Conversar com o ator e grande aventureiro Max Fercondini, é como embarcar com ele em suas histórias e vivências pelo mundo. É encantador!
Max encontrou sua vocação muito cedo, e com ajuda e apoio de sua família estreou na TV aos 14 anos. Esplendor e Laços de Família foram suas primeiras novelas na Rede Globo, e logo depois já estreou em um dos maiores sucessos da “Casa”: Malhação.
Na TV Globo Max teve vida longa.
Após alguns anos atuando em novelas e séries, em 2009 passou a apresentar também o Globo Ecologia.
Fercondini conciliou seu tempo entre novelas, viagens e filmagens. Ele também fez cinema, mas em 2014 com sua rescisão de contrato com a emissora começou a traçar seus caminhos de uma forma diferente, o que se tornaria a maior realização de sua vida.
Fercondini tornou-se piloto privado de aviões aos 22 anos de idade e aos 29 realizou a sua primeira expedição aérea pelo Brasil. Percorreu mais de 21 mil quilômetros pelas estradas da América do Sul, vivendo em um motorhome por seis meses consecutivos.
Habilitou-se como velejador aos 32 anos e há cinco anos vive a bordo de seu veleiro na Europa.
Max tem experiência por navegar na costa do Brasil, Espanha, Portugal, Inglaterra, França, Itália, Martinica, Bonaire, Curaçao, Saint Lucia, Gibraltar, Açores, Córsega, Sardenha e ilhas Baleares. Com três travessias oceânicas no currículo, o autor soma mais de 20 mil milhas navegadas até o lançamento deste seu segundo livro.
O primeiro se chama: América do Sul sobre rodas: relatos, guias e dicas.
Estive com Max por quase 24 horas na semana passada. Ele passou pela capital sul-mato-grossense para o lançar: Mar Calmo não faz bom marinheiro, livro dedicado amorosamente a sua família e sobrinha Chloe que mora fora do país com os pais.
“... a vida pode ser resumida a uma gota no oceano, mas só quem conhece a profundidade do mar, sabe que a resposta não está na superfície.”
Em Mar Calmo Não Faz Bom Marinheiro, Max conta sobre suas experiências em alto mar. No livro, ele compartilha com o leitor seus medos, aprendizados e reflexões em um oceano de autoconhecimento, tendo o Mediterrâneo e Atlântico como testemunhas e pano de fundo da sua jornada.
“Quando a gente cria expectativa sobre algo, tentamos, pelo nosso desejo, controlar o futuro. Entretanto, a vida é implacável e tem seus próprios planos para nós. Caberia a mim adaptar-me, mais uma vez...”.
O velejador em suas passagens nos transporta para dentro de seu livro e aventuras, que também nos ensina e nos inspira a cada página.
“No mar eu aprendi que se tem uma pessoa responsável pelo seu sucesso ou fracasso, essa pessoa é você. Para navegar é necessário conduzir o barco com firmeza e responsabilidade, mas sem abrir mão da sensibilidade para apreciar as lições que a vida e a natureza nos presenteiam”, diz ele.
Em uma passagem do livro, Max destaca: “Uma vez mais o mar me testou e me mostrou o quão importante é ser um homem de controle em casos imprevisíveis. Procurei manter o controle. Não adianta perder a cabeça diante das adversidades”. Afinal de contas, Mar Calmo Não Faz Bom Marinheiro.
No Correio B+ desta semana, Max Fercondini que atualmente mora em seu veleiro em Portugal, estampa a nossa Capa exclusiva e mais inspiradora do que nunca.
Em entrevista ao Caderno, ele fala sobre seu início de carreira, relação com a família, descobertas, escolhas e projetos.
Não posso deixar de dividir com vocês que ganhei o livro de presente do Max e que tudo que li até aqui (já passei da metade) é inspirador, nos dá coragem e nos faz literalmente viajar. Antes mesmo de chegar ao final dele recomento, e a nossa matéria exclusiva também.
from Max Fercondini on Vimeo.
CE: Como você começou tão cedo?
MF: “Aos 14 anos, as coisas conspiraram muito ao meu favor. Eu tinha pouquíssima experiência no teatro e de repente fui catapultado na televisão. Saindo de São Paulo (SP), a perspicácia da minha mãe em perceber o meu talento como comunicador, eu recebia muitas advertências no colégio porque eu falava muito em aulas, então, com isso, a minha mãe viu que era algo que eu talvez pudesse desenvolver, como um talento mesmo e não uma deficiência.
Geralmente, a sociedade condena uma atitude como essa e inibe o seu desenvolvimento e a minha mãe, na verdade, decidiu investir nisso. E aí, eu comecei a fazer os cursos de teatro. Fazia às segundas, quartas, sextas e aos sábados e domingos, junto com o colégio. Foi bastante puxado, mas as coisas foram acontecendo muito rápido. No final de um curso que eu fiz, surgiu a oportunidade de entrar para a novela ‘Esplendor’.
Me ligaram, eu cheguei na TV Globo e não era um teste, já era para uma reunião de elenco. E depois, fui fazendo uma novela atrás da outra. Acho que eu tinha alguma coisa que a televisão precisava ou queria. Eu não tive muito tempo de escolher a profissão que eu queria, foi o que deu certo. Já apresentei o ‘Globo Ecologia’… E, atualmente, apesar de estar envolvido com a minha expedição, eu migrei muito mais para trás das câmeras. Já fiz direção de um programa na Globo Portugal, onde já realizei entrevistas com Ivan Lins, Murillo Rosa, Gabriel Pensador etc, aumentamos a audiência em 50%. E não é me gabando, mas todas as coisas que eu fiz se resultaram muito bem.”
CE: Na época do “Globo Ecologia”, você ficou fazendo em paralelo com outras novelas?
MF: “Foi em paralelo com as novelas. Quando rescindi o contrato, em 2014, eu comecei as minhas expedições. Eu já tinha uma carreira consolidada na televisão como ator e apresentador, e estava desenvolvendo um outro lado, produzindo e dirigindo os programas que eu apresentava.”
CE: E no programa “Como Será?”, o que você fazia?
MF: “Eu era um dos apresentadores e tinha um quadro no programa. Primeiro, o ‘Expedições’ e depois o ‘Sobre As Asas’ e por último o ‘América do Sul Sobre Rodas’.”
CE: Você sempre foi considerado um galã. Como você lidou com isso?
MF: “Bom, na escola, antes mesmo de eu ir para a televisão, as meninas me comparavam muito ao Leonardo DiCaprio, antes mesmo da imprensa fazer isso também. Então, eu já tinha essa resposta do público feminino com relação a minha aparência física. Mas, ao longo da minha carreira, nunca coloquei a beleza a frente do que eu já estava fazendo. Mas, mais do que a estética, para mim, o que torna uma pessoa bonita, é a inteligência e o charme. Eu sempre fui muito elogiado pelo o meu jeito de falar, por ser mais carinhoso, doce, amistoso e tal… E eu sempre fui assim.”
CE: Com o passar do tempo, os galãs envelhecem e perdem um pouco esse título. Mas, você não. Você ainda é um galã. É diferente lidar com isso hoje em dia em comparação a quando você era mais novo?
MF: “Eu acho que maturidade traz mais chame. Talvez seja por isso que as pessoas que cuidam mais da inteligência e do charme envelhecem de forma mais bonita.”
CE: O seu irmão também é ator, né?
MF: “Sim. Ele fez ‘Malhação’, depois foi para a Record e ficou lá por 10 anos. Hoje em dia, ele mora nos Estados Unidos e tem uma filha chamada Chloe, que é a quem eu dedico o meu livro.”
CE: Você tem muita experiência na televisão, atuando, apresentando, dirigindo… Tudo isso soma ao profissional que você é. Em qual momento te deu um estalo de que tinha chegado o momento de fazer expedições, viajar etc?
MF: “Não sei se teve um momento exato… A minha vida é tão legal que eu não quero só interpretar um personagem, eu quero que as pessoas vejam o personagem que o Max é, porque ele tem tanto para comunicar… Claro que existem personagens que eu admiro na literatura, no cinema, na sétima arte etc, mas eu coloquei a minha vida na frente de qualquer personagem. E o meu legado vai ser a minha vida, a minha persona, e não um personagem que eu vivi. Eu não quero ser lembrado como o ‘Max, o fulano de tal que fez tal personagem numa novela’, eu quero ser lembrado como o ‘Max viajou o mundo inteiro, que deu a volta ao mundo, que pilotava avião, que navegava, que comandava barco’ e que deixou marcas nas pessoas que ele conheceu ou que se impactaram pelas histórias que ele contou nos seus livros e também através dos projetos audiovisuais que eu faço hoje.”
CE: Você sempre gostou de avião?
MF: “Sim, sempre. Eu conto no livro como era a pista de pouso que eu fazia quando era criança, usava uma caixa de fósforo, almofadas etc, e pedia autorização de voo para o meu avô. É bem legal essa parte.”
CE: Falando de escolhas, hoje, essa é a sua escolha, de viver de expedição, certo? Você não pensa em voltar para a TV?
MF: “Não. Todos os meus projetos estão sendo encaminhados para produção audiovisual. Voltar para a TV, como ator, nesse momento, não. No máximo, um filme. Algo que eu pudesse comunicar de um jeito muito sublime. Tenho a vontade de dirigir alguns filmes também.”
CE: Quem te inspira?
MF: “A natureza, o desconhecido e a liberdade. Não tem uma pessoa em específico.”
CE: E a sua mãe?
MF: “Ela me inspira também. Aí, você pegou pesado (risos). Ela me incentiva muito e eu a incentivo também. Ela não é tanto a minha inspiração, é mais a minha incentivadora, a minha conselheira.”
CE: Como você conheceu o Mato Grosso do Sul?
MF: “Eu já tinha vindo para cá para fazer um baile na adolescência e também durante a época que trabalhei na televisão. E nas minhas expedições aéreas, especialmente nessa penúltima, onde eu tive a possibilidade de voar bastante gravando imagens do Pantanal. E conheci Bonito durante essa expedição, também.”
CE: Como foi morar em um motorhome?
MF: “Então, ele e o barco são muito parecidos internamente no físico, mas ele tem facilidades de você conseguir acessar lugares que no barco não se consegue. O barco é mais barato para se viajar, já que você usa as forças do vento, está mais em contato com a natureza, depende mais ou sofre mais com as intempéries, é mais romântico também. Mas o motorhome é muito mais legal, eu me diverti muito quando viajei e poderia viver nele tranquilamente. Mas, o barco tem um charme a mais.”
CE: Você gosta mais de terra, água ou mar?
MF: “Essa pergunta eu respondo com uma frase muito simbólica: ‘Só quem voa entende porque os pássaros cantam’.”
CE: A ideia de você escrever livros tem a ver com a sua vontade em compartilhar as suas histórias?
MF: “Mais do que compartilhar, a inspiração é uma consequência. As pessoas se sentem inspiradas por isso. Talvez, eu motive as pessoas a fazerem algo diferente. Eu não quero ser exemplo para ninguém, mas gosto de inspirar as pessoas a se interessarem pelo desconhecido, pela natureza etc. Eu quero mostrar para as pessoas que é possível, mas não quero ser um exemplo a ser seguido, do tipo ‘faça isso ou faça assado’.”
CE: Quando você terminou a sua expedição, você escolheu Portugal?
MF: “Na verdade, a expedição em si ainda não acabou, o ‘Sob As Ondas’ ainda vai acontecer, não consegui fazer ainda por conta da pandemia. Eu preparei todo o meu barco e quando ele estava pronto, veio a pandemia. Nesse projeto, eu quero muito falar sobre o Mar Mediterrâneo e toda a cultura Ocidental, por exemplo.”
CE: Você pegou COVID-19, certo? Como foi?
MF: “Sim, peguei no começo da pandemia. Eu não fiz teste, era óbvio que foi coronavírus. Naquela época, era muito difícil fazer teste até. Um amigo meu fez e e testou positivo e eu tive os mesmos sintomas que ele, como perda de olfato e paladar. Eu nunca havia perdido o paladar, em nenhuma gripe, ainda mais do jeito que foi. Então, por mais que eu não tenha feito o teste, tenho certeza que eu peguei.”
CE: Nesse estilo de vida que você escolheu, você cuida da sua aparência? Tem tempo para cuidar do seu corpo etc?
MF: “Eu não faço academia há muito tempo. Desde que eu comecei a navegar, pelo menos. Eu até engordei um pouco. Mas, geralmente, quando eu estou navegando, eu acabo secando. Porque mesmo você sentado, você está trabalhando o seu abdômen, por exemplo. Então, em todas as navegações, ao final dos 15 ou 20 dias, eu fico mais magro, é batata (risos).”
CE: O que você gosta de cozinhar?
MF: “Adoro fazer camarão.”
CE: E como está sendo a receptividade aqui?
MF: “Maravilhosa. Eu não esperava que as pessoas fossem ter tanta conexão com o meu livro e que eu fosse receber tantas mensagens de pessoas dizendo: ‘Caraca, eu me identifiquei tanto com você nesse momento’. Eu coloco diversos personagens como a minha mãe, pessoas que eu conheci ao longo do caminho, e as pessoas se identificam porque elas também passaram por coisas parecidas. Talvez, o meu livro, para essas pessoas que me deram esse feedback.”
CE: As crianças gostam muito de você, né?
MF: “Sim. Inclusive, fazer algo para o público infantil está relacionado com o meu próximo projeto. Eu penso em escrever alguma ficção ou criar um personagem a partir das minhas experiências que seja uma aventura para as crianças. Para educar, emocionar e despertar o interesse delas pelo planeta, pela natureza e pelo ser humano. Esse projeto está caminhando, talvez saia no ano que vem.”

Helio Mandetta e Maria Olga Mandetta
Thai de Melo


