas eu era jovem, não sabia muito bem como fazia isso. Na época eu descobri que já tinham comprado. 

Aí passaram-se muitos anos até que um dia me ligou a Rita Buzzar e disse: Jayme, eu estou aqui com o filme que eu gostaria muito de te ver dirigir. 

Eu não acreditei, porque ele acabou não acontecendo, eu também não corri mais atrás, mas acabou chegando até mim, depois de anos eu querendo fazer o filme. 

Eu fiquei muito feliz, porque era o filme que eu queria ter estreado como diretor. 

E por fim, como o longa-metragem, foi a minha estreia. Sou muito grato a Deus, grato a Rita e ao Fernando Morais que me deu todo o apoio para poder fazer esse filme.

CE - O Tempo E o Vento de minissérie de sucesso para os cinemas, um desafio?

JM - ‘O Tempo e o Vento’ também foi um grande desafio na minha vida. 

Foi um filme muito difícil da gente fazer porque era um filme muito caro. 

Tivemos que montar uma cidade cenográfica enorme, que precisava de muitos figurantes, com cenas de batalha e de guerra. Acredito que tão difícil quanto foi fazer ‘Passaporte para a Liberdade’. São obras grandiosas, são obras que pedem uma produção muito grande e consistente. 

Para mim foi um momento mágico poder fazer O Tempo e o Vento. Poder reviver e imaginar aquelas cenas que eu já tinha visto antes no filme original, podendo rever e sentir essas cenas todas. 

Foi assim um trabalho maravilhoso e que tenho muito orgulho de ter feito.

CE - De Renato Aragão chegando a minissérie Maysa, contando a vida da sua mãe... Jayme me conta sobre essa experiência?

JM - O Renato Aragão e eu.. Bom, na verdade sempre foi uma parceria de felicidade, porque na Globo e no tempo de direção de núcleo, eu tive a oportunidade de trabalhar com Renato, com o Roberto Carlos e com tantos ícones da nossa televisão, do nosso cinema. 

Até chegar a oportunidade de fazer a minissérie com Maneco, me preparei dois anos para esse momento.  

Foi muito importante para mim. Um projeto muito difícil emocionalmente, mas que o Maneco me deu esse presente, e que eu serei eternamente grato a ele, sempre, para sempre. 

Acho que a minissérie foi muito bem escrita, de uma maneira que não se deixou nada para trás e contou tudo, mas com muita elegância, carinho, com muito amor e muita verdade. 

Então eu agradeço muito sempre, pois foi realmente a oportunidade de trabalhar com pessoas incríveis. Renato, Roberto Carlos, Manoel Carlos e esses grandes como Fernanda Montenegro e Tony Ramos. Nossa, é uma lista de pessoas que realmente me trouxeram grande aprendizado.

CE - Roque Santeiro também foi um marco na TV, que já teve reprise no VIVA, foi algo especial pra você como para o público?  

JM - Bom, Roque Santeiro é um grande sucesso, com 100% de audiência da história da televisão. Um presente que eu ganhei do Paulo Ubiratan na época. 

Nunca mais vou esquecer Paulinho Ubiratan dentro do estúdio, no primeiro dia de gravação com Regina Duarte e Lima Duarte. 

Foi uma grande escola para mim ver nascer essa obra junto com o Paulinho, junto com a Regina, junto com o Lima. 

E olha que a gente ainda estava nos estúdios da TV Globo, na Lopes Quintas. Foi uma experiência maravilhosa. 

Paulinho dirigiu praticamente grande parte do primeiro capítulo e depois foi me soltando e me largou a novela toda. 

Tive a parceria depois do Marcos Paulo que me ajudou a dirigir uma parte, depois veio Gonzaga, mas tive o privilégio de no final praticamente terminar a novela sozinho. 

Nunca mais vou esquecer de que o Dias Gomes me ligou e disse assim: Eu vou fazer três finais e quero que você venha na minha casa de manhã no dia do último episódio, onde eu vou te passa qual vai ser o final que eu vou escolher.” (risos)

CE - Como é em sua trajetória trabalhar com os maiores atores do país...

JM - Sobre os atores, é um presente que a gente ganha.  Não só aprendemos com esses grandes atores, mas entendemos que os grandes atores sempre estão disponíveis. 

E é isso que faz a diferença. 

Sabe, quando se tem um grande ator como Tony Ramos ou Fernanda Montenegro e tantos outros maravilhosos que a gente tem, eles estão ali para você realmente dirigir.  

Para o autor, isso não tem preço.

 Às vezes a gente pega um pessoal novo cheio de imposições. 

Mas quando você chega nessa turma que tem muita experiência e muita bagagem, eles estão ali de corpo aberto de coração aberto, de ouvidos só para você. 

E se você souber pedir com muita educação, com muito carinho, você tem deles tudo. Então trabalhar com esses grandes atores é um presente.

CE - Como é o Jayme pai? E os momentos com sua família?

JM - A gente com o tempo aprende que a família é mais importante que o trabalho. 

Quando a gente é jovem a gente acha que trabalhar é tudo e na verdade naquele momento a gente ainda não tem a consciência de tantas coisas.. 

Pessoas como Eu, que são muito entregues ao trabalho, acaba o transformando em uma grande prioridade. 

Mas o tempo vai te ensinando que dá para conciliar o trabalho e dá para conciliar a família, até que você aprende definitivamente que a família é muito mais importante. 

Mas não é fácil no início, viu? É fácil falar hoje, mas não foi fácil exercitar essa relação, porque é esse trabalho que a gente faz. 

Ele exige muito da gente, entende? Mas com o tempo a gente consegue equilibrar.

CE - Bom, Pantanal volta em março como um remake e novo elenco. Você vai assistir?  

JM - Pantanal para mim foi uma grande virada, momento em que eu saí da TV Globo na época, com liberação total do Boni. Fui trabalhar com Nilton Travesso. 

Nilton me deu o cargo de direção artística da TV Manchete e foi aí que a gente lançou Pantanal. 

Assim era uma outra época era outro momento e era um grande desafio, pois, a gente não tinha comunicação, não tinha transporte, não tinha vários recursos e fazer a novela era uma coisa muito difícil. Pouco se sabia do Pantanal. 

As pessoas sabiam muito da Amazônia, mas era um conhecimento dos temas ecológicos. 

Agora é diferente. Acho que hoje a novela vai ser um grande sucesso com todos os recursos que existem. 

De recursos técnicos, de câmeras que voam por todo lado. Imagine, você hoje vai poder voar com um drone acompanhando um grupo inteiro, entende? 

Então eu acho que será uma grande novela. Ela está sendo realmente refeita, com todo esse aspecto técnico com um elenco incrível. Então tem tudo para ser um grande sucesso.

CE - Você voltou para visitar alguma vez o MS?

JM - Eu na verdade vou sempre ao Pantanal. Eu tenho uma relação muito forte com o Pantanal. 

Coincidentemente quase que eu comprei aquela fazenda da gravação na época, mas acabou indo para a WWF e foi assim um momento incrível. 

Essa possibilidade de poder comprar na região, mas aí eu vesti a camisa do Almir Sater, que acabou comprando as terras lá. 

A gente acabou ficando muito amigos, então eu sempre aproveitei bastante o Pantanal indo para lá e indo para Rio Negro também. 

Então a relação ficou eternizada. Nunca vai desaparecer.

CE - Sobre WOGY – Word Organization of Good Industry, a “Indústria do Bem”,    como o Jayme dentro do papel de transformar vidas? De que maneira?

JM - Hoje a indústria do bem é meu novo projeto que abraço e vejo como uma coisa muito ousada. Ele tem por principal objetivo unir pessoas do bem, famílias e serviços do bem. 

É uma grande plataforma que reúne centenas e milhares de outras plataformas que têm o objetivo comum de ensinar o bem, falar do bem e discutir o bem, agregando grandes indústrias que têm por objetivo fazer o bem. 

É um sonho, uma coisa muito grande e que vai realmente demorar para se concretizar, pois é uma coisa difícil de fazer. Mas eu sempre brinco assim com o Dr. Roberto Marinho: se ele começou a TV Globo aos 65 anos eu também posso. 

Estou começando o projeto com a mesma idade e se Deus quiser vai dar certo também.

CE - Através da arte mudamos caminhos e trajetórias?

JM - A arte é a grande plataforma das emoções. Quando a gente faz arte não importa qual seja, é uma expressão das nossas emoções. 

Não tem maior explicação do que essa que eu sempre uso, a de que a arte é uma a grande plataforma que gera toda a história da humanidade, através das emoções.

 

CE - Um momento marcante Jayme...

JM - Acho que os momentos mais marcantes da minha vida com certeza foram os nascimentos dos  meus filhos,  e agora dos meus netos. 

Gerar vida, nada que pode ser mais emocionante do que isso.

 

CE - Uma realização... Que já tenha acontecido...

JM - Eu sou um ser humano realizado, feliz, eu sou um ser humano movido às emoções. 

Ter a oportunidade de poder colocar uma história no ar, seja no cinema, seja na televisão seja aonde for, é estar de alguma forma jogando uma semente para o destino. 

Eu sempre digo: tome muito cuidado com o que você pede para o destino, pois pode acontecer e se prepare para isso. 

Minha vida é estar sempre pedindo e buscando acertar aquele alvo que já foi pensado.  Sou uma pessoa muito bem resolvida.  Cresci com esse conceito de ir atrás e realizar.

ENTREVISTA COM BIANCA

"A fauna pantaneira é a base musical das nove composições de 'Pantanal Jam'"

Cantora Bianca Bacha, da Urbem, fala como a paisagem natural de Miranda afetou o processo de criação e gravação do segundo álbum da banda, sobre a diferença entre o canto com letra e as vocalizações que são a sua marca e anuncia projetos nos EUA e Espanha

15/12/2025 11h00

A cantora Bianca Bacha se prepara para mais uma gravação na Fazenda Caiman, em Miranda, em junho deste ano

A cantora Bianca Bacha se prepara para mais uma gravação na Fazenda Caiman, em Miranda, em junho deste ano Divulgação / Alexis Prappas

Continue Lendo...

ENTREVISTA COM BIANCA

Recuperando para o leitor: como se deu a oportunidade do encontro e da parceria com o Ryan para o projeto do álbum “Pantanal Jam”?

Conhecemos Ryan Keberle no Campo Grande Jazz Festival [em março de 2024] e com ele tivemos uma troca musical instantânea. Tocamos juntos em um show no Sesc [Teatro Prosa] em setembro de 2024 e, a partir de lá, tivemos a certeza de que ainda faríamos muita música juntos.

No Pantanal, onde Ryan esteve pela primeira vez durante as gravações, ficou nítido que ele conseguiu transpassar para o repertório o encantamento que ele estava vivendo em meio a toda aquela natureza.

É o segundo disco, nove anos depois de “Living Room”. O que “Pantanal Jam” representa para a Urbem?

Este projeto é o nosso território sonoro: onde a música que criamos se entrelaça à natureza que nos guia em forma de jam. Na música, uma jam significa um encontro musical sem aviso prévio, as coisas vão acontecer ali na hora, portanto, o inesperado é bem-vindo e, com ele, você improvisa.

Qual seria o conceito geral do álbum?

O conceito do álbum nasce da escuta profunda da fauna pantaneira. Os cantos dos pássaros, o esturro da onça e os sons das águas e dos ventos não são efeitos nem pano de fundo: são a base musical das nove composições. A natureza atua como um músico a mais na banda de jazz, dialogando conosco em frases de pergunta e resposta.

Sandro Moreno registrou esses sons in loco, mergulhando no Pantanal para captá-los com precisão. Depois, analisou esse vasto material para identificar melodias, ritmos e motivos que se tornariam a essência das composições.

E, para fechar o ciclo, o álbum também foi gravado no coração do Pantanal. Com geradores a gasolina e um estúdio móvel, nós, a Urbem e o trombonista Ryan Keberle, levamos a música para o ambiente que a inspirou. E ali criamos, novamente in loco, em plena natureza selvagem.

Que tipo de referências buscaram para os arranjos, as sonoridades e as texturas?

Toda a referência e textura do álbum “Pantanal Jam” nascem dos próprios sons do Pantanal. A imersão no território e a escuta atenta transformaram cantos de pássaros, esturros, movimentos da água e vozes da mata em matéria-prima musical.

Cada faixa traduz essa convivência direta com a fauna e seus ritmos naturais, convertendo sons de bichos em música. Viva, orgânica e profundamente enraizada na paisagem pantaneira.

Isso está bastante perceptível. Os sons e toda a atmosfera do Pantanal atravessam o mood e talvez a própria concepção dos temas. Pode comentar um pouco mais sobre essa presença de elementos da natureza – e dessa natureza tão singular de MS – na criação de vocês?

A fauna, a luz, o silêncio amplo, os ventos, os cantos e até os vazios típicos da paisagem pantaneira influenciam diretamente a forma como criamos. É como se o ambiente nos orientasse musicalmente: às vezes guiando uma melodia, às vezes sugerindo um pulso, às vezes impondo uma pausa.

Esse encontro com a natureza não é decorativo, é estrutural. Ela atravessa tudo, o gesto musical, o espírito do disco e a maneira como a banda se relaciona com o som.

No “Pantanal Jam”, a paisagem não é cenário: é presença, é voz, é parceria criativa. É música.

A cantora Bianca Bacha se prepara para mais uma gravação na Fazenda Caiman, em Miranda, em junho deste anoFoto: Divulgação / Alexis Prappas

Onde exatamente estiveram e gravaram? E quando foi?

As gravações foram feitas na Fazenda Caiman, em junho deste ano, num cenário que não poderia ser mais inspirador. Foram escolhidas pela produtora três locações diferentes, e para cada uma delas, três músicas.

A cantora Bianca Bacha se prepara para mais uma gravação na Fazenda Caiman, em Miranda, em junho deste anoFoto: Divulgação / Alexis Prappas

Com uma equipe ultraprofissional que trouxe segurança e leveza para uma gravação ao vivo numa condição completamente inusitada.

E quanto ao repertório? Como chegaram às nove canções do disco?

Entre as composições, temos duas músicas do Paulo Calasans [“Swingue Verdejante” e “Suspiro da Terra”], um dos maiores produtores, arranjadores e instrumentistas do País, além de duas canções do Ryan Keberle junto com Sandro Moreno [“Paisagem Invertida” e “Entre Folhas”] e cinco composições nossas [“Espiral”, “Pluma”, “Voo Curvo”, “Barro” e “Canção do Ninho”].

Penso que o Pantanal é experimentado de um jeito bem particular por cada pessoa. Como é para você? Como aquele ambiente lhe toca e eventualmente interfere no seu jeito de cantar?

Tudo ali era extremamente inspirador. Dormir e acordar naquele lugar por alguns dias já me fazia até respirar de jeito diferente, com menos pressão e mais imersão.

Isso com certeza influenciou no jeito de cantar. Porém, o mais impressionante era saber que estava gravando um disco com toda aquela fauna ao redor, um jacaré no lago ao lado e uma onça a alguns quilômetros.

Embora domine há duas décadas o canto com letra e muitas vezes cante dessa forma em apresentações ao vivo, na Urbem, você investe sempre nos vocalizes e scats.

Todas as músicas do álbum “Pantanal Jam” usam a voz como instrumento, ou seja, não há letras nas músicas. Além de ser uma característica jazzística, esse estilo de canto se aproxima mais do cantar dos pássaros, a busca por seus fonemas e emissões.

Cada música exige uma altura e um escolher apropriado de sílabas que encaixem com a afinação e a expressão.

Adoro o canto com letras. Ali você tem palavras, interpreta, coloca ênfases. É até uma emissão de voz diferente. Só que comecei a me encantar com o mundo do jazz e toda essa coisa do canto que não usa palavras, o vocalize. E comecei a ouvir cantoras que cantam assim.

Tatiana Parra [cantora, compositora e professora paulistana] canta assim, nossa, de um jeito maravilhoso. A [portuguesa] Sara Serpa também. Tem também as divas mais antigas que faziam mais questão de improviso, o scat singing.

O canto sem palavra é muito desafiador porque ele é mais cru, mostra mais imperfeições de respiração, de emissão, de escolha de sílabas. E é muito improvisado. Porque a cada dia você pode usar uma sílaba diferente, pode caracterizar de uma outra forma.

Num dia vou fazer “u”, no outro dia posso fazer “a”, no outro posso fazer “e”. E você tem que descobrir ali, numa forma você com o seu corpo. E além de ter o desafio de você demonstrar o interpretar com emoção sem ter palavras.

Então é muito jazz [risos]. E acho muito bonito. Sempre vai ser um desafio. Sou com o meu corpo, com as palavras que eu escolho, que nem sempre são pensadas.

Claro que tem uma questão técnica de que o “i” você vai mais para um agudo, no “u” também; nos graves, você vai para outras escolhas, as consoantes também interferem. Gosto muito de passear pelas duas áreas. Tanto a área da interpretação com letra quanto a área dos vocalizes e texturas.

E Nova York? Pode contar um pouco sobre a recente temporada de vocês por lá?

O “Pantanal Jam” foi lançado em novembro deste ano com um show memorável em Nova York, durante a feira internacional de turismo Visit Brazil Gallery [na Detour Gallery], e a recepção foi extraordinária.

Pessoas do mundo inteiro, agentes de turismo, diretores da National Geographic, fotógrafos de natureza e profissionais de diversas áreas assistiram ao show com atenção absoluta.

Desde a primeira música, compreenderam nossa proposta e permaneceram maravilhados até o fim. Foi um momento histórico para Mato Grosso do Sul e para a arte sul-mato-grossense.

Esse resultado só foi possível graças ao apoio total da Fundtur e do seu diretor-presidente, Bruno Wendling, que acreditou no projeto desde o início e se comprometeu a nos apoiar tanto nas etapas de captação no Pantanal quanto no lançamento em Nova York. Além disso, segue impulsionando a campanha contínua de apresentar o “Pantanal Jam” ao mundo.

E faz sentido: ouvir o Pantanal desperta o desejo de visitá-lo, conhecê-lo e preservá-lo. O projeto reúne arte, natureza, conservação, turismo e toda a beleza única do nosso bioma, uma combinação que emociona e conecta o público global ao coração do Pantanal.

Além do álbum que já está lançado em todas as plataformas, temos uma série de vídeos das nove músicas e um minidocumentário.

Quando teremos shows da Urbem? Quais os próximos passos e projetos da banda?

A Urbem se sente profundamente entusiasmada em seguir os passos de Manoel de Barros, da família Espíndola, de Guilherme Rondon, Paulo Simões, Grupo Acaba, Geraldo Roca e tantos artistas que sempre beberam dessa fonte primária que é o Pantanal, transformando-a em arte para o mundo.

Recentemente, pesquisadores de Harvard e professores da UFMS colheram sons do Pantanal [pelo projeto Pantanal Sounds, que conta, entre outros, com nomes como o do violoncelista e professor William Teixeira], e esse movimento nos inspirou a ir a campo gravar os sons pantaneiros e a fazer composições dentro da nossa linguagem jazzística, incorporando esses registros naturais ao nosso modo de compor e evidenciando em música as belezas pantaneiras.

Temos planos de retornar aos Estados Unidos em breve e estamos em diálogo com a Embaixada do Brasil em Barcelona, onde palestraremos em março.

Além disso, a Urbem participará do Campo Grande Jazz Festival de Rua, no dia 21 de dezembro [neste domingo], em uma jam session com músicos locais e de São Paulo.

Assine o Correio do Estado

MÚSICA

Entre onças e tuiuiús, o jazz

Em parceria com o trombonista Ryan Keberle, com nove composições inspiradas na exuberância do Pantanal, URBEM lança segundo álbum; 2º Campo Grande Jazz Festival celebra o gênero na Capital, com apresentações gratuitas

15/12/2025 10h00

A partir da esquerda, Bianca Bacha, Ana Ferreira, Ryan Keberle, Gabriel Basso e Sandro Moreno

A partir da esquerda, Bianca Bacha, Ana Ferreira, Ryan Keberle, Gabriel Basso e Sandro Moreno Divulgação / Alexis Prappas

Continue Lendo...

Sem dar muitos detalhes, o baterista Sandro Moreno, quando conversou comigo, em junho, sobre o álbum que a Urbem gravaria com Ryan Keberle, adiantou que o projeto seria “algo muito especial”.

Após o show – memorável, diga-se – que fizeram juntos no Teatro do Mundo, o quarteto campo-grandense – além de Sandro, Bianca Bacha (vocais), Ana Ferreira (piano), Gabriel Basso (contrabaixo) – e o trombonista norte-americano foram para a zona rural de Miranda e se instalaram na Fazenda Caiman.

Foi lá que a magia aconteceu. Na estrada desde 2013 e com apenas um álbum lançado até então, “Living Room” (2016), a banda disponibilizou “Pantanal Jam” no Spotify no dia 29 de outubro, três dias antes do show que realizaria em Nova York, em um evento na Detour Gallery que uniu arte, gastronomia e turismo para promover o Pantanal.

São nove faixas criadas e gravadas com extremo apuro e sensibilidade, que alcançam os músicos da Urbem e Ryan num ponto bem elevado de suas capacidades.

Os temas soam como se os cinco artistas tivessem se deixado abraçar pela contagiante pregnância da natureza de Miranda, e Bianca Bacha confirma isso em entrevista exclusiva.

Melodias, pulsações e andamentos foram se definindo conforme eles mergulhavam em tudo que viam, ouviam e sentiam por ali: ventos, o canto das aves, “o esturro da onça”, como Bianca relata. Ouvindo os sons naturais, captados previamente por Sandro, que assina a produção musical do projeto, cada um estabeleceu sua conversa criativa com o Pantanal.

O registro dos sons naturais – de aves, por exemplo — introduz, se mescla ou faz a ponte para uma execução instrumental (voz inclusa) coesa e deveras inspirada, que não força a barra para sorver e devolver, em forma de música, a fartura que o habitat de Miranda oferece.

“Suspiro da Terra”, doce e pulsante, e “Paisagem Invertida”, essa mais selvagem e misteriosa, são uma prova disso.

Ryan pontua, preenche ou arremata sempre com uma precisão e desprendimento envolventes. Ana, como se ouve em “Espiral”, migra da base para os solos numa transparência que comove. Gabriel – em “Canção do Ninho”, por exemplo, que começa e segue na cama dos gomos que vai colhendo ao longo do tema – parece deter a justa medida para o desempenho de seu baixo.

"Foi uma grande honra participar da criação do ‘Pantanal Jam’. Os sons da Pantanal, do modo como Sandro captou, tiveram um papel direto no processo de composição das duas músicas que fiz para o álbum.

A partir da esquerda, Bianca Bacha, Ana Ferreira, Ryan Keberle, Gabriel Basso e Sandro MorenoRyan Keberle, trombonista - Foto: Divulgação / Alexis Prappas

O tom e os ritmos dos sons naturais do Pantanal, inspirados por ideias musicais e paisagens sonoras próprias, criaram um clima que eu tentei capturar nas minhas composições. Quando nós gravamos, literalmente no meio de um dos lugares mais selvagens e remotos do mundo, a beleza e a energia natural nos inspirou a ouvir a natureza e um ao outro mais profundamente, o que resultou numa performance musical que demonstra uma profunda comunicação musical.

Adoro os músicos e a música da Urbem. E, desde que tocamos juntos em diversas ocasiões anteriores, eu compus as minhas músicas especificamente com o talento e a habilidade musical especial deles em mente” - Ryan Keberle, trombonista.

Sandro é um laboratório inquieto, dos pedais aos pratos de condução. E Bianca conduz os vocais numa têmpera e numa fruição que se articula como síntese do conjunto.

Comparações e referências são uma tentação no mundo do jazz. Mas a qualquer palpite sobre “Pantanal Jam”, é melhor calar e ouvir. É um álbum estimulante para esse silêncio de dentro, que nos faculta as melhores emoções da escuta e da experiência musical.

Brazilian jazz? Jazz? Ouça. Música apenas. E quanta música! Embrenhada e revelada nos refúgios de um lugar mágico, onde a natureza se recobra e o espírito se fortalece.

A Urbem lança “Pantanal Jam” hoje, às 18h, no Centro de Convenções Arquiteto Rubens Gil de Camillo. Apareça.

Assine o Correio do Estado

NEWSLETTER

Fique sempre bem informado com as notícias mais importantes do MS, do Brasil e do mundo.

Fique Ligado

Para evitar que a nossa resposta seja recebida como SPAM, adicione endereço de

e-mail [email protected] na lista de remetentes confiáveis do seu e-mail (whitelist).