Por Flavia Viana
A atriz e empresária Maytê Piragibe tem cara de menina desde sempre.
Começou muito jovem a fazer teatro e sua estreia como atriz aconteceu aos quatro anos de idade no mercado publicitário.
A primeira protagonista também veio muito precoce. Intensa e muito forte na novela Vidas Opostas na Rede Record.
Foi um grande aprendizado. Maytê não atuou muito no teatro, pois na TV emendava um trabalho no outro, era muita dedicação.
Porém, o teatro foi e sempre será seu maior aprendizado e a sua casa. Ela passou pela TV Globo e logo após foi contrata da Record por longos 12 anos.
A menina que se transformou em mulher muito jovem, adora dançar forró, inclusive foi a campeã do programa Dancing Brasil, apresentado por Xuxa. Formato da Endemol, a atração é um grande sucesso em todo o mundo.
Maytê é mãe, é filha e também empreendedora.
Após ganhar o prêmio no programa, ela resolveu investir na fazenda da família.
A fazenda era do avô dela, que criava animais, e foi transformada para receber a produção de óleos essenciais que conheceu através de sua mãe, Teresa Piragibe.
“Eu e minha mãe somos formadas em perfumaria botânica, que utiliza 100% de matéria prima natural e a gente consegue ter a cura não só pela aromaterapia, com óleos e cremes no próprio corpo, como a produção de chás, folhas e flores. Temos também os florais que estamos desenvolvendo e o mel de lavanda e outras plantas nativas”, conta Maytê.
Tudo teve início quando ela interpretou uma vilã na novela “A Terra Prometida” na Record, e começou a sentir muitas dores, principalmente no estômago, por conta das cenas fortes envolvendo sua personagem.
Foi então que procurou uma aromaterapeuta que a ajudou a combatê-las.
O resultado foi tão satisfatório, que Teresa e Maytê fizeram um curso de perfumaria botânica e assim surgiu a Fazenda Pingo do I - Essência da Bocaina.
A fazenda é aberta à visitação e a apreciação dos óleos essenciais.
Ainda é possível viver uma experiência sensorial e olfativa, sentindo o aroma e textura das ervas que possuem propriedades de cura e presenciar a destilação de uma destas plantas.
A Essência da Bocaina ainda recebe palestras e cursos relacionados a cosméticos naturais, planejamento aromático, bio-orgânicos, biofertilizantes, gastronomia vegetariana e vegana, cristaloterapia, entre outros.
Maytê conversou com exclusividade com o Correio B+.
Ela fala sobre família, a escolha de ser mãe, televisão, sua carreira de atriz, empreendedorismo e novos projetos.
Quando você decidiu ser atriz?
Foi um chamado natural. Comecei a trabalhar com quatro anos de idade.
Eu pedia para minha mãe. Sempre fui uma criança muito comunicativa, criativa e a jornada foi para a televisão, para o mercado publicitário e depois com 13 anos fui estudar profissionalmente teatro e seguindo as jornadas de mais de 33 anos trabalhando incansavelmente, sem parar.
Como e quando aconteceu a sua estreia como atriz?
Aconteceu em uma propaganda. Eu tinha quatro anos, não sabia nem ler e era um texto enorme.
Eu lembro dessa primeira experiência, não sabendo ler e decorando texto. Tinha toda uma meta a cumprir, era um mini monólogo de uma propaganda de uma escola.
Trabalhos marcantes na TV.
Todos. Toda a jornada na televisão, principalmente antes da pandemia, onde não existia ainda o streaming, nem essa multiplicidade de conteúdo, ela foi muito importante na formação cultural do nosso público e naturalmente quem participou e teve o privilégio de estar trabalhando ininterruptamente por essa estrutura, todo o trabalho é muito marcante.
Às vezes não tem o resultado de ibope esperado, mas o prazer no processo é gigante, tanto quando você trabalha com o que você ama, toda pequena grande oportunidade é um resultado muito marcante na própria carreira artística.
Ainda mais naqueles tempos que eram mais escassos, agora com a pandemia temos essa pausa e acredito que depois da pandemia vai faltar equipe pra suprir a demanda.
Como foi a sua transição da TV Globo para a TV Record?
Eu entrei na Rede Globo quando eu tinha 17 anos, estava prestando vestibular para artes cênicas e consegui conciliar um pouco a faculdade com o trabalho.
Foram 5 anos de contrato na Rede Globo e estava num processo de ascensão da empresa, em um crescimento, era bem jovenzinha foi quando a Record veio para acabar com o monopólio e abrir esse espaço de emprego com uma segunda emissora.
A retomada dessa segunda emissora na parte da dramaturgia foi superimportante, então eles recrutaram principalmente as pessoas em ascensão e com coragem de desbravar o novo, e esse foi o chamado.
Muito jovem, com uma oportunidade muito grande eu fiquei 12 anos com contratos longos.
Muitos protagonismos, muitas oportunidades ao longo dessa jornada e fico muito feliz de poder ter feito história na dramaturgia brasileira, abrindo esse campo junto com os meus colegas, geração de emprego, de ampliação das falas, das possibilidades artísticas, foi muito importante.
Uma personagem que te ensinou muito...
A primeira protagonista a gente nunca esquece.
Eu era muito nova, foi o meu segundo trabalho na Record, a Joana de Vidas Opostas.
Era uma mulher guerreira, que nasceu na favela, na comunidade, estudiosa e foi atrás dos sonhos e teve que lidar com a disparidade de uma vida muito dedicada, muito honesta e acabou se envolvendo com um traficante para salvar a própria família e toda a interrupção dos sonhos dela e das possibilidades pessoais e profissionais dela.
Foi a primeira novela a abordar a favela com mais realidade, a gente tinha vindo de um legado de Cidade de Deus, mas nenhuma novela na televisão brasileira tinha aprofundado com mais veracidade.
Gravamos na comunidade Tavares Bastos, que cuidaram muito bem da gente, então foi uma aula, muito jovem, estar realizando o sonho, trabalhando como protagonista depois de ter feito vários testes, e aprendendo na raça que todas as personagens nos ensinam muito.
Essa é a magia de morrer e renascer a cada história, mas essa sem dúvida é um marco, um divisor de águas e as pessoas lembram até hoje. Foi muito marcante, foi a primeira vez que a Record realmente teve o êxito que ela tanto buscava.
Um momento em sua carreira de atriz que passou momentos difíceis?
Graças a Deus eu não vejo nada como traumatizante, perrengue, sou uma atriz muito privilegiada se comparado aos perrengues dos meus amigos, das pessoas que eu estudei teatro, não posso dizer que o meu foi difícil.
Tive infelizmente uma síndrome do pânico muito jovem, posso dizer que isso foi um desafio, mas consegui superar e passar essa fase, tentando entender essa doença que tem sempre que ficar em atenção e isso foi um perrengue, saber lidar com essa complexidade.
Graças a Deus foi sanado, passou essa fase e nunca mais tive a síndrome do pânico.
Você não fez muito teatro, por que não?
Eu vim de uma base teatral. Comecei no tablado com 13 anos, fiz algumas peças ao longo da minha jornada, mas a televisão me tragou, eu não tinha tempo, emendava um trabalho no outro e consegui ter um respiro Entre as Coisas, que foi uma peça do Léo e Bia, que também testou 300 atrizes na época, consegui pegar a protagonista, foi antes de entrar na Record.
Na reta final da Record estava com muita saudade do teatro e fiz uma peça A Serpente do Nelson Rodrigues, inaugurando o Teatro Nathalia Timberg, na Barra. Sinto muita falta do teatro que com certeza é minha escola, minha formação academica, onde eu comecei e sou muito devota, mas também graças a Deus o mercado me impulsionou e exigiu contratos exclusivos, com dedicação total, então são escolhas.
A gente é escolhido algumas vezes e tem que aproveitar a oportunidade.
Quando estava grávida chegou a estrear a peça que estava produzindo?
A gente não chegou a estrear, estávamos ensaiando e acabou que esse processo que foi suspendido com o nascimento do melhor papel da minha vida, a Violeta, de ser mãe.
Sempre quis ser mãe? Pensa em ter mais filhos?
Sempre quis ser mãe e ser mãe antes dos 30 anos e foi a melhor coisa que eu fiz. Penso sim em ter mais filhos, mas antes disso tenho que achar um parceiro a altura. Hoje estou solteira.
Como surgiu o convite para o Dancing Brasil?
Eu estava na casa (Record), foi a primeira edição e acredito que eles estavam a procura de pessoas marcantes para a primeira edição. Eu fui a única da casa a ser escolhida, todos os outros participantes não eram.
Foi legal, foi um presentão, foi um fechamento maravilhoso poder ganhar esse prêmio, poder descobrir uma vocação, foi superimportante.
Quais foram as suas maiores dificuldades no programa?
Pouquíssimo tempo, foram 4 ou 5 dias para uma coreografia.
Na reta final eram 2 coreografias, na final eram 3 coreografias, ou seja, praticamente aprender uma coreografia por dia, era enlouquecedor.
Eu era sedentária, então virar atleta do dia para noite foi difícil, meu corpo até hoje tem baixa de ferro, eu tenho que ficar fazendo exames, que a máquina foi além do que poderia.
E principalmente a arte, pois tinha o privilégio de descobrir potencialidades que eu nunca pensei, só na pressão, no desafio que a gente consegue se superar, na zona de conforto a gente não tem esse desafio de pouco tempo.
Esse programa é muito importante internacionalmente, é um projeto da Endemol Shine, são mais de 40 países, é um sucesso Internacional, tem lugares como Estados Unidos que o programa é bimestral. Eu amava o projeto, então foi uma delícia.
Você já fazia aula de dança? Como foi vencer o programa? Você prática algo ligado a dança?
Eu não fazia aula de dança, tinha feito bem nova jazz e balé, mas cresci forrozeira.
Eu amo dançar forró, minha adolescência foi super forrozeira, então aprender a ser conduzida e se entregar facilitou muito isso.
Voltei a dançar esse ano, depois de dois anos de Dancing, com o Tutu Moraes que foi um dos participantes, que eu admiro muito, e a gente está ensaiando a possibilidade de fazer uma coreografia para a internet.
Estou me exercitando, no meu primeiro semestre inteiro eu estava nas minhas aulas de dança, reativando o meu corpo, desbloqueando a energia, foi e está sendo muito importante. Dançar pra mim é magia, poesia, liberdade, surpresa. Mistério. Sou apaixonada por essa arte!
Como surgiu a ideia de trabalhar com sua mãe? Como é trabalhar com algo tão diferente de ser atriz?
Não é tão distante do processo artístico, porque nós somos natureza e o processo da criatividade é cíclica, impossível, você está brotando ininterruptamente as coisas e criando frutas.
Tem um momento pré-produção, de preparação, de criação, de estreia e distribuição, e a natureza é isso, mas é um lugar artesanal na prática.
Com essas sementes super artesanais, conseguimos o selo orgânico, então é uma plantação muito simbólica, de uma conexão muito curativa.
É o resgate da minha mãe, que foi uma grande entusiasta da minha vida, ela que me levava até os 18 anos para todos os sets.
Devo muito a minha carreira, ascensão, minha segurança, minhas conquistas por ela e meu pai.
É retornar a casa, porque a fazenda existe há 25 anos e quando eu estava para sair da Record eu peguei o prêmio do Dacing Brasil e dei o aporte nesse projeto inicial.
Estávamos nesse processo de experimentação durante esse tempo.
Resgatar a potencialidade da minha mãe, resgatar a minha identidade, ter tem esse tempo sabático, de respiro, para estudar, eu sentia muita falta. Foram 12 anos, eu virei menina, mãe, mulher.
A ideia com os óleos essenciais como aconteceu? A fazenda já era da sua família, como é trabalhar com eles?
Eu estava sentindo muita necessidade de me reinventar e veio o programa no Like, que é um canal que eu ajudei a fundar nesse processo, em que eu trabalho com curadoria de dicas de séries e de filmes, em paralelo veio a possibilidade de ter esse investimento nessa empresa para poder crescer aos poucos.
Surpreendentemente a gente cresceu rápido, foram 18% anual, então a gente acabou acelerando muitas coisas por essa demanda e essa missão de empoderamento feminino, com líderes mulheres, mãe e filha e deixando um legado para a Violeta e para a família.
Então foi um resgate muito forte de estudar essas plantas medicinais, essas ervas aromáticas, entender nesse tripé que é tanto medicinal, quanto terapêutico, com cosméticos e potencialidade de produtos e cuidar dessa matéria-prima para que ela fosse diferenciada.
No nosso país são pouquíssimos os produtores rurais com essa dedicação, esse apuramento, essa refinaria de estar muito conectada ao orgânico, praticamente não existe, são poucas empresas nacionais que tem esse lugar de comprometimento com a sustentabilidade, com matéria-prima 100% orgânica, de adubação e de manutenção.
Isso foi também um processo paralelo de resgate da minha identidade, porque se eu estou cuidando da minha terra, minha mãe que foi a minha inspiradora, dar asas para ela e poder agora desabrochar profissionalmente, o momento dela, então esse momento de readaptação para estruturar novamente, para abrir novos campos.
Quando eu saí da Record fiz a primeira e segunda temporada da série Homens, que foi a primeira série nacional da Amazon.
Esse era um grande sonho, abrir mercado para o streaming, como eu tenho uma flexibilidade maior da minha agenda, eu consigo criar mais autonomia, abrir mais campos produtivos da vida, porque quando você faz TV, você trabalha de domingo a domingo e só vive aquela história, porque a demanda de roteiro é muito grande para você decorar, você tem que estar flexível na sua agenda, porque chove, molha, muda, então você tem que estar o tempo inteiro integrado, disponível.
Então tem que ter muita doação para esses projetos, e eu emendei muitos projetos grandes. Precisava resgatar minha artista, minha natureza, minha família, a minha identidade e é um processo artístico, sem dúvida alguma, com mais repertórios, com mais conhecimento e integração.
Pretende voltar a atuar? Novos projetos? Detalha pra gente?
Eu não parei de atuar, hoje eu escolho melhor os projetos.
Em paralelo a essa história que eu contei, eu produzo meu primeiro documentário. Abri oficialmente a minha produtora e produzi o primeiro projeto audiovisual, que é o meu documentário que vai estrear. Em breve vou poder falar mais para vocês, ele se chama Mise Em Scéne – A artesania do artista.
Pessoas muito grandes se envolveram e estou muito realizada.
Sou eu e mais dois sócios, a Manuh Fontes que é a diretora e o Leandro Pagliaro que é o diretor de fotografia.
Como está sendo a sua conduta na pandemia? O que mudou? Transformou? Ensinou?
Eu não parei de trabalhar, conseguimos adaptar o canal Like para ser rodado em casa.
Tive que aprender funções que eu nunca exerci, como direção, direção de arte, direção de fotografia, maquiagem, cabelo e o único suporte que eu tenho é do figurino, já que são mais ou menos 8 a 10 programas semanais. Isso me ensinou muito a acumular funções, o poder da adaptabilidade de uma forma muito fluída, aceitando, integrando, aprendendo, reaprendendo, tendo exercício da humildade diária de que somos muito pequenos e a gente tem que respeitar muito na natureza.
A pandemia para mim é um resgate de transformação para todos nós, é a chegada da Nova Era, mais conscientes, mais artística, ecológica, mais sustentável, mais amorosa, mais inclusiva e obviamente que para a gente tem essa experiência mais integrada, tinha que vir o caos, a dor, a morte o luto, as exclusões, as intolerâncias todas pra gente dá valor a luz, ao amor.
Sou uma mulher muito grata, porque Deus age por meio de todas as formas e a vida que eu tenho muito privilegiada de ter uma família maravilhosa, os trabalhos todos que me trazem muito prazer, muita conexão e sentimentos de pertencimento.
Eu Acredito que com essa fase tão escassa que foi nesses últimos anos, eu ter criado, ter crescido tanto, ter me adaptado tão bem e ter virado uma guerreira, entendendo os ciclos das coisas, cada coisa tem determinado tempo, urgência, prioridade e não tornar displicente com nossos sonhos, saber que a gente tem que regar na hora certa.
Então essa resiliência é para a vida e a pandemia pede todo dia resiliência.
Defina a Maytê de quando começou a sua carreira lá atrás e de agora?
Eu sinto que eu hoje eu estou resgatando essa criança, por isso, voltar para a família e toda essa história que contei nos últimos anos e na pandemia é o resgate da pureza, essência, da criatividade mais genuína, do lugar mais verdadeiro e que faça realmente muito sentido.
Então as minhas relações pessoais mudaram, apareceram novas pessoas, pessoas que eram muito importantes estão em outro momento de vida. Esse desapego com amor, pois tudo tem o seu tempo e se for importante retornar para gente.
O que eu tenho aprendido, o que eu quero é realizar a minha missão, meus sonhos, missão nessa terra, maternal, trabalhar com arte, empreender, reconstruir laços com mais suporte, com mais prazer, com mais amparo.
Isso é um mantra diário, de informações positivas e Deus é muito bom comigo.
Me sinto hoje um resgate do que é essencial, a essência da minha vida. E não é à toa que a empresa se chama Essência da Bocaina, porque essa palavra é muito importante para mim.
Se pudesse voltar atrás o que mudaria? Quando olha pra frente o que vê?
Eu penso que tudo que passei até aqui me trouxe essa mulher que eu sou hoje, muito satisfeita.
A gente não pode negar as perdas, desafios, decepções, pois isso molda caráter, índole, escolhas.
Trabalhar esse perdão diário é um processo de integração muito libertador, para a gente não se arrependendo. Então quando eu penso que poderia ser diferente, na mesma hora eu penso que não seria essa mulher que eu amo agora.
Sou muito grata mesmo com as dores, lutos, perdas, tudo faz sentido quando olhamos com um olhar mais puro para as coisas.
Eu sei que eu tenho amor gigante no peito, uma mulher de caráter de fibra.
Eu estou muito feliz, porque a gente está agora com a vacina e eu estou olhando para o novo.
É o momento de olhar para frete e abrir para o melhor que a gente possa receber. Pensamento mesmo positivo, ser grato pela vida, desapegar ao que não faz sentido mais, tirar os pesos de projetos, pessoas, dogmas e paradigmas, para a gente se conectar com a fonte essencial que reflete e que brilha nos olhos.





